segunda-feira, 12 de julho de 2010

ESTATÍSTICA E HISTÓRIA EM SERGIPE

O uso da Estatística pode ser identificado na Província de Sergipe, durante a segunda metade do século XIX, principalmente em relatórios dos inspetores do ensino e da saúde. Um dos maiores entusiastas desse tipo de aplicação, Francisco Sabino Coelho Sampaio, foi responsável pela inspeção da saúde pública nas décadas de 60, 70 e 80 dos anos 800. A partir dos relatórios e dos dados produzidos, tratados e apresentados por ele, o pesquisador Antônio Samarone de Santana, conseguiu produzir séries estatísticas acerca de nascimentos, óbitos e enfermidades na Província. Os estudos de Francisco Sabino Coelho Sampaio revelam que em Sergipe, no ano de 1868, a mortalidade de menores de três anos de idade atingia 50 por cento do total de óbitos. Porém, tais estudos estatísticos estavam ainda carregados de imperfeições: “Infelizmente os dados não são padronizados, e em outros anos, só encontramos informações de mortalidade de crianças abaixo de cinco anos” (SANTANA, 1997: 73). Mesmo assim foi possível, através de tais relatórios produzir dados estatísticos sobre as condições de saúde em Sergipe durante cerca de duas décadas e descobrir que em 1878, “de um total de 417 óbitos, 214 ocorreram em crianças menores de cinco anos, ou seja, mais de cinqüenta por cento” (SANTANA, 1997: 73). Contudo, é fundamental registrar que nos demais países a mortalidade infantil também apresentava uma incidência muito alta.
Toda a série estatística produzida por Francisco Sabino Coelho Sampaio é importante posto que, dentre outras coisas, revela a gravidade das condições de saúde da população naquele período. Para Antônio Samarone de Santana, chamam a atenção dos relatos produzidos pelo inspetor de saúde pública, “a mortalidade proporcional das pessoas acima de 50 anos, o chamado indicador de Swaroop e Uemura, que era apenas de 10,9%” (SANTANA, 1997: 73).
Foi possível também, através das mesmas séries estatísticas, compreender as causas freqüentes da mortalidade. Numa delas, que compreende os anos de 1871 a 1881, revela que em Aracaju, onde a população era de cerca de 10 mil habitantes, a taxa média de mortalidade geral por mil habitantes girava em torno de 29,2. No mesmo período,


essa taxa era de 21,3 na Inglaterra e País de Gales, e de 23,6 na França. Tomando esse indicador como parâmetro a desvantagem da Província de Sergipe era pequena, todavia, sabemos que essas taxas só seriam comparáveis co a padronização das mesmas, para afastar a influência da distribuição etária da população. Os dados existentes não permitem essa padronização (SANTANA, 1997: 74).


Ademais, é fundamental observar que o inspetor Francisco Sabino Coelho Sampaio desconsiderava nos seus relatórios os óbitos provocados pelas epidemias. Assim, em 1873, o número de falecimentos por varíola foi equivalente ao número de mortes por outras causas. Assim, é claro, os dados apresentam algumas distorções. Todavia, ao analisar o trabalho do inspetor, o pesquisador Antônio Samarone de Santana fez anotações importantes, a partir de um quadro que construiu com as séries estatísticas do médico Francisco Sampaio.
Ao analisar a série estatística do inspetor de saúde, Antonio Samarone de Santana coloca em relevo a importância das preocupações estatísticas do autor dos dados:


Primeiro, chama a atenção uma certa homogeneidade dos valores proporcionais nos seis anos observados. Isso significa, relativamente, uma boa qualidade dos dados em questão. Entre as causas, as febres perniciosas (febres do Aracaju) aparecem com maior freqüência. Fato bastante esperado, devido a inespecificidade desse termo, que abrigava um conjunto razoável de patologias. Chama a atenção a elevada incidência de óbitos por tétano neonatal(mal dos sete dias), a presença expressiva de tuberculose (tísica pulmonar), doença que por não apresentar um comportamento pestilencial, não aparecia no rol dos problemas de saúde pública, como já vimos, mesmo com elevada mortalidade (SANTANA, 1997: 75).

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