quarta-feira, 30 de setembro de 2009

GRUPO ESCOLAR E ESCOLA SERIADA

O Grupo Escolar Modelo, criado em 1910 e inaugurado em 1911 na cidade de Aracaju, foi a primeira instituição dessa natureza a funcionar em Sergipe. Anexo à Escola Normal, foi pensado como campo de aplicação para as normalistas e deveria regular o funcionamento dos demais grupos escolares. O Grupo Escolar Central foi inaugurado no mesmo ano e três anos depois ganharia nova denominação: Grupo Escolar “General Siqueira”. Em 1925, o grupo mudou de endereço e o seu edifício passou a abrigar o Quartel da Polícia Militar do Estado de Sergipe.
Em 1917 foi a vez da inauguração do Grupo Escolar Barão de Maroim, edificado sobre os alicerces do antigo “Asylo Nossa Senhora da Pureza”, localizado na Avenida Barão do Rio Branco, no bairro Presidente Inácio Barbosa (atual São José). O asilo fora criado por um grupo de homens, liderados por João Gomes de Mello, o Barão de Maroim. Este doou o terreno para que fosse construído o edifício, em 1874.
O Grupo Escolar General Valadão foi inaugurado em 1918. O seu primeiro edifício estava situado à praça Pinheiro Machado[i], à época importante zona de expansão residencial da cidade.


A sua construção deveu-se à iniciativa particular. Os sócios do extinto Comício Agrícola, uma associação de proprietários de terra existente desde o Império, destinaram à construção de uma escola os recursos da Associação. O jornal Correio de Aracaju ampliou a idéia, numa campanha de donativos para um Grupo que deveria denominar-se “Gal. Valladão” homenageando o chefe político e presidente do Estado. Porém, quando já tinha sido iniciada a construção do prédio, para que esta fosse terminada dentro de um menor espaço de tempo e também pela grande exigência de recursos financeiros para atender às proporções da obra, os promotores do projeto resolveram doá-lo ao Governo, que se responsabilizou pela conclusão do empreendimento[ii].


As inaugurações de grupos escolares seriam retomadas seis anos depois. Em 1924 foi a vez do Grupo Escolar Manoel Luiz; em 1925, o Grupo Escolar José Augusto Ferraz.
Como nos demais Estados, em Sergipe, o projeto de implantação dos grupos escolares foi articulado ao discurso da modernização pedagógica. O interesse que as reformas educacionais despertaram deixou muitos vestígios na educação do Estado de Sergipe. Foram construídos vários grupos escolares em Sergipe, quase todos em Aracaju: o Modelo, anexo à Escola Normal; o Central; o Barão de Maroim; o General Valadão; Aracaju: o Modelo, anexo à Escola Normal; o Central; o Barão de Maroim; o General Valadão; o Coelho e Campos[iii]. Até o final da década de 20 dos anos 900 estavam funcionando no Estado quatorze grupos escolares: cinco na capital e nove nas principais cidades do interior. Em 1912, foi reorganizada a direção da instrução pública estadual, com a divisão do Estado em cinco distritos, para fins de inspeção do ensino primário.
O projeto de implantação dos grupos escolares entusiasmou lideranças políticas e intelectuais sergipanas e, como em São Paulo e nos demais Estados a proposta era tida como a solução para o problema das escolas isoladas:


São justamente os grupos escolares que podem fomentar com segurança os progressos da instrucção popular. O ensino isolado é trabalhoso, requer duplicado esforço do professor e não poucas vezes deixa as coisas em meio caminho. Não quero dizer que se pense em acabar de vez com o ensino isolado, pois este se impõe, por enquanto, na maioria das casas, mas que a creação de grupos é uma necessidade, onde quer que se possam reunir pelo menos seis escolas[iv].


