sábado, 31 de julho de 2010

REFLEXÕES SOBRE A HISTÓRIA DA MEDICINA EM SERGIPE - VIII

Durante o Congresso Brasileiro de Higiene, no Rio de Janeiro, em 1923, o Estado de Sergipe foi representado por uma delegação de quatro médicos: Eleysson Cardoso, Abreu Fialho, Dias de Barros e Theodoreto Nascimento. No ano seguinte, em Belo Horizonte, o médico Eleysson Cardoso representou os sergipanos no II Congresso Brasileiro de Higiene.
Em 1924, a Fundação Rockfeller e o Serviço de Saneamento e Profilaxia Rural cadastraram a população aracajuana: 31.668 habitantes, dos quais 15.238 homens e 16.430 mulheres, com 994 crianças menores de um ano de idade. Na cidade estavam edificadas 8.637 casas, das quais eram cobertas com palha 3.657, enquanto 4.610 tinham cobertura de telha (SANTANA, 1997: 168).
Após a inauguração do Instituto Parreira Horta, em 1924, a instituição esclareceu a etiologia das febres que costumavam ocorrer na cidade de Aracaju, classificando-as como tifóides, isolou os germes e conseguiu fabricar uma vacina oral para evita-las. A vacina era fabricada através do cultivo de amostras de bacilos tíficos e paratíficos “A” e “B” em garrafas contendo agar inclinado. Após 24 horas,


as culturas eram retiradas da superfície do agar e emulsionadas em água fisiológica esterilizada. Fazia-se a contagem dos germes, previamente mortos com iodo, no hematimetro de Thomas-Zeiss. A solução era diluída a 2% numa solução decinormal de iodo. Após esse processo, a vacina resultante era distribuída em ampolas de 5, 10 e 20 Cm3 (SANTANA, 1997: 178). A vacina era aplicada por via oral, com 20 gotas diluídas em água, tomadas em jejum, durante três dias consecutivos (SANTANA, 1997: 178).


O Instituto identificou ainda a incidência de casos de difteria em Sergipe, isolando o bacilo de Löefler em culturas. Contudo, os estudiosos do tema consideram que a maior contribuição do Instituto Parreira Horta foi possibilitar o início do “uso terapêutico da insulina em Sergipe. Com o acesso aos laboratórios do IPH, dosagem correta da glicemia, os médicos tiveram condições de efetuar o tratamento, com segurança e êxito, de vários casos de Diabetes” (SANTANA, 1997: 179).
O Regulamento do Instituto especificava como produzir, conservar e aplicar vacinas, além de estabelecer a necessidade de diagnosticar doenças como actinomicose, angina de Vincent, aspergiloses, blenorragia, cancro mole, carbúnculo, cólera, difteria, erisipela, estreptococcias febre recorrente, febre amarela, filariose, cistos hidáticos, leishmaniose, lepra, meningite, cérebro espinhal, outras meningites, mormo, paludismo, peste, pneumococcias, espiroquetoses, sífilis, tricoficias, tétano, tifo exantemático e verminoses.
Quando da sua instalação o Instituto Parreira Horta já era capaz de realizar exames de sangue como reações de Wassermann, soro aglutinação para germes do grupo tifo e paratifo, hoculturas, contagem globular, curva leucocitária, dosagem de hemoglobina, pesquisa de filaria, pesquisa de sangue nas fezes, dosagem de glicose, pesquisa do hemotozoário de Laveran, exames de pus, exames de escarro, pesquisa de treponema, exame do liquor, dosagem de albumina, exame completo da urina, exame de placas suspeitas de difteria e o exame bacteriológico da água, além de outros exames bacteriológicos.
Além de soros e vacinas, o IPH produzia óleo canforado, cafeína, sparteína, iodeto de sódio a 10 por cento, tártaro emético, água bidestilada, cianeto de mercúrio, soro fisiológico e soro glicosado.
A preocupação com o caráter científico da atividade médica é posta com muita clareza pelo Código Sanitário do Estado de Sergipe aprovado em 1926, ao atribuir à Diretoria Geral do Serviço Sanitário as seguintes competências: estudo científico das questões ligadas à saúde pública; estudo da natureza etiológica, tratamento e profilaxia das moléstias transmissíveis; estudo das condições mesológicas; higiene domiciliar; polícia sanitária das escolas, habitações particulares e coletivas, farmácias, drogarias, fábricas, oficinas, estabelecimentos comerciais, hospitais, maternidades, mercados, matadouros e cemitérios; notificação das moléstias transmissíveis, isolamento, desinfecção e vigilância; organização da estatística demógrafo-sanitária; fabricação de soros, vacinas, culturas atenuadas e produtos congêneres; fiscalização da medicina em qualquer dos seus ramos (farmácia, obstetrícia e arte dentária); exame das amas de leite; inspeção médico-sanitária das escolas públicas e particulares; fiscalização das obras de saneamento; estudo das condições higiênicas de todos os edifícios a serem construídos; assistência de urgência e dispensário maternal; difusão dos princípios gerais de higiene pública, tendo em vista a educação sanitária do povo; análises química e bromatológica; estudos especiais relativos a epidemias, endemias e epizotias; e, exames microscópicos necessários à elucidação dos casos clínicos (SANTANA, 1997: 172).
A partir de 1926 o Hospital de Cirurgia foi uma espécie de centro de estudos e pesquisas, congregando médicos e realizando treinamento e atualização desses profissionais. Desde a sua fundação a instituição foi, informalmente, uma espécie de hospital-escola.
Na década de 30 a Medicina em Sergipe seria marcada por inovações tecnológicas que entusiasmavam o Brasil, como os aparelhos de raios X e a transfusão de sangue. Em janeiro de 1939 o jornal Folha da Manhã fazia uma importante advertência às famílias aracajuanas: “Não admita nenhuma ama ou qualquer outra empregada em sua casa sem examina-la aos raios- x, no centro de saúde mais próximo. É a garantia da saúde de seus filhos” .
A Faculdade de Medicina de Sergipe começou a funcionar no ano de 1961.

sexta-feira, 30 de julho de 2010

REFLEXÕES SOBRE A HISTÓRIA DA MEDICINA EM SERGIPE - VII

Esses médicos produziram importantes estudos publicados sob a forma de teses de conclusão do curso de medicina, memórias, livros e artigos publicados em revistas científicas. Em várias ocasiões, as teses se debruçavam sobre problemas de saúde que afligiam a população. Vários exemplos podem ser citados. Este é o caso do médico Francisco Fonseca, que produziu, em 1907, uma tese de conclusão de curso intitulada Estudos Clínicos de Hemoptíase Tuberculosa, exatamente no período em que havia crescido o número de vítimas dessa doença em Sergipe.
Em diversas situações o debate científico travado pelos médicos buscou intervir no sentido de aperfeiçoar as condições de funcionamento das instituições hospitalares. Quando passaram a integrar o corpo clínico do Hospital Santa Isabel, em 1913, os médicos Augusto Leite e Francisco de Barros Pimentel Franco procuraram incorporar os princípios da bacteriologia, da patologia e das análises laboratoriais, reivindicando a instalação de autoclave, a separação dos doentes nas enfermarias por moléstia, a instalação de espaços adequados para a internação de crianças e a separação entre as salas de operações e curativos (LEITE, 1966: 117). Conseguiram criar uma sala de cirurgia e uma enfermaria, organizando um serviço de clínica cirurgia.
No mesmo ano de 1913, Augusto Leite viajou para a França, passando seis meses em Paris, onde estudou clínica cirúrgica, partos, citoscopia, olhos, otorrinolaringologia e moléstias da nutrição. Ao regressar, em 1914, reorganizou a clínica cirúrgica do Hospital Santa Isabel, com material cirúrgico e de esterilização trazido por ele. Naquele ano, pela primeira vez em Sergipe, foi aberta uma cavidade abdominal para a retirada de um fibromioma uterino (SANTANA, 1997: 133). Na sua equipe trabalhavam Aristides Fontes, Josaphat Brandão e o seu irmão, Sylvio César Leite.
Especializado em Saúde Pública, o higienista Eleysson Cardoso era irmão de Maurício Graccho Cardoso e durante a década de 20 foi um influente intelectual da área médica em Sergipe. Exerceu diversos cargos na administração da saúde pública sergipana, representou o Estado em dois congressos brasileiros de higiene e fez uma vagem de estudos ao Rio de Janeiro, em 1927, a fim de observar o funcionamento de uma novidade recém chegada dos Estados Unidos da América: os Centros de Saúde. Apesar de entusiasmar-se com a experiência observada, no entanto não encontrou os meios que permitissem a sua reprodução em Sergipe.
Sob o regime republicano, na primeira década do século XX, era de cerca de 60 o número de médicos atuando no Estado de Sergipe.
A organização corporativa dos médicos foi muito importante para o aprimoramento das práticas científicas da Medicina. Em Sergipe, a partir da década de 10 do século XX, cada vez mais, iria se afirmar a liderança do médico Augusto Leite, com a criação, no ano de 1910, da Sociedade de Medicina de Sergipe, oferecendo ao exercício dessa profissão, com muita clareza, um sentido corporativo. “Era uma instituição de caráter científico que abrangia os médicos, farmacêuticos e dentistas, que tinha por finalidade a discussão e estudo dos casos clínicos, e publicação da Revista Médica de Sergipe”. A Sociedade, contudo, foi dissolvida em setembro de 1911, um ano após a sua fundação (SANTANA, 1997: 92).
A Sociedade de Medicina e Cirurgia de Sergipe foi criada em 1919, numa nova tentativa de fortalecimento e defesa da prática profissional. Outra vez era Augusto Leite liderando a nova instituição e a influenciando a política sergipana no sentido de adotar determinadas posturas, como a criação do Instituto Parreiras Horta, a construção do Hospital de Cirurgia e a tentativa de implantação da Faculdade de Odontologia e Farmácia. Uma das principais bandeiras da nova Sociedade era o combate ao charlatanismo (SANTANA, 1997: 93).
O Serviço de Saneamento e Profilaxia Rural definiu, em 1923, os processos de fiscalização das habitações, combate aos vetores, organização do serviço de demografia sanitária, controle das doenças de notificação compulsória, controle dos enterramentos, combate intensivo das verminoses e do impaludismo, vacinação, fiscalização dos gêneros alimentícios e instalação de um laboratório para realização dos exames de sangue, pus, escarro, fezes e urina.

