segunda-feira, 29 de março de 2010

A FORMAÇÃO DOS ECONOMISTAS EM SERGIPE

A partir de 1948, com a criação da Faculdade de Ciências Econômicas de Sergipe, a pesquisa sobre economia ganhou um novo alento no Estado. Nos primeiros anos da década de 60 houve um esforço inicial em direção da pós-graduação, quando um grupo de alunos recém diplomados pela Faculdade de Ciências Econômicas viajou para Santiago do Chile, a fim de fazer curso de especialização na Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe – CEPAL. Ao retornarem, Jaime Costa Santiago, Manoel de Rezende Pacheco, Paulo Rocha de Novaes e Marcilon Pacheco assumiram funções docentes na Faculdade de Ciências Econômicas.

sábado, 27 de março de 2010

BOTÂNICA E HISTÓRIA IV

Para Antônio Moniz de Souza era possível praticar a agricultura e cultivar a terra sem recorrer aos incêndios das florestas. Era possível produzir o mel e a cera e extraí-lo racionalmente, sem agredir as abelhas.
O governo do Estado de Sergipe demonstraria uma preocupação maior com a pesquisa botânica nas primeiras décadas do século XX. Em 1915 foi criada a Inspetoria de Água, Esgotos e Horto Botânico. Na década de 30, a Botânica era ensinada como disciplina do ensino secundário em instituições escolares como o Atheneu Pedro II. Naquele período, o professor Oscar Nascimento era catedrático de Botânica e Zoologia.
Em 1945, após a criação do Posto de Defesa Agrícola, em Aracaju, o agrônomo sergipano Emmanuel Franco que em São Luiz, no Estado do Maranhão, foi transferido para cá e assumiu a sua direção. No período em que viveu no norte do Brasil e nas viagens que realizou entre aquele Estado e a Bahia, Emmanuel Franco fez as observações, estudos e anotações que o possibilitaram publicar o livro Estudo de ecologia vegetal e reflorestamento (FRANCO, Emmanuel. Viagens. Uma semente plantada. Aracaju, Gráfica Editora J. Andrade, 2005. p. 41).
É do mesmo autor a Biogeografia do Estado de Sergipe, na qual estão relacionadas e classificadas importantes espécies existentes na região do semi-árido sergipano, como o mandacaru, o umbuzeiro, a quixabeira, a caraibeira, a braúna, o facheiro e o angico, dentre outras.


O Mandacaru é uma planta que vive mais de cinqüenta anos, e serve de alimento para o gado bovino, ovino e caprino, fornecendo água e alimento por ser uma planta carnosa. O facheiro tem uma parte carnosa e outra lenhosa. A parte fibrosa serve para fazer ripas para o telhado das casas. Multipicam-se por sementes contidas no fruto e por estacas. Semeadas no solo, são origem a um aglomerado de plantas, embelezando a propriedade e constituindo uma reserva de água e de alimentos durante muitos anos (FRANCO, Emmanuel. Viagens. Uma semente plantada. Aracaju, Gráfica Editora J. Andrade, 2005. p. 157).


No ano 2000, o Departamento de Agronomia da Universidade Federal de Sergipe implantou o curso de graduação em Engenharia Florestal.

quinta-feira, 25 de março de 2010

BOTÂNICA E HISTÓRIA III

O livro de Antonio Moniz de Souza, além de estudar o meio ambiente e as espécies vegetais, é um testemunho importante do processo de transição e da vida das pessoas no momento em que o Estado brasileiro ganhava autonomia e se separava do império português.
Além deste livro, Antonio Moniz de Souza publicou mais quatro importantes trabalhos: Máximas e pensamentos praticados por Antonio Moniz de Souza, o homem da natureza em suas viagens pelos sertões do Brasil desde 1812 até 1840. O trabalho foi organizado por um amigo de Moniz de Souza e publicado com 56 páginas, pela Tipografia Niteroiense, em 1843; “Petição dirigida a S. M. I.”, publicada pelo jornal Philantropo do Rio de Janeiro, número 67, de 12 de julho de 1850; e, “Tratamento da morféia pela casca da raiz de sucupira”, publicado no Correio Sergipense, de oito de agosto de 1855.
O pesquisador Jackson da Silva Lima reproduziu o texto publicado no Correio Sergipense por Antonio Moniz de Souza (LIMA, 1971, 232). Através dele é possível perceber as preocupações do naturalista quanto ao fato de que os seus estudos pudessem contribuir para salvar vidas, ao tempo em que os médicos do início do século XIX, lutando pela legitimação do seu saber e pela delimitação do seu campo profissional, resistiam a admitir a incorporação das contribuições do botânico desprovido de formação em Medicina. Contudo, o botânico sergipano nunca deixou de enviar para os médicos e as boticas a Ipicacoanha, o Gurenhen, a Sucupira e outras raízes e plantas medicinais que recolhia em suas incursões pelas matas. Era evidente o entusiasmo de Moniz de Souza para com as possibilidades curativas que identificara na flora:


Nos sertões por onde percorri nas minhas longas viagens, encontrei um número de medicamentos extraordinários, os quais todos que pude colher os apresentava aos médicos, e os dava não só a estes, como a Academia de Medicina, mas sempre foram desprezadas, porque poucos foram os que se puseram em prática, talvez por não ser eu médico; mas, entre estes medicamentos, os quais ainda me pretendo ocupar, como já o fiz a respeito da casca de gurenhen para o tratamento da asma, inflamação do fígado, e de todas as úlceras, e agora o faço para falar da casca da raiz da sucupira para o tratamento da morféia, por ter tido ocasião de ver nas matas do Japão, na Província de Sergipe um homem, o qual dizia ter sofrido esta terrível moléstia e se achava curado com o uso do cozimento e banhos desta casca, tanto interna quanto externamente: mas não é isso que me obriga a publicar uma coisa que tanto bem pode causar à humanidade, é ainda o ter eu aconselhado o uso deste medicamento a uma pessoa atacada desta moléstia, e esta achar-se com muitas melhoras. A sucupira é planta que produz nas matas e nos campos agrestes, é árvore de construção e há duas qualidades dela, uma vermelha e outra branca, porém a de que se faz uso é da branca produzida nos campos agrestes. Agora só me resta pedir à Academia Imperial de Medicina, a todos os médicos e ao mundo inteiro a quem ofereço este meu trabalho que mande vir este medicamento, e que dele façam uso os desgraçados sofredores desta tão cruel moléstia, pois estou certo que muitos deverão melhorar os seus sofrimentos (LIMA, Jackson da Silva. História da literatura sergipana. v. I. Aracaju, Livraria Regina, 1971. p. 232).


Ao publicar este texto, Antonio Moniz de Souza deixou claro que anteriormente ocupara as páginas do mesmo periódico, através de carta dirigida ao editor, também reproduzida por Jackson da Silva Lima:


Sr. Redator – Fiado na bondade de v. m. animo a pedir-lhe pela segunda vez a continuação do seu obséquio em imprimir o seguinte anúncio sobre a casca da raiz da sucupira no tratamento da morféia, assim como m’o fez a respeito da casca de gurenhen para o tratamento da asma, etc.; ficando v. m. na certeza de que faz-me com isto um particular favor, e à humanidade um grande serviço. AntonioMoniz de Souza.


Apesar desse tipo de registro o próprio Moniz de Souza confessou, em outras ocasiões, haver recebido o estímulo, inclusive financeiro, de diversas autoridades e até de médicos para que prosseguisse com as suas pesquisas. Médicos que, aliás, em várias ocasiões mantiveram um diálogo aberto com Antônio Moniz de Souza e aproveitaram do conhecimento sobre as plantas que este aportava como contribuição à Medicina.


Algumas dessas ervas, raízes, e mais drogas de decidido préstimo naqueles países, onde mais pelas virtudes delas que pelos conhecimentos dos habitantes, fazem curas milagrosas, são as mesmas que já por vezes tenho apresentado em varias partes, e muito mais na Bahia, (...) aos peritos da arte médica, (...) examinadas, primeiro para ordem do Exmo. Conde dos Arcos, insigne patrocinador dos gênios e artes, a quem tanto deve a Bahia, e depois pelo de Palma, quando ali governaram. Foi por todos aprovado o meu trabalho, atenta a utilidade e eficácia desses remédios, com que a bem da existência humana tanto se pode enriquecer a Medicina; e aqueles Exmos. Condes patrocinaram, e animaram as más fadigas, não tanto para indução, que para elas me fizeram verbalmente, quanto para subscrição em que primeiro assinaram, e concorreram com duas ofertas generosas de companhia com os professores médicos, e outros muitos cidadãos e proprietários do Recôncavo, em virtude do que continuei nas descobertas, e conduzi o fruto delas; que de novo apresentei e fui muito (...) aceito (SOUZA, Antonio Moniz. “Descobertas curiosas que nos reinos vegetal, animal e mineral, por sítios e sertões vários das brasílicas Províncias Bahia, Sergipe e Alagoas, fez o capitão Antonio Moniz de Souza e Oliveira, natural da primeira, com uma breve descrição primordial do lugar de nascimento e princípios de sua educação. Oferecidas ao Augusto Chefe da Nação Brasileira o Senhor D. Pedro Primeiro, Imperador e Defensor Perpétuo do Brasil”. Revista do Instituto Geográfico e Histórico da Bahia. Salvador, nº. 73, 1946. p. 129-174).


O nome de Antônio Moniz de Souza pode ser colocado ao lado de Langsdorf, Saint Hilaire, Spix, Martius e outros empreendedores de viagens científicas ao interior do Brasil com o objetivo de descobrir riquezas dos reinos animal, mineral e vegetal. Com a grande diferença de que os demais investigadores estavam a serviço de potências estrangeiras, enquanto Moniz de Souza viajou servindo aos interesses do Brasil.
O discurso do botânico Antônio Moniz de Souza incluía também uma expressiva preocupação para com a necessidade de preservar as espécies vegetais. Já nas primeiras décadas do século XIX estava denunciando o risco de extinção do Pau-Brasil e pregando a necessidade de proibir-se o corte de tal madeira, além de alertar para o fato de que a exploração da espécie servia apenas para enriquecer comerciantes e exportadores estrangeiros, afirmando que àquela altura já se estava também extinguindo, no território da Bahia, a Tabagiba, ou Amoreira, que até o século XVIII ali se encontrava abundantemente (SOUZA, Antonio Moniz de. Viagens e observações de um brasileiro. Organização e notas de Ubiratan Castro de Araújo. 3. ed. Salvador, Instituto Geográfico e Histórico Brasileiro, 2000. p. 85). Dois outros graves problemas à proteção ambiental do Brasil também apontados foram o da caça e o da produção agrícola. O entendimento era o de que os métodos empregados então pela agricultura eram extremamente danosos, principalmente o hábito de “no tempo de estio lançar fogo às frondosas matas para se divertirem com o incêndio e (...) para na limpa que o fogo faz plantar alguns pés de abóboras”, reduzindo a cinzas “léguas de matas aformoseadas de preciosos troncos” (SOUZA, Antonio Moniz de. Viagens e observações de um brasileiro. Organização e notas de Ubiratan Castro de Araújo. 3. ed. Salvador, Instituto Geográfico e Histórico Brasileiro, 2000. p. 98). Também denunciava a extração do óleo de Copaíba, afirmando que para a colheita do produto as árvores eram derrubadas com machado, comprometendo a reprodução da espécie. Do mesmo modo, a caça era uma atividade extrativista tida também como destruidora e desordenada, que agredia o meio ambiente indistintamente. Todo o extrativismo, aliás, era entendido por ele como ruim, fosse a extração do mel de abelhas, de frutos ou a matança de animais.