Esse relatório demonstra a preocupação com a criação de grupos, sem negar a permanência das escolas isoladas. Isso pode ser compreendido, uma vez que a construção de grupos exigia muitos gastos. O alto custo das obras dos grupos era devido a sua monumentalidade. Os prédios eram grandiosos e ficavam nas proximidades do centro das cidades.


Os relatórios dos presidentes do Estado como fonte para o estudo da escola seriada


A política de implantação dos grupos escolares em Sergipe ganharia mais clareza a partir do mês de setembro de 1911. Naquela data, uma Mensagem encaminhada à Assembléia Legislativa pelo presidente do Estado, José Rodrigues da Costa Dória, fazia uma análise do quadro educacional sergipano e apontava o modelo dos grupos escolares como o ideal para a reforma da instrução pública que se propunha a empreender[v].


A inspeção escolar


Quando chegou a Sergipe, em 1909, a convite do presidente do Estado, Rodrigues Dória, para reorganizar a instrução pública sergipana, o professor Carlos da Silveira, que em São Paulo dirigia o Grupo Escolar da Avenida Paulista, propôs um plano que previa, além da construção de grupos escolares, a organização do serviço de inspeção escolar ao lado da adoção dos novos métodos de ensino e da remodelação dos ensinos normal e secundário. O projeto Carlos da Silveira sofreu alguns ajustes em 1912, quando foi reorganizada a direção da instrução pública estadual, com a divisão do Estado em cinco distritos, para fins de inspeção do ensino primário.
Em Sergipe, Carlos da Silveira conheceu o médico Helvécio de Andrade, entusiasta da estatística educacional eduas vezes diretor da instrução pública: a primeira, no período de 1913 a 1918 e, a segunda, de 1930 a 1935. Delegado fiscal do governo federal junto ao Atheneu Sergipense e professor e diretor da Escola Normal, onde trabalhou como lente das cadeiras de História Natural, Pedagogia, Pedologia, Higiene Escolar e Ciências Físicas e Naturais, Helvécio de Andrade dirigiu, em Sergipe, a Associação Brasileira de Educação. O seu entusiasmo com a inspeção escolar teve início quando ele trabalhou em Santos, no Estado de São Paulo, como Inspetor Geral da Educação, na última década do século XIX, antes de transferir-se para Sergipe.
Helvécio de Andrade assumiu a responsabilidade de implementar a reforma de 1912, mas sofreu muitas críticas em face do modelo que adotou. Um grave problema apontado era o fato de os inspetores do ensino responsáveis pelo acompanhamento do trabalho nos grupos escolares não estarem diretamente ligados ao gabinete do diretor da Instrução Pública, mas sim lotados em inspetorias regionais instaladas em diferentes municípios.


A inspeção do ensino perdeu, em grande parte, a influencia na organização técnica e administrativa da escola. Os inspetores são agentes que atuam na escola como orientadores do método e como fiscais de conduta legal dos professores. A sua eficiência na primeira fase da reforma foi notável. Depois, a frouxidão, a exceção, o desvirtuamento, o quase abandono, por culpa dos que desmandaram ou não sabem mandar. A distribuição de inspetores por sedes fixas, colocando-os fora do contato direto da direção geral, pondo-os, a vontade, livres de trabalhar como e quando quiserem, ou de nada fazerem, inutilizou tudo o que se conseguiu no começo (1911-1913). Escolas não visitadas e práticas não examinadas são coisas que não substituem a tendência para o descanso, a indisciplina e o abandono. Os inspetores deverão residir na capital e daí partirem para a inspeção com roteiros determinados, em tempo prefixado[vi].



A nova orientação da Diretoria da Instrução Pública fez com que, a partir da segunda metade dos anos 20 se intensificasse a atuação de inspetores de ensino como Antonio Xavier de Assis, José Augusto da Rocha Lima e José de Alencar Cardoso, orientando os professores através de reuniões que buscavam difundir os princípios e métodos do ensino ativo, as excursões pedagógicas, a Pedagogia de Decroly e os novos procedimentos de aprendizagem da leitura e da escrita.