quinta-feira, 29 de julho de 2010

REFLEXÕES SOBRE A HISTÓRIA DA MEDICINA EM SERGIPE - VI

Como resultado dos contatos entre o presidente de Sergipe e o médico Carlos Chagas, em março de 1923 o governo estadual transferiu para o Departamento Nacional de Saúde Pública a direção dos serviços sanitários do Estado, criando o Serviço de Saneamento e Profilaxia Rural, subordinado ao Departamento Nacional de Saúde Pública. Na mesma oportunidade, os órgãos de assistência pública foram transferidos para a Intendência Municipal e o Serviço de Assistência aos Mortos retornou para a Diretoria de Segurança Publica. Foram também criados o Posto Oswaldo Cruz, em Própria, e o Posto Belisário Pena, em Estância. Além disso, foi instalada a Seção de Lepra e Doenças Venéreas (SANTANA, Antonio Samarone de. As febres do Aracaju: dos miasmas aos micróbios. São Cristóvão: Universidade Federal de Sergipe,1997. [Dissertação de Mestrado]. p. 164).
Em 1924 a cidade de Aracaju ganhou o seu Serviço de Assistência Médico Cirúrgica de Urgência, equipado com uma ambulância para o socorro dos acidentados. Além disso, o Sub-posto de Higiene do Batalhão Policial entrou em funcionamento, com o objetivo de tratar das doenças venéreas dos soldados e praças. Foram iniciadas ainda as atividades de postos e sub-postos de higiene no Centro Agrícola Epitácio Pessoa e nos municípios de Própria, Estância, Anápolis, São Cristóvão, Laranjeiras, Itaporanga d’Ajuda, Japaratuba, Santa Luzia, Vila Nova e Lagarto.
No Serviço de Saneamento e Profilaxia Rural em Sergipe começaram a funcionar a Seção de Endemias e Epidemias Rurais, o Dispensário Maternal de Higiene Infantil, o Serviço de Proteção à Infância, Pré-natal e Assistência à Gestante, a Farmácia Popular, o Dispensário de Lepra e Doenças Venéreas, a Seção de Fiscalização de Gêneros Alimentícios e a Seção de Propaganda e Educação Sanitária.
Em 1926, uma reforma administrativa na área de saúde aprovou um Código Sanitário e criou a Diretoria Geral do Serviço Sanitário. A nova diretoria era constituída por uma Seção de Endemias, Epidemias e Estatística Demógrafo-Sanitária; uma Seção de Polícia Sanitária e uma Seção de Assistência Individual. Foi criado, novamente, o Conselho Sanitário Central, tendo como integrantes o diretor geral do Serviço Sanitário, os delegados sanitários dos municípios, o Intendente Municipal de Aracaju, o professor de higiene da Escola de Farmácia e Odontologia Aníbal Freire, os diretores do Instituto Parreiras Horta e Arthur Bernardes, do Hospital de Cirurgia e os médicos do Batalhão da Força Federal e da Polícia Militar do Estado.
O Instituto Parreira Horta foi fundado em 1923, com o objetivo de pesquisar e produzir insumos básicos para a área de saúde. A pretensão era construir uma instituição voltada ao combate à raiva; um instituto vacinogênico capaz de produzir vacina anti-variólica; e, um laboratório de análises clínicas, bacteriológicas e químicas que também funcionasse como centro de pesquisa médica. O presidente Graccho Cardoso entregou a responsabilidade pela instituição ao médico Paulo de Figueiredo Parreira Horta.Ele cuidou pessoalmente do projeto, da construção e da organização administrativa e científica do Instituto. Cientista de prestígio internacional, ao transferir-se para Sergipe viveu como hóspede oficial do Palácio do Governo. O edifício do Instituto foi erguido em oito meses e inaugurado em maio de 1924 (SANTANA, Antonio Samarone de. As febres do Aracaju: dos miasmas aos micróbios. São Cristóvão: Universidade Federal de Sergipe,1997. [Dissertação de Mestrado]. p. 177-178).
Para o pesquisador Antônio Samarone de Santana, o século XIX foi o período no qual o conhecimento médico adquiriu efetivamente o status de conhecimento científico ao qual se conferiu distinção social elevada, fazendo com que muitos filhos da elite de Sergipe optassem pela carreira médica, “como forma de prestígio e poder” (SANTANA, Antonio Samarone de. As febres do Aracaju: dos miasmas aos micróbios. São Cristóvão: Universidade Federal de Sergipe,1997. [Dissertação de Mestrado]. p. 81). Santana incorpora a interpretação de Michel Foucault, segundo a qual nos anos 800 o conhecimento médico foi assumido como prática profissional organizada nacionalmente, buscando um tipo de status profissional assemelhado ao do clero, fazendo com que os profissionais da saúde pudessem exercer sobre a saúde do corpo influência análoga àquela que os padres exerciam sobre o cuidado com a alma (FOUCAULT, 1977: 35).
Mesmo podendo a Província de Sergipe contar com aqueles que se formavam na Faculdade de Medicina da Bahia, em torno da metade dos anos 800, existiam em atuação apenas 24 médicos e nove farmacêuticos. Naquele momento já existia, da parte do governo, uma maior preocupação com o controle do exercício profissional da Medicina. Os profissionais da saúde estavam subordinados aos ditames do Regimento Imperial de 28 de setembro de 1851 e deveriam providenciar registro junto à Provedoria, o que foi cobrado pelo governo provincial a partir de 1859. Contudo, desde 1852 o Código de Posturas de São Cristóvão exigia que todo médico ou boticário em atuação registrasse a sua Carta na Câmara Municipal.
Já sob o regime republicano, após a criação do Departamento Nacional de Saúde Pública, quando da implantação em Sergipe do Serviço de Saneamento e Profilaxia Rural, em 1923, o diretor deste novo órgão determinou que todos os médicos, dentistas e farmacêuticos registrassem os seus diplomas na repartição.
O saber médico em Sergipe, durante o século XIX, contou com muitos intelectuais que se dedicaram o seu trabalho a pesquisar esta área. Dentre estes ganha relevo Manuel Ladislau Aranha Dantas, primeiro intelectual nascido em Sergipe a obter um diploma de médico pela Faculdade de Medicina da Bahia, na qual, posteriormente, viria a ser também professor. Mas, certamente, o médico Francisco Sabino Coelho Sampaio foi o intelectual e político da área médica mais importante em Sergipe durante a segunda metade do século XIX. Ele exerceu controle sobre o saber médico, ocupando durante 37 anos, de 1843 a 1880, os cargos de Vacinador Geral, Provedor de Saúde Pública, Inspetor de Saúde Pública, Comissário Vacinador, Inspetor do Porto e médico do Hospital Nossa Senhora da Conceição (SANTANA, Antonio Samarone de. As febres do Aracaju: dos miasmas aos micróbios. São Cristóvão: Universidade Federal de Sergipe,1997. [Dissertação de Mestrado]. p. 79-80).

quarta-feira, 28 de julho de 2010

REFLEXÕES SOBRE A HISTÓRIA DA MEDICINA EM SERGIPE - V

Sergipe ganhou uma nova casa de saúde em 1896, com a inauguração do Hospital de Caridade de Maruim. Um ano depois foi instalado o Hospital de Caridade de Capela. Em 1902 foi criado o Hospital de Caridade de Lagarto e, em 1905, o de Riachuelo. O Hospital de Caridade São Vicente de Paula, de Própria, foi instalado em 1913.
A decisão de construir o Hospital de Cirurgia foi anunciada pelo presidente do Estado de Sergipe, Maurício Graccho Cardoso, durante um banquete em homenagem ao médico Paulo Parreira Horta, quando o médico Augusto Leite reclamou a inexistência em Aracaju de um hospital o qual fosse possível exercer a prática cirúrgica com segurança. Em setembro de 1923, o presidente desapropriou uma área de 8.360 metros quadrados na avenida Barão de Maruim, para a construção. As obras foram iniciadas no mês de novembro do mesmo ano. O projeto foi elaborado por Arthur Araújo, enquanto as obras foram executadas pelo arquiteto e construtor Hugo Bozzi. O Estado investiu na obra 375 contos, o que a coloca como a quarta obra mais cara da década de 20, superada apenas pela Penitenciária Modelo, pela ampliação dos serviços de água e esgoto e pela construção do Centro Agrícola Epitácio Pessoa. O presidente do Estado foi pessoalmente a Paris adquirir o equipamento cirúrgico necessário ao funcionamento do novo hospital. A obra do Hospital foi inaugurada em maio de 1926.
O Hospital de Cirurgia era um edifício de três pavilhões e fachada de 106 metros, visto pelo médico Augusto Leite como expressão do grau de civilização da cultura sergipana (SANTANA, Antonio Samarone de. As febres do Aracaju: dos miasmas aos micróbios. São Cristóvão: Universidade Federal de Sergipe,1997. [Dissertação de Mestrado]. p. 187). Quando começou a funcionar a instituição dispunha de 70 leitos, ambulatórios, farmácia, salas de curativos, laboratório clínico, serviço de radiologia com sala de raios X, instrumental cirúrgico, câmara escura e um centro cirúrgico composto por duas salas de cirurgia e uma sala de esterilização. Cada enfermaria contava com, no máximo, dezoito leitos. Os apartamentos eram de um ou de dois leitos. A área construída era de 1.800 metros quadrados.
No primeiro dia de atividade foram realizadas três cirurgias no novo hospital: uma laparotomia para extirpar fibroma uterino e apêndice cecal; uma talha hipogástrica para extração de cálculo urinário; e, uma extração de catarata. Da equipe cirúrgica participavam os médicos Augusto Leite e Eronides de Carvalho (cirurgiões), Juliano Simões (oftalmologista) e Lauro Hora (anestesista).
Já sob o regime republicano, em 1892, foi criada a Inspetoria de Higiene com os cargos de Inspetor e Delegados de Higiene. O médico Felino Martins Fontes de Carvalho foi designado para exercer o cargo de Inspetor de Higiene. Em 1898 já existiam Delegados de Higiene em 15 municípios. O Serviço de Higiene do Município de Aracaju foi criado em 1899. Suas responsabilidades eram muito claras: asseio da viação pública e coleta do lixo. Em 1905, o governo estadual criou o Conselho Geral Sanitário, formado pelo Inspetor de Higiene, pelo Médico de Saúde do Porto, pelo Intendente da Capital e por três representantes da sociedade (um médico, um bacharel e um farmacêutico) de livre nomeação do presidente do Estado. A Inspetoria de Higiene foi transformada em Diretoria de Higiene e Saúde Pública do Estado de Sergipe, em 1915, ocasião em que foi extinto o Conselho Geral Sanitário. Um ano depois, foram transferidas para essa Diretoria as responsabilidades para com o socorro médico às vítimas de acidentes (envenenamentos, asfixias ou estados mórbidos súbitos), o enterramento de indigentes e o transporte de feridos, loucos e parturientes para hospitais. Tais serviços anteriormente eram afetos às autoridades policiais. Com a transferência, a única ambulância existente em Sergipe passava das mãos das autoridades policiais para as autoridades sanitárias. O serviço contava também com um carro funerário puxado a cavalos, tal como a ambulância. No mesmo ano de 1916 a Intendência Municipal de Aracaju criou um Posto de Assistência Médica que, além de atender os indigentes e os desprotegidos, distribuía medicamentos gratuitamente. Além disso, em 1917, foi criado o Posto de Assistência Pública com a tarefa de execução desses serviços.
Os cuidados médicos com a criança ganharam alento com a criação do Instituto Aracajuano Protetor da Infância, em dezembro de 1918. Era uma entidade filantrópica destinada a proteger crianças


pobres, doentes, defeituosas, maltratadas e moralmente abandonadas. Em suas atribuições encontramos a preocupação com o aleitamento, higiene puerperal, criação de creches, zelar pela vacinação, regulamentar o trabalho da mulher e da criança nas indústrias e a criação de um dispensário para o atendimento das crianças carentes (SANTANA, Antonio Samarone de. As febres do Aracaju: dos miasmas aos micróbios. São Cristóvão: Universidade Federal de Sergipe,1997. [Dissertação de Mestrado]. p. 108).


A política de saúde pública em Sergipe começou a sofrer um processo de federalização dissimulado em 1919, que questionou o saber dos médicos locais ligados ao governo estadual. Uma comissão de médicos da Diretoria Geral de Saúde Pública chegou a Aracaju com o objetivo de combater a febre amarela. Ocorre que o governo e os médicos locais afirmavam a inexistência de tal enfermidade no Estado. A comissão integrada pelos médicos Leopoldo Accioly do Prado, Francisco Firmo Barroso João Camargo e Jayme Pereira trava uma polêmica através da imprensa com autoridades e médicos locais. As autoridades médicas e muitos profissionais de Sergipe admitiam apenas a existência de impaludismo, varíola e tuberculose (SANTANA, 1997: 106).
O problema da febre amarela trouxe a Sergipe, em maio de 1924, a Fundação Rockfeller. A instituição funcionou durante três anos no Estado, até 1927, combatendo a moléstia. Em abril de 1924 o índice culicidiano em Aracaju era de 95 por cento, o índice stegômico de 85 por cento e o índice de depósitos de 38 por cento. Em junho de 1925, tais índices estavam reduzidos, respectivamente a 16 por cento, 2,5 por cento e 0,5 por cento. A Fundação drenou valas, aterrou pântanos e quintais alagados, tratou das fontes, poços e cisternas para combater a doença.
Durante a década de 20 o governo do Estado de Sergipe adotou uma série de medidas que visavam ajustar as instituições estaduais às exigências da chamada Reforma Carlos Chagas. A Reforma criou o Departamento Nacional de Saúde Pública e a Diretoria de Saneamento e Profilaxia Rural, em janeiro de 1920. A Diretoria mantinha a Comissão de Saneamento e Profilaxia Rural, responsável, dentre outras atividades, pelo Posto Oswaldo Cruz, na cidade de Própria. Em dezembro de 1923 começou a vigorar o Regulamento Sanitário Federal (SANTANA, Antonio Samarone de. As febres do Aracaju: dos miasmas aos micróbios. São Cristóvão: Universidade Federal de Sergipe,1997. [Dissertação de Mestrado]. p. 8). Logo após a sua posse, o presidente de Sergipe, Maurício Graccho Cardoso, foi ao Rio de Janeiro conversar com o médico Carlos Chagas, diretor do Departamento Nacional de Saúde Pública. Como Carlos Chagas, Graccho Cardoso acreditava que somente a União dispunha de recursos suficientes para implementar uma política de saúde pública que atendesse a todo o Estado de Sergipe (SANTANA, Antonio Samarone de. As febres do Aracaju: dos miasmas aos micróbios. São Cristóvão: Universidade Federal de Sergipe,1997. [Dissertação de Mestrado]. p. 162).