O caçador meleiro, homem estúpido e insensível, vai arrombar o cortiço das abelhas para lhes roubar todo o mel, único recurso que elas têm para o seu sustento. Chega o insensato com machado junto da frondosa árvore, em cujo tronco está depositado o cortiço de abelhas, lança-lhe o machado desbaratando o asilo dos incansáveis e industriosos animaizinhos, estes saem a defender a sua propriedade com as tênues armas que a natureza lhes concedeu, mas quando encontram desmanchada a sua casa, e julgam já baldados os seus esforços e inútil a resistência, vão reunir-se aos filhinhos postos e lançados por terra sem vida (SOUZA, Antonio Moniz de. Viagens e observações de um brasileiro. Organização e notas de Ubiratan Castro de Araújo. 3. ed. Salvador, Instituto Geográfico e Histórico Brasileiro, 2000. p. 99).

BOTÂNICA E HISTÓRIA II

Antonio Moniz de Souza optara por realizar estudos a partir da região onde nascera em 1782, nas margens do Rio Real de Nossa Senhora dos Campos (atualmente município de Tobias Barreto), termo da vila do Lagarto. Iniciada a sua expedição em 1817, o pesquisador dedicou o primeiro ano do seu trabalho a investigar o sertão baiano, na região de Cachoeira de Santo Estevão de Jacuípe, Camisão, Orobó e Jacobina. No ano seguinte, a partir do mês de maio, Moniz de Souza embrenhou-se pelas matas de Sergipe, nas quais permaneceu durante um ano, recolhendo as espécies que encontrou na região de Lagarto, nas margens do rio São Francisco, em Própria, em Itabaiana, em Brejo Grande, em Xingo e em Canindé. A partir de 1820, partiu de Salvador pelo sertão, atravessando Sergipe, outra vez, em direção ao Pará. Suspendeu sua viagem no interior de Pernambuco, em julho de 1822, regressando para Sergipe, onde se incorporou ao Batalhão do Imperador com o objetivo de lutar na guerra pela Independência do Brasil, marchando para a Bahia a fim de reunir-se ao exército pacificador, com o qual chegou a Salvador em dois de julho de 1823 (EDELWEIS, Frederico. . “Prefácio”. In: “Descobertas curiosas que nos reinos vegetal, animal e mineral, por sítios e sertões vários das brasílicas Províncias Bahia, Sergipe e Alagoas, fez o capitão Antonio Moniz de Souza e Oliveira, natural da primeira, com uma breve descrição primordial do lugar de nascimento e princípios de sua educação. Oferecidas ao Augusto Chefe da Nação Brasileira o Senhor D. Pedro Primeiro, Imperador e Defensor Perpétuo do Brasil”. Revista do Instituto Geográfico e Histórico da Bahia. Salvador, nº. 73, 1946. p. 28). Para que se compreenda a importância da iniciativa de Antônio Moniz de Souza, até então o único registro sistematizado conhecido sobre a flora sergipana eram algumas referências existentes na Historia naturalis Brasiliae, “escrita por Marcgrave e publicada por João de Laet em 1648” (FERRI, Mário Guimarães. “A Botânica no Brasil”. In: AZEVEDO, Fernando de (Org.). As ciências no Brasil. 2 v. 2ª. ed. Rio de Janeiro, Editora UFRJ, 1994. v. 2. p. 180). Os trabalhos do estudioso holandês


constituem a primeira contribuição importante para os estudos florísticos do Nordeste. Muitos dos nomes vulgares de plantas que figuram na Flora Brasiliensis [de Martius] são os que foram coligidos por Marcgrave. Este autor herborizou no Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Sergipe, Bahia, Ceará e Maranhão (FERRI, Mário Guimarães. “A Botânica no Brasil”. In: AZEVEDO, Fernando de (Org.). As ciências no Brasil. 2 v. 2ª. ed. Rio de Janeiro, Editora UFRJ, 1994. v. 2. p. 180).


Até o final do século XIX, a vida dos cientistas era repleta de aventuras. Seus trabalhos de observação e representação ajudavam a incorporar uma visão de mundo. Foram importantes e exerceram grande influência na formação da consciência sobre o Brasil no século XIX os relatos feitos por pesquisadores que integraram as muitas expedições científicas daquele período. Bons exemplos são as viagens empreendidas pelo Barão Heinrich von Langsdorf e por Herman von Jhering.
Observar a vida de Antônio Moniz de Souza e a sua trajetória como cientista é conhecer um homem curioso, obstinado e versátil. O botânico sergipano era filho de Domingos de Souza e Oliveira e Victorina Francisca Abreu Leite. Ainda jovem foi trabalhar na fazenda de gado do seu pai, da qual se retirou, já com dezoito anos de idade, para atuar como comerciante durante cinco anos. Nomeado para o cargo de capitão de forasteiros, entrou em conflito com salteadores ligados ao sargento-mor Bento José de Oliveira, resolvendo logo depois partir para Portugal, “disposto a oferecer seus serviços militares em defesa da metrópole, então invadida em 1807 pelas tropas de Napoleão sob o comando de Junot, não conseguindo realizar o seu patriótico intento, por ter naufragado na ilha de Itamaracá, em Pernambuco” (GUARANÁ, Manoel Armindo Cordeiro. Dicionário bio-bibliográfico sergipano. Aracaju, Estado de Sergipe, 1925. p. 29). O naufrágio fez com que Antonio Moniz de Souza perdesse os recursos destinados à viagem, forçando-o a partir para o Rio de Janeiro, onde morou, como leigo, no convento de Santo Antônio.
A partir do final do ano de 1824, o botânico de Sergipe empreendeu uma nova viagem, saindo de Salvador, a pé, em direção ao Rio de Janeiro, costeando o mar. Nesse período fez novas explorações e estudos da flora. Em seguida, já estabelecido na capital do Império fez viagens exploratórias no Rio de Janeiro e em Minas Gerais. A mulher com a qual casou era natural de Macacú, no Rio de Janeiro. Viveu, sem filhos, na sua chácara em Santa Rosa, município de Niterói, até morrer, no dia 17 de setembro de 1857.


Verdadeiro apóstolo da civilização e da ciência, Moniz de Souza impôs-se a missão de derramar o bem em torno de si e de ser útil à sua pátria, servindo de catequista dos índios e das raças mestiças semi-selvagens do país, ao mesmo tempo que, percorrendo os nossos sertões durante 28 anos de viagens contínuas, obedecia ao seu gênio indagador e analista, estudando muitos vegetais cujas virtudes até então desconhecidas vieram enriquecer a Medicina brasileira (GUARANÁ, Manoel Armindo Cordeiro. Dicionário bio-bibliográfico sergipano. Aracaju, Estado de Sergipe, 1925. p. 29).


A sua contribuição ganha relevo quando se considera que somente em meados do século XVIII fora efetivamente estabelecido um sistema de classificação das espécies vegetais . Além da sua atividade como botânico, Antonio Moniz de Souza fez experimentos e descobertas nos campos da Mineralogia e da Zoologia. Os exemplares que coletou durante três décadas de trabalho foram oferecidos ao Museu Nacional e os resultados dos estudos que realizou em Sergipe e em outras regiões do Brasil estão publicados no livro Viagem e observações de um brasileiro, que, desejando ser útil à sua pátria, se dedicou a estudar os usos e costumes de seus patrícios e os três reinos da natureza em vários lugares e sertões do Brasil: oferecidas à nação brasileira. Planejado para ser publicado em dois tomos, somente o primeiro entrou em circulação, no ano de 1834, com 218 páginas. A Tipografia Americana, de I. P. Costa, sediada no Rio de Janeiro, não conseguiu publicar o segundo tomo. No primeiro, além das observações sobre as ciências naturais que preocupavam o autor, há também um relato sobre a revolução da Independência nas Províncias da Bahia, Sergipe e Alagoas. O tomo primeiro ganhou uma nova edição no ano 2000. O Instituto Geográfico e Histórico da Bahia reeditou o livro, que já fora republicado pela revista do mesmo IGHB, em 1945.
O segundo tomo nunca chegou a circular em forma de livro. Foi publicado pelo mesmo periódico, duas vezes (1924 e 1946), sob o título “Descobertas curiosas que nos reinos vegetal, animal e mineral, por sítios e sertões vários das brasílicas Províncias Bahia, Sergipe e Alagoas, fez o capitão Antonio Moniz de Souza e Oliveira, natural da primeira, com uma breve descrição primordial do lugar de nascimento e princípios de sua educação. Oferecidas ao Augusto Chefe da Nação Brasileira o Senhor D. Pedro Primeiro, Imperador e Defensor Perpétuo do Brasil”. Na Revista do IGHB, o texto contém uma apresentação de Frederico Edelweiss. Os originais foram oferecidos, em 1846, ao Instituto Histórico, Geográfico e Etnográfico do Brasil pelo coronel Ignácio Acioli de Cerqueira e Silva. O tomo contém um catálogo de ervas, plantas, raízes, resinas e drogas.
Na apresentação que faz desse texto, Frederico Edelweiss afirma que o trabalho representa uma importante contribuição para o conhecimento da medicina (EDELWEIS, Frederico. . “Prefácio”. In: “Descobertas curiosas que nos reinos vegetal, animal e mineral, por sítios e sertões vários das brasílicas Províncias Bahia, Sergipe e Alagoas, fez o capitão Antonio Moniz de Souza e Oliveira, natural da primeira, com uma breve descrição primordial do lugar de nascimento e princípios de sua educação. Oferecidas ao Augusto Chefe da Nação Brasileira o Senhor D. Pedro Primeiro, Imperador e Defensor Perpétuo do Brasil”. Revista do Instituto Geográfico e Histórico da Bahia. Salvador, nº. 73, 1946). Foram 193 espécies catalogadas por Antônio Moniz de Souza em suas viagens na Bahia, em Sergipe e em Alagoas. Mais da metade delas era desconhecida pelos pesquisadores em 1854, quando foi publicado o “Sistema da Matéria Médica Vegetal”, traduzido por Henrique Veloso de Oliveira, trinta anos depois do levantamento feito pelo botânico aqui estudado. “Mesmo na terceira edição do ‘Dicionário Brasileiro de Plantas Medicinais’, de Meira Pena, ainda faltam umas quarenta dentre as citadas pelo nosso ‘Homem da Natureza’” (EDELWEIS, Frederico. . “Prefácio”. In: “Descobertas curiosas que nos reinos vegetal, animal e mineral, por sítios e sertões vários das brasílicas Províncias Bahia, Sergipe e Alagoas, fez o capitão Antonio Moniz de Souza e Oliveira, natural da primeira, com uma breve descrição primordial do lugar de nascimento e princípios de sua educação. Oferecidas ao Augusto Chefe da Nação Brasileira o Senhor D. Pedro Primeiro, Imperador e Defensor Perpétuo do Brasil”. Revista do Instituto Geográfico e Histórico da Bahia. Salvador, nº. 73, 1946).

