quarta-feira, 28 de julho de 2010

REFLEXÕES SOBRE A HISTÓRIA DA MEDICINA EM SERGIPE - V

Sergipe ganhou uma nova casa de saúde em 1896, com a inauguração do Hospital de Caridade de Maruim. Um ano depois foi instalado o Hospital de Caridade de Capela. Em 1902 foi criado o Hospital de Caridade de Lagarto e, em 1905, o de Riachuelo. O Hospital de Caridade São Vicente de Paula, de Própria, foi instalado em 1913.
A decisão de construir o Hospital de Cirurgia foi anunciada pelo presidente do Estado de Sergipe, Maurício Graccho Cardoso, durante um banquete em homenagem ao médico Paulo Parreira Horta, quando o médico Augusto Leite reclamou a inexistência em Aracaju de um hospital o qual fosse possível exercer a prática cirúrgica com segurança. Em setembro de 1923, o presidente desapropriou uma área de 8.360 metros quadrados na avenida Barão de Maruim, para a construção. As obras foram iniciadas no mês de novembro do mesmo ano. O projeto foi elaborado por Arthur Araújo, enquanto as obras foram executadas pelo arquiteto e construtor Hugo Bozzi. O Estado investiu na obra 375 contos, o que a coloca como a quarta obra mais cara da década de 20, superada apenas pela Penitenciária Modelo, pela ampliação dos serviços de água e esgoto e pela construção do Centro Agrícola Epitácio Pessoa. O presidente do Estado foi pessoalmente a Paris adquirir o equipamento cirúrgico necessário ao funcionamento do novo hospital. A obra do Hospital foi inaugurada em maio de 1926.
O Hospital de Cirurgia era um edifício de três pavilhões e fachada de 106 metros, visto pelo médico Augusto Leite como expressão do grau de civilização da cultura sergipana (SANTANA, Antonio Samarone de. As febres do Aracaju: dos miasmas aos micróbios. São Cristóvão: Universidade Federal de Sergipe,1997. [Dissertação de Mestrado]. p. 187). Quando começou a funcionar a instituição dispunha de 70 leitos, ambulatórios, farmácia, salas de curativos, laboratório clínico, serviço de radiologia com sala de raios X, instrumental cirúrgico, câmara escura e um centro cirúrgico composto por duas salas de cirurgia e uma sala de esterilização. Cada enfermaria contava com, no máximo, dezoito leitos. Os apartamentos eram de um ou de dois leitos. A área construída era de 1.800 metros quadrados.
No primeiro dia de atividade foram realizadas três cirurgias no novo hospital: uma laparotomia para extirpar fibroma uterino e apêndice cecal; uma talha hipogástrica para extração de cálculo urinário; e, uma extração de catarata. Da equipe cirúrgica participavam os médicos Augusto Leite e Eronides de Carvalho (cirurgiões), Juliano Simões (oftalmologista) e Lauro Hora (anestesista).
Já sob o regime republicano, em 1892, foi criada a Inspetoria de Higiene com os cargos de Inspetor e Delegados de Higiene. O médico Felino Martins Fontes de Carvalho foi designado para exercer o cargo de Inspetor de Higiene. Em 1898 já existiam Delegados de Higiene em 15 municípios. O Serviço de Higiene do Município de Aracaju foi criado em 1899. Suas responsabilidades eram muito claras: asseio da viação pública e coleta do lixo. Em 1905, o governo estadual criou o Conselho Geral Sanitário, formado pelo Inspetor de Higiene, pelo Médico de Saúde do Porto, pelo Intendente da Capital e por três representantes da sociedade (um médico, um bacharel e um farmacêutico) de livre nomeação do presidente do Estado. A Inspetoria de Higiene foi transformada em Diretoria de Higiene e Saúde Pública do Estado de Sergipe, em 1915, ocasião em que foi extinto o Conselho Geral Sanitário. Um ano depois, foram transferidas para essa Diretoria as responsabilidades para com o socorro médico às vítimas de acidentes (envenenamentos, asfixias ou estados mórbidos súbitos), o enterramento de indigentes e o transporte de feridos, loucos e parturientes para hospitais. Tais serviços anteriormente eram afetos às autoridades policiais. Com a transferência, a única ambulância existente em Sergipe passava das mãos das autoridades policiais para as autoridades sanitárias. O serviço contava também com um carro funerário puxado a cavalos, tal como a ambulância. No mesmo ano de 1916 a Intendência Municipal de Aracaju criou um Posto de Assistência Médica que, além de atender os indigentes e os desprotegidos, distribuía medicamentos gratuitamente. Além disso, em 1917, foi criado o Posto de Assistência Pública com a tarefa de execução desses serviços.
Os cuidados médicos com a criança ganharam alento com a criação do Instituto Aracajuano Protetor da Infância, em dezembro de 1918. Era uma entidade filantrópica destinada a proteger crianças


