domingo, 5 de dezembro de 2010

PRAGMATISMO E EDUCAÇÃO NO BRASIL - III

TEIXEIRA NA AMÉRICA


Anísio Teixeira viajou para os Estados Unidos da América pela primeira vez em abril de 1927, após haver sido diretor de instrução pública do Estado da Bahia, onde trabalhou na implementação de uma reforma educacional moldada pelo que entendia ser, àquele momento, o discurso educacional renovador. Matriculou-se no Teachers College da Columbia University, onde permaneceria até o final de agosto, para em seguida visitar as instituições educacionais de seis Estados norte-americanos, como convidado do International Institute do Teachers College. Esta viagem por diferentes regiões dos Estados Unidos da América se encerrou no mês de novembro e possibilitou a Anísio Teixeira produzir o relatório publicado sob o título de Aspectos americanos da educação. Nesse documento Anísio faz referência as idéias de John Dewey e de Edward Lee Thorndike. Reconhecendo em ambos a mesma importância, Teixeira demonstra ser indispensável levar em consideração


“a concepção quantitativista do segundo, cuja proposta era tudo avaliar, calcular e medir, criando métodos de investigação cuja aplicação geral fora realizada em 1911, por iniciativa da Junta para a Economia de Tempo, organizada pela Sociedade Nacional de Educação dos Estados Unidos.”


Ao final do ano de 1927, os estudos de Anísio Teixeira na Columbia University davam-lhe a certeza de que era cada vez mais necessário estudar Dewey e Thorndike. Com o primeiro era possível aprender os sentidos moral e social da democracia e com o segundo o controle dos resultados dos serviços escolares. É importante anotar que naquele momento John Dewey ainda não era o mais importante dentre os pedagogos do país e suas idéias ainda não haviam sido adotadas de modo mais amplo. Ele ainda estava sendo descoberto. O acompanhamento da criança e de todo o seu processo de aprendizagem, desde o momento em que se inicia o trabalho escolar. Era neste âmbito que se colocava o sistema de inspeção escolar adotado nos Estados Unidos da América que tinha, para Anísio Teixeira, o sentido de orientação pedagógica. Como os americanos, ele estava fascinado com os testes de capacidade mental, de aquisição educativa, de situação econômica e social, de saúde e capacidade física. Instrumentos que, na sua opinião, poderiam contribuir para equalizar os diferentes níveis de aprendizagem existentes na escola, contribuindo para com a organização do trabalho do professor.

A viagem que fez no segundo semestre do ano levou Anísio a valorizar a organização docente e as experiências das instituições escolares da zona rural norte-americana. A aprendizagem proporcionada aos estudantes dos hábitos de direção e auto-governo, representadas pelos conselhos escolares de alguns estabelecimentos de ensino. Do mesmo modo, os estímulos ao espírito de investigação e a valorização das práticas de leitura. Teixeira enxergava nesses elementos a possibilidade de renovação espiritual que pretendia para a escola brasileira.

Ao retornar ao Brasil, no final do ano de 1927, Anísio Teixeira trouxe na bagagem um forte entusiasmo pelas idéias pedagógicas norte-americanas, especialmente aqueles formuladas por Dewey e Thorndike, além de uma sólida amizade que estabelecera com o escritor Monteiro Lobato, à época adido comercial do Brasil em Nova York. Em 1928 ele retornou outra vez aos Estados Unidos. Agora, para permanecer durante dez meses, como bolsista do Macy Student Fund do International Institute, outra vez matriculado no Teachers College, em Nova York. Estudou currículo, educação comparada, análise do trabalho escolar em áreas rurais e teoria filosófica geral da educação. Neste último campo teve Kilpatrick como orientador de estudos. Dentre os autores que leu nesse período, importa anotar os estudos dos textos de William James, Bertrand Russel, Edward Thorndike e John Dewey. Este último fora professor de Kilpatrick.

Edward Lee Thorndike se entusiasmara com a obra de William James após haver lido o seu Principles of Psychology. Em 1895, estudando em Harvard, Thorndike teve a oportunidade de ser aluno do próprio James e iniciar sua própria trajetória científica. Foi James que despertou nele o entusiasmo pela Psicologia Experimental, uma vez que este trouxera os fundamentos desse tipo de pesquisa dos laboratórios que conhecera na Alemanha, ao estudar com Wilhelm Wundt. Os laboratórios tinham como fundamento a idéia evolucionista de que o homem é uma espécie animal mais evoluída. Foi justamente esta a concepção que os pragmatistas norte-americanos se empenharam em reformular. Começou a fazer experim,entos comportamentais com pintos, frangos, patos, peixes, ratos, macacos e outros animais. Em 1898 concluiu a sua tese de doutorado na Columbia University, com o título de Animal Intelligence. Discute as possibilidades de aprendizagem dos bichos. Tomou esses experimentos como ponto de partida para formular uma psicologia educacional. Passou aestudar a atividade mental do homem. Em 1899 assumiu o posto de professor do Teachers College da Columbia University. Foi a partir dessa posição que ele pesquisou as diferenças individuais, elaborando testes de medidas destas, a partir da influência dos trabalhos de Galton. Para Thorndike havia uma necessidade fundamental: tratar cientificamente as diferenças individuais.


“Ao elaborar trabalhos quantitativos através do uso de testes para medir as diferenças individuais, aperfeiçoou por um lado os testes como critério de medida, e por outro, os experimentos psicológicos, direcionando-os para uma perspectiva cada vez mais científica.”

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