quarta-feira, 24 de março de 2010

BOTÂNICA E HISTÓRIA

Dentre as várias áreas nas quais a pesquisa no Brasil se desenvolveu, além de muitas outras já referidas por este texto, chamam a atenção a Antropologia Física, a Fisiologia Experimental, a Zoologia, a Astronomia, a Matemática, a Geografia e a Geologia. Contudo,


das ciências de investigação, a única de que se pode encontrar uma tradição brasileira que se alonga, embora em curvas ascendentes e descendentes, desde o crepúsculo do período colonial até nossos dias, passando pelo Império, é a botânica, na exploração de cujos domínios se apresenta toda uma linhagem, iniciada por Alexandre Rodrigues Ferreira e por frei José Mariano da Conceição Veloso e continuada, entre outros, por Freire Alemão e, mais tarde, por Barbosa Rodrigues, talvez o maior botânico que o Brasil já produziu (AZEVEDO, Fernando de (Org.). As ciências no Brasil. 2 v. 2ª. ed. Rio de Janeiro, Editora UFRJ, 1994. p. 34).


Segundo Mário Guimarães Ferri, a botânica no Brasil começou com o índio.


Indo à caça, o índio levava arco e flecha. Flecha às vezes envenenada com veneno tirado de certas plantas. O arco compunha-se de arco propriamente dito e da corda que ligava seus extremos. Não era qualquer madeira que servia para a confecção do mesmo. Nem todas as tribos empregavam para isso os mesmos materiais (FERRI, Mário Guimarães. “A Botânica no Brasil”. In: AZEVEDO, Fernando de (Org.). As ciências no Brasil. 2 v. 2ª. ed. Rio de Janeiro, Editora UFRJ, 1994. v. 2. p. 175).


Os índios fabricavam as suas habitações com vegetais, teciam redes com fibras, fabricavam bebidas fazendo fermentar a mandioca, pintavam o corpo com tintas de jenipapo, cultivavam algodão, fumo, mandioca, batata doce, milho, feijão e amendoim, conheciam plantas medicinais. Enfim, dominavam algo que poderia ser chamado de cultura botânica. Os padres Manoel da Nóbrega e José de Anchieta registraram na sua correspondência o uso que os índios faziam das folhas de fumo e Hans Staden comentou a exploração do pau-brasil.
A opção de muitos intelectuais brasileiros dos séculos XVIII e XIX foi por um campo científico de muito prestígio para os naturalistas desde o século XVII, em todo o mundo: o da Botânica. Assim, são muitos os registros existentes no Brasil e em outras partes do planeta a respeito do sucesso que tinham os botânicos como cientistas. Natalie Zemon Davis relata a trajetória de Maria Sibylla Merian, uma naturalista do século XVII, que abraçou a Botânica, a Entomologia e a Pintura como profissão (DAVIS, Natalie Zemon. Nas margens: três mulheres do século XVII. Tradução Hildegard Feist. São Paulo, Companhia das Letras, 1997). Numa época em que das mulheres se cobrava recato, Sibylla embarcou em Amsterdam, no mês de junho de 1699, com sua filha Dorothea, em direção ao Suriname, onde pretendia estudar e pintar insetos, borboletas e plantas.
Foi sob a influência do frei José Mariano da Conceição Veloso que Sergipe conheceu os seus primeiros experimentos científicos, exatamente no campo da Botânica. Quando a Capitania se tornou independente da Bahia em oito de julho de 1820, por Carta Régia de D. João VI, o botânico Antônio Moniz de Souza já havia viajado pelo seu território, desenvolvendo pesquisas, explorando e catalogando a flora da região situada entre os rios Real e São Francisco. Este campo foi aquele que inaugurou a pesquisa científica por aqui. O pesquisador era um sergipano que havia morado no convento de Santo Antônio, no Rio de Janeiro, durante três anos, onde aprendeu Botânica com o famoso naturalista brasileiro, José Mariano da Conceição Veloso, que vivia no mesmo claustro e que, além de ministrar os ensinamentos ao explorador sergipano, franqueou a sua biblioteca pessoal para que este pudesse desenvolver os seus estudos (GUARANÁ, 1925, 29). Além de estudar com os livros do frei Mariano Veloso, Moniz de Souza teve a oportunidade de aprofundar os seus conhecimentos acerca das propriedades curativas dos vegetais trabalhando na botica da enfermaria do mesmo convento, onde se encarregava de tirar extratos e fazer cozimentos.
Fazer viagens e expedições era responsabilidade dos botânicos e de outros naturalistas até o início do século XX. Deles se cobrava o espírito aventureiro. A vida dos cientistas era marcada por muitas reviravoltas. Ao discutir a vida da alemã Maria Sibylla, Natalie Davis demonstrou que esta ganhou fama como cientista na Holanda, depois que voltou da América carregada de espécimes. Publicou “sua grande obra Metamorphosis insectorum surinamensium (Metamorfose dos insetos surinameses), ampliou seu trabalho sobre Insetos europeus e até sua morte, em 1717, ocupou lugar de destaque entre os botânicos, cientistas e colecionadores de Amsterdam” (DAVIS, Natalie Zemon. Nas margens: três mulheres do século XVII. Tradução Hildegard Feist. São Paulo, Companhia das Letras, 1997. p. 133).
Em 1812, um ano depois da morte do frei José Mariano da Conceição Veloso, Antonio Moniz de Souza resolveu abandonar o convento e embarcou para a Bahia, onde obteve licença do governador da Bahia, o Conde dos Arcos, para realizar uma expedição pelos sertões daquela Capitania, também por ele financiada. A área escolhida como objeto de estudo por parte da expedição que Antonio Moniz comandou corresponde ao território delimitado por D. João VI para a Capitania de Sergipe D’El Rey, nos limites do território baiano com Pernambuco e Alagoas (GUARANÁ, Manoel Armindo Cordeiro. Dicionário bio-bibliográfico sergipano. Aracaju, Estado de Sergipe, 1925. p. 29).

terça-feira, 23 de março de 2010

BIOLOGIA E HISTÓRIA

Durante o século XIX, sob o influxo da teoria comteana e do desenvolvimento tecnológico da microscopia, possibilitando os estudos da microbiologia, ciências como a Biologia ganharam uma nova significação social.
A Biologia do século XX continuou surpreendendo a todos. A engenharia genética, as plantas transgênicas, a participação da ciência em desastres ambientais. Mas, também, o conhecimento da ciência moderna estava absolutamente entranhado na vida cotidiana dos indivíduos. Desconhecer a atividade científica seria inviabilizar a sobrevivência da espécie.
Em Sergipe, as iniciativas do governo Graccho Cardoso, na década de 20 do século passado, como a criação do Instituto de Tecnologia e Pesquisas de Sergipe - ITPS e o Instituto Parreira Horta – IPH, eram compatíveis com os padrões de construção da modernidade brasileira então vigentes.


Para isso concorreu a entronização e o enraizamento das ciências biomédicas no Brasil e a criação, na virada do século, de laboratórios de pesquisas sobre doenças endêmicas para a produção de vacinas. Foram criados, dentre outros, o Instituto Pasteur de São Paulo, o Instituto Bacteriológico Domingos Freire, o Instituto Ezequiel Dias (este é o seu nome atual, não o original) já em 1906, sendo uma filial do Instituto Oswaldo Cruz .


Na década de 30, a Biologia era ensinada como disciplina do ensino secundário em instituições escolares como o Atheneu Pedro II. Naquele período, o professor Oscar Nascimento era catedrático de Botânica e Zoologia.

