sábado, 4 de dezembro de 2010

PRAGMATISMO E EDUCAÇÃO NO BRASIL II

Os Estados Unidos estavam consolidando a expansão da fronteira agrícola do Oeste e, com ela, a visão de que os fazendeiros dedicados tinham todas as chances, porque o trabalho era uma fonte de oportunidades sem limitações. As dificuldades econômicas que surgiam enfrentavam reações do pragmatismo, que se dispunha a construção de um novo tipo de liberalismo, com fundamento num sólido otimismo e propondo reformas que priorizavam a ação individual. Os pragmatistas faziam um discurso que representava um tipo de reação à crise da ordem social, propunha mudanças e não abria mão da idéia de que quem controla a sociedade é ela própria – o social control. Eram o ativismo e as lutas por reformas sociais que forneciam o alento do qual o pragmatismo se nutria.


“Uma coisa, entretanto, não deve ser esquecida, a complexa relação entre uma visão coletivista e o compromisso com os indivíduos. Trata-se de uma tensão que não se resolve com facilidade, e aparece tanto no pragmatismo – considerado como uma filosofia social ou como uma filosofia da educação – quanto na tradição sociológica que se formou sob sua influência.”


Toda esta configuração se apresentava numa sociedade que vivia, dentre os seus dramas, o espetáculo do inchaço das cidades, uma repressão cruel ao movimento dos trabalhadores, a expansão dos cortiços ao redor das minas de carvão e das indústrias. Havia, da parte de muitos pastores protestantes uma certa ansiedade no sentido de adaptar melhor o país à pregação moral do cristianismo. Ademais, boa parte do clero vinha perdendo prestígio político e econômico após a Guerra Civil. A doutrina religiosa recebia uma forte contestação da teoria evolucionista. Assumir a bandeiras das reformas sociais era uma tentativa de recompor o prestígio que se fora. Por outro lado, este período foi também marcado pela formação da vigorosa é influente camada média de profissionais que se consolidou no país. O pragmatismo dirigia, assim, o seu discurso às pessoas que buscavam ascender socialmente com base nos seus méritos profissionais. Principalmente aos intelectuais que buscavam, através das universidades, colaborar com o desenvolvimento da nação. Esse grupo sensibilizava políticos e homens de negócios que liberavam somas cada vez maiores para as instituições universitárias.

Os últimos anos do século XIX foram um período de criação de grandes universidades norte-americanas. Modernas, sem o compromisso das tradicionais universidades européias, instituições como a John Hopkins University e a Universidade de Chicago foram instaladas, respectivamente, em 1876 e 1892. Esta última, a Universidade de Chicago, se transformou num centro de pesquisas científicas que amparou os intelectuais pragmatistas, principalmente John Dewey e George Herbert Mead. O debate intelectual realizado na Universidade de Chicago era pródigo em críticas ao


“formalismo e fatalismo dos sistemas filosóficos europeus: o apriorismo de Kant, a metafísica formal de Hegel, o mecanicismo de Spencer, etc. Era preciso passar do formalismo para a experiência, pois afinal de contas todos esses sistemas eram produtos da vida humana.”


O pensamento filosófico de John Dewey, de George Herbert Mead e de outros intelectuais da Universidade de Chicago incorporou boa parte das críticas de Charles Peirce às idéias do formalismo cartesiano e também da psicologia de William James. Trabalhando em Harvard, James fora professor de Herbert Mead, através de quem suas idéias chegaram ao debate dos intelectuais de Chicago. É a contribuição dele que ajuda a superar a clássica dicotomia entre a realidade externa do mundo e a realidade interna da mente. Os pragmatistas propõem que todo o conhecimento resulta da atividade que muda a mente e o mundo conhecido. A atividade é biológica, psicológica e ética. Mantém relação com o conceito de função e com a noção de processo orgânico.


“Isto envolve a idéia de um agente que deseja, sente e tem emoções, e implica um objeto ou fim em vista do qual o movimento está dirigido. Mas nesta visão de atividade concreta a função biológica não é apenas um processo mecânico, nem o agente um ser espiritual sobrenatural, nem o fim é qualquer tipo de absoluto.”


Na opinião de John Dewey, George Herbert Mead foi o mais importante intelectual do grupo de pragmatistas que trabalhou em Chicago. Ele abriu para a ciência a possibilidade de investigar o nexo existente entre os processos sociais e as ações dos indivíduos. Ao falar durante os funerais dele, em 1931, Dewey disse que Mead “passou a vida tentando resolver a antítese proposta por Wilhelm wundt – ‘o problema da mente e da consciência individual em relação ao mundo e à sociedade.’” George Herbert Mead estudou em Leipzig, com Wilhelm Wundt.

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