terça-feira, 27 de julho de 2010

REFLEXÕES SOBRE A HISTÓRIA DA MEDICINA EM SERGIPE - IV

Se na capital, Aracaju, o problema eram as águas, muitas vezes no sertão, a ausência delas era também responsabilizada pelas moléstias, principalmente nos períodos de secas, provocadas pelas estiagens prolongadas. Nessas ocasiões, às dificuldades para sobreviver, sobrevinha a fome.
Sob o regime republicano, o primeiro governante do Estado de Sergipe, Felisbelo Freire, tomou algumas medidas que objetivaram organizar a administração da saúde e exercer o controle do saber médico. Assim, algumas doenças eram notificadas compulsoriamente às autoridades sanitárias: febre amarela, cólera, peste, difteria, varíola, escarlatina e sarampo.
A partir do Governo de Maurício Graccho Cardoso a política de saúde pública sofreu alterações radicais, incorporando as mudanças próprias do discurso médico que dominavam o cenário científico europeu desde o final do século XIX. Ele priorizou três moléstias que deveriam ser tratadas de modo especial: a varíola, a raiva e a tuberculose. Manifestou a sua preocupação com a anylostomíase, o impaludismo, a filariose e a esquistossomose (SANTANA, Antonio Samarone de. As febres do Aracaju: dos miasmas aos micróbios. São Cristóvão: Universidade Federal de Sergipe,1997. [Dissertação de Mestrado]. p. 156).
Em 1909 a política de saúde pública no Estado obteve uma conquista significativa com a implantação do serviço de distribuição de água encanada em Aracaju. Apenas quatorze anos depois de iniciadas as atividades do serviço de abastecimento de água, os problemas que o sistema enfrentava eram da maior gravidade. A falta de manutenção, a expansão da malha urbana, a falta de tratamento da água, os problemas de filtragem e as tubulações desniveladas e estreitas (com apenas oito polegadas de diâmetro) faziam com que a água chegasse às torneiras em quantidade insuficiente e fossem freqüentes as suspensões no fornecimento. Graccho Cardoso reconstruiu, a partir de dezembro de 1923, a rede de abastecimento de água de Aracaju. A rede de tubos foi recolocada, o reservatório foi duplicado e foi instalado um sistema de pré-filtragem no rio Pitanga, no qual era feita a captação. A água distribuída passou então a receber pré-tratamento no ponto de captação. Além disso, a água passava por um tratamento químico à base de sulfato de alumínio e cal virgem, sendo em seguida decantada e filtrada pelo sistema Reisert.
Ainda do ponto de vista das ações de saneamento, o governo Siqueira de Menezes inaugurou, em 1914, o sistema de esgotamento sanitário da capital. Não obstante estar funcionando há apenas dez anos, a rede de esgoto de Aracaju já exigia reformas no ano de 1923. Assim, a partir de dezembro de 1923, foram iniciadas não apenas as obras de reforma da rede de água, mas também de drenagem e de esgotamento sanitário.
O Código de Posturas do município de Aracaju, que vigorou a partir de 1856, proibia a contaminação de cacimbas e previa multa e prisão para os infratores. Além disso, proibia também “o estabelecimento em área urbana de trapiches, alambiques, curtumes, fábricas de sabão e tudo que puder corromper a atmosfera e prejudicar a salubridade pública” (SANTANA, Antonio Samarone de. As febres do Aracaju: dos miasmas aos micróbios. São Cristóvão, Universidade Federal de Sergipe,1997. [Dissertação de Mestrado]. p. 16). O município de Aracaju iria conhecer uma outra realidade normativa após a proclamação da República, com a entrada em vigor do seu novo Código de Posturas, em 1890.
O Estado de Sergipe ganhou o seu primeiro Regulamento Sanitário em 1892. O dispositivo legal definia a vigilância sanitária, a fiscalização da medicina, farmácia, obstetrícia e arte dentária, além da fiscalização das fábricas. Esse Regulamento possibilitou que mais tarde a repartição de higiene começasse a obrigar a vacinação das crianças menores de seis meses de idade, a apreender alimentos estragados e a expedir o “habite-se” das edificações.
Durante o Império, as primeiras autoridades a deliberar sobre a política de saúde em Sergipe foram os membros das Câmaras Municipais. Era assim que determinava o dispositivo constitucional monárquico que regulamentava a questão. Contudo, ao longo do século XIX, algumas alterações na legislação modificaram esse perfil. Em 1843 as decisões sobre o saber médico foram desmunicipalizadas e subordinadas ao Ministério do Império. Em face disto, já em 1846, a Província sergipana ganhou o seu primeiro Provedor de Saúde, o médico Joaquim José de Oliveira, que acumulou suas funções com as de Comissário Vacinador. No ano de 1843 o presidente da Província já havia criado o cargo de Vacinador Geral, sendo nomeado para exerce-lo o médico Francisco Sabino Coelho Sampaio.
Em 1857, contudo, o cargo de Provedor de Saúde Pública foi transformado em Inspetor de Saúde Pública, subordinado à Junta Central de Higiene Pública. Além deste profissional, o saber médico era também controlado pelo Inspetor de Higiene do Porto, pelo Comissário Vacinador e pelos Delegados Sanitários. Em 1858 o médico Guilherme Pereira Rebello assumiu o cargo de Comissário Vacinador de Sergipe e em 1861 existiam comissários municipais de vacinação designados em 28 municípios. Até que o regime monárquico se encerrasse, em 1889, a Secretaria de Estado de Negócios do Império controlou as repartições de Higiene e Saúde, as Juntas de Higiene Pública, os lazaretos de quarentena, o Instituto Vacínico, as Faculdades de Medicina e os demais órgãos responsáveis pela assistência sanitária (SANTANA, 1997: 79).
No último ano do Império, existiam na Província de Sergipe quatro hospitais em funcionamento: o de Aracaju; o Hospital Amparo de Maria, em Estância, inaugurado em 1867; o Hospital São João de Deus, em Laranjeiras, instalado em 1866; e o hospital de Rosário do Catete, que entrou em funcionamento no ano de 1875. Além destes, funcionavam também uma enfermaria militar, que fora criada em 1874, juntamente com a farmácia militar, instaladas ambas por iniciativa do ministro da guerra. O Hospital São João de Deus tinha como médicos Francisco Alberto de Bragança, Antonio Rodrigues de Souza Brandão e Benito Derisans. Jesuíno Pacheco d’Ávila era o médico responsável pelo Hospital de Estância. No primeiro ano de funcionamento do Hospital São João de Deus foram realizadas oito cirurgias.
A idéia de construir o Hospital Nossa Senhora da Conceição, em Aracaju, foi do presidente da Província de Sergipe, Salvador Correia de Sá e Benevides, em 1857, ainda como conseqüência do cólera de 1855. O Hospital teve suas obras concluídas cinco anos depois, em 1862, funcionando à rua da Aurora. A instituição contava com 60 leitos divididos em três enfermarias. O médico do hospital, Francisco Sabino Coelho Sampaio, era também o seu cirurgião. Em 1898, durante o governo Olympio Campos, o Hospital ganhou uma nova sede, no bairro Santo Antônio, e em 1900 recebeu uma nova denominação: Hospital Santa Isabel. As instalações eram modernas, com equipamento importado da Europa. Em 1917 foi inaugurado um pavilhão para tuberculosos.

segunda-feira, 26 de julho de 2010

REFLEXÕES SOBRE A HISTÓRIA DA MEDICINA EM SERGIPE - III

Quando em Sergipe todos acreditavam que cólera era um problema superado, a Província voltou a conviver outra vez com tal problema. Em agosto de 1862 uma nova epidemia teve início em Própria e se alastrou por toda a região do Baixo São Francisco. Um dos primeiros óbitos dentre os registrados foi o do juiz de direito propriaense, Antonio Rodrigues Navarro de Siqueira. As providências para debelar o mal foram adotadas imediatamente, com a nomeação dos médicos Thomaz Diogo Leopoldo e Manoel Antunes Salles, a fim de que estes enfrentassem o problema na cidade ribeirinha (SANTANA, Antonio Samarone de. As febres do Aracaju: dos miasmas aos micróbios. São Cristóvão, Universidade Federal de Sergipe,1997. [Dissertação de Mestrado]. p. 77). A estimativa do presidente da Província, Jacinto José de Oliveira, indica que desta vez o cólera matou cerca de 5.500 pessoas. Antonio Samarone de Santana afirma que no caso da epidemia de 1862, o governo da Província adotou o modelo da Polícia Médica . Os médicos Francisco Sabino Coelho Sampaio, Guilherme Pereira Rebello e José João de Araújo Lima integraram uma comissão responsável por tal política, implementaram ações vigorosas e distribuíram, por toda a Província “uma publicação contendo diversas instruções, conselhos e receituários para o tratamento da Cholera Morbus, sendo vastamente distribuída às autoridades, às comissões sanitárias dos distritos médicos, aos proprietários e fazendeiros da Província” (SANTANA, Antonio Samarone de. As febres do Aracaju: dos miasmas aos micróbios. São Cristóvão, Universidade Federal de Sergipe,1997. [Dissertação de Mestrado]. p. 77-78).
Os primeiros registros a respeito de práticas científicas contra as epidemias em Sergipe remetem para o ano de 1826, com vacinações contra a varíola que ocorreram em Estância. Dez anos depois, em 1836, a vacinação em Sergipe já era obrigatória. A regulamentação previa “que as Câmaras possuíssem um médico, ou um cirurgião de partido, e na falta deles, um curioso, que nos primeiros e terceiros domingos de cada mês, e na casa da Câmara, se ocupassem da vacinação gratuita” (SANTANA, Antonio Samarone de. As febres do Aracaju: dos miasmas aos micróbios. São Cristóvão: Universidade Federal de Sergipe,1997. [Dissertação de Mestrado]. p. 27). Contudo, havia por parte da população uma grande resistência em receber a vacina.
A varíola ou peste das bexigas incomodou a Província de Sergipe ao longo do século XIX e nas primeiras décadas do século XX. Há epidemias registradas nos anos de 1826, 1845, 1858, 1859, 1872, 1873, 1874, 1882, 1883, 1887, 1888, 1895, 1896, 1902, 1911 e 1912. Uma das dificuldades para combater a doença era o próprio método de vacinação, descoberto em 1798 pelo médico inglês Edward Jenner. A linfa vacínica era extraída do úbere das vacas. O método “mais empregado consistiu na ‘variolização’, isto é, na transmissão do ‘pus vacínico’ de braço a braço” (SANTOS Filho, Lycurgo. História Geral da Medicina Brasileira. Vol. 1. São Paulo: Editora da USP, 1977. p. 514). O pus vacínico era distribuído em lâminas e, na falta destas, era inoculado em crianças e posteriormente retirado destas para imunizar as outras pessoas. A vacina não conseguiu evitar que em 1845, na Província de Sergipe, começasse a ocorrer uma nova epidemia da peste das bexigas.
Além da vacina, a propagação da doença era combatida através do isolamento dos doentes em lazaretos, do enterramento dos defuntos variolosos em covas com mais de um metro e meio de profundidade e a desinfecção das casas nas quais faleciam variolosos ( SANTANA, 1997: 67). A epidemia dos anos de 1887 e 1888 fez com que o presidente da Província dividisse a cidade de Aracaju em quatro distritos sanitários, designando um médico como responsável por cada um deles: Álvaro Telles de Menezes, Daniel Campos, Olyntho Rodrigues Dantas e Ladislao Antonio Pereira Barreto. Afinal, esta epidemia matou mais de duas mil pessoas, somente em Aracaju. Sergipe voltaria a conviver com uma nova epidemia de varíola nos anos de 1911 e 1912. Desta vez, as cidades mais atingidas foram Laranjeiras, Própria, Itabaiana, Aquidabã, São Paulo, Nossa Senhora das Dores, Divina Pastora, Estância, Riachuelo, Maruim, Capela, São Cristóvão, Itaporanga d’Ajuda e Aracaju. Segundo os relatórios do Inspetor de Higiene Batista Itajay, morreram 2.817 pessoas.
O vapor Santelmo, que atracou em Aracaju no ano de 1895, trouxe com os seus passageiros uma nova epidemia de varíola que durante aquele ano e o de 1896 atacou os habitantes de Aracaju, Estância, Simão Dias, Riachão do Dantas e Itaporanga d’Ajuda. A violência de epidemias como esta e outras, a exemplo da malária que ocorreu também no ano de 1896 era sentida até no centro do poder local. A própria esposa do presidente do Estado, Joaquina Valadão, foi vitimada pela malária, em março de 1896, mesmo acompanhada por sete médicos. Em 1899, a cidade de Itabaiana voltou a ser atacada, desta vez por uma epidemia de febre palustre .
Entre os anos de 1902 e 1905 os sergipanos foram atacados pela peste bubônica. Todos os médicos que atuavam em Aracaju foram convocados pelo Inspetor de Higiene para uma discussão acerca do problema. O Instituto Soroterápico Federal enviou doses da vacina anti pestosa. Foi criado um lazareto para isolar os doentes, as residências dos atingidos foram expurgadas, ambientes coletivos como ruas escolas e quartéis foram desinfetados, foi realizada limpeza nas embarcações para exterminar os ratos, as pessoas foram orientadas a proceder a limpeza das residências para eliminar as pulgas, o mercado de Aracaju e o “Beco do Açúcar” foram evacuados e foi estabelecido um passaporte sanitário com o objetivo de controlar o trânsito dos doentes (SANTANA, Antonio Samarone de. As febres do Aracaju: dos miasmas aos micróbios. São Cristóvão: Universidade Federal de Sergipe,1997. [Dissertação de Mestrado]. p. 114). Na primeira década do século XX a tuberculose foi uma doença que se agravou bastante em Aracaju.
Das epidemias pestilenciais, ao que parece, o último grande surto aconteceu em 1918, quando o Estado foi atacado pela gripe espanhola.


Em 20 de outubro de 1918 desembarcam do ‘Vapor Itapacy’ seis pessoas contaminadas pelo referido mal. Logo que chegou ao conhecimento do Diretor de Higiene, essas pessoas foram removidas para o Lazareto Público, mas já era tarde. Em 04 de novembro o mal já havia se espalhado pelo Estado, sendo a primeira vítima fatal Georgina de Jesus, negra de 25 anos e residente na rua de Campos, em Aracaju (SANTANA, Antonio Samarone de. As febres do Aracaju: dos miasmas aos micróbios. São Cristóvão: Universidade Federal de Sergipe,1997. [Dissertação de Mestrado]. p. 120).