domingo, 21 de março de 2010

Até a década de 1960, em Sergipe como nos demais Estados, a Delegacia do Ministério da Agricultura no Estado funcionava com um colegiado integrado pelo Delegado , pelo diretor de defesa animal, pelo diretor de defesa vegetal e pelo diretor do Colégio Agrícola. Com a transferência do ensino agrícola federal do Ministério da Agricultura para o Ministério da Educação os engenheiros agrônomos passariam a influenciar menos a formação dos novos profissionais do setor agrícola. Aqui, a lei foi um meio de regulação de conflitos sociais, delimitando os campos dos saberes agronômico e educacional. O Decreto nº. 60.731, de 19 de maio de 1967, promoveu a transferência da Superintendência do Ensino Agrícola e Veterinário para o Ministério da Educação e Cultura, atribuindo-lhe a denominação de Diretoria do Ensino Agrícola – DEA até 1970, quando foi criado o Departamento de Ensino Médio – DEM . O Departamento gerenciou o ensino agrícola até o ano de 1973, quando então se implantou a Coordenação Nacional do Ensino Agrícola – COAGRI .
Depois que, a partir da segunda metade da década de 60, a ditadura militar desmontou a estrutura de ensino, pesquisa, extensão e controle da atividade agrícola no Brasil organizada pela ditadura de Getúlio Vargas, ocorreram algumas alterações profundas na agricultura brasileira. Em 1963, antes mesmo do início da ditadura militar, uma reforma administrativa havia extinguido as Inspetorias Regionais de Defesa Sanitária Vegetal, nas quais haviam se transformado os PDAs. As sucessivas pragas de bicudo praticamente extinguiram a cultura do algodão em Sergipe e nos demais Estados da região Nordeste. A vassoura da bruxa afetou profundamente a cultura cacaueira. Houve uma redefinição dos processos e das técnicas de produção do coco. A produção da cana de açúcar migrou de Sergipe e de outros Estados da região Nordeste para o Estado de São Paulo e outras áreas da região Sudeste.
Todavia, na década de 70, em pleno auge da ditadura militar, o Banco Mundial fez um financiamento para o ensino agrícola no Brasil com o objetivo de reorganizar sete escolas: uma no Rio Grande do Sul; uma em Jundiaí, no Estado de São Paulo; uma em Brasília; uma no Rio de Janeiro; uma em Pernambuco; uma em Belém, no Estado do Pará; e, uma em Sergipe.
Em 1990, após a extinção do Instituto do Açúcar e do Álcool, todos os imóveis e o pessoal daquela instituição foram incorporados pela Universidade Federal de Sergipe. Eram pesquisadores e técnicos especializados em cana-de-açúcar. Tal incorporação ofereceu as condições necessárias à criação do Núcleo de Estudos Agrários da UFS junto ao seu Departamento de Biologia. Foi este o embrião a partir do qual surgiu o curso de Engenharia Agronômica no Centro de Ciências Biológicas e da Saúde da UFS. (AGUIAR Netto, A. O. e MENEZES, I. C. “Histórico do Curso de Engenharia agronômica”. In: ROLEMBERG, Maria Stella Tavares e SANTOS, Lenalda Andrade (Org.). UFS: História dos cursos de graduação. São Cristóvão: EDUFS, 1999. p.287-293).
Criado em setembro de 1991, o curso formou a sua primeira turma, com vinte engenheiros agrônomos, em 1997. Desde aquele mesmo ano de 1997, um convênio celebrado com a Escola Agrotécnica Federal de São Cristóvão tem permitido que uma área de 166,8 hectares da fazenda desta última instituição seja utilizada como laboratório didático destinado ao desenvolvimento de atividades agropecuárias (AGUIAR Netto, A. O. e MENEZES, I. C. “Histórico do Curso de Engenharia agronômica”. In: ROLEMBERG, Maria Stella Tavares e SANTOS, Lenalda Andrade (Org.). UFS: História dos cursos de graduação. São Cristóvão: EDUFS, 1999. p.287-293.). Na área da fazenda funcionam um galpão para máquinas e equipamentos, uma estação agrometeorológica convencional e automática, casas de vegetação, reservatório de água e sistemas de irrigação. A área é utilizada também como unidade de produção agrícola, destinada a aulas práticas e campo experimental de pesquisa e extensão. Ali são desenvolvidos estudos sobre matéria orgânica, amendoim, cana de açúcar, abacaxi, maracujá, banana, laranja, coco, plantas medicinais e aromáticas, espécies florestais, produção de mudas, banco de germoplasma de mangaba, forrageiras, irrigação, conservação do solo e plantas de cobertura do solo.
Na Cidade Universitária Prof. José Aloísio de Campos, em São Cristóvão, o Departamento de Agronomia da UFS mantém laboratórios de Remediação de solos, Fitotecnia, Água e solo, Clínica Fitossanitária, Sementes Florestais, Entomologia agrícola e Florestal, Biotecnologia, Erosão e sedimentação.
Toda essa estrutura voltada para a pesquisa permitiu que, a partir de 2004, juntamente com a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária – Embrapa, o Departamento de Agronomia pudesse oferecer um curso de Mestrado em Agroecossistemas.
Segundo dados apresentados pelo pesquisador Antenor de Oliveira Aguiar Netto, durante seminário promovido pela Escola Agrotécnica Federal de São Cristóvão, em outubro de 2003, o Estado de Sergipe é o menor em área territorial, contudo 11% do Produto Interno Bruto (PIB) Estadual é proveniente da agricultura. A citricultura é a principal atividade agrícola de Sergipe e o beneficiamento do suco de laranja se apresenta como o principal produto da pauta de exportações agrícolas do Estado. Outra atividade importante é a sucro-alcooleira, que apresenta alta produtividade. O mesmo pesquisador afirma que, proporcionalmente, Sergipe é o maior estado do Nordeste em área irrigada, com cerca de 30.000 hectares, utilizados na rizicultura, horticultura e produção de tuberosas, além da fruticultura tropical.

sábado, 20 de março de 2010

AGRONOMIA E HISTÓRIA XII

Encerrado o período do Estado Novo, o governo do presidente Eurico Gaspar Dutra conseguiu aprovar a Lei Orgânica do Ensino Agrícola . A proposta fora apresentada ainda durante a gestão do presidente Getúlio Vargas, no período em que o Ministério da Agricultura estava sob a administração de Apolônio Sales. Com a nova legislação o ensino agrícola foi reorganizado e incorporou novos métodos, transformando-se em um ramo que oferecia até o ensino médio, destinado à preparação profissional dos trabalhadores da agricultura.
Na segunda metade do século XX, o ensino agrícola no Brasil manteve um relacionamento estreito com o ensino agrícola norte americano. A partir de 1949, depois da posse do presidente norte-americano Harry Truman, o quarto ponto do seu discurso de posse foi transformado em programa de governo – o Ponto IV. Como conseqüência, o Brasil assinou dois acordos: o Básico de Cooperação Técnica, em 1950, e o de Serviços Técnicos Especiais, em 1953. O governo norte-americano passou a assessorar o Brasil em assuntos que diziam respeito a ensino, pesquisa e extensão agrícolas e escolas agrícolas profissionais. Os norte-americanos eram representados no Brasil pela Escola Superior de Agricultura de Viçosa, da Universidade Rural de Minas Gerais.
Foi o Ponto IV que possibilitou a ida aos Estados Unidos da América de vários agrônomos brasileiros, em viagem de estudos. Contemplado com uma bolsa, o engenheiro agrônomo Emmanuel Franco, que chefiava o PDA em Sergipe, embarcou em março de 1953, para permanecer estudando e pesquisando durante um ano em Washington, Maryland, na North Carolina State University, na Florida University e na Louisiana State University, além de estagiar em Cuba, Porto Rico e Trinidad. O programa incluía estudos e pesquisas sobre Nematologia, doenças e pragas do côco (especialmente o anel vermelho, que atacava os coqueirais sergipanos), do fumo (particularmente a murcha bacteriana que grassava nas plantações de Lagarto), das plantas cítricas (que estavam atacadas pela gomose dos citrus, causada pelo fungo Phytophtora spp), da cana de açúcar e do algodão, além das doenças e pragas das plantas cítricas.
Durante a década de 1950 tornara-se comum o Ministério da Agricultura organizar excursões para levar profissionais brasileiros a observarem os padrões de funcionamento das instituições do ensino agrícola dos Estados Unidos da América. Em 1955, realizou-se uma excursão de técnicos em educação da Superintendência do Ensino Agrícola e Veterinário e diretores de várias escolas federais e equiparadas. Foram visitadas instituições norte-americanas de ensino agrícola localizadas em Washington e nos


Estados da Virgínia, Indiana, Alabama, Nova York, Kentucki, Carolina do Norte, Iowa e Mississipi. Foram visitados (...) as Universidades de Perdue e de Kentucki, o Colégio Estadual de Carolina do Norte... (...) A viagem incluiu também Porto Rico, onde foi visitada a Universidade e Costa Rica, onde os excursionistas se inteiraram dos trabalhos a cargo do Instituto Interamericano de Ciências Agrícolas, de Turrialba .


No mesmo período em que o Ministério da Agricultura organizava essas excursões, funcionava a Comissão Brasileiro-Americana de Educação para as Populações Rurais – CBAR, que executava trinta e quatro projetos em todo o país, com recursos da Superintendência do Ensino Agrícola e Veterinário e assistência técnica da Fundação Getúlio Vargas - FGV . A CBAR representava parte do acordo firmado entre os governos do Brasil e dos Estados Unidos da América, com o “objetivo de estimular e ampliar o intercâmbio de idéias e de processos pedagógicos, no campo da educação rural. Para a execução do convênio, está prevista a cessão, por parte do Institute of Inter American Affairs, de um corpo de especialistas para a colaboração necessária” .
Contudo, todos esses ajustamentos envolviam uma discussão que enfatizava a necessidade de transferir do Ministério da Agricultura para o Ministério da Educação as responsabilidades científicas quanto a formação dos profissionais da área. A tendência de transferir o ensino agrícola do Ministério da Agricultura para o Ministério da Educação já estava presente na Lei Orgânica do Ensino Agrícola, de 1946. A distância entre o ensino agrícola e os demais tipos de ensino médio era uma questão em debate no país. Segundo aquela legislação, “o ensino agrícola ficava dependente do Ministério da Agricultura, embora mantivesse uma organização semelhante a dos demais tipos de ensino médio” . A Lei Orgânica do Ensino Agrícola, portanto, atendeu, de modo efetivo, a necessidades postas quanto a organização do campo da agricultura científica no Brasil. Os profissionais da área foram capazes de entender que as suas regras “penetram em todos os níveis da sociedade, efetuam definições verticais e horizontais dos direitos e status dos homens e contribuem para a auto-definição ou senso de identidade dos homens” . Nesse embate, a lei foi o instrumento definidor de uma disputa travada entre detentores de diferentes saberes na luta pelo controle de importantes espaços de poder e gerenciamento do aparelho de Estado.
Os anos do final da década de 50 e início da década seguinte representam um período de grandes transformações em vários países, no sentido da valorização do ensino secundário agrícola. Nos Estados Unidos da América, a modalidade foi estimulada após a vigência da lei de estímulo à educação vocacional aprovada em 1963 . No Brasil, esses padrões estavam associados à perspectiva nacional-desenvolvimentista. Para esta corrente de pensamento, a educação escolar seria a principal ferramenta indutora das políticas de desenvolvimento econômico.