pobres, doentes, defeituosas, maltratadas e moralmente abandonadas. Em suas atribuições encontramos a preocupação com o aleitamento, higiene puerperal, criação de creches, zelar pela vacinação, regulamentar o trabalho da mulher e da criança nas indústrias e a criação de um dispensário para o atendimento das crianças carentes (SANTANA, Antonio Samarone de. As febres do Aracaju: dos miasmas aos micróbios. São Cristóvão: Universidade Federal de Sergipe,1997. [Dissertação de Mestrado]. p. 108).


A política de saúde pública em Sergipe começou a sofrer um processo de federalização dissimulado em 1919, que questionou o saber dos médicos locais ligados ao governo estadual. Uma comissão de médicos da Diretoria Geral de Saúde Pública chegou a Aracaju com o objetivo de combater a febre amarela. Ocorre que o governo e os médicos locais afirmavam a inexistência de tal enfermidade no Estado. A comissão integrada pelos médicos Leopoldo Accioly do Prado, Francisco Firmo Barroso João Camargo e Jayme Pereira trava uma polêmica através da imprensa com autoridades e médicos locais. As autoridades médicas e muitos profissionais de Sergipe admitiam apenas a existência de impaludismo, varíola e tuberculose (SANTANA, 1997: 106).
O problema da febre amarela trouxe a Sergipe, em maio de 1924, a Fundação Rockfeller. A instituição funcionou durante três anos no Estado, até 1927, combatendo a moléstia. Em abril de 1924 o índice culicidiano em Aracaju era de 95 por cento, o índice stegômico de 85 por cento e o índice de depósitos de 38 por cento. Em junho de 1925, tais índices estavam reduzidos, respectivamente a 16 por cento, 2,5 por cento e 0,5 por cento. A Fundação drenou valas, aterrou pântanos e quintais alagados, tratou das fontes, poços e cisternas para combater a doença.
Durante a década de 20 o governo do Estado de Sergipe adotou uma série de medidas que visavam ajustar as instituições estaduais às exigências da chamada Reforma Carlos Chagas. A Reforma criou o Departamento Nacional de Saúde Pública e a Diretoria de Saneamento e Profilaxia Rural, em janeiro de 1920. A Diretoria mantinha a Comissão de Saneamento e Profilaxia Rural, responsável, dentre outras atividades, pelo Posto Oswaldo Cruz, na cidade de Própria. Em dezembro de 1923 começou a vigorar o Regulamento Sanitário Federal (SANTANA, Antonio Samarone de. As febres do Aracaju: dos miasmas aos micróbios. São Cristóvão: Universidade Federal de Sergipe,1997. [Dissertação de Mestrado]. p. 8). Logo após a sua posse, o presidente de Sergipe, Maurício Graccho Cardoso, foi ao Rio de Janeiro conversar com o médico Carlos Chagas, diretor do Departamento Nacional de Saúde Pública. Como Carlos Chagas, Graccho Cardoso acreditava que somente a União dispunha de recursos suficientes para implementar uma política de saúde pública que atendesse a todo o Estado de Sergipe (SANTANA, Antonio Samarone de. As febres do Aracaju: dos miasmas aos micróbios. São Cristóvão: Universidade Federal de Sergipe,1997. [Dissertação de Mestrado]. p. 162).

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