O combate a moléstia mobilizou não apenas o governo, mas também organizações da sociedade civil: Maçonaria, Associação Comercial, Cruz Vermelha, fábricas de tecidos e a Compagnie des Chemins de Fer, além de médicos, farmacêuticos e clérigos que aderfiram voluntariamente ao combate. Toda a rede escolar foi fechada, houve distribuição de medicamentos e alimentos e desinfecção de casas, ruas e praças. Em pouco mais de três meses, a gripe espanhola matou 997 pessoas em Sergipe.
No século XIX e no início do século XX, além da varíola, as epidemias de febre amarela, malária, peste bubônica e febres intestinais incomodavam com freqüência a população de Sergipe. Mas também eram recorrentes endemias como reumatismos, afecções catarraes, oftalmias, bronquites, disenterias, sarampo, coqueluche, sarna e tuberculose, apesar desta última não ser à época identificada como um problema de saúde pública.Os relatórios dos inspetores de saúde dos anos oitocentos registram ainda outras ocorrências muito incidentes: tétano umbilical, congestão cerebral, anasarca, coqueluche, ascite, metrite e sífilis. Muitos profissionais médicos publicavam anúncios nos quais se apresentavam como especialistas em febres. O pesquisador Antônio Samarone de Santana afirma que a vida média dos sergipanos era de 30 anos e a mortalidade infantil era superior a 50 por cento (SANTANA, Antonio Samarone de. As febres do Aracaju: dos miasmas aos micróbios. São Cristóvão: Universidade Federal de Sergipe,1997. [Dissertação de Mestrado]. p. 68-70).
Era comum que a saúde pública indicasse como determinante das várias afecções mórbidas “a má qualidade da água potável; a precariedade da alimentação; as emanações miasmáticas dos poços, charcos e alagadiços; e os eflúvios deletérios dos corpos em putrefação” (SANTANA, Antonio Samarone de. As febres do Aracaju: dos miasmas aos micróbios. São Cristóvão: Universidade Federal de Sergipe,1997. [Dissertação de Mestrado]. p. 68). O conhecimento científico vigorante, fundado sob a teoria miasmática, responsabilizava a falta de ordenamento urbano pelos problemas que eram dados à ciência médica resolver. Por isto, era necessário disciplinar o funcionamento dos matadouros, açougues, cemitérios, fontes públicas, prisões, hospitais, habitações e pântanos, além da imundície das ruas (SANTANA, Antonio Samarone de. As febres do Aracaju: dos miasmas aos micróbios. São Cristóvão: Universidade Federal de Sergipe,1997. [Dissertação de Mestrado]. p. 69).

domingo, 25 de julho de 2010

REFLEXÕES SOBRE A HISTÓRIA DA MEDICINA EM SERGIPE - II

O mais grave problema a preocupar as autoridades e os profissionais da Medicina em Sergipe durante o século XIX foi o das epidemias. O próprio presidente da Província, InácioBarbosa, que promoveu a mudança da capital de São Cristóvão para Aracaju, morreu eu Estância, no dia seis de outubro de 1855, vitimado pela febre palustre, a malária. Em 1849, a febre amarela atacou Sergipe, o Rio de Janeiro e outras Províncias. Em Sergipe, a situação foi mais grave em Itabaiana: “Pode-se dizer na história de Itabaiana, que 1849 foi o ano terrível. Com efeito foi nele que passou pela primeira vez e última pelas suas habitações como por toda Província, o flagelo da febre amarela, que dizimou grande parte de sua população” (LIMA Junior, Carvalho, 1914: 146). Uma outra epidemia matou 228 pessoas em Lagarto e 70 em Itabaiana, todos atacados de disenteria, nos meses de junho e agosto de 1853. O atendimento em Lagarto ficou sob a responsabilidade do Provedor de Saúde, Joaquim José de Oliveira , enquanto o atendimento em Itabaiana foi entregue ao médico Manoel Simões de Mello.
Quando, no século XIX, a Província de Sergipe começou a viver os problemas causados pelo colera-morbus, a carência de profissionais médicos ganhou maior visibilidade. A epidemia que ocorreu a partir de 1855 foi um importante problema de saúde pública, principalmente quando se considera que “em pouco mais de três meses morreram vitimados pela moléstia mais de 30 mil sergipanos, numa população em torno de 200 mil habitantes” (SANTANA, 1997, 12). A doença chegou a Sergipe através da Bahia e atacou inicialmente na vila Nossa Senhora dos Campos do Rio Real (atualmente, a cidade de Tobias Barreto). O terceiro vice-presidente da Província, José da Trindade Prado, que se encontrava no exercício do governo, em face da doença do presidente Inácio Barbosa, determinou que as embarcações procedentes dos portos onde houvesse a epidemia deveriam permanecer em quarentena depois que chegassem a Sergipe. A impossibilidade de execução da medida levou a que se determinasse a proibição da entrada de tais embarcações nos portos sergipanos.


Outra medida tomada foi a nomeação de uma comissão de três médicos, um para Estância, o Provedor da Saúde, Dr. Joaquim José de Oliveira, outro para São Cristóvão, o Dr. Francisco Sabino Coelho Sampaio; e um último para Aracaju, o Dr. José Antonio de Freitas Júnior, que seriam responsáveis pelas medidas de prevenção (SANTANA, 1997: 34).


Para atender a população da vila de Campos foi designado o médico Antonio da Silva Daltro; para a vila de Lagarto, Pedro Autran da Mata Albuquerque e Manoel Antunes de Salles; para Riachão, Francisco Jacinto da Silva Coelho; para Laranjeiras, Francisco Alberto de Bragança e José Cândido de Farias; para o distrito de Lagoa Vermelha (atualmente, a cidade de Boquim), o acadêmico de Medicina José Lourenço de Magalhães. Dois médicos recusaram a nomeação para Maroim: João de Carvalho Borges e Thomaz Diogo Leopoldo, sendo então designado o médico Valois Galvão, inicialmente nomeado para Santo Amaro. Esta cidade recebeu, então, o acadêmico de Medicina José Ignácio Barros Pimentel. O Porto das Redes, distrito de Santo Amaro, recebeu o médico Galdino de Carvalho Andrade. Rosário não conseguiu um médico sequer para tratar do cólera. Rosendo Constâncio de Souza Brito, morador da cidade, fugiu, enquanto João Ferreira da Silva recusou a nomeação. O médico José Cupertino de Oliveira Sampaio não aceitou a nomeação para Divina Pastora, sendo então designado Tobias Rebelo Leite. O responsável pelo atendimento em São Cristóvão foi o médico Francisco Sabino Coelho de Sampaio, enquanto em Itaporanga atendia Pedro Romão Borges de Lemos. Em Aracaju, atuavam os médicos Guilherme Pereira Rebello e José Antonio de Freitas Junior. Em Itabaiana atuou, inicialmente, Manuel Simães de Mello até que a sua família também adoecesse e fosse substituído por Tobias Rebelo Leite. Em Estância, eram três os médicos em atuação: Constantino José Gomes de Souza, Joaquim José de Oliveira e Antonio Ribeiro Lima (SANTANA, 1997: 37-39).
Quando o primeiro vice-presidente da Província, João Gomes de Mello, o Barão de Maroim, retornou do Rio de Janeiro e assumiu o governo, em 25 de setembro do mesmo ano de 1855, mandou reabrir os portos. Àquele momento a doença já havia se alastrado por todas as cidades, vilas, aldeias, arraiais, lugarejos, portos e estradas. O Barão mandou construir lazaretos para abrigar os pobres e indigentes acometidos pela enfermidade. O quadro de pânico era geral: faltavam médicos, medicamentos e alimentos para atender as populações das cidades mais importantes; as autoridades, com medo, abandonavam os seus cargos e fugiam para locais isolados; faltavam alimentos na Província; o presidente de Sergipe em exercício, o Barão de Maroim, pediu ajuda aos governos das Províncias de Pernambuco e da Bahia. O governo de Pernambuco enviou uma pequena quantidade de medicamentos. O governo da Bahia mandou, em novembro de 1855, um navio com remédios e os médicos Tristão Henrique Costa e João Francisco de Almeida, além dos acadêmicos de Medicina Bemvenuto Pereira do Lago, João Ribeiro Sanches, Leandro Carlos de Sá, Cândido do Prado Pinto e Manoel Francisco Teixeira.
Além da ajuda das Províncias de Pernambuco e da Bahia, o governo de Sergipe recebeu também o auxílio da Junta Central de Higiene do Império, que enviou do Rio de Janeiro mais medicamentos e dois médicos: Tobias Ferreira Leite e Augusto Francisconi. O primeiro era um sergipano residente no Rio de Janeiro, que se apresentou para trabalhar gratuitamente. O segundo foi contratado por determinação do ministro do Império.
Como conseqüência da epidemia de cólera que assolou Sergipe em 1855, no ano seguinte os médicos Guilherme Pereira Rebelo e Pedro Autran da Mota Albuquerque, por solicitação do presidente da Província, Salvador Correia de Sá e Benevides, produziram um estudo sobre as condições de salubridade da cidade de Aracaju. Sugeriram que o maior problema sanitário da nova capital eram os seus pântanos, propondo o aterro e o esgotamento destes, o fornecimento de água potável, “a remoção do matadouro do centro da cidade, a proibição dos enterramentos nas igrejas e o enfrentamento da questão das imundícies (lixo) dos centros urbanos” (SANTANA, 1997: 43).
Em 1855, a cidade era abastecida por duas fontes de água potável, vermelha, considerada de qualidade ruim: a Fonte do Caboclo e a Fonte da Nação. Depois foi descoberta a Fonte do Mané Preto, que fornecia uma água branca, transparente, considerada de qualidade muito boa (CHAVES, 2004: 75). A qualidade da água potável existente foi objeto da reclamação de alguns viajantes europeus. Ave-Allemant reclamou da falta de uma boa água potável na cidade: “a que se tem para beber é ruim, amarela cor de ouro” (AVÉ-ALLEMNAT, 1961). À água atribuiu as febres intermitentes que o acometeram em Aracaju. Em 1856, o presidente da Província, Salvador Correia de Sá e Benevides, determinou a abertura de três novas fontes públicas para o consumo de água potável em Aracaju e adquiriu uma bomba hidráulica no Rio de Janeiro, objetivando a proteção desses mananciais. Além disso mandou recolher amostras da água existente nas fontes que abasteciam Aracaju e as encaminhou para a cidade de Salvador, a fim de que estas fossem submetidas a análise química, constatando a má qualidade da água consumida na capital da Província. O problema havia melhorado bastante no final do século XIX, com a construção de chafarizes em vários locais da cidade, que armazenavam água de poços extraída através da força de cataventos e armazenada para distribuição às pessoas.

sábado, 24 de julho de 2010

REFLEXÕES SOBRE A HISTÓRIA DA MEDICNA EM SERGIPE

O caráter científico da Medicina foi durante muito tempo objeto de polêmica. No século XVI, com Philippus Aureolus Theaphrastus Paracelso, se acentua o debate que tenta descobrir se o saber médico clássico era apenas uma técnica preocupada com os modos de curar ou se era efetivamente uma ciência, preocupada em explicar teoricamente a doença. O debate era polêmico


porque poucas áreas do conhecimento haviam avançado e se intrometido tanto no território das outras ciências. Num processo que começou muitos séculos antes de Paracelso, saberes farmacêuticos, alquímicos, astrológicos/astronômicos (que eram equivalentes), e até mineralógicos e meteorológicos, cresciam à sombra da medicina e pelas mãos de médicos (ALFONSO-GOLDFARB, 1994: 20).


Paracelso rejeitou toda a tradição médica clássica européia herdada de Hipócrates desde o século V antes de Cristo e pregou a construção de uma nova medicina, com caráter científico. Desconsiderou as contribuições da medicina romana, com Galeno no século II, e da medicina islâmica, com Avicena no século X, buscando sepultar as práticas da chamada medicina humoral. Chegou a queimar os livros de Galeno e Avicena em praça pública, afirmando que eram necessários apenas dois livros: a Bíblia e o livro da natureza. A leitura deste último dar-se-ia pela observação rigorosa dos fenômenos naturais. Era através da observação da natureza, entendia Paracelso, que seria possível encontrar cura para os males que assolavam a saúde dos europeus naquele período: a sífilis e as feridas provocadas pela pólvora das armas de fogo inventadas no século XV. Diferente da medicina humoral que defendia a doença como resultante do desequilibro interno do corpo, Paracelso afirmava que as agressões à saúde eram provocadas por fatores externos para os quais o corpo não possuía defesa. Assim, quando o organismo era agredido por veneno o melhor método de cura seria a ingestão de uma pequena dose do veneno, a fim de que o corpo se apropriasse dos elementos que o agrediam e reagisse. Enquanto a medicina humoral afirmava que a cura era produzida pelos contrários, na medicina de Paracelso os iguais é que curavam.
Dentre as novidades que Paracelso anunciava estava a proposta de valorização dos conhecimentos do campo da então chamado Filosofia Química. Todavia, o uso da Iatroquímica ou Química Médica data do século X, quando foi amplamente explorado pelo médico e alquimista muçulmano Razes. Ademais a idéia de que os iguais curam os iguais, conhecida como medicina popular, já havia sido explorada também anteriormente a Paracelso, pelo médico valenciano Arnaldo de Villanova. Não obstante esses antecedentes, Paracelso foi expurgado do campo do saber médico do seu tempo.
Durante o século XIX, sob o influxo da teoria comteana e do desenvolvimento tecnológico da microscopia, possibilitando os estudos da microbiologia, ciências como a Medicina ganharam uma nova significação social.
A ciência médica é estudada aqui principalmente como prática de saúde pública, prática social relativa a padrões culturais que se modificam no tempo e no espaço. A medicina como prática de saúde pública se expandiu de modo significativo ao longo do século XIX em face dos avanços científicos da Biologia,


ou mais precisamente, a descoberta dos microorganismos e suas relações com as causas das doenças. A atuação da medicina, ao identificar uma causa material, os mecanismos de transmissão e as novas formas de combate às doenças, sai do campo puramente especulativo e suas ações passam a possuir uma eficácia comprovada no combate as Pestes (SANTANA, 1997: 5).