sexta-feira, 19 de março de 2010

AGRONOMIA E HISTÓRIA XII

O Instituto Parreiras Horta também ofereceu uma importante contribuição à Química agrícola em Sergipe, durante a década de 50. Logo nos primeiros anos do decênio, o diretor da instituição, Teotonilo Mesquita, associou-se ao engenheiro agrônomo Emmanuel Franco, chefe do Posto de Defesa Agrícola de Sergipe, e estudando juntos conseguiram obter uma cultura pura da bactéria Pseudomonas Solanacearum, a partir de plantas de fumo atacadas em Sergipe. Emmanuel Franco buscou, junto ao agrônomo Arthur Kelman, pesquisador da North Caroline State University, durante viagem de estudos aos Estados Unidos da América, em 1953, compreender de que modo a bactéria vinha sendo combatida na América do Norte. Em Sergipe, adotou-se a técnica de revolver o solo durante o mês de janeiro, expondo as bactérias à ação dos raios solares, o que se revelou eficaz (FRANCO, Emmanuel. Viagens. Uma semente plantada. Aracaju, Gráfica Editora J. Andrade, 2005. p. 81).
Ainda na década de 30, a reforma Francisco Campos possibilitou a junção dos ensinos secundário, normal e profissional no Ministério da Educação e Saúde Pública, contudo, manteve o ensino agrícola segregado no Ministério da Agricultura, Indústria e Comércio, sob o beneplácito dos profissionais do setor agrícola, adotando o entendimento de que esse ramo do ensino era problema de política agrícola e não de política educacional. Os pressupostos da reforma Francisco Campos foram predominantes na definição do ensino agrícola brasileiro até 1942, quando começou a ser aprovado o conjunto das chamadas leis orgânicas do ensino, sob o espírito da reforma promovida por Gustavo Capanema, durante o período em que este foi ministro da Educação . A reforma Capanema, além de possibilitar a definição das leis orgânicas do ensino profissional, foi importante para o cumprimento dos dispositivos constitucionais de 1937 que determinavam a criação de entidades especializadas relativas ao ensino vocacional e pré-vocacional como um dever do Estado com a colaboração das chamadas “classes produtoras”. Assim, foram implantadas entidades especializadas como o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial – Senai, em 1942, e o Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial – Senac, em 1946. Para o ensino agrícola, contudo, não foi criada qualquer entidade desta natureza.
Durante a gestão de Apolônio Sales no Ministério da Agricultura, em 1944, a Superintendência do Ensino Agrícola e Veterinário foi reorganizada, ampliando-se as suas possibilidades de intervir na educação das populações rurais. Na mesma oportunidade “estabeleceu-se um convênio entre os governos norte-americano e brasileiro, de que resultou a criação de uma Comissão Brasileiro-Americana de Educação das Populações Rurais” . Um ano depois, em 1945, A Inter-American Education Foundation – IAEF e o Ministério da Agricultura do Brasil firmaram um novo acordo, desta feita para aperfeiçoar o ensino das técnicas agrícolas.
O prestígio que os engenheiros agrônomos angariaram como profissionais especializados na produção de alimentos e no trato como os negócios da terra aliado ao crescimento do número desses profissionais em Sergipe possibilitou que em outubro de 1950 eles fundassem a Associação dos Engenheiros Agrônomos de Sergipe – AEASE. A proposta de organizar a Associação foi formulada por Tennyson Aragão, Wanderley do Prado Barreto, Alberto Campos Silva e José Pereira de Miranda Junior. Organizados, os engenheiros agrônomos tiveram uma atuação vigorosa em diferentes momentos da vida sergipana, como ocorreu, por exemplo, em Aracaju, no ano de 1976, quando o agrônomo Arício Resende liderou um movimento pela arborização da cidade. Segundo ele, era necessário romper com o índice de 0,66 metros quadrados de área verde por habitante à época, padrão considerado insuficiente segundo os parâmetros estabelecidos pela ONU.

terça-feira, 16 de março de 2010

AGRONOMIA E HISTÓRIA XI

O surto de desenvolvimento da Agronomia observado em Sergipe nas primeiras décadas do século XX era expressão do ambiente da ciência agronômica em todo o país. De um modo geral, em todo o mundo ocidental, a expansão do conhecimento agronômico foi notável nesse período. As duas guerras da primeira metade do século XX demonstraram a necessidade de alimentar grandes contingentes populacionais e impedir que se alastrassem doenças e pragas prejudiciais ao homem, aos vegetais e aos animais domésticos.


Os ingleses descobriram o poder inseticida da BHC e do DDT, os alemães e os franceses descobriram o poder inseticida dos derivados orgânicos do fósforo, e os americanos, com a sua inteligência, sagacidade e riqueza adquirida com as guerras, financiaram os inventos, como os novos inseticidas clorados, o BHC, DDT e fosforados parathiom e folidol. Novos fungicidas apareceram com outros princípios ativos, além do cobre, mercúrio e enxofre (FRANCO, Emmanuel. Viagens. Uma semente plantada. Aracaju, Gráfica Editora J. Andrade, 2005. p. 117).



Segundo Emmanuel Franco, os inseticidas e herbicidas clorados foram os primeiros a serem utilizados pelo homem. Alguns deles podem ter um poder residual prolongado, a exemplo do DDT e do Aldrin. Estes possuem uma capacidade letal provocada pela ação do cloro. Os inseticidas fosforados perdem o seu poder de agir mais rapidamente, a exemplo do Malathion, que pode perder as suas propriedades em quatro horas, quando atacado pela luz. Porém, os fosforados sistêmicos são capazes de atuar durante seis meses no interior do tecido das plantas (FRANCO, Emmanuel. Viagens. Uma semente plantada. Aracaju, Gráfica Editora J. Andrade, 2005. p. 164).
A indústria de agrotóxicos se expandiu, pressionando no sentido de que o mercado brasileiro fosse aberto aos seus produtos. Em 1958, em Sergipe, o consumo de adubo químico saltou de 13.310 quilos no ano anterior para 737.440 quilos. Em 1959 o consumo chegou a 933.310 quilos. O crescimento do consumo foi estimulado pela Inspetoria Regional de Defesa Sanitária Vegetal. Anteriormente, a maior parte da adubação era feita com esterco de gado e torta de mamona. No Estado, ao final da década de 70 começaram a funcionar duas importantes indústrias dedicadas a produção de adubos. A Petrobrás Mineração – Petromisa (atualmente Companhia Vale do Rio Doce) continua produzindo milhares de toneladas de cloreto de potássio, enquanto a Fábrica de Fertilizantes Nitrogenados – Fafen produz milhares de toneladas de amônia e uréia (FRANCO, Emmanuel. Viagens. Uma semente plantada. Aracaju, Gráfica Editora J. Andrade, 2005. p. 135). “A mina de potássio de Taquari-Vassouras, em Siriri, Sergipe, vai jogar no mar, cerca de quatro mil toneladas de Salgema e outros sais que o acompanham, diariamente” (FRANCO, Emmanuel. Viagens. Uma semente plantada. Aracaju, Gráfica Editora J. Andrade, 2005. p. 164).
Em 1945, após a criação do Posto de Defesa Agrícola, em Aracaju, o agrônomo sergipano Emmanuel Franco que atuava em São Luiz, no Estado do Maranhão, foi transferido para cá e assumiu a sua direção. No período em que viveu no norte do Brasil e nas viagens que realizou entre aquele Estado e a Bahia, Emmanuel Franco fez as observações, estudos e anotações que o possibilitaram publicar o livro Estudo de ecologia vegetal e reflorestamento.

domingo, 14 de março de 2010

AGRONOMIA E HISTÓRIA X

Até o final da década de 60 o Campo de Sementes de Aracaju permaneceu sob controle do Ministério da Agricultura. Na década de 70 passou ao domínio do governo municipal e foi transformado, pelo prefeito Heráclito Rollemberg, em Parque Governador Augusto Franco, o Parque da Sementeira.
O desenvolvimento da estrutura de pesquisa agronômica e de Defesa Sanitária montada no Brasil pelo Ministério da Agricultura durante as primeiras décadas do século XX foi possível em função da colaboração do Instituto Osvaldo Cruz e do Instituto Biológico de São Paulo, além da participação de centros de pesquisas estaduais como os Institutos de Química Industrial e Parreiras Horta, organizados em Sergipe ainda na década de 20, acompanhando o desenvolvimento da Química. Assim, o controle e a fiscalização fitossanitária foram estendidos aos portos terrestres, aéreos e marítimos, com a instalação de postos de defesa agrícola em todos os Estados. Esta estrutura de defesa vegetal operou no Brasil até a primeira metade da década de 60 e somente foi modificada depois do golpe militar de 1964.
Os estudos realizados pela Subestação Experimental de Aracaju foram muito importantes. Em 1945, o agrônomo José Pereira de Miranda Júnior identificou a doença do anel vermelho do coqueiro. Em função da descoberta, a Divisão de Defesa Sanitária Vegetal – DDSV do Ministério da Agricultura tomou a decisão de instalar na capital do Estado de Sergipe um Posto de Defesa Agrícola - PDA, com o objetivo de combater tal enfermidade. O PDA organizou quatro turmas com seis homens em cada uma delas para combater o anel vermelho em todas as regiões do Estado. Também buscou combater outras doenças e pragas, como a cigarrinha dos canaviais. A partir daí o PDA cuidou não apenas do coqueiro e da cana, mas também da laranjeira, das plantas hortícolas, da cebola, do alho, do tomate, da batata doce, da mandioca, do fumo, do milho, do feijão, do arroz e do algodão. O combate era desenvolvido através de um programa de extensão rural que buscava educar os agricultores de modo que estes incorporassem tecnologia que evitasse a difusão das doenças.
Através de um acordo que celebrou com o Departamento de Cooperativismo do Estado de Sergipe, o PDA adquiria drogas fitossanitárias e equipamentos agrícolas que eram distribuídos em vários municípios. Esse acordo possibilitou que o governo estadual transferisse cem mil cruzeiros ao Posto de Defesa Agrícola em Sergipe, destinados a aquisição de agrotóxicos, adubos químicos e a aquisição de material destinado à pesquisa fitossanitária. Do mesmo modo, em Aracaju o PDA implantou um laboratório para estudos fitossanitários e uma biblioteca especializada. Muitos estudos realizados no laboratório de Aracaju eram apresentados em eventos científicos da área como a Segunda Reunião Latino Americana de Fitotecnia, realizada em São Paulo no ano de 1952. Esse acordo possibilitou que, em 1954, o governo estadual transferisse cem mil cruzeiros ao Posto de Defesa Agrícola em Sergipe, destinados a aquisição de agrotóxicos, adubos químicos e a aquisição de material destinado à pesquisa fitossanitária (FRANCO, Emmanuel. Viagens. Uma semente plantada. Aracaju, Gráfica Editora J. Andrade, 2005. p. 133).
Desde a década de 30, a Agronomia em Sergipe estava vivendo um novo e forte período de renovação, depois da chegada ao Estado do agrônomo João Augusto Falcão, a convite do interventor Eronides de Carvalho. Bem articulado junto ao Ministério da Agricultura, Falcão trabalho no sentido de renovar a frota de tratores e máquinas agrícolas existentes em Sergipe e convidou um grupo de agrônomos pernambucanos a se transferirem para cá. Na oportunidade passaram a atuar em Sergipe José Pereira de Miranda Junior, como chefe da Subestação Experimental de Aracaju; Walter Dantas Cortez; e, Moacir Wanderley, como chefe da Estação Experimental de Quissamã.

sábado, 13 de março de 2010

AGRONOMIA E HISTÓRIA IX

Há uma outra explicação para o insucesso desse tipo de experiência. Autores como Josué Modesto dos Passos Subrinho afirmam que desde o século XIX,


os senhores de terras e de escravos nordestinos não acreditavam na imigração massiva como solução para a superação do trabalho escravo. No final da década de 1870, a imigração era encarada majoritariamente pela elite nordestina como um desperdício de recursos públicos, recursos que, no entender da mesma, deveriam ser direcionados preferencialmente ao crédito agrícola, à construção de ferrovias e portos, subsídios às linhas de navegação a vapor ou genericamente nos auxílios à lavoura (PASSOS Subrinho, Josué Modesto dos. Reordenamento do trabalho. Trabalho escravo e trabalho livre no Nordeste açucareiro. Sergipe 1850-1930. Aracaju, Funcaju, 2000. p. 278).


