sexta-feira, 30 de julho de 2010

REFLEXÕES SOBRE A HISTÓRIA DA MEDICINA EM SERGIPE - VII

Esses médicos produziram importantes estudos publicados sob a forma de teses de conclusão do curso de medicina, memórias, livros e artigos publicados em revistas científicas. Em várias ocasiões, as teses se debruçavam sobre problemas de saúde que afligiam a população. Vários exemplos podem ser citados. Este é o caso do médico Francisco Fonseca, que produziu, em 1907, uma tese de conclusão de curso intitulada Estudos Clínicos de Hemoptíase Tuberculosa, exatamente no período em que havia crescido o número de vítimas dessa doença em Sergipe.
Em diversas situações o debate científico travado pelos médicos buscou intervir no sentido de aperfeiçoar as condições de funcionamento das instituições hospitalares. Quando passaram a integrar o corpo clínico do Hospital Santa Isabel, em 1913, os médicos Augusto Leite e Francisco de Barros Pimentel Franco procuraram incorporar os princípios da bacteriologia, da patologia e das análises laboratoriais, reivindicando a instalação de autoclave, a separação dos doentes nas enfermarias por moléstia, a instalação de espaços adequados para a internação de crianças e a separação entre as salas de operações e curativos (LEITE, 1966: 117). Conseguiram criar uma sala de cirurgia e uma enfermaria, organizando um serviço de clínica cirurgia.
No mesmo ano de 1913, Augusto Leite viajou para a França, passando seis meses em Paris, onde estudou clínica cirúrgica, partos, citoscopia, olhos, otorrinolaringologia e moléstias da nutrição. Ao regressar, em 1914, reorganizou a clínica cirúrgica do Hospital Santa Isabel, com material cirúrgico e de esterilização trazido por ele. Naquele ano, pela primeira vez em Sergipe, foi aberta uma cavidade abdominal para a retirada de um fibromioma uterino (SANTANA, 1997: 133). Na sua equipe trabalhavam Aristides Fontes, Josaphat Brandão e o seu irmão, Sylvio César Leite.
Especializado em Saúde Pública, o higienista Eleysson Cardoso era irmão de Maurício Graccho Cardoso e durante a década de 20 foi um influente intelectual da área médica em Sergipe. Exerceu diversos cargos na administração da saúde pública sergipana, representou o Estado em dois congressos brasileiros de higiene e fez uma vagem de estudos ao Rio de Janeiro, em 1927, a fim de observar o funcionamento de uma novidade recém chegada dos Estados Unidos da América: os Centros de Saúde. Apesar de entusiasmar-se com a experiência observada, no entanto não encontrou os meios que permitissem a sua reprodução em Sergipe.
Sob o regime republicano, na primeira década do século XX, era de cerca de 60 o número de médicos atuando no Estado de Sergipe.
A organização corporativa dos médicos foi muito importante para o aprimoramento das práticas científicas da Medicina. Em Sergipe, a partir da década de 10 do século XX, cada vez mais, iria se afirmar a liderança do médico Augusto Leite, com a criação, no ano de 1910, da Sociedade de Medicina de Sergipe, oferecendo ao exercício dessa profissão, com muita clareza, um sentido corporativo. “Era uma instituição de caráter científico que abrangia os médicos, farmacêuticos e dentistas, que tinha por finalidade a discussão e estudo dos casos clínicos, e publicação da Revista Médica de Sergipe”. A Sociedade, contudo, foi dissolvida em setembro de 1911, um ano após a sua fundação (SANTANA, 1997: 92).
A Sociedade de Medicina e Cirurgia de Sergipe foi criada em 1919, numa nova tentativa de fortalecimento e defesa da prática profissional. Outra vez era Augusto Leite liderando a nova instituição e a influenciando a política sergipana no sentido de adotar determinadas posturas, como a criação do Instituto Parreiras Horta, a construção do Hospital de Cirurgia e a tentativa de implantação da Faculdade de Odontologia e Farmácia. Uma das principais bandeiras da nova Sociedade era o combate ao charlatanismo (SANTANA, 1997: 93).
O Serviço de Saneamento e Profilaxia Rural definiu, em 1923, os processos de fiscalização das habitações, combate aos vetores, organização do serviço de demografia sanitária, controle das doenças de notificação compulsória, controle dos enterramentos, combate intensivo das verminoses e do impaludismo, vacinação, fiscalização dos gêneros alimentícios e instalação de um laboratório para realização dos exames de sangue, pus, escarro, fezes e urina.

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