A prática da Medicina em Sergipe durante o século XIX encontrava dificuldades que diziam respeito ao pequeno número de profissionais e a dificuldade para obtenção de medicamentos. O pesquisador Antonio Samarone de Santana, médico sanitarista e historiador da Medicina, vem dedicando boa parte do seu trabalho a estudar a História das práticas médicas em Sergipe. Inspirado e orientado pelo trabalho desenvolvido por ele, fiz algumas reflexões acerca da História da Medicina, no conjunto de estudos que tenho desenvolvido a respeito da História das praticas do chamado saber científico na Província e no Estado de Sergipe.
A Constituição do Império, de 1824, responsabilizou as Câmaras Municipais pelos cuidados com a Higiene Pública. Esse tipo de responsabilidade fez com que muitas Câmaras de cidades da Província de Sergipe aprovassem Códigos de Posturas. Os primeiros municípios a fazê-lo foram Socorro e Capela, em 1835; Vila Nova, em 1836; Santa Luzia, em 1837; Estância, em 1841; São Cristóvão, em 1852; e, Aracaju, em 1856. Era responsabilidade dos parlamentos municipais fiscalizar o comércio de drogas e o exercício profissional dos médicos, cirurgiões, boticários, sangradores, barbeiros e parteiras. As Câmaras eram responsáveis também pelo


licenciamento e registro desses profissionais da Arte de Curar; a imposição de multas por irregularidade em matéria de assistência sanitária; zelar pela notificação imediata dos casos de varíola e cólera morbo; estabelecer a obrigatoriedade da vacinação antivariólica, contratar físicos e cirurgiões do Partido da Câmara para o atendimento gratuito da população pobre, dos presos da cadeia, para a realização de exames de corpo de delito e para a aplicação da vacina; velar pela limpeza dos chafarizes, dos logradouros públicos, casas e quintais, extinguir formigueiros e mandar caiar e queimar os pertences de residências que houvesse sido ocupados por leprosos e tuberculosos; evitar enterramentos nas igrejas, para tanto criando cemitérios em sítios afastados do centro citadino (SANTOS Filho, 1977: 494).


Em maio de 1825 São Cristóvão, a capital da Província, ganhou uma enfermaria militar destinada a atender o Batalhão de Caçadores de Sergipe. O novo serviço era, contudo, deficitário, posto que até então inexistiam médicos e boticários na capital de Sergipe . Nesse campo, a Vila de Estância estava melhor aparelhada, contando com cirurgiões como o italiano João Francisco Felzemberg e os brasileiros José Joaquim de Novais Lima Loureiro e Antônio de Araújo Peixoto Bessa. Este último foi nomeado Cirurgião-mor, a fim de dirigir a enfermaria militar de São Cristóvão, sendo o seu irmão, João de Araújo Peixoto Bessa, nomeado para o cargo de boticário. Desde 1820 atuava em Estância o primeiro Cirurgião-mor nomeado para Sergipe, Luís Antonio Vieira.
Ainda durante o governo do presidente Manuel Clemente Cavalcanti de Albuquerque (1823-1826) foi reaberto o Hospital São Mateus, conhecido como hospital de caridade de São Cristóvão (o hospital da misericórdia, mantido pela Santa Casa de São Cristóvão), fundado provavelmente no século XVI (SANTOS Filho, 1977: 250). Contudo, apesar de todos os esforços governamentais, o hospital somente voltou a funcionar efetivamente em setembro de 1840. O hospital atendia os presos, os indigentes, os irmãos pobres e os loucos (MOTT, 1976: 129). O hospital fechou suas portas definitivamente em novembro de 1869.
A partir de 1835 começou a crescer o número de profissionais médicos na Província e alguns deles apareceram de modo mais destacado, como Manuel Antunes de Sales, Guilherme Pereira Rebelo, Antônio Ribeiro Lima, Antônio da Silva Daltro, Pedro Autram, Cypriano José Corrêa, José Nunes Barbosa de Madureira e Manoel Ladislao Aranha Dantas. Um dos primeiros médicos a se estabelecer com consultório na Província de Sergipe foi Manoel Ladislao Aranha Dantas. Em 1833 ele já publicava anúncios no jornal Recopilador Sergipano a respeito da sua atividade clínica em São Cristóvão. Na cidade de Laranjeiras, em 1836, foi criado o Hospital de Caridade Senhor do Bomfim. A instituição foi fundada por dois médicos: José Cândido de Faria e Francisco Alberto Bragança. O seu funcionamento efetivo ocorreu em junho de 1840 e as suas atividades foram encerradas dezenove anos depois, em junho de 1859.

sexta-feira, 23 de julho de 2010

SOBRE A HISTÓRIA DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO EM SERGIPE - III

Em Sergipe, na década de 30, a Matemática era ensinada como disciplina do ensino secundário em instituições escolares como o Atheneu Pedro II. Naquele período, o professor Abdias Bezerra era catedrático de Matemática.
O curso de Matemática da Universidade Federal de Sergipe passou a exigir uma monografia de conclusão de curso a partir da reforma curricular que ocorreu em 1990.
Na segunda metade da década de 90, o Mestrado em Educação da Universidade Federal de Sergipe proporcionou um novo rumo à pesquisa em Matemática no Estado de Sergipe, trabalhos como os de Eva Maria Siqueira Alves (1996) e Ivanete Batista dos Santos (1998) expressam os rumos que a pesquisa nesse campo tomava naquele período. Além disso, alguns profissionais do ensino de Matemática em Sergipe vinham buscando o Mestrado e o Doutorado em instituições universitárias de outros Estados brasileiros, reorientando do mesmo modo o discurso sergipano sobre a Matemática, tal como o fizeram José Maria Fernandez Corrales Filho (2001).

quinta-feira, 22 de julho de 2010

SOBRE A HISTÓRIA DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO EM SERGIPE - II

A primeira preocupação que tinham os autores era a de “satisfazer as exigências da didática moderna” (OLIVEIRA e BITTENCOURT, 1897: I). Para tanto, partiram do pressuposto de que o conhecimento da Matemática, como de resto das demais ciências, requer o seu estudo em quatro partes: teórica, prática, filosófica e histórica. Com base em tal pressuposto, fizeram uma crítica rigorosa dos livros de Matemática em circulação no Brasil, dizendo que nestes “a parte prática vem confundida com a teórica, trazendo estas noções filosóficas e históricas, tudo sem distinção” (OLIVEIRA e BITTENCOURT, 1897: II). Sob o espírito dessa crítica, apontaram erros cometidos, inclusive, por adeptos ortodoxos da doutrina Positivista, “esses senhores (...) absolutamente despidos de senso crítico” (OLIVEIRA e BITTENCOURT, 1897: V), não obstante serem também os dois autores filiados ao Positivismo. Contudo, afirmaram que aqueles aos quais classificaram de positivistas ortodoxos


procuram na prática reagir contra semelhantes prejuízos, limitando a parte teórica ao estritamente necessário, e fazendo realçar bem a parte filosófica. Mas ainda assim erram crassamente na colocação desta última, pois fazem-na preceder a todas as outras, dando por esta forma péssima interpretação ao que escreveu Augusto Comte (OLIVEIRA e BITTENCOURT, 1897: III).
As críticas que os dois autores dirigiram a outros estudiosos causaram estranhamento em muitos deles. Licínio Cardoso, catedrático de Mecânica da Escola Politécnica do Rio de Janeiro e lente de Sociologia da Escola Militar, também no Rio, não obstante haver elogiado muito o trabalho, foi contundente ao divergir:


Não posso, todavia, falar sem restrições do vosso trabalho: penso que há aí algumas lacunas oriundas certamente da falta de prática no ensino, e de vossa pouca idade. Considerações e definições que não me parecem aceitáveis são freqüentes; neste caso estão: os conceitos sobre grandeza à pág. 9; sobre número, pág. 10; sobre grandezas contínuas e descontínuas, pág. 11; a nota à pág. 12; noção de número concreto, pág. 16; definição de numeração, pág. 17; princípios da numeração, pág. 19 e 23 etc. estas lacunas correspondem: uma, a defeito de definição – outras a espécie de arrogância, com a qual argüis de erro noções geralmente aceitas (OLIVEIRA e BITTENCOURT, 1897: XI).


O trabalho de Samuel de Oliveira e Liberato Bittencourt apresenta na parte que os autores chamaram de teórica as diversas teorias que eles selecionaram para o estudo, mencionando a importância e a utilidade de cada uma delas. Combateram noções que consideraram equivocadas e criticaram de modo contundente a chamada “teoria dos restos”.


Sabe-se, com efeito, que cada princípio de divisibilidade dá lugar a uma conseqüência imediata e que é relativa a determinação do resto da divisão de um número inteiro qualquer pelo divisor de que se trata. Pois bem: os compendiadores em sua totalidade formam com essas conseqüências a famosa teoria dos restos, apresentando assim ao mundo científico o fato grotesco de uma nova teoria composta pura e exclusivamente de conseqüências deduzidas dos princípios de outra teoria!... (OLIVEIRA e BITTENCOURT, 1897: IV).


Após a exposição das operações sobre os números inteiros no sistema de numeração universal, os autores as generalizaram para uma base qualquer e fizeram logo extensão ao caso das frações ordinárias e decimais.
A parte do livro a qual chamaram de prática ficou restrita, no dizer dos autores, àquilo que era necessário para o esclarecimento da parte doutrinária da ciência, como também para a solução dos problemas ensejados por esta em suas numerosas aplicações. Quanto a chamada parte filosófica, foram feitas apreciações de compreensão simples, mesmo para aqueles cujos conhecimentos estão limitados ao domínio aritmético. Por último, o livro apresenta uma breve História da Aritmética, em poucas páginas.
Os autores esclarecem que no processo de elaboração da Matemática Elementar fizeram a opção de desconsiderar a Síntese Subjetiva de Comte:


Por maior que seja a admiração que temos por Augusto Comte, por maiores que sejam as homenagens que rendemos à brilhante orientação que o poderoso gênio do grande filósofo imprimiu aos estudos matemáticos, não podemos deixar de reconhecer que uma aritmética confeccionada de acordo com as vistas expostas na Synthèse Siubjective só pode prestar serviços a quem já possua conhecimentos regulares sobre a ciência, que não aqueles que apenas começam a entreter relações com as questões numéricas (OLIVEIRA e BITTENCOURT, 1897: V).


Apanham como mau exemplo o trabalho de Pierre Laffitte, Cálculo Aritmético, que consideram um grande fiasco. Dizem que o livro de Laffitte como obra didática é um grande desastre e um menosprezo à Metodologia, responsabilizando a Síntese Subjetiva por tais problemas.
Em Sergipe, no início do século XX os estudos de Matemática tiveram uma importante liderança, depois que o professor Abdias Bezerra assumiu, em 1911 as cadeiras conjuntas de Aritmética e Álgebra do Atheneu Sergipense. Em 1915, ainda na mesma instituição, esse professor era responsável pelo ensino de Geometria e Trigonometria.
Wagner Valente (1999) afirma que no período de 1730 a 1930 o Brasil viveu sob a Matemática escolar clássica ou tradicional. Segundo Ângela Miorim (1995) a década de 30 do século XX no Brasil foi marcada pela reforma Francisco Campos e os seus pressupostos escolanovistas, enquanto a década de 60 se conheceu o movimento em defesa da chamada Matemática Moderna.
Na década de 30 do século XX o Brasil conheceu as suas primeiras faculdades de Filosofia, Ciências e Letras destinadas a formar professores para o ensino secundário. A partir de 1939 ocorre a consagração do conceito Licenciatura, tal como entendido até os dias atuais (TANURI, 1983).

quarta-feira, 21 de julho de 2010

SOBRE A HISTÓRIA DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO EM SERGIPE

Tentar entender a trajetória do conhecimento matemático em Sergipe é, fundamentalmente, buscar um rastreamento do que se poderia chamar de Matemática escolar. Pelo menos três instituições escolares marcaram a segunda metade do século XIX e a primeira metade do século XX no Estado: o Liceu Sergipense; o Atheneu Sergipense e a Escola Normal. O primeiro foi implantado em 1862 pelo médico Guilherme Pereira Rabelo, Inspetor-Geral da Instrução, num sistema de cooperação entre o poder público e a iniciativa privada. O presidente da Província, Joaquim Jacinto de Mendonça, assumiu a responsabilidade de pagar o aluguel das casas nas quais seriam ministradas as aulas, além do pessoal administrativo necessário ao funcionamento da instituição, enquanto um grupo de professores assumiu o compromisso de ensinar gratuitamente. O currículo da primeira escola secundária organizada em Aracaju por iniciativa do poder público se assemelhava ao do Colégio Pedro II, sob inspiração da Reforma Couto Ferraz, de 1854. Dentre as disciplinas previstas estavam incluídas Aritmética, Álgebra, Geometria e Trigonometria, Partidas Dobradas e Aritmética Comercial (NUNES, 1984: 102). O Liceu funcionou apenas durante dois anos. Após a sua extinção, continuaram existindo aulas isoladas de Geometria em Estância e Laranjeiras (NUNES, 1984: 103).
No Atheneu Sergipense e na Escola Normal, desde a década de 70 dos anos 800 foram formados os sergipanos que buscaram seguir carreira nas escolas de Medicina, Direito, Engenharia, academias militares e outras agências de ensino superior e pesquisa do Império e da República. No curso de Humanidades do Atheneu os estudantes aprendiam, dentre outras disciplinas, Aritmética, Álgebra e Geometria. Os alunos que optavam pela Escola Normal tinham a oportunidade de aprender Aritmética e Geometria (Nunes, 1984: 114). O professor Tito Augusto de Souto Andrade integrou a primeira Congregação do Atheneu como lente da cadeira de Geometria.
A partir de primeiro de julho de 1873 foi adotado em todo o país o Sistema Métrico Decimal, alterando radicalmente as formas de pesar e medir habitualmente utilizadas no Brasil. Como nas demais Províncias, o governo de Sergipe regulamentou a obrigatoriedade dos exames a respeito do conhecimento do novo Sistema, que deveriam ser prestados pelos professores primários. Para este fim, foram abertas muitas aulas particulares enquanto a Tipografia do Jornal do Aracaju publicou o Compêndio Elementar do Sistema Métrico Decimal, compilado pelo capitão de Infantaria Manuel da Silva Rosa Junior. O livro era destinado às escolas públicas da Província (NUNES, 1984: 122).
Herculano Marcos Inglês de Souza, presidente da Província de Sergipe nos anos de 1881 e 1882, promoveu uma reforma do ensino secundário em julho do último ano do seu período administrativo. Nesta reforma, o Atheneu foi transformado em Liceu Secundário de Sergipe e os conteúdos de Matemática ocuparam três anos do currículo dos estudos secundários, sendo previstas as seguintes disciplinas: Aritmética, Geometria e Álgebra.
Segundo o pesquisador Wagner Rodrigues Valente, a história da formação do professor de Matemática brasileiro deve ser buscada nas escolas militares que foram importantes no Brasil ao longo do século XIX. Disciplinas como Artilharia e Fortificações lançaram mão da Matemática, buscando com o conhecimento desta suprir necessidades relativas a práticas de guerra (VALENTE, 2002: 88).