Para muitos engenheiros agrônomos, o que interessava era a modernização das instituições de política agrícola do Estado brasileiro, a fim de que o setor fosse dirigido com eficácia. Este era também um elemento de estímulo à política nacional de implantação de instituições agrícolas de ensino superior, a exemplo da Escola Nacional de Agricultura, criada em 1927, atualmente Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro.
O debate sobre a modernização das instituições agrícolas ganhou corpo no momento em que o próprio Ministério da Agricultura estava sofrendo algumas alterações:


Segundo o Decreto 22.338, de 11/1/1933, o Ministério da Agricultura foi constituído por três Diretorias-Gerais: de Agricultura, de Pesquisas Científicas e de Indústria Animal. Subordinados à primeira estavam os Patronatos Agrícolas, o Serviço de Inspeção e Fomento Agrícolas, os Aprendizados Agrícolas, os Serviços Experimentais de Agricultura, o Serviço de Algodão e o Serviço Florestal .


Um ato do governo federal subordinou a pesquisa agronômica à repartição responsável pela administração do ensino agrícola:


À Diretoria-Geral de Agricultura do Ministério foram subordinadas as seguintes diretorias técnicas, conforme texto do Decreto nº 22.380, de 20/1/1933: Ensino Agronômico, Fomento e Defesa Agrícola, Sindicalismo-Cooperativista, Fruticultura e Plantas Têxteis. Subordinados à Diretoria do Ensino Agronômico estavam: a Escola Superior de Agricultura e Medicina Veterinária, localizada no Estado do Rio de Janeiro; os Aprendizados e os Patronatos Agrícolas, situados em várias unidades da federação, e o Ensino Agrícola Subvencionado .


Esta nova política estava articulada ao processo de regulamentação da profissão de Agrônomo . Era este o profissional que iria disputar o mercado de trabalho “e o campo intelectual/político com os demais profissionais até então autorizados a falar e intervir, dentre outras coisas sobre a agricultura” . Era a lei mediando e legitimando as relações entre os grupos sociais. Ao promover a afirmação de novas categorias profissionais como a do agrônomo, tal processo enfatizou a necessidade de preparação técnica e prática. Assim, a nova estrutura criada atribuiu ao Ministério da Agricultura toda a responsabilidade pela manutenção de estabelecimentos federais de ensino agrícola, em todos os graus, bem como a de fiscalização dos estaduais e também daqueles mantidos por particulares. Em atendimento ao que prescrevia a regulamentação das atividades profissionais agronômicas, a Escola Nacional de Agronomia e Veterinária foi transformada em duas instituições: a Escola Nacional de Agronomia e a Escola Nacional de Veterinária. A Escola Nacional de Agronomia foi definida como padrão do ensino superior de agricultura, enquanto a Escola Agrícola de Barbacena recebeu o status de estabelecimento modelo para o ensino médio. E os aprendizados agrícolas foram transformados em padrões escolares para o ensino agrícola elementar, para que formassem homens letrados, portadores de aptidões e informações que os habilitassem ao preenchimento de determinados papéis necessários para que se legitimasse a produção agrária científica.
A implantação dessa estrutura de cursos e as suas conseqüentes definições curriculares eram parte de um projeto de difusão por todo o país “de uma certa matriz de pensamento acerca dos problemas da agricultura e do papel do agrônomo junto a ela” . Formar um corpo de técnicos habilitados para coadjuvar os engenheiros agrônomos era importante à consolidação desse campo profissional e como estratégia de difusão do caráter científico da política agrícola brasileira. Por isto, o estabelecimento de tal política definiu também a criação da Diretoria do Ensino Agronômico do Ministério da Agricultura , responsável pelo seu gerenciamento. Um ano depois, esse organismo foi transformado em Diretoria do Ensino Agrícola . Finalmente, em 1938, criou-se no Ministério da Agricultura a Superintendência do Ensino Agrícola . Este era o caminho que os intelectuais da agricultura entendiam como sendo aquele que viabilizava o rompimento do paradigma de homem culto que na opinião destes predominara sob o Império e do qual pretendiam a libertação, abrindo um importante espaço ao saber técnico. Por isto, todo o discurso do período que caracteriza o ensino agrícola em Sergipe é marcado pela defesa do ensino prático a fim de formar cultivadores capazes de fazer a exploração racional das propriedades rurais.
Neste projeto, a Superintendência do Ensino Agrícola e Veterinário – SEAV era responsável pela orientação e fiscalização do ensino agrícola e veterinário nos seus diferentes graus; pela fiscalização do exercício das profissões agronômica e veterinária; pelo registro dos diplomas; pela manutenção do ensino médio e elementar de agricultura; pela promoção da educação direta das populações rurais; e, pela realização de estudos e pesquisas educacionais aplicados à agricultura. O Aprendizado Agrícola Benjamin Constant, portanto, como os demais, estava diretamente subordinado a essa Superintendência. O Ministério da Agricultura era a estrutura que exercia a validação e o reconhecimento do caráter profissional dos indivíduos formados por essas instituições de ensino.
Sob tal contexto, o Estado de Sergipe ganhou, em 1934, o Campo de Sementes de Aracaju, instalado pelo Ministério da Agricultura à margem esquerda do rio Poxim, a menos de 300 metros da confluência deste com o rio Sergipe e a seis quilômetros da cidade de Aracaju. A principal cultura do campo de Aracaju era a do coqueiro. Em 1939, informa um relatório do então ministro da agricultura, Fernando Costa, existiam 1.800 plantas com quatro anos de idade e 400 com dois anos. O número de cocos em sementeiras para a produção de mudas, destinadas à venda, excedia a quatro dezenas de milhar. O campo conduzia trabalhos de pesquisas e experimentos relativos ao coqueiro, tais como métodos de semeadura, escolha de sementes, estudo da planta produtora da semente, germinação, trato e porte das mudas para plantio, formação de coqueiral, moléstias e pragas, estudo de variedades e produção de sementes puras. Além disso, no campo foram plantadas sementes de coqueiro anão, cujos frutos das primeiras árvores já estavam sendo colhidos. O entusiasmo com essa variedade era grande. Propagava-se a vantagem sobre o coqueiro comum: precocidade na produção. Para aperfeiçoa-la, o campo levava a efeito ensaios relativos à fecundação artificial dessas duas variedades com sinais indicativos de bom êxito.

sexta-feira, 12 de março de 2010

AGRONOMIA E HISTÓRIA VIII

Para dinamizar o setor criou o Banco Estadual de Sergipe e implantou centros experimentais de sementes selecionadas, com a finalidade de aperfeiçoar a produtividade e a qualidade do algodão em Sergipe.
Com o mesmo propósito contratou um pesquisador norte-americano, o professor Thomaz R. Day, oriundo do Texas. O principal objetivo buscado com a presença deste especialista estrangeiro em Sergipe era fundar a Estação Experimental Miguel Calmon. Durante o período no qual permaneceu em Sergipe, Thomaz Day realizou experimentos plantando algodão numa propriedade rural do município de Barra dos Coqueiros e no município de Frei Paulo, onde fundou a Estação Experimental de Queimados (FRANCO, Emmanuel. Viagens. Uma semente plantada. Aracaju, Gráfica Editora J. Andrade, 2005. p. 20). Em 1923, Graccho Cardoso criou o Departamento Estadual do Algodão. Na área do Quissamã instalou-se o Centro Agrícola Epitácio Pessoa , com um laboratório de análises que tinha o objetivo de “atender ao requisito da falta de controle científico e conhecimentos técnicos na produção do solo” .
O projeto agrícola que mais entusiasmava Graccho Cardoso era o assentamento, na região do Quissamã, de vinte e duas famílias de colonos alemães, uma experiência frustrada e abandonada em seguida. Graccho começou a preparar o processo de colonização ainda em 1923, quando editou o decreto 758, regulamentando a contratação e localização de imigrantes estrangeiros em Sergipe. O próprio presidente Graccho Cardoso registrou o início da experiência:


Iniciei a colonização estrangeira, com a localização, nos lotes adrede preparados, nesse estabelecimento, de 22 famílias alemãs. Penso que surtirá bom resultado este tratamento, que virá animar os proprietários agrícolas, que tanto sentem a falta de braços para o tamanho de suas terras, a procurarem esse valioso elemento (SERGIPE. Mensagem apresentada à Assembleia Legislativa, em 07 de setembro de 1924, ao instalar-se a 2ª sessão ordinária da 15ª legislatura pelo Dr. Maurício Graccho Cardoso Presidente do Estado. p. 24).


Desde o século XIX a formação de colônias agrícolas com trabalhadores europeus era defendida por intelectuais e políticos.


No entender da intelligentsia nacional do século XIX, o principal problema brasileiro era o predomínio da população de origem africana e mestiça, de forma que o aumento do estoque da população de origem européia era um objetivo em si mesmo, ainda que, eventualmente, não resolvesse o problema de braços para a lavoura (PASSOS Subrinho, Josué Modesto dos. Reordenamento do trabalho. Trabalho escravo e trabalho livre no Nordeste açucareiro. Sergipe 1850-1930. Aracaju, Funcaju, 2000. p. 280).


A Colônia do Quissamã representava a contribuição do Estado de Sergipe ao projeto brasileiro de ampliar a entrada de brancos no país, ao mesmo tempo em que se impedia a entrada de africanos e asiáticos, ao lado de outras medidas que o presidente Graccho Cardoso tomara e que diziam respeito a decisões que o governo do Brasil vinha adotando quanto a políticas de saneamento, “de combate a epidemias tropicais, de higiene e o desenvolvimento de projetos eugênicos (inclusive a defesa da esterilização dos considerados não regeneráveis, como os deficientes, loucos, epilépticos, delinqüentes, dentre outros)” (VAGO, Tarcísio Mauro. Cultura escolar, cultivo de corpos: Educação Physica e Gymnastica como práticas constitutivas dos corpos de crianças no ensino público primário de Belo Horizonte (1906-1920). Bragança Paulista, EDUSF, 2002. p. 28).
As 22 famílias de colonos alemães chegaram a Aracaju em fevereiro de 1924, a bordo do vapor Comandante Miranda. Eram 82 imigrantes que receberam os lotes do Centro Agrícola Epitácio Pessoa. O fato era considerado tão importante que o próprio presidente do Estado, Graccho Cardoso, e o secretário de governo, Hunald Cardoso, estiveram pessoalmente a bordo do navio recebendo os colonos, dando boas vindas e os encaminhando para uma hospedaria na qual estes permaneceram durante oito dias (SERGIPE, DIÁRIO OFICIAL: 1924). Na mesma oportunidade foi designado o médico Alexandre Freire para inspecionar as condições de saúde dos imigrantes.
Ao serem transferidos para a Colônia, receberam as 20 casas que o governo mandara construir em lotes de 150 tarefas, todas dotadas com luz elétrica e instalações sanitárias. Além disso, os colonos recebiam assistência dentária e tinham a liberdade de escolher a cultura que pretendiam explorar.
Dezoito meses depois do assentamento, em setembro de 1925, o próprio presidente Graccho Cardoso informou à Assembléia Legislativa que, das 22 famílias iniciais, apenas 16 continuavam vivendo no assentamento, totalizando 53 pessoas. 29 alemães haviam abandonado o projeto. Contudo, o governante continuava otimista quanto ao futuro do empreendimento:


melhor não pode ser o estado de desenvolvimento da colônia, pelo que se pode inferir da boa disposição que os seus membros apresentam, resultante das ótimas condições sanitárias e da adaptação fácil de todos aos costumes regionais. Eles estão atualmente empenhados na cultura da cana, algodão, mandioca (SERGIPE, 1925).


