sábado, 31 de julho de 2010

REFLEXÕES SOBRE A HISTÓRIA DA MEDICINA EM SERGIPE - VIII

Durante o Congresso Brasileiro de Higiene, no Rio de Janeiro, em 1923, o Estado de Sergipe foi representado por uma delegação de quatro médicos: Eleysson Cardoso, Abreu Fialho, Dias de Barros e Theodoreto Nascimento. No ano seguinte, em Belo Horizonte, o médico Eleysson Cardoso representou os sergipanos no II Congresso Brasileiro de Higiene.
Em 1924, a Fundação Rockfeller e o Serviço de Saneamento e Profilaxia Rural cadastraram a população aracajuana: 31.668 habitantes, dos quais 15.238 homens e 16.430 mulheres, com 994 crianças menores de um ano de idade. Na cidade estavam edificadas 8.637 casas, das quais eram cobertas com palha 3.657, enquanto 4.610 tinham cobertura de telha (SANTANA, 1997: 168).
Após a inauguração do Instituto Parreira Horta, em 1924, a instituição esclareceu a etiologia das febres que costumavam ocorrer na cidade de Aracaju, classificando-as como tifóides, isolou os germes e conseguiu fabricar uma vacina oral para evita-las. A vacina era fabricada através do cultivo de amostras de bacilos tíficos e paratíficos “A” e “B” em garrafas contendo agar inclinado. Após 24 horas,


as culturas eram retiradas da superfície do agar e emulsionadas em água fisiológica esterilizada. Fazia-se a contagem dos germes, previamente mortos com iodo, no hematimetro de Thomas-Zeiss. A solução era diluída a 2% numa solução decinormal de iodo. Após esse processo, a vacina resultante era distribuída em ampolas de 5, 10 e 20 Cm3 (SANTANA, 1997: 178). A vacina era aplicada por via oral, com 20 gotas diluídas em água, tomadas em jejum, durante três dias consecutivos (SANTANA, 1997: 178).


O Instituto identificou ainda a incidência de casos de difteria em Sergipe, isolando o bacilo de Löefler em culturas. Contudo, os estudiosos do tema consideram que a maior contribuição do Instituto Parreira Horta foi possibilitar o início do “uso terapêutico da insulina em Sergipe. Com o acesso aos laboratórios do IPH, dosagem correta da glicemia, os médicos tiveram condições de efetuar o tratamento, com segurança e êxito, de vários casos de Diabetes” (SANTANA, 1997: 179).
O Regulamento do Instituto especificava como produzir, conservar e aplicar vacinas, além de estabelecer a necessidade de diagnosticar doenças como actinomicose, angina de Vincent, aspergiloses, blenorragia, cancro mole, carbúnculo, cólera, difteria, erisipela, estreptococcias febre recorrente, febre amarela, filariose, cistos hidáticos, leishmaniose, lepra, meningite, cérebro espinhal, outras meningites, mormo, paludismo, peste, pneumococcias, espiroquetoses, sífilis, tricoficias, tétano, tifo exantemático e verminoses.
Quando da sua instalação o Instituto Parreira Horta já era capaz de realizar exames de sangue como reações de Wassermann, soro aglutinação para germes do grupo tifo e paratifo, hoculturas, contagem globular, curva leucocitária, dosagem de hemoglobina, pesquisa de filaria, pesquisa de sangue nas fezes, dosagem de glicose, pesquisa do hemotozoário de Laveran, exames de pus, exames de escarro, pesquisa de treponema, exame do liquor, dosagem de albumina, exame completo da urina, exame de placas suspeitas de difteria e o exame bacteriológico da água, além de outros exames bacteriológicos.
Além de soros e vacinas, o IPH produzia óleo canforado, cafeína, sparteína, iodeto de sódio a 10 por cento, tártaro emético, água bidestilada, cianeto de mercúrio, soro fisiológico e soro glicosado.
A preocupação com o caráter científico da atividade médica é posta com muita clareza pelo Código Sanitário do Estado de Sergipe aprovado em 1926, ao atribuir à Diretoria Geral do Serviço Sanitário as seguintes competências: estudo científico das questões ligadas à saúde pública; estudo da natureza etiológica, tratamento e profilaxia das moléstias transmissíveis; estudo das condições mesológicas; higiene domiciliar; polícia sanitária das escolas, habitações particulares e coletivas, farmácias, drogarias, fábricas, oficinas, estabelecimentos comerciais, hospitais, maternidades, mercados, matadouros e cemitérios; notificação das moléstias transmissíveis, isolamento, desinfecção e vigilância; organização da estatística demógrafo-sanitária; fabricação de soros, vacinas, culturas atenuadas e produtos congêneres; fiscalização da medicina em qualquer dos seus ramos (farmácia, obstetrícia e arte dentária); exame das amas de leite; inspeção médico-sanitária das escolas públicas e particulares; fiscalização das obras de saneamento; estudo das condições higiênicas de todos os edifícios a serem construídos; assistência de urgência e dispensário maternal; difusão dos princípios gerais de higiene pública, tendo em vista a educação sanitária do povo; análises química e bromatológica; estudos especiais relativos a epidemias, endemias e epizotias; e, exames microscópicos necessários à elucidação dos casos clínicos (SANTANA, 1997: 172).
A partir de 1926 o Hospital de Cirurgia foi uma espécie de centro de estudos e pesquisas, congregando médicos e realizando treinamento e atualização desses profissionais. Desde a sua fundação a instituição foi, informalmente, uma espécie de hospital-escola.
Na década de 30 a Medicina em Sergipe seria marcada por inovações tecnológicas que entusiasmavam o Brasil, como os aparelhos de raios X e a transfusão de sangue. Em janeiro de 1939 o jornal Folha da Manhã fazia uma importante advertência às famílias aracajuanas: “Não admita nenhuma ama ou qualquer outra empregada em sua casa sem examina-la aos raios- x, no centro de saúde mais próximo. É a garantia da saúde de seus filhos” .
A Faculdade de Medicina de Sergipe começou a funcionar no ano de 1961.

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