A estatística educacional


A expansão da escola graduada no Estado de Sergipe fez com que o Estado buscasse qualificar as informações estatísticas que produzia e as transformasse em importante ferramenta de planejamento e controle das práticas escolares. Na década de 30, o interventor de Sergipe mandou buscar um técnico em São Paulo, com o objetivo de dirigir o serviço de Estatística do Estado: João Carlos de Almeida. A sua mulher, Amália Ricci de Almeida assumiu a responsabilidade pela execução dos serviços de estatística educacional[vii].



[i] Atualmente, praça Tobias Barreto.
[ii] Cf. AZEVEDO, Crislane Barbosa de. 2003. “General Valladão” : 85 anos de história em Aracaju. In: Jornal da Cidade. Aracaju, 11 de setembro. Caderno B – Cidades. B-6.
[iii] Instalado no município de Capela, foi o primeiro grupo escolar que funcionou no interior do Estado de Sergipe, em 1918.
[iv] Cf. ASSIS, Antônio Xavier de. 1919. Relatório apresentado a Diretoria de Instrução Pública de Sergipe pelo inspetor escolar Antônio Xavier de Assis. Estado de Sergipe, 18 de janeiro. p. 5.
[v] Cf. SERGIPE. Decreto 563, de 03 de agosto de 1911.
[vi] Cf. ANDRADE, Helvécio de. 1926. Instrução Pública: necessidade de uma regulamentação definitiva dos ensino primário e normal. Relatório apresentado ao exmo sr. dr. Cyro de Azevedo, D. Presidente do Estado. Em novembro de 1926. Aracaju, Typ. do Sergipe Jornal. p. 4.
[vii] Cf. BARRETO, Luiz Antônio. 2003. “Uma ponte chamada Eugenia”. In: Gazeta de Sergipe. Aracaju, 24 de junho. p. 3.

terça-feira, 29 de setembro de 2009

A ALA JOVEM DO MDB

O Partido Comunista influenciou muito o Movimento Democrático Brasileiro, principalmente quando o MDB decidiu fundar a sua Ala Jovem. Em Sergipe, a Ala Jovem foi reconhecida pela direção emedebista, que não apenas aceitou a veiculação das teses dos militantes do PCB, mas também criou os meios para que estas fossem publicadas e entrassem em circulação. Criada institucionalmente em agosto de 1974, a Ala Jovem marcou a sua estréia com um comício na praça Camerino. Todavia, um grupo que se denominava Ala Jovem já atuava no MDB desde 1970. O grupo foi visto como importante para a renovação dos quadros partidários, não obstante alguns intelectuais, como o jornalista Ariosvaldo Figueiredo, insistirem em publicar artigos na imprensa ridicularizando a juventude emedebista. Institucionalizada, a Ala Jovem encontrou o seu núcleo central na turma que ingressou na Faculdade de Direito em 1973: Carlos Alberto Menezes, Luciano Oliveira, Francisco de Assis Dantas, Nilton Vieira Lima, Elias Pinho de Oliveira e Walter Dias Calixto. Carlos Alberto Menezes foi eleito presidente e Elias Pinho vice-presidente da Ala Jovem.
À época havia crescido no MDB um debate acerca da militância jovem, estimulado principalmente a partir do Rio Grande do Sul, do Paraná e do Rio de Janeiro. Tal debate ganharia cada vez maior importância nos anos seguintes. Muitos líderes da oposição estavam preocupados com o que identificavam como um crescente desinteresse da juventude universitária pela participação na vida dos partidos políticos após a reforma partidária de 1966. Em Aracaju, o noticiário do Jornal da Cidade à época afirmava:


A questão – para muitos dos mais experimentados políticos brasileiros – se reflete na seleção de candidatos novos a postos eletivos, como correu em 1970 nas eleições para o Legislativo carioca, quando 80% dos candidatos de ambos os partidos eram nomes da velha tradição política. As direções regionais dos partidos enfrentam grande dificuldade em adotar medidas eficazes e práticas que viriam facilitar a atração da juventude universitária em torno das agremiações partidárias. (...) Para o vice-presidente do MDB carioca e procurador do Partido junto ao Tribunal Regional Eleitoral, Sr. Flávio Preto, a agremiação está procurando desenvolver planos e programas para atrair ao seu seio a classe estudantil[i].