Ao final de dois anos, apenas um alemão, Oscar Backhaus, permanecia em Sergipe. Suas condições de sobrevivência eram muito difíceis e, com dificuldades para continuar vivendo na colônia, ele conseguiu se mudar para a Fazenda Varzinhas, em Laranjeiras, propriedade de uma família alemã (os Hagenbeck). Os demais alemães haviam abandonado a Colônia e o Estado. Alguns mudaram para a Bahia, outros foram para Santa Catarina e outros regressaram ao seu país de origem. Nesse período circulavam muitas histórias a respeito da miserável situação que se abatera sobre os colonos alemães do Quissamã. Os críticos do projeto afirmavam que o mesmo fracassara em função de dois fatores: a insalubridade do Quissamã, área sujeita a febres palustres, e os hábitos e padrões alimentares praticados em Sergipe dos anos 20 do século passado. Todavia, há estudos que atribuem o insucesso ao fato de os alemães que vieram para Sergipe serem homens urbanos, pouco afeitos a atividade agrícola. Costumam exemplificar com a situação do próprio Oscar Backhaus que no seu país era um desenhista têxtil especializado na produção de rendas (RODDEWIG, Wolfgang. “Uma tentativa de colonização malograda”. (Inédito).

quarta-feira, 10 de março de 2010

AGRONOMIA E HISTÓRIA VII

Durante a Primeira República as ciências agrárias, da mesma maneira que outros campos acadêmicos buscaram legitimar-se sob a condição de serem conhecimentos científicos suficientes para a solução dos problemas da atividade agropecuária brasileira. Este tipo de ação era orientado pelo discurso dos agrônomos, num comportamento próprio


a uma categoria em processo de legitimação profissional: a tentativa de construir a própria demanda por seus serviços. E isso, a meu ver, em muito interferiria em suas representações acerca da situação agrícola do país, posto que desta dependeriam a defesa de seu espaço e a definição de seu papel face aos demais atores sociais em disputa .


Acentuando de modo muito forte o discurso de crítica à agricultura brasileira sob o Império, os agrônomos se apresentavam como construtores da nacionalidade, através daquilo que era fundamental à nação: a agricultura. “Cabia-lhes resgatá-la de um suposto entorpecimento e atraso” .
As pressões pela afirmação do campo possibilitaram a criação, em 1899, da escola que deu origem a atual Faculdade de Agronomia da Universidade Federal do Rio Grande Sul e, em 1901, a instituição que posteriormente transformar-se-ia na Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” da Universidade de São Paulo.
Os debates sobre os problemas da agricultura em Sergipe se intensificaram no início do século XX. Tal como ocorrera no século XIX, muitas pessoas com formação superior em diversas áreas se aventuravam pelos estudos de Agronomia e publicavam trabalhos agronômicos na imprensa. Foi este o caso do engenheiro mecânico Adalardo Carvalho Lisboa Nogueira, criador de gado bovino no município de Laranjeiras, que publicou um conjunto de artigos sob o título “Interesses Agrícolas” . A publicação desse tipo de trabalho estava inserida no contexto de um amplo debate que levaria o governo estadual a buscar a tecnificação intensiva das atividades do setor agrícola e a criar, em 1915, a Diretoria de Obras, Agricultura, Indústria e Viação.
Esse tipo de propósito já era visível desde que as primeiras discussões a respeito da implantação de uma escola agrícola primária no Quissamã foram iniciadas, ainda em 1912. O governo da União decidira criar centros agrícolas em vários Estados. A fim de atender tal objetivo, o presidente José de Siqueira Menezes fez a desapropriação da fazenda Quissamã, área então situada no município de Nossa Senhora do Socorro. O início do governo Wenceslau Braz, em 1915, e a Reforma Carlos Maximiliano fizeram com que o governo federal abandonasse a idéia. Assim, a escola agrícola projetada por Siqueira Menezes não chegou a ser implantada. O projeto proposto durante o governo do presidente Wenceslau Braz materializar-se-ia em 1918, sob a forma dos patronatos agrícolas. Nesse contexto, uma outra importante tentativa de implantação de uma escola agrícola em Sergipe foi comandada pelo presidente Oliveira Valadão, em 1916. O objetivo era o de obter a melhoria da produtividade agrícola para atender à demanda dos mercados consumidores, incentivando o emprego de máquinas e implementos na agricultura. A Escola Prática de Agricultura a ser criada deveria funcionar em Aracaju e manter dois campos de demonstração em localidades do interior do Estado. Era pretensão do governo fazer com que a escola funcionasse de modo exclusivamente prático. Os alunos do último ano do curso primário deveriam receber ensinamentos da agricultura e aprender a servir-se, a utilizar-se racionalmente de aparelhos aperfeiçoados, a fazer seleção de sementes, a conhecer a natureza dos terrenos e certificar-se das vantagens de tais processos. Além dessa tentativa, o governo do general Valadão estimulou o ensino da agricultura no ensino primário, ao introduzir no currículo a disciplina “Ciências Naturais (lições de cousas) e aplicações à zootécnica e agricultura”.
As leituras das propostas formuladas para o ensino agrícola a partir do século XIX são indicadores que se somam ao entendimento, já esboçado por alguns pesquisadores, segundo o qual as alterações que se operaram na vida brasileira ao longo da passagem do século XIX para o século XX, e também no processo de substituição da Monarquia pela República, não são tão rápidas e tão radicais como muitas vezes se crê. As mudanças registradas nas últimas décadas do século XIX e nas primeiras do século XX são, assim, parte de um processo que se produziu no Brasil ao longo dos anos oitocentos e que obedece a uma dinâmica própria que não se subordina diretamente à substituição do regime monárquico pelo republicano.
O período que vai de 1918 a 1934 foi a época durante a qual o governo brasileiro enfatizou a sua política de difusão dos patronatos agrícolas. Esse tipo de instituição era voltado à formação técnica de trabalhadores e levava em consideração os fundamentos científicos necessários à racionalização da atividade agrícola. O ruralismo pedagógico, que foi muito forte no cenário educacional brasileiro da década de 1920, teve como arautos alguns “pensadores sociais do começo do século, como Sílvio Romero e Alberto Torres” . Estes intelectuais pretendiam transformar o ensino primário em instrumento de fixação do homem ao campo, amortizando os impactos causados pelo movimento migratório, numa cruzada de “valorização do país agrícola, através da regionalização da escola e do ideário ruralista nas instituições escolares” .
Assim, o governo demonstrava sua preocupação não apenas com a vida na cidade, mas, também, afirmava a necessidade de cuidar do produtor de alimentos, concorrendo “para minorar os problemas decorrentes da falta de preparação daqueles que trabalhavam e diretamente lidavam com a agropecuária” . Isto representava um esforço governamental no sentido de fazer, outra vez, crescer a população rural e reduzir a migração em busca do espaço urbano – discussão fundamental à época.


A migração era tomada como um dos problemas que perspassava as áreas rurais: a busca de oportunidades educacionais e de preparação profissional, entre outras, estimulava o deslocamento de populações em direção aos centros urbanos. O ensino profissional agrícola era pensado enquanto meio possível de estimular o aumento da população rural ao fixá-la .


A partir de 1922, o governo do presidente Maurício Graccho Cardoso assumiu uma preocupação muito acentuada com os problemas agrícolas de Sergipe e os impactos da atividade agrícola na economia local.

domingo, 7 de março de 2010

AGRONOMIA E HISTÓRIA VI

Além do Instituto sergipano foram criados no mesmo ano os do Rio de Janeiro, Bahia e Pernambuco. Era pretensão do governo criar idênticas instituições em todas as províncias. Os estatutos do Instituto de Sergipe eram iguais aos do Instituto Bahiano, com pequenas adaptações.
O êxito do Instituto Baiano lhe permitiu criar, em 1875, a Imperial Escola Agrícola da Bahia, única escola superior de agronomia do país até 1890. Inaugurada, em 1877, “a Escola iniciaria seu curso em dois graus, o elementar e o superior, sendo o primeiro destinado a habilitar trabalhadores agrícola e o segundo a formar agrônomos, engenheiros agrícolas e veterinários” . A primeira turma foi diplomada em 1880, com dez agrônomos.


O Imperial Instituto Fluminense (...) Apesar de sua curta existência, conta já 100 sócios efetivos (...) contando com o auxílio do governo imperial deliberou tomar a si a administração do jardim botânico da Lagoa Rodrigo de Freitas para nele fundar um estabelecimento rural, que possa servir de modelo, e de escola prática de agricultura .


O Imperial Instituto Sergipano de Agricultura representou uma tentativa de modernização das práticas agrícolas na Província de Sergipe. A entidade nunca chegou a funcionar efetivamente, tendo os responsáveis pela instituição se envolvido em uma mal explicada história de prestação de contas dos recursos que o Imperador Pedro II destinou à sua implantação e funcionamento . Essas mazelas não permitiram que o Instituto cumprisse um dos mais importantes dentre os seus objetivos: o estabelecimento do ensino agrícola em Sergipe.
Todavia, alguns intelectuais do período defenderam outras possibilidades de ensino agrícola e industrial Um deles foi o já citado João José Bittencourt Calasans, que foi dirigente do Imperial Instituto Sergipano de Agricultura e no livro O agricultor sergipano da cana de açúcar, que publicou em 1869, defendeu a criação de um engenho modelo como fonte de instrução agrícola. Esse tipo de organização seria criado


por meio de associações, quando não fosse instituída, com preferência, pela bolsa abastada de um ou de outro, que podendo dispor de uma quarentena de contos de réis se acharia mui bem habilitado de assim concorrer, para animar, proteger e fazer desenvolver essa parte da principal fonte de riqueza – a agricultura açucareira (CALASANS, 1869: 47).