Será essa matemática, de início ligada diretamente à prática, desenvolvida pedagogicamente nas escolas técnico-militares, organizada, dividida e didatizada para diferentes classes, que passará para os colégios e preparatórios do século XIX. Com as transformações das escolas militares, criam-se as escolas politécnicas para formação dos engenheiros. Serão predominantemente militares e engenheiros, os professores de matemática de tais escolas, até inícios do século XX (VALENTE, 2002: 88).


As discussões acerca da Matemática ocuparam significativo espaço na imprensa de Sergipe no final do século XIX. Em 1888, um artigo publicado no jornal O Republicano, em Laranjeiras, acendeu a polêmica em torno do problema dos estudos nesse campo. O texto “Introdução a uma crítica sobre o estudo da Matemática Elementar no Brasil” tinha como autor o ainda estudante e depois engenheiro civil e militar Samuel Augusto de Oliveira. O mesmo artigo foi republicado dois anos depois na Revista da Sociedade Tobias e Ozório, no Rio de Janeiro, no mês de outubro. Laranjeirense, o engenheiro Samuel de Oliveira nascera no dia 12 de outubro de 1868 e fez uma carreira de sucesso no Exército, chegando ao posto de coronel em 1918. Articulado politicamente integrou a Casa Militar durante o governo do presidente Afonso Pena. O mesmo autor voltaria a polemizar em torno da Matemática um ano após a publicação do seu primeiro artigo, quando no mesmo O Republicano, edição de 29 de fevereiro de 1889, fez circular o artigo “Algumas palavras sobre o estudo de Matemática no Brasil”, dedicado “Ao meu primeiro mestre e verdadeiro amigo Professor Baltazar Góes” (GUARANÁ, 1925: 254).
Samuel de Oliveira tornar-se-ia um importante autor de livros da área a partir de 1892, quando publicou, no Rio de Janeiro, em parceira com Manuel Liberato Bittencourt, a sua Geometria Algébrica. O livro foi produzido sob o influxo do plano da Síntese Subjetiva, nos termos pensados por Augusto Comte. O sucesso editorial fez com que o trabalho ganhasse uma nova edição em 1896, em dois volumes, sob o título de Lições de Geometria Algébrica. Todavia, o seu livro de maior sucesso foi Matemática Elementar: Tratado de Aritmética, outra vez em parceria com Manuel Liberato Bittencourt. Ali, ele retomou as teses dos dois artigos que publicara em 1888 e 1889 no periódico laranjeirense. Destinado ao curso secundário, porém adotado também no ensino superior, o livro recebeu a chancela de Cunha & Irmão Editores, no ano de 1897. Os autores dedicaram o trabalho aos professores Felisberto de Menezes e Manoel Peixoto Cursino do Amarante, ambos da Escola Militar, dos quais foram alunos.

terça-feira, 20 de julho de 2010

ALGUMAS REFLEXÕES SOBRE A HISTÓRIA DA PESQUISA HISTÓRICA EM SERGIPE

Até a criação do Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe, os estudos de História tinham em instituições de ensino secundário como o Atheneu Sergipense e o Colégio Tobias Barreto importantes espaços de discussão. A partir de 1914, no Colégio Tobias Barreto, a cadeira de História Universal e do Brasil tinha como lente o advogado Adolpho Ávila Lima. Após a fundação do IHGS, Ávila Lima integrou o seu quadro de sócios.
Em 1950 foi criada a Faculdade Católica de Filosofia.
O Departamento de História da Universidade Federal de Sergipe foi instalado no dia 26 de maio de 1969, durante uma reunião realizada à rua Campos, 177, na Sala da Congregação do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas. Chefiado pela professora Maria Thetis Nunes, o Departamento tinha como professores Luiza Maria Gonçalves, Maria de Lourdes Amaral Maciel, Maria da Glória Santana de Almeida, Maria Andrade Gonçalves, Juan José Rivas Pascua e Beatriz Góis Dantas. A partir de então, tal Departamento assumiu a condição de principal locus de produção do conhecimento histórico em Sergipe. Tinha a responsabilidade de manter funcionando também o curso de Licenciatura em História da antiga Faculdade Católica de Filosofia de Sergipe.
No mesmo ano de 1969, a professora Maria da Glória iniciara uma pesquisa de Levantamento das Fontes Primárias do Arquivo Público de Sergipe.

sábado, 17 de julho de 2010

POR UMA HISTÓRIA DA FÍSICA EM SERGIPE

A Física se popularizou bastante desde o início do século XVIII. No século XIX cresceu mais o seu prestígio. A Física do século XX continuou surpreendendo a todos. A teoria da relatividade, a teoria quântica. O conhecimento da Física moderna estava absolutamente entranhado na vida cotidiana dos indivíduos. Desconhecer a atividade da Física seria inviabilizar a sobrevivência da espécie.
Quem pretender estudar a História da Física em Sergipe pode tomar o curso de Bacharelado em Física mantido pela Universidade como ponto de prtida e, tal qual aconselha Walter Benjamin, tenar escrever a História a contrapelo.
O “curso de Bacharelado em Física da Universidade Federal de Sergipe tem como objetivo formar pesquisadores científicos no ramo da Física, com um perfil profissional caracterizado por formação básica atualizada em Física clássica e moderna, conhecimento sólido das teorias fundamentais da Física: Mecânica Clássica, Eletrodinâmica Clássica, Mecânica Quântica e Mecânica Estatística, e condições para realizar o trabalho de natureza científica em uma das áreas de concentração em Física estabelecidas no currículo do Curso” . O currículo do Bacharelado em Física obriga a iniciação à pesquisa durante três semestres letivos.

sexta-feira, 16 de julho de 2010

REFLEXÕES ACERCA DE UMA POSSÍVEL HISTÓRIA DOS FARMACÊUTICOS EM SERGIPE - II

Após a inauguração do Instituto Parreira Horta, em 1924, a instituição esclareceu a etiologia das febres que costumavam ocorrer na cidade de Aracaju, classificando-as como tifóides, isolou os germes e conseguiu fabricar uma vacina oral para evita-las. A vacina era fabricada através do cultivo de amostras de bacilos tíficos e paratíficos “A” e “B” em garrafas contendo agar inclinado. Após 24 horas,


as culturas eram retiradas da superfície do agar e emulsionadas em água fisiológica esterilizada. Fazia-se a contagem dos germes, previamente mortos com iodo, no hematimetro de Thomas-Zeiss. A solução era diluída a 2% numa solução decinormal de iodo. Após esse processo, a vacina resultante era distribuída em ampolas de 5, 10 e 20 Cm3 (SANTANA, 1997: 178). A vacina era aplicada por via oral, com 20 gotas diluídas em água, tomadas em jejum, durante três dias consecutivos (SANTANA, 1997: 178).


O Instituto identificou ainda a incidência de casos de difteria em Sergipe, isolando o bacilo de Löefler em culturas. Contudo, os estudiosos do tema consideram que a maior contribuição do Instituto Parreira Horta foi possibilitar o início do “uso terapêutico da insulina em Sergipe. Com o acesso aos laboratórios do IPH, dosagem correta da glicemia, os médicos tiveram condições de efetuar o tratamento, com segurança e êxito, de vários casos de Diabetes” (SANTANA, 1997: 179). O Regulamento do Instituto especificava como produzir, conservar e aplicar vacinas.
Além de soros e vacinas, o IPH produzia óleo canforado, cafeína, sparteína, iodeto de sódio a 10 por cento, tártaro emético, água bidestilada, cianeto de mercúrio, soro fisiológico e soro glicosado.
As preocupações com a atividade científica no campo da Farmácia faziam com que nas primeiras décadas do século XX houvesse uma verdadeira cruzada de combate ao charlatanismo nessa área. Para alterar esse quadro, o presidente Maurício Graccho Cardoso criou, em dezembro de 1925, a Faculdade de Odontologia e Farmácia de Sergipe Aníbal Freire. O Regulamento da instituição foi aprovado em fevereiro de 1926 e no mesmo de abril foram iniciadas as aulas. A matrícula inicial nos dois cursos era de 22 alunos. Segundo o presidente de Sergipe, no discurso que proferiu durante a aula inaugural, era necessário livrar o Estado dos práticos de Farmácia e Odontologia existentes, fazendo com que todos os que exercem essas atividades tivessem oportunidade de incorporar os saberes da Química, da Fisiologia, da Patologia Geral e da Higiene (SANTANA, 1997: 190).
Dirigida por Augusto Leite, a Faculdade tinha nos seu corpo docente os seguintes profissionais: Josaphat Brandão, Oscar Nascimento, Archimedes Guimarães, Antônio Tavares de Bragança, Ranulfo Prata, Lauro Hora, Américo de Miranda Ludolf e João Firpo Filho.
A Faculdade deveria utilizar para o seu funcionamento a estrutura já existente no Instituto Parreira Horta, no Instituto de Química Arthur Bernardes e no Hospital de Cirurgia. Porém, a instituição funcionou apenas durante o ano de 1926, encerrando suas atividades em novembro daquele mesmo ano.

quinta-feira, 15 de julho de 2010

REFLEXÕES ACERCA DE UMA POSSÍVEL HISTÓRIA DOS FARMACÊUTICOS EM SERGIPE

No século XIX os farmacêuticos que atuaram em Sergipe foram formados pelas Faculdades de Medicina da Bahia e do Rio de Janeiro, ou em escolas de outros países. O Livro de Registro da Provedoria de Saúde Pública da Província registra, no ano de 1860, a atuação de sete farmacêuticos em Sergipe: Herculano Gomes de Souza, Geraldo José Victor Bahiense, José Theodoro da Silva, Pedro Severiano Dantas, Marcelino José Jorge, Prudêncio Constâncio da Cunha e José da Motta Rebello (SANTANA, 1997: 83). Em 1875 trabalhava na Província, dentre outros, o farmacêutico Josino Correia Cotias, que também era médico e cirurgião-dentista.
Não obstante o grande número de farmacêuticos diplomados atuando em Sergipe, até o final do século XIX a atividade era exercida por muitas pessoas sem formação, os práticos.
A atividade dos profissionais de farmácia em Sergipe ganhou uma regulamentação mais rigorosa em 1892, depois da entrada em vigor do Regulamento Sanitário do Estado. Em janeiro de 1898 foi criada uma comissão com o objetivo de regulamentar o exercício profissional, integrada pelos farmacêuticos João Martins Pena e Guilhermino Amâncio Bezerra, além do Inspetor de Higiene, Daniel Campos. O reconhecimento da importância dos profissionais do setor fez com que em 1905, quando o governo estadual criou o Conselho Geral Sanitário, a sua composição incluísse um farmacêutico de livre nomeação do presidente do Estado. A composição do novo órgão era a seguinte: o Inspetor de Higiene, o Médico de Saúde do Porto, o Intendente da Capital e três representantes da sociedade (um médico, um bacharel e um farmacêutico).
O mesmo regulamento que definiu o Conselho Geral Sanitário, concedia ao Inspetor de Higiene a prerrogativa de autorizar a produção e comercialização de novos medicamentos.
Já sob o regime republicano, após a criação do Departamento Nacional de Saúde Pública, quando da implantação em Sergipe do Serviço de Saneamento e Profilaxia Rural, em 1923, o diretor deste novo órgão determinou que todos os farmacêuticos, médicos e dentistas registrassem os seus diplomas na repartição.


No jornal ‘O Estado de Sergipe’ de 11 de março de 1909, encontramos um edital da Inspetoria autorizando o Dr. Pedro Garcia Moreno, farmacêutico de Laranjeiras, a comercializar o elixir de caroba e nogueira, o elixir anti-diabético e o vinho intertropical, medicamentos de sua invenção e fabricação ( SANTANA, 1997: 101).