No exercício do seu primeiro mandato como deputado estadual, em 1975, Jackson Barreto foi um grande entusiasta e responsável pela articulação de algumas atividades da Ala Jovem do MDB, a exemplo do Ciclo de Debates sobre Política Brasileira, aberto na noite do sábado, 14 de junho de 1975, no plenário da Assembléia Legislativa. A conferência de abertura foi proferida pelo deputado federal Laerte Vieira, líder do partido na Câmara e representante do Estado de Santa Catarina. O mesmo ciclo promoveu uma conferência do ex-senador do MDB baiano Josaphat Marinho, no dia 25 de agosto, com o tema “Problemas institucionais”. Em setembro foi a vez do senador Alencar Furtado falar sobre “Empresas multinacionais”. Na mesma direção, em 1977 o deputado Jackson Barreto ajudou a Ala Jovem a organizar um seminário na Assembléia Legislativa com a participação do líder do MDB em Pernambuco, deputado Roberto Freire. A palestra teve como tema “A Constituição como solução para o atual impasse”
Mas, além de promover palestras e seminários, a Ala Jovem também mantinha uma ação política efetiva e se manifestou em diversas ocasiões, como no episódio da expulsão dos estudantes da Universidade de Brasília, em 1977:


O Setor Jovem Estadual do Movimento Democrático Brasileiro de Sergipe, face aos últimos acontecimentos que culminaram com a expulsão e suspensão de 64 estudantes da Universidade de Brasília, por ato do capitão de fragata atual reitor daquela instituição de ensino, vem a público manifestar o seu total repúdio às práticas reiteradas de arbitrariedades contra a liberdade de manifestação da juventude estudantil, ao tempo em que se solidariza com os colegas vítimas dos instrumentos de exceção em vigor, reafirma a sua crença nos ideais e princípios sagrados que norteiam e iluminam os caminhos da democracia.
Em particular registramos o nosso apoio e solidariedade ao nosso companheiro Agamenon Araujo Souza, membro do Diretório Estadual do MDB/SE e estudante daquela universidade, unido como tantos colegas arbitrariamente pelos repressores da livre manifestação de pensamento, direito inalienável à pessoa humana.
Somos da opinião de que a aplicação de tal ato repressivo, ao invés de aproximar os diversos segmentos da sociedade brasileira, tende tão somente a acobertar os extremistas que procuram obstruir o processo de redemocratização do país, coisa que tanto anseiam todos os democratas e estudantes brasileiros.
Aracaju, em 21 de julho de 1977
Antonio Fernando T. Santana
Presidente[ii]


A Ala Jovem emedebista se constituiu num grupo tão importante, que, depois de Aracaju, vários diretórios municipais do partido organizaram seções da Ala Jovem nos respectivos municípios. A primeira iniciativa dessa natureza foi tomada em Itaporanga d’Ajuda, em janeiro de 1976, sob a liderança de Mário Jorge Oliveira. Logo depois, em fevereiro, foi a vez do município de São Cristóvão.
De acordo com Jackson Barreto de Lima, muitas filiações de jovens foram movidas pela indignação cívica, pelo sentimento de revolta contra a ditadura, muito forte dentre os jovens que votaram em Seixas Dórea para governador, em 1962:


Tínhamos aquela mágoa, aquele ressentimento de ter visto o nosso governador deposto, o governador que foi eleito com tanta esperança na mudança política para o nosso Estado. Nós ainda não tínhamos formação ideológica, a gente era contra aquele regime militar, o golpe que tirou Jango, o presidente da República, o vice-presidente eleito democraticamente[iii].