Uma grande contribuição aos projetos de modernização da agricultura em Sergipe foi oferecida em 17 de janeiro do ano de 1882, quando o presidente Inglês de Souza convidou o engenheiro José de Siqueira Menezes para elaborar a planta e o orçamento de um conjunto de edifícios, a serem construídos em local apropriado, objetivando a criação de uma escola agrícola modelo. A sua proposta teve como justificativa a necessidade de “melhorar as práticas agrícolas, para maior produtividade das culturas básicas da economia sergipana” . Para cumprir o seu objetivo, Inglês de Souza pretendia contar com a cooperação do Imperial Instituto Sergipano de Agricultura. A pretensão do presidente da Província era formar “uma classe de trabalhadores agrícolas, familiarizados com os princípios das ciências práticas que concorrem para o melhoramento da cultura do solo e com o manejo dos instrumentos aperfeiçoados para os trabalhos dos campos, adquirindo também a experiência e conhecimento prático das artes acessórias” . Este tipo de afirmação demonstra com clareza o quanto o governo de Herculano Marcos Inglês de Souza estava preocupado com a ampliação do mercado de trabalho para os homens livres em Sergipe.
Na segunda metade do século XIX, com o fim do tráfico de escravos, as preocupações com a ampliação do mercado de trabalho livre se intensificaram e passaram a ser alvo de políticas mais objetivas. A lei precisava regular o conflito que se intensificaria no mercado, com uma massa mais numerosa de trabalhadores. Com o seu poder regulador estava sendo ampliada a massa de homens livres pobres. Dentre as argumentações expostas, fica explícita, principalmente, a preocupação com a substituição do trabalhador escravo pelo trabalhador livre. A crença era a de que a mecanização substituiria o trabalho braçal.


Estanque a fonte que alimentava a escravatura, hão de necessariamente escassear e afinal extinguir-se os braços que ainda hoje se empregam nos trabalhos difíceis de grandes propriedades. Ora em todos os países adiantados são as máquinas aperfeiçoadas pela industria moderna que substituem e suprem naqueles trabalhos o braço do homem .


Apesar desse quadro, algumas importantes lideranças do setor agrícola da região Nordeste, como Henrique Augusto Millet, insistiam, em 1878, que a mão-de-obra não era problema para a economia agrária: “Sei que não temos agora falta de braços, pois milhares de retirantes entulham as povoações do litoral e não há trabalho para todos” .
As preocupações com a modernização da agricultura e as suas relações com a educação, no início do século XX, são reveladoras de uma coerência existente entre os discursos que faziam os empresários e autoridades do setor agrícola. Por ocasião do Congresso Nacional de Agricultura que aconteceu no Rio de Janeiro, em 1901, o documento produzido era eloqüente: “O Congresso Nacional de Agricultura, no intuito de organizar todos os elementos de instrução ou educação agrícola e de difundir a maior soma de meios para instituí-la e praticá-la, combinando e desenvolvendo igualmente todas as iniciativas, recursos, atividades e energias do trabalho e da produção, em uma orientação esclarecida, adiantada e segura, pede aos poderes públicos do país que seja criada a seção ou departamento de agricultura, a parte ou junto ao atual Ministério da Indústria e Viação”.
O projeto da Sociedade Nacional de Agricultura coincidia com aquilo que pensava o governo federal e os governantes dos Estados. A modernização agrícola poderia ser obtida através da difusão do ensino técnico agrícola e da mecanização. Assim, o Ministério da Agricultura, Indústria e Comércio era visto como uma ferramenta eficaz para introduzir princípios científicos nas atividades agrícolas brasileiras. A crença era de que o ensino geral de agricultura haveria de se organizar com as forças e elementos que lhe fornecessem o Departamento de Agricultura, os colégios ou escolas agrícolas e as estações agronômicas e campos de experiência e demonstração. A instrução elementar agrícola seria dada nos orfanatos, asilos, colônias especialmente consagrados a este fim, isto é, ao preparo do trabalhador agrícola. Em todas estas instituições o ensino deveria ser prático e útil, e o indivíduo, que se dedicava ao mister da lavoura, deveria adaptar o seu condicionamento físico, moral e intelectual às necessidades da vida, aparelhando-se devidamente para as lutas e rigores do trabalho.

quarta-feira, 3 de março de 2010

AGRONOMIA E HISTÓRIA V

Entre os anos de 1857 e 1859 Sergipe viveu uma grande crise de abastecimento que resultou em muitas mortes e no registro de saques a armazéns e outras casas comerciais. Nesse mesmo período a seca que atingia o sertão dizimou parte do rebanho sergipano, seja pelo mau aproveitamento dos terrenos que não recebiam o tratamento devido e possível em face do conhecimento agronômico então existente, seja pela ausência de práticas de melhoramento das raças dos animais de criação. Do ponto de vista das plantações, à exceção da lavoura canavieira, eram raros hábitos como os de adubação, aragem, armazenamento de água e irrigação. A adubação conhecida era apenas aquela que utiliza esterco de gado, técnica introduzida no agreste do Estado de Sergipe por agricultores da região do Minho, em Portugal, que aqui se estabeleceram (FRANCO, 2005: 11). Na produção agrícola sergipana, os instrumentos mais utilizados eram pá, enxada, machado e fogo (ALMEIDA, Maria da Glória Santana de. “Estrutura de produção: a crise de alimentos na província de Sergipe (1855-1860)”. Revista do Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe. Aracaju, nº 27, 1965-1978. p. 37).
As interpretações da pesquisadora Maria da Glória Santana de Almeida sobre a crise dos alimentos dão conta do quadro existente na agricultura sergipana durante o século XIX. Contudo, é possível afirmar que a partir da metade dos anos 800 o conhecimento agronômico científico em Sergipe foi incorporado de maneira mais acelerada, alterando de modo substancial o panorama de então. Os estudos realizados por João José Bitencourt de Calasans e já aqui analisados são fortes indicadores de tais modificações. Memorialistas como Emmanuel Franco indicam a presença de um agrônomo francês, o Dr. Guiot, trabalhando na produção canavieira em Sergipe durante a segunda metade do século XIX. Apesar de não oferecer maiores indicações sobre esse profissional, afirma que ele esteve envolvido com os estudos que identificaram a Gomose da cana de açucar, nas décadas de 60 e 70 daquela centúria, no mesmo período em que Pasteur estava divulgando as suas descobertas no mundo microbiano (FRANCO, Emmanuel. Viagens. Uma semente plantada. Aracaju, Gráfica Editora J. Andrade, 2005. p. 18).
A segunda metade do século XIX foi um período de amplas discussões, por parte dos políticos, intelectuais e líderes do setor agrícola a respeito da necessidade de criar instituições que fomentassem o conhecimento de técnicas agrícolas; fundação de casas de crédito rural; diversificação das culturas (estímulo ao plantio de chá e café); e, introdução de colonos europeus.
No ano de 1869, o mais importante descaroçador de algodão em funcionamento na Província de Sergipe, era movido a vapor, com capacidade diária de processamento de 600 arrobas e estava instalado em Maruim, como um dos negócios da empresa Schramm.
O uso das terras agricultáveis para a produção de alimentos implicava também em alimentar o gado bovino, responsável pela produção de leite e carne. Esse problema sempre foi sentido, principalmente no sertão, nos períodos de estiagem, quando faltava alimento para as pessoas e para os animais. A alimentação do gado bovino em áreas do sertão sujeitas a períodos de estiagem prolongada começou a melhorar a partir da década de 60 do século XX, com a introdução intensiva da palma forrageira. A partir de 1964 a Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste – Sudene estimulou a introdução da palma fornecendo mudas e um auxílio em dinheiro para os proprietários rurais que quisessem plantar cinco hectares do vegetal. Não obstante ela ser reconhecidamente pobre em nutrientes, é vista como um importante alimento para o gado à época da seca. Quando cortada a cada dois anos e servida na cocheira, a planta pode durar até dez anos, ajudando o gado a resistir à seca (FRANCO, Emmanuel. Viagens. Uma semente plantada. Aracaju, Gráfica Editora J. Andrade, 2005. p. 150).
A palma forrageira tem facilidade em se adaptar aos solos que possuem potássio e sódio em abundância, como os solos da caatinga. Os melhores meses para o plantio são janeiro, fevereiro, abril e dezembro, podendo ser consorciada com milho, feijão e mandioca. Além disso, a palma é uma planta que cobra poucos tratos, exigindo apenas uma roçagem anual. Porém, a planta necessita de terrenos sombreados pelo mato.
Tradicionalmente, tem sido comum no sertão o consumo de mandacaru, uma cactácea nativa que chega até as dunas litorâneas. Agradável ao paladar do gado bovino, desde que colhida e cortada à máquina para destruição dos seus espinhos, a planta é suculenta e rica em água e vive durante muito anos, possuindo mais nutrientes que a palma forrageira. Aos dez anos, uma planta produz em média cinqüenta quilos de alimento.
Dentre as culturas preferenciais da região semi-árida, está também a mandioca, que garante alimento ao homem e ao gado.
Uma outra planta que se adapta bastante à zona do sertão do Estado de Sergipe é o milho, que tanto serve à alimentação humana como para o gado bovino. Em ambos os casos seu poder nutritivo é maior quando colhido verde, com os grãos da espiga ainda leitosos. A sua principal vantagem é o ciclo de vida curto, em torno de três a quatro meses, porém a planta é suscetível ao ataque de lagartas que podem prejudicar o milharal.
Dentre as árvores frutíferas existentes no sertão, sem nenhuma dúvida o umbuzeiro é a mais importante delas, pelos frutos ácidos que produz, adequados à fabricação de sucos e doces. Do mesmo modo, a quixabeira também oferece bons frutos.
Na zona do semi-árido sergipano, a partir da década de 80 do século XX, foi iniciada a implantação de uma rede de adutoras que captam água nos rios Piauí e São Francisco, associada a construção de cacimbas, tanques e barragens.
Emmanuel Franco afirma que a cultura da laranja foi introduzida em Sergipe, na região de Boquim, nas primeiras décadas do século XX, por Edgard Chastinet. A partir da metade do século os citricultores começaram a se organizar e surgiram duas cooperativas: uma em Lagarto e outra em Estância. Além disso, surgiram também indústrias de beneficiamentos dos frutos e extração do suco de laranja.
O Imperial Instituto de Agricultura Sergipano foi criado em 1860, durante a visita do Imperador Pedro II . O decreto de criação do Instituto foi assinado na cidade de Estância, no dia 20 de janeiro:


Desejando assinalar a época de minha visita a esta Província de Sergipe, e manifestar a atenção que presto à agricultura, principal fonte de riqueza do Estado, hei por bem criar o Imperial Instituto de Agricultura Sergipano sob as mesmas bases do Imperial Instituto Baiano de Agricultura, criado por meu Decreto do 1º de novembro de 1859. João de Almeida Pereira Filho, do meu Conselho, Ministro e Secretário dos Negócios do Império, assim o tenha entendido, e faça executar. Palácio da Estância aos 20 de janeiro de 1860. Com a rubrica de S. M. o Imperador. João de Almeida Pereira Filho. Conforme. O Oficial de Gabinete de S. Ex. o Sr. Ministro do Império em viagem, Manuel Diniz Villas-Boas .