terça-feira, 6 de julho de 2010

ENGENHARIA E HISTÓRIA EM SERGIPE - XIII

Na periodização estabelecida por Rubens Chaves para explicar o desenvolvimento urbano de Aracaju, o quarto período vai de 1964 ao ano 2000. Em 1980 a população da cidade de Aracaju havia chegado a 294 mil habitantes. Em 1966 a cidade reordenou as suas condições de crescimento, com a aprovação do novo Código de Obras e Urbanismo, criando zoneamentos, regulamentando os projetos dos novos bairros, estabelecendo os padrões para a implantação do Distrito Industrial de Aracaju, bem como a abertura de ruas, avenidas, parques e praças. O Código disciplinou ainda a construção de casas residenciais, estabelecendo gabaritos, recuos, solejamentos e áreas ocupáveis.
Nesse período a marca teria sido a da indústria petrolífera. A confirmação da descoberta do primeiro campo petrolífero em Carmópolis, no Estado de Sergipe, deu um novo impulso ao desenvolvimento urbano de Aracaju, onde a Petrobrás instalou a sede dos seus negócios no Estado.
Na década de 60 a chegada a Sergipe das linhas de financiamento do Banco Nacional da Habitação – BNH possibilitou o financiamento, a longo prazo, de unidades residenciais e os investimentos para construção de casas populares, a partir da construção de grandes conjuntos populacionais. Nas décadas de 50 e 60 a experiência da construção de conjuntos habitacionais já ocorrera em Aracaju, com a implantação do Conjunto Agamenon Magalhães, pelo governador Arnaldo Garcez, na década de 50, e da Cidade dos Funcionários, no início da década de 60, pelo governador João de Seixas Dória. A prática de construir conjuntos habitacionais para os setores da chamada pequena burguesia se expandiu em Aracaju a partir de iniciativas do setor privado. João Alves, construtor e incorporador, investiu nesse campo, principalmente em áreas de expansão da zona sul da cidade, a partir da década de 40 do século XX. Além de construir, financiava com recursos próprios a aquisição das residências que edificava, como ocorreu com os conjuntos Amintas Garcez e João Alves, ambos erguidos por iniciativa sua. As construções de casas e edifícios de apartamentos para esses grupos sociais e para as pessoas de maior poder aquisitivo possibilitaram que nesse período se consolidassem no mercado as cinco mais importantes empresas de construção civil de Sergipe: Construtora Celi, Construtora Silva – Cosil, Habitacional Construções e a Sociedade Nordestina de Construções – Norcon.
A política de construção de conjuntos habitacionais, praticada a partir da segunda metade da década de 60, ajudou a expandir as empresas de construção civil, principalmente depois que, em 1966, foi criada a Companhia de Habitação Popular do Estado de Sergipe – Cohab. Em 1991 a Cohab foi transformada em Cehop – Companhia Estadual de Habitação e Obras Públicas.
A década de 70 conheceu um grande processo de expansão imobiliária, com melhorias em bairros como o de Atalaia, onde somente nesse período chegou o serviço de abastecimento de água. Foi um momento de ocupação de grandes vazios urbanos, intensificando-se os aterros e as drenagens de manguezais e áreas pantanosas; abertura de novas avenidas; surgimento de grande número de loteamentos e conjuntos habitacionais; expansão da cidade em direção ao povoado Mosqueiro; crescimento da cidade em direção da BR 101, com casas populares e alguns setores de serviços.
A expansão imobiliária em Aracaju possibilitou o desenvolvimento de um vigoroso mercado de vendas de material de construção. Expressão desse período é a implantação de empresas desse setor que ganharam solidez como as lojas Jaluzi.
No acervo de obras públicas desse quarto período, a Prefeitura de Aracaju, por iniciativa do arquiteto Rubens Chaves, demoliu um aquário existente no parque Teófilo Dantas, construindo no local o edifício da Galeria de Arte Álvaro Santos, no ano de 1964. O autor do projeto classifica tal decisão como “uma imprudência do jovem arquiteto da Prefeitura na época (...), pelo que hoje publicamente arrepende-se” (CHAVES, 2004: 88). No final da década de 60, o governador Lourival Baptista inaugurou o edifício Estado de Sergipe, com 28 andares, construído para ser a edificação mais alta da região Nordeste do Brasil. Na década de 70 foi executada a obra de duplicação da estrada que ligava Aracaju à Praia de Atalaia, a rodovia Paulo Barreto de Menezes, o que incluiu uma nova ponte sobre o rio Poxim. A estrada fora asfaltada na década de 50 pelo governador Leandro Maciel, o que possibilitou também o desenvolvimento urbano da região da Praia 13 de Julho. A rodovia foi incorporada imediatamente ao espaço urbano da capital. Uma outra obra importante em Aracaju nesse mesmo período foi a construção do novo edifício da Biblioteca Pública Epifânio Dórea. Os anos 70 se encerrariam com a inauguração de um novo terminal rodoviário, construído na periferia da cidade, retirando o movimento dos ônibus intermunicipais e interestaduais do centro de Aracaju. Foi da segunda metade dessa mesma década de 70 a abertura de importantes avenidas que fizeram a cidade crescer em direção das zonas oeste e norte, como a avenida Coelho e Campos, de onde foram retirados os trilhos de trem pelo prefeito João Alves Filho. Ele também abriu e urbanizou as avenidas Maranhão. Em direção aos bairros da zona sul, ele abriu as avenidas Heráclito Rollemberg e Augusto Franco.
Uma das obras que mais chamou a atenção no final da década de 60 foi a polêmica construção do Estádio Lourival Baptista, o Batistão.


Nos idos de 1967, quando do início da construção do Estádio “Lourival Baptista”, a imprensa sergipana já condenava o local da obra, por ser alvo de forte maresia, atolado em manguezal e, principalmente, em área de grande valorização imobiliária. Os jornalistas e o povo já tinham suas razões e a prova maior era “Gazeta de Sergipe”, através artigos do jornalista Orlando Dantas, pioneiro da campanha, que mostrava ao Governo as desvantagens do local escolhido.
O uso da obra foi totalmente descaracterizado com o tempo, quando seu objetivo principal, o futebol/escola, foi substituído por pequenas áreas cedidas a Federações Amadoras, Clubes Sociais, apêndices de restaurantes, moradias de vândalos, pequenos comércios parasitas e ponto de marginalidade, além de outras distorções (CHAVES, 2044: 411).


Efetivamente, mais do que um estádio, o que se construiu foi um complexo esportivo composto por um campo de futebol, um parque aquático e um ginásio de esportes.
Na década de 80 a cidade de Aracaju ganhou duas importantes alterações na sua paisagem urbana. A primeira foi a implantação dos calçadões das ruas João Pessoa e Laranjeiras, alterando de modo significativo o tráfego de veículos no centro da cidade. A segunda alteração causou forte impacto ambiental, com o aterro dos manguezais existentes na foz dos rios Sergipe e Poxim, criando-se um novo bairro, a Coroa do Meio, e a construção de uma ponte sobre o rio Poxim, integrando o novo bairro à área da Praia 13 de Julho.

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