Muitas vezes, a estratégia de atrair a juventude foi utilizada também para possibilitar a organização do partido em importantes concentrações do interior do Estado, uma vez que as lideranças mais consolidadas, em face dos interesses que defendiam, terminavam optando pela filiação à Arena. Há exemplos que ajudam na compreensão desse tipo de dilema, como a reorganização do diretório do MDB em Itabaiana, no ano de 1975. Com dificuldade para identificar nomes de líderes locais dispostos a empalmar a responsabilidade, José Carlos Teixeira encontrou no jovem bancário Abrahão Crispim de Souza o nome adequado para a tarefa, conforme ele mesmo relata:


Fui convidado por José Carlos Teixeira a fundar o diretório do partido na cidade de Itabaiana. Eu era um rapazinho. Como candidato a prefeito, obtive apenas 105 votos. O eleito foi Antônio Telles, filho de Chico de Miguel, ficando Fernando Mendonça, ARENA 2, em segundo lugar[iv].


De um modo geral, a mobilização da juventude foi um dos elementos agregadores da maior importância para as principais lideranças do MDB. Por isto, esse tipo de trabalho entusiasmou tanto a políticos experientes como José Carlos Teixeira, quanto a lideranças que emergiram do movimento de juventude do partido, a exemplo do próprio Jackson Barreto. “Particularmente, José Carlos Teixeira era muito carinhoso na relação que mantinha com os militantes do MDB. Ele era algo meio paternal. Tinha o vício de todo e qualquer conselheiro, que era de apontar os caminhos que serviam a ele particularmente”[v]. Para que se avalie, a prioridade dada aos jovens pelo MDB, no ano de 1975 o partido desenvolveu em Sergipe um trabalho, com base no seu programa de expansão, para criar departamentos jovens nos diretórios municipais do MDB. No caso aqui citado do município de Itabaiana, o diretório do partido foi reorganizado basicamente com militantes do movimento de juventude. No mesmo ano, o MDB de Sergipe mandou um grupo de jovens para Salvador a fim de participar de uma conferência proferida pelo senador emedebista pernambucano Marcos Freire sobre a participação da juventude no partido.
Em Aracaju, no primeiro quadrimestre do mesmo ano, o MDB filiou mais de 250 jovens estudantes secundaristas e universitários ao partido. No mês de abril, os jovens militantes Carlos Alberto Menezes, Agamenon de Araujo Souza e Francisco Augusto Ramos participaram do Primeiro Congresso Nacional da Juventude Emedebista Brasileira, acompanhados do deputado Jackson Barreto e do vereador Jonas Amaral, realizado em Porto Alegre[vi]. O primeiro movimento jovem do MDB a ser institucionalizado no país foi o do Rio Grande do Sul. O de Sergipe foi o segundo. Em junho de 1975, o deputado federal Laerte Vieira, do Rio Grande do Sul, líder do partido na Câmara, fez uma conferência organizada pela Ala Jovem, no plenário da Assembléia Legislativa do Estado de Sergipe. O fascínio era deste modo recíproco. A juventude encantava as lideranças do MDB, da mesma maneira que o partido atraía os jovens interessados na luta política:


O MDB era o único partido legal existente que resistia à ditadura. O país estava organizado partidariamente em dois blocos: de um lado, a Arena, e do outro o MDB. Os ícones que atraiam a juventude estavam no MDB: Nelson Jobim, Danton Jobim, Nelson Weneck Sodré, Ulisses Guimarães, Mário Covas, José Carlos Teixeira, Jackson Barreto, Franco Montoro, Gilvan Rocha. Eu comecei a participar ativamente da vida política, trabalhando para ajudar o MDB, mesmo sem ser filiado, nas eleições de 1974[vii].