A preocupação com o caráter científico da atividade farmacêutica é posta com muita clareza pelo Código Sanitário do Estado de Sergipe aprovado em 1926, ao atribuir à Diretoria Geral do Serviço Sanitário a competência de exercer a polícia sanitária das farmácias e drogarias, bem como sobre a fabricação de soros, vacinas, culturas atenuadas e produtos congêneres, além da fiscalização da medicina em qualquer dos seus ramos (farmácia, obstetrícia e arte dentária). Foi criado, novamente, o Conselho Sanitário Central, tendo como integrantes o diretor geral do Serviço Sanitário, os delegados sanitários dos municípios, o Intendente Municipal de Aracaju, o professor de higiene da Escola de Farmácia e Odontologia Aníbal Freire, os diretores do Instituto Parreira Horta e Arthur Bernardes, do Hospital de Cirurgia e os médicos do Batalhão da Força Federal e da Polícia Militar do Estado (SANTANA, 1997: 173).
O Instituto Parreira Horta foi fundado em 1923, com o objetivo de pesquisar e produzir insumos básicos para a área de saúde. A pretensão era construir uma instituição voltada ao combate à raiva; um instituto vacinogênico capaz de produzir vacina anti-variólica; e, um laboratório de análises clínicas, bacteriológicas e químicas que também funcionasse como centro de pesquisa médica. O presidente Graccho Cardoso entregou a responsabilidade pela instituição ao médico Paulo de Figueiredo Parreira Horta.Ele cuidou pessoalmente do projeto, da construção e da organização administrativa e científica do Instituto. Cientista de prestígio internacional, ao transferir-se para Sergipe viveu como hóspede oficial do Palácio do Governo. O edifício do Instituto foi erguido em oito meses e inaugurado em maio de 1924 (SANTANA, 1997: 176-178).

terça-feira, 13 de julho de 2010

ESTATÍSTICA E HISTÓRIA EM SERGIPE - II

No início do século XX Sergipe já contava com o seu Gabinete de Identificação e Estatística, dirigido pelo médico Carlos Menezes. O Serviço de Saneamento e Profilaxia Rural de Sergipe definiu, em 1923, os processos de organização do serviço de demografia sanitária, para controle das doenças.
Em 1924, a Fundação Rockfeller e o Serviço de Saneamento e Profilaxia Rural cadastraram a população aracajuana: 31.668 habitantes, dos quais 15.238 homens e 16.430 mulheres, com 994 crianças menores de um ano de idade. Na cidade estavam edificadas 8.637 casas, das quais eram cobertas com palha 3.657, enquanto 4.610 tinham cobertura de telha (SANTANA, 1997: 168).
Em 1926, uma reforma administrativa na área de saúde criou a Diretoria Geral do Serviço Sanitário. A nova diretoria possuía uma Seção de Endemias, Epidemias e Estatística Demógrafo-Sanitária (SANTANA, 1997: 171). As preocupações com o caráter científico da Estatística e as contribuições que ela poderia oferecer ao saber médico são postas com muita clareza pelo Código Sanitário do Estado de Sergipe aprovado em 1926, ao atribuir à Diretoria Geral do Serviço Sanitário, responsável pela produção de diversos estudos, a competência de organizar a estatística demógrafo-sanitária.

segunda-feira, 12 de julho de 2010

ESTATÍSTICA E HISTÓRIA EM SERGIPE

O uso da Estatística pode ser identificado na Província de Sergipe, durante a segunda metade do século XIX, principalmente em relatórios dos inspetores do ensino e da saúde. Um dos maiores entusiastas desse tipo de aplicação, Francisco Sabino Coelho Sampaio, foi responsável pela inspeção da saúde pública nas décadas de 60, 70 e 80 dos anos 800. A partir dos relatórios e dos dados produzidos, tratados e apresentados por ele, o pesquisador Antônio Samarone de Santana, conseguiu produzir séries estatísticas acerca de nascimentos, óbitos e enfermidades na Província. Os estudos de Francisco Sabino Coelho Sampaio revelam que em Sergipe, no ano de 1868, a mortalidade de menores de três anos de idade atingia 50 por cento do total de óbitos. Porém, tais estudos estatísticos estavam ainda carregados de imperfeições: “Infelizmente os dados não são padronizados, e em outros anos, só encontramos informações de mortalidade de crianças abaixo de cinco anos” (SANTANA, 1997: 73). Mesmo assim foi possível, através de tais relatórios produzir dados estatísticos sobre as condições de saúde em Sergipe durante cerca de duas décadas e descobrir que em 1878, “de um total de 417 óbitos, 214 ocorreram em crianças menores de cinco anos, ou seja, mais de cinqüenta por cento” (SANTANA, 1997: 73). Contudo, é fundamental registrar que nos demais países a mortalidade infantil também apresentava uma incidência muito alta.
Toda a série estatística produzida por Francisco Sabino Coelho Sampaio é importante posto que, dentre outras coisas, revela a gravidade das condições de saúde da população naquele período. Para Antônio Samarone de Santana, chamam a atenção dos relatos produzidos pelo inspetor de saúde pública, “a mortalidade proporcional das pessoas acima de 50 anos, o chamado indicador de Swaroop e Uemura, que era apenas de 10,9%” (SANTANA, 1997: 73).
Foi possível também, através das mesmas séries estatísticas, compreender as causas freqüentes da mortalidade. Numa delas, que compreende os anos de 1871 a 1881, revela que em Aracaju, onde a população era de cerca de 10 mil habitantes, a taxa média de mortalidade geral por mil habitantes girava em torno de 29,2. No mesmo período,


essa taxa era de 21,3 na Inglaterra e País de Gales, e de 23,6 na França. Tomando esse indicador como parâmetro a desvantagem da Província de Sergipe era pequena, todavia, sabemos que essas taxas só seriam comparáveis co a padronização das mesmas, para afastar a influência da distribuição etária da população. Os dados existentes não permitem essa padronização (SANTANA, 1997: 74).


Ademais, é fundamental observar que o inspetor Francisco Sabino Coelho Sampaio desconsiderava nos seus relatórios os óbitos provocados pelas epidemias. Assim, em 1873, o número de falecimentos por varíola foi equivalente ao número de mortes por outras causas. Assim, é claro, os dados apresentam algumas distorções. Todavia, ao analisar o trabalho do inspetor, o pesquisador Antônio Samarone de Santana fez anotações importantes, a partir de um quadro que construiu com as séries estatísticas do médico Francisco Sampaio.
Ao analisar a série estatística do inspetor de saúde, Antonio Samarone de Santana coloca em relevo a importância das preocupações estatísticas do autor dos dados:


Primeiro, chama a atenção uma certa homogeneidade dos valores proporcionais nos seis anos observados. Isso significa, relativamente, uma boa qualidade dos dados em questão. Entre as causas, as febres perniciosas (febres do Aracaju) aparecem com maior freqüência. Fato bastante esperado, devido a inespecificidade desse termo, que abrigava um conjunto razoável de patologias. Chama a atenção a elevada incidência de óbitos por tétano neonatal(mal dos sete dias), a presença expressiva de tuberculose (tísica pulmonar), doença que por não apresentar um comportamento pestilencial, não aparecia no rol dos problemas de saúde pública, como já vimos, mesmo com elevada mortalidade (SANTANA, 1997: 75).

sexta-feira, 9 de julho de 2010

ENGENHARIA E HISTÓRIA EM SERGIPE - XVI

Os serviços de bonde de Aracaju foram desativados em 1959, no final do governo Leandro Maciel, quando a cidade passou a ser servida pelos ônibus urbanos, inicialmente apelidados de marinetes . As primeiras linhas implantadas tiveram como empreendedores Oliveira Martins, Firmino Mendonça, Josino Menezes, Marinho Tavares e Lauro Menezes. Circulando inicialmente em Aracaju, os empresários proprietários desses ônibus, gradativamente, estenderam o serviço ligando por esse meio Aracaju a outros municípios e mais tarde implantando linhas interestaduais. Na década de 60, as peruas modelo Kombi, da marca Volkswagen, começaram também a fazer o serviço de transporte coletivo na cidade. O fato desse tipo de veículo haver se envolvido em um grande número de acidentes e causado várias mortes fez com que no final dos anos 70 ele fosse banido. Um importante aperfeiçoamento do sistema foi experimentado na segunda metade da década de 80, com a implantação do Sistema Integrado de Transportes.
Oito anos após a inauguração da ferrovia Timbó-Propriá pousou em Aracaju o primeiro hidroavião, em julho de 1923, sob o comando do piloto Protógenes Guimarães. A partir daí a cidade começou a ser servida por linhas aéreas regulares, com hidroaviões Catalina, da Companhia Condor , que pousavam no rio Sergipe e atracavam nas proximidades da Ponte do Imperador. Cada avião transportava dez passageiros por viagem.
Um outro campo importante que se desenvolveu em Sergipe, principalmente na segunda metade do século XX foi o das telecomunicações. Em Aracaju, a rede de telefonia fixa existe desde 1954. Tal rede foi implantada na capital do Estado a partir de Laranjeiras, primeiro município de Sergipe a contar com uma rede de telefonia, que chegou a contar com 1.500 assinantes. Em 1972, a rede passou à administração da Empresa de Telecomunicações de Sergipe – Telergipe. Mais antiga, a rede telegráfica começou a operar em Sergipe a partir de 1878, através da Empresa Transporte & Correios, que interligou as cidades de Estância, Maruim e Aracaju.

quinta-feira, 8 de julho de 2010

ENGENHARIA E HISTÓRIA EM SERGIPE - XV

O desenvolvimento do transporte rodoviário permitiu que se construísse no Estado de Sergipe uma rede de estradas que ganharam pavimentação asfáltica a partir da década de 60, depois de confirmada a existência de petróleo no campo de Carmópolis e da instalação da Petrobrás em Sergipe.
Nas primeiras décadas do século XX foi muito grande o impulso dado ao transporte ferroviário com a inauguração, em 1915, da ferrovia Timbó-Propriá, que ligava o Estado de Sergipe do sul ao norte. Em 1912, mesmo antes da inauguração da ferrovia Timbó-Proriá, o trem já operava em Aracaju. A construção da primeira Estação Ferroviária da cidade aconteceu nas proximidades do cais do Mercado, em 1912, ponto no qual, na década de 30, quando da sua visita a Aracaju, desembarcou o presidente Getúlio Vargas. Em 1950, a Estação Ferroviária foi transferida do centro da cidade para o bairro Siqueira Campos. Ali, funcionou até 1970, quando foi desativada.
O serviço de bondes de tração animal da cidade de Aracaju foi criado em 1919. Foram implantados na cidade cerca de 13 quilômetros de trilhos. Cada bonde transportava 20 passageiros. A partir de 1926 começaram a funcionar os bondes elétricos, com veículos importados da Inglaterra, executando o transporte de passageiros entre o centro da cidade e os bairros. Nas décadas de 40 e 50 foram implantadas novas linhas de bondes elétricos, expandindo de modo significativo a malha coberta por esse meio de transporte. Eram seis as linhas de bonde existentes em Aracaju: linha um, ou linha azul – Bairro Industrial, avenida João Rodrigues, Mercado, rua João Pessoa, praça Fausto Cardoso, avenida Ivo do Prado, avenida Augusto Maynard, rua Itabaiana, Bairro Industrial; linha dois, ou linha verde – ladeira do Santo Antônio, Estrada Nova, rua Japaratuba, praça Princesa Isabel, rua Itabaiana, avenida Barão de Maruim, avenida Ivo do Prado, praça Fausto Cardoso, bairro Santo Antônio; linha três ou linha vermelha – bairro Aribé, centro, Oficinas, bairro Siqueira Campos; linha quatro ou linha amarela –centro, praça Princesa Isabel, lateral do cemitério, morro do 28 BC, centro; linha cinco ou bonde circular – rua Itaporanga, avenida Pedro Calazans, praça da Bandeira, avenida Barão de Maruim, rua Arauá, parque Teófilo Dantas, rua Itaporanga. Além destas linhas, havia também o bonde funerário, que atendia os serviços de sepultamento.
O desenvolvimento do transporte rodoviário permitiu que se construísse no Estado de Sergipe uma rede de estradas que ganharam pavimentação asfáltica a partir da década de 60, depois de confirmada a existência de petróleo no campo de Carmópolis e da instalação da Petrobrás em Sergipe.
Nas primeiras décadas do século XX foi muito grande o impulso dado ao transporte ferroviário com a inauguração, em 1915, da ferrovia Timbó-Propriá, que ligava o Estado de Sergipe do sul ao norte. Em 1912, mesmo antes da inauguração da ferrovia Timbó-Proriá, o trem já operava em Aracaju. A construção da primeira Estação Ferroviária da cidade aconteceu nas proximidades do cais do Mercado, em 1912, ponto no qual, na década de 30, quando da sua visita a Aracaju, desembarcou o presidente Getúlio Vargas. Em 1950, a Estação Ferroviária foi transferida do centro da cidade para o bairro Siqueira Campos. Ali, funcionou até 1970, quando foi desativada.
O serviço de bondes de tração animal da cidade de Aracaju foi criado em 1919. Foram implantados na cidade cerca de 13 quilômetros de trilhos. Cada bonde transportava 20 passageiros. A partir de 1926 começaram a funcionar os bondes elétricos, com veículos importados da Inglaterra, executando o transporte de passageiros entre o centro da cidade e os bairros. Nas décadas de 40 e 50 foram implantadas novas linhas de bondes elétricos, expandindo de modo significativo a malha coberta por esse meio de transporte. Eram seis as linhas de bonde existentes em Aracaju: linha um, ou linha azul – Bairro Industrial, avenida João Rodrigues, Mercado, rua João Pessoa, praça Fausto Cardoso, avenida Ivo do Prado, avenida Augusto Maynard, rua Itabaiana, Bairro Industrial; linha dois, ou linha verde – ladeira do Santo Antônio, Estrada Nova, rua Japaratuba, praça Princesa Isabel, rua Itabaiana, avenida Barão de Maruim, avenida Ivo do Prado, praça Fausto Cardoso, bairro Santo Antônio; linha três ou linha vermelha – bairro Aribé, centro, Oficinas, bairro Siqueira Campos; linha quatro ou linha amarela –centro, praça Princesa Isabel, lateral do cemitério, morro do 28 BC, centro; linha cinco ou bonde circular – rua Itaporanga, avenida Pedro Calazans, praça da Bandeira, avenida Barão de Maruim, rua Arauá, parque Teófilo Dantas, rua Itaporanga. Além destas linhas, havia também o bonde funerário, que atendia os serviços de sepultamento.