A Ala Jovem continuou a ser um grupo dos mais ativos do partido e no início da década de 80 foi reorganizado. No início do mês de setembro de 1981 o deputado federal Jackson Barreto organizou um evento no auditório da Associação Sergipana de Imprensa para instalar a ala jovem do PMDB, após a reforma partidária que transformou o MDB em Partido do Movimento Democrático Brasileiro. A festa contou com a participação do presidente da Executiva Nacional do PMDB Jovem, David Lobão; do secretário geral da União Nacional dos Estudantes, Luiz Falcão; e do presidente do PMDB Jovem da Bahia, Luiz dos Santos. Durante a solenidade discursaram os principais dirigentes do PMDB em Sergipe, como Seixas Dórea e José Carlos Teixeira. A fim de mobilizar a juventude de Sergipe para a festa, o deputado Jackson Barreto e David Lobão passaram todo o dia cinco de setembro visitando as salas de aula da Universidade Federal de Sergipe. À época, o PMDB Jovem de Sergipe tinha Lealdo Feitosa como presidente.


[i] Cf. “Renovação Política”. In: Jornal da Cidade, Ano II, nº 313, 20 de março de 1973. p. 2.
[ii] Cf. “Jovem do MDB protesta”. In: Gazeta de Sergipe, Ano XXI, nº 5.780, 26 de julho de 1977. p. 3.
[iii] Cf. LIMA, Jackson Barreto de. Entrevista concedida a Jorge Carvalho do Nascimento no dia 17 de maio de 2008.
[iv] Cf. SANTOS, Osmário. Memória dos políticos de Sergipe do século XX. Aracaju: Gráfica e Editora J. Andrade, 2002. p. 35.
[v] Cf. MENEZES, Carlos Alberto. Entrevista concedida a Jorge Carvalho do Nascimento no dia 12 de setembro de 2008.
[vi] Cf. Jornal da Cidade, Ano IV, nº 929, 29 de abril de 1975. p. 2.
[vii] Cf. MENEZES, Carlos Alberto. Entrevista concedida a Jorge Carvalho do Nascimento no dia 12 de setembro de 2008.

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

AVISO

EM FACE DO PROCESSO DE APOSENTADORIA DO PROF. DR. JORGE CARVALHO DO NASCIMENTO, O GRUPO DE ESTUDOS E PESQUISAS EM HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO PRESTA OS SEGUINTES ESCLARECIMENTOS:

1 - A PROFA. DRA. ANAMARIA GONÇALVES BUENO DE FREITAS ESTÁ ASSUMINDO A COORDENAÇÃO DO GRUPO A PARTIR DO MÊS DE OUTUBRO DE 2009;
2 - FICAM SUSPENSAS AS ATIVIDADES DO SEMINÁRIO PIERRE BOURDIEU AINDA NÃO EXECUTADAS ATÉ A PRESENTE DATA;
3 - OS MEMBROS DO GRUPO E PARTICIPANTES DO SEMINÁRIO DEVEM AGUARDAR AS ORIENTAÇÕES QUE SERÃO TRANSMITIDAS PELA NOVA COORDENADORA DO GRUPO, PROFA. DRA ANAMARIA GONÇALVES BUENO DE FREITAS.

CIDADE UNIVERSITÁRIA JOSÉ ALOÍSIO DE CAMPOS, EM 28 DE SETEMBRO DE 2009.


PROF. DR. JORGE CARVALHO DO NASCIMENTO

A CASA TEIXEIRA

A Casa Teixeira começou a funcionar em Aracaju no ano de 1939, atuando, principalmente, no comércio de tecidos, com práticas de varejo e também distribuindo para comerciantes que atuavam no interior do Estado. O seu fundador, Oviedo Teixeira, nasceu em nove de abril de 1910 e durante toda a sua vida foi um empresário de muito prestígio, até morrer em dois de julho de 2001. Como cidadão teve presença ativa na vida sergipana, não apenas no comércio, mas também como político que extrapolava os partidos e assumiu posições corajosas, como a de emprestar o seu nome para colaborar com o filho José Carlos no projeto de criar o partido de oposição à ditadura militar em Sergipe, no ano de 1966, um momento em que poucas pessoas se dispunham a correr o risco de divergir dos generais que comandavam o país. Nascido no município sergipano de Itabaiana, o empresário Oviedo Teixeira foi agricultor, pecuarista, industrial e comerciante. Um dos 14 filhos de João Teixeira e de Maria São Pedro Teixeira era irmão de Antonio, Sílvio, Manuel, Lourdes, Olívio, José, Albertina, Bernadete, João, Cecília, Hermes e Elpídio. Católico militante, ele freqüentava a Catedral Metropolitana de Aracaju aos domingos, onde seu irmão Olívio era vigário-geral da Diocese, sempre acompanhado da mulher e dos seus sete filhos. Segundo Jackson Barreto de Lima, Oviedo era um homem que representava todo o pensamento econômico de uma geração, mas se envolveu como articulador da oposição e fez discursos muito corajosos.
Oviedo Teixeira começara a participar da vida política de Sergipe depois de 1955, durante o governo Leandro Maciel, em face das perseguições que a família Ceará sofreu no município de Ribeirópolis, em função dos conflitos que resultaram na morte de Josué Passos. Amigo do líder itabaianense Manoel Teles e procurador dos Cearás, que obrigados a se afastar de Ribeirópolis deixaram suas propriedades sob a sua guarda, Oviedo Teixeira começou a enfrentar dificuldades nos negócios e constrangimentos políticos causados pelos governistas ligados à União Democrática Nacional – a UDN. Foram esses acontecimentos que fizeram Oviedo decidir pela transferência definitiva de todos os seus negócios para a cidade de Aracaju, onde já atuava com a sua Casa Teixeira. Desde os nove anos de idade ele já trabalhava, ajudando os tios no comércio, em Itabaiana e no Saco do Ribeiro (Ribeirópolis). Foi no Saco do Ribeiro que instalou a Casa Teixeira, sua primeira loja de tecidos, que depois transferiu sua matriz para Itabaiana.
Desde a sua transferência para Aracaju, Oviedo colaborou politicamente e financeiramente com o PSD e influiu na política de municípios como Itabaiana, Frei Paulo e Ribeirópolis. Até que Oviedo iniciasse sua participação direta na vida política, o único membro da família que exercera forte influência partidária fora seu irmão Sílvio Teixeira, que em 1930 chegou a integrar a Aliança Liberal. A partir daí, Sílvio iniciou uma carreira política de sucesso, exercendo os mandatos de prefeito de Itabaiana, deputado estadual constituinte e depois deputado estadual. Na política de Itabaiana, Sílvio Teixeira se consolidou como o líder do Partido Republicano – PR e algumas vezes aliado do líder do PSD, Manoel Teles.