INTERNATIONAL STANDING CONFERENCE FOR THE HISTORY OF EDUCATION (ISCHE 33)

CONVOCATORIA

26 a 29 de Julho de 2011, San Luis Potosí, Mexico
ESTADO, EDUCAÇÃO E SOCIEDADE
NOVAS PERSPECTIVAS SOBRE UM VELHO DEBATE
A comemoração do Bicentenário dos movimentos de Independência de América Latina, e mais
amplamente do Mundo Atlântico, emolduram o tema do ISCHE 33. As realidades e os debates
latino-americanos questionam a imagem de Nações como "Comunidades Imaginárias" e de
Estados dedicados a forjar uma pátria de cidadãos. Durante mais de dois séculos de sublevações
políticas, guerras civis e movimentos revolucionários, diversos grupos tanto políticos como civis
recuperaram tradições culturais que antecediam à Independência e geraram novas ações e
movimentos culturais que conformaram o legado educativo da região.
A história da educação tem questionado certezas arraigadas, incluindo o peso outorgado o
Estado como portador único do poder, capaz de prover e vigiar a educação nacional.
Os estudos mostram que os sistemas educativos, longe de garantir uma educação uniforme, têm
organizado a diversidade, reproduzido a desigualdade, ao canalizar capital econômico e
simbólico através de diferentes instituições, separando categorias de classe, região, gênero,
religião, etnicidade, raça, geração e habilidade. As perspectivas recentes também têm reescrito
a história oficial para incorporar aos múltiplos movimentos culturais que têm reforçado ou
desafiado os projetos hegemônicos. Identificam uma gama de atores - corporações civis,
religiosas e econômicas, famílias, comunidades e partidos - que coincidiram ou se confrontaram
em torno da construção social da educação. Novos estudos destacam as tensões entre
organismos nacionais e internacionais que canalizaram recursos e modelos em um sistema de
intercâmbio desigual e de apropriações não previstas.
Como resultado, é possível conceber as instituições educativas como nós dentro de redes
dinâmicas imersas em relações desiguais de poder, que se transformam através de processos de
imposição, intercâmbio, negociação resistência entre múltiplos atores. Através destas redes se
mobilizam e combinam teorias, métodos e tecnologias pedagógicas para regular e racionalizar
os processos educativos, mas também para configurar novas formas de organização e liberação
social. Esta perspectiva permite-nos compreender de forma mais equilibrada a distribuição de
conhecimento e poder entre os governantes e os governados.

quarta-feira, 7 de julho de 2010

ENGENHARIA E HISTÓRIA EM SERGIPE - XIV

Desde a década de 70, a administração do espaço urbano passou à responsabilidade da Empresa Municipal de Urbanização – Emurb, que cuida de serviços imobiliários, obras, planejamento, iluminação pública, drenagem, licenciamento e asfaltamento de ruas.
Durante a primeira metade do século XX a cidade de Aracaju recebeu importantes contribuições arquitetônicas, por iniciativa de Valter Barros. Apesar de não possuir formação universitária, ele ganhou notoriedade como projetista de residências e edifícios, como os da Estação Rodoviária Governador Luís Garcia e do Hotel Pálace de Aracaju.
Durante a segunda metade do século XX uma importante contribuição ao desenvolvimento da Engenharia, da Arquitetura e do urbanismo em Sergipe foi prestada pelo arquiteto Rubens Sabino Ribeiro Chaves, nascido em Aracaju e graduado pela Faculdade de Arquitetura da Universidade da Bahia. Como profissional ele atuou na Prefeitura Municipal de Aracaju, no Departamento Estadual de Trânsito e na Companhia de Desenvolvimento Industrial e de Recursos Minerais do Estado de Sergipe, além de manter um escritório de arquitetura, no qual projetou os edifícios da Maternidade Hildete Falcão Batista, da Gastroclínica, da Clínica São Marcos, do Hospital da Polícia Militar, do Trópicos Hotel. Foi também responsável por projetos residenciais como os edifícios Cidade Jardim e Portão do Mar, bem como as casas residências mandadas construir por empresários, magistrados e médicos como Viana de Assis, Geraldo Sobral, Carlos Cruz e Gilton Rezende, além de alguns conjuntos habitacionais. Como arquiteto da Prefeitura de Aracaju concebeu o projeto da Galeria de Arte Álvaro Santos, além de haver planejado muitas praças, orlas e parques esportivos para a cidade.
Um dos fundadores do Clube de Engenharia de Sergipe, Rubens Chaves foi responsável pela redação do Código de Obras, Urbanismo e Tributário, que entrou em vigor no ano de 1989.
Rubens Chaves entende que o quinto e último período do desenvolvimento urbano de Aracaju estaria marcado pela completa conurbação com os municípios de Socorro, São Cristóvão e Barra dos Coqueiros.
A engenharia de transporte se desenvolveu na Província de Sergipe desde o início do século XIX, em função da necessidade de movimentação de cargas e das viagens de pessoas para outras províncias do Brasil e para o exterior. No início do século XX, novas modalidades de transporte estavam substituindo o transporte marítimo, que teve visível declínio principalmente a partir da década de 30. O assoreamento do rio Sergipe provocou uma queda acentuada na atividade portuária, em Aracaju. Apenas navios de pequeno calado continuavam aportando na capital, como o Capela, o Baependi, o Itagiba e o Aníbal Benévolo continuavam atracando no Trapiche Lima para o transporte de cargas e passageiros.A navegação marítima somente voltaria a ter importância no Estado de Sergipe nas últimas décadas do século XX quando, em função dos interesses da exploração mineral, principalmente dos negócios do petróleo e da exploração do Potássio a Petrobrás se interessou pela construção de um porto off shore em Sergipe, nas proximidades do município de Pirambu.
O uso de automóveis particulares começou a ser difundido entre as famílias mais abastadas. As pessoas que não tinham poder aquisitivo para adquirir um automóvel começaram a utilizar os primeiros carros de aluguel que apareceram, os chamados carros de praça, um meio mais seletivo em face de outras formas de transporte coletivo que surgiram, como os bondes. O primeiro desses carros de praça a circular em Aracaju foi o de Arno Coelho, um Ford que chegou a Aracaju em 1913, logo apelidado de “Fobica” (CHAVES, 2004: 86). A importação e a comercialização de veículos na cidade se transformou em um importante e lucrativo negócio. Os carros eram mandados buscar nos Estados Unidos da América. Porém, no período da guerra, o racionamento de combustíveis fez com que as famílias de maior poder aquisitivo voltassem a circular pela cidade em charretes puxadas por cavalos.

terça-feira, 6 de julho de 2010

ENGENHARIA E HISTÓRIA EM SERGIPE - XIII

Na periodização estabelecida por Rubens Chaves para explicar o desenvolvimento urbano de Aracaju, o quarto período vai de 1964 ao ano 2000. Em 1980 a população da cidade de Aracaju havia chegado a 294 mil habitantes. Em 1966 a cidade reordenou as suas condições de crescimento, com a aprovação do novo Código de Obras e Urbanismo, criando zoneamentos, regulamentando os projetos dos novos bairros, estabelecendo os padrões para a implantação do Distrito Industrial de Aracaju, bem como a abertura de ruas, avenidas, parques e praças. O Código disciplinou ainda a construção de casas residenciais, estabelecendo gabaritos, recuos, solejamentos e áreas ocupáveis.
Nesse período a marca teria sido a da indústria petrolífera. A confirmação da descoberta do primeiro campo petrolífero em Carmópolis, no Estado de Sergipe, deu um novo impulso ao desenvolvimento urbano de Aracaju, onde a Petrobrás instalou a sede dos seus negócios no Estado.
Na década de 60 a chegada a Sergipe das linhas de financiamento do Banco Nacional da Habitação – BNH possibilitou o financiamento, a longo prazo, de unidades residenciais e os investimentos para construção de casas populares, a partir da construção de grandes conjuntos populacionais. Nas décadas de 50 e 60 a experiência da construção de conjuntos habitacionais já ocorrera em Aracaju, com a implantação do Conjunto Agamenon Magalhães, pelo governador Arnaldo Garcez, na década de 50, e da Cidade dos Funcionários, no início da década de 60, pelo governador João de Seixas Dória. A prática de construir conjuntos habitacionais para os setores da chamada pequena burguesia se expandiu em Aracaju a partir de iniciativas do setor privado. João Alves, construtor e incorporador, investiu nesse campo, principalmente em áreas de expansão da zona sul da cidade, a partir da década de 40 do século XX. Além de construir, financiava com recursos próprios a aquisição das residências que edificava, como ocorreu com os conjuntos Amintas Garcez e João Alves, ambos erguidos por iniciativa sua. As construções de casas e edifícios de apartamentos para esses grupos sociais e para as pessoas de maior poder aquisitivo possibilitaram que nesse período se consolidassem no mercado as cinco mais importantes empresas de construção civil de Sergipe: Construtora Celi, Construtora Silva – Cosil, Habitacional Construções e a Sociedade Nordestina de Construções – Norcon.
A política de construção de conjuntos habitacionais, praticada a partir da segunda metade da década de 60, ajudou a expandir as empresas de construção civil, principalmente depois que, em 1966, foi criada a Companhia de Habitação Popular do Estado de Sergipe – Cohab. Em 1991 a Cohab foi transformada em Cehop – Companhia Estadual de Habitação e Obras Públicas.
A década de 70 conheceu um grande processo de expansão imobiliária, com melhorias em bairros como o de Atalaia, onde somente nesse período chegou o serviço de abastecimento de água. Foi um momento de ocupação de grandes vazios urbanos, intensificando-se os aterros e as drenagens de manguezais e áreas pantanosas; abertura de novas avenidas; surgimento de grande número de loteamentos e conjuntos habitacionais; expansão da cidade em direção ao povoado Mosqueiro; crescimento da cidade em direção da BR 101, com casas populares e alguns setores de serviços.
A expansão imobiliária em Aracaju possibilitou o desenvolvimento de um vigoroso mercado de vendas de material de construção. Expressão desse período é a implantação de empresas desse setor que ganharam solidez como as lojas Jaluzi.
No acervo de obras públicas desse quarto período, a Prefeitura de Aracaju, por iniciativa do arquiteto Rubens Chaves, demoliu um aquário existente no parque Teófilo Dantas, construindo no local o edifício da Galeria de Arte Álvaro Santos, no ano de 1964. O autor do projeto classifica tal decisão como “uma imprudência do jovem arquiteto da Prefeitura na época (...), pelo que hoje publicamente arrepende-se” (CHAVES, 2004: 88). No final da década de 60, o governador Lourival Baptista inaugurou o edifício Estado de Sergipe, com 28 andares, construído para ser a edificação mais alta da região Nordeste do Brasil. Na década de 70 foi executada a obra de duplicação da estrada que ligava Aracaju à Praia de Atalaia, a rodovia Paulo Barreto de Menezes, o que incluiu uma nova ponte sobre o rio Poxim. A estrada fora asfaltada na década de 50 pelo governador Leandro Maciel, o que possibilitou também o desenvolvimento urbano da região da Praia 13 de Julho. A rodovia foi incorporada imediatamente ao espaço urbano da capital. Uma outra obra importante em Aracaju nesse mesmo período foi a construção do novo edifício da Biblioteca Pública Epifânio Dórea. Os anos 70 se encerrariam com a inauguração de um novo terminal rodoviário, construído na periferia da cidade, retirando o movimento dos ônibus intermunicipais e interestaduais do centro de Aracaju. Foi da segunda metade dessa mesma década de 70 a abertura de importantes avenidas que fizeram a cidade crescer em direção das zonas oeste e norte, como a avenida Coelho e Campos, de onde foram retirados os trilhos de trem pelo prefeito João Alves Filho. Ele também abriu e urbanizou as avenidas Maranhão. Em direção aos bairros da zona sul, ele abriu as avenidas Heráclito Rollemberg e Augusto Franco.
Uma das obras que mais chamou a atenção no final da década de 60 foi a polêmica construção do Estádio Lourival Baptista, o Batistão.


Nos idos de 1967, quando do início da construção do Estádio “Lourival Baptista”, a imprensa sergipana já condenava o local da obra, por ser alvo de forte maresia, atolado em manguezal e, principalmente, em área de grande valorização imobiliária. Os jornalistas e o povo já tinham suas razões e a prova maior era “Gazeta de Sergipe”, através artigos do jornalista Orlando Dantas, pioneiro da campanha, que mostrava ao Governo as desvantagens do local escolhido.
O uso da obra foi totalmente descaracterizado com o tempo, quando seu objetivo principal, o futebol/escola, foi substituído por pequenas áreas cedidas a Federações Amadoras, Clubes Sociais, apêndices de restaurantes, moradias de vândalos, pequenos comércios parasitas e ponto de marginalidade, além de outras distorções (CHAVES, 2044: 411).


Efetivamente, mais do que um estádio, o que se construiu foi um complexo esportivo composto por um campo de futebol, um parque aquático e um ginásio de esportes.
Na década de 80 a cidade de Aracaju ganhou duas importantes alterações na sua paisagem urbana. A primeira foi a implantação dos calçadões das ruas João Pessoa e Laranjeiras, alterando de modo significativo o tráfego de veículos no centro da cidade. A segunda alteração causou forte impacto ambiental, com o aterro dos manguezais existentes na foz dos rios Sergipe e Poxim, criando-se um novo bairro, a Coroa do Meio, e a construção de uma ponte sobre o rio Poxim, integrando o novo bairro à área da Praia 13 de Julho.