domingo, 27 de setembro de 2009

O MDB DE SERGIPE E A REORGANIZAÇÃO DA UNE

O debate que se formou em torno da redemocratização do Brasil estimulou a bancada do MDB na Assembléia Legislativa do Estado de Sergipe a colocar em pauta a discussão a respeito da reorganização da UNE, a União Nacional dos Estudantes, em 1979, quase 11 anos depois do malogrado Congresso de Ibiúna. A UNE estava desarticulada desde 1968, depois que as suas principais lideranças foram presas durante aquele Congresso realizado no Estado de São Paulo.
À época, foi muito importante a ação do MDB na defesa dos estudantes que foram presos durante a realização do XXX Congresso da União Nacional dos Estudantes na clandestinidade, a UNE, em Ibiúna. Em 1979, não era a primeira vez, sob a ditadura militar inaugurada em 1964, que os estudantes brasileiros buscavam reorganizar a sua entidade. A ditadura militar colocou a União Nacional dos Estudantes na clandestinidade, logo após a derrubada do governo João Goulart. A entidade, contudo, foi reorganizada em 1966, durante um congresso realizado clandestinamente na cidade de Belo Horizonte. Assim, em 1967 os estudantes intensificaram as manifestações contra a ditadura, evidenciando o elevado número de excedentes nos concursos vestibulares; as contradições do acordo MEC-Usaid; as prisões e cassações de políticos e sindicalistas; e, a censura. Do mesmo modo, cresceu a pressão de grupos de direita contrários a reorganização do movimento estudantil brasileiro. No dia 27 de outubro de 1967, 300 alunos da Universidade Mackenzie, em São Paulo, armados com porretes, socos-ingleses e pedaços de pau, atravessaram a rua Maria Antônia para impedir a realização das eleições da União Estadual dos Estudantes, que aconteciam na Faculdade de Filosofia da Universidade de São Paulo. 16 dirigentes da UEE resistiram ao ataque até a chegada da polícia. As autoridades policiais não molestaram nem fizeram qualquer questionamento aos alunos do Mackenzie e recolheram os dirigentes da UEE às celas do Departamento de Ordem Política e Social – o DOPS.
No ano de 1968, portanto, o Congresso de Ibiúna se realizou sob a tensão política dominante no Brasil daquele período e, ao mesmo tempo, embalado pelo clima libertário que se observava na juventude estudantil de vários outros países, como a França, onde as rebeliões de Paris chamaram a atenção do mundo inteiro; ou os Estados Unidos da América, onde os estudantes se reuniram na cidade de Washington, para exigir o fim da guerra do Vietnã.
Durante o Congresso de Ibiúna, Sergipe teve uma numerosa representação de delegados. As tratativas para a participação dos estudantes que representavam Sergipe foram feitas através dos contatos com José Carlos Novais da Mata Machado, diretor da UNE responsável pela relação da entidade com os líderes estudantis sergipanos. À época, o Diretório Central dos Estudantes da Universidade Federal de Sergipe era presidido por João Augusto Gama da Silva, que liderou, juntamente com Wellington Mangueira, uma delegação de 10 sergipanos: João Augusto Gama da Silva, Benedito de Figueiredo, Wellington Dantas Mangueira Marques, Antonio Vieira da Costa, José Alves do Nascimento, João Bosco Rollemberg Cortes, Janete Correia de Melo, José Jacob Dias Polito, Elza Maria dos Santos e Laura Maria Tourinho Ribeiro.
A viagem se tornou viável com a ajuda financeira que os estudantes conseguiram receber do industrial Joaquim Sabino Ribeiro Chaves, proprietário da Fábrica de Tecidos Confiança, do deputado Jaime Araujo e do arcebispo de Aracaju, Dom José Vicente Távora. Também foi importante a campanha de arrecadação de fundos organizada pelos estudantes, respaldada pelo manifesto que os universitários sergipanos publicaram:


A realização do XXX Congresso representa mais um passo dado na luta do estudante brasileiro contra as forças de opressão, de obscurantismo e do reacionarismo, nessa hora em que a ditadura mostra sua verdadeira face, tentando impor uma Universidade a serviço de imperialismo norte-americano através de uma universidade alienada e empresarial, reprimindo a luta dos trabalhadores por melhores salários, permitindo a venda do território nacional a norte-americanos, dando cobertura ao grupo de entreguistas, tendo a frente o Sr. Roberto Campos que tem abertamente lutado, inclusive pela extinção do monopólio estatal do petróleo[i].


Realizado na clandestinidade, o Congresso foi descoberto pelos agentes da ditadura e todos os delegados foram presos, no dia 11 de outubro, e conduzidos para o Presídio Tiradentes, na cidade de São Paulo.


Logo depois que saímos de Ibiuna, dentro do ônibus que nos conduzia para o Presídio Tiradentes, lembrei que estava com a minha carteira de funcionário do Ministério do Trabalho, onde eu era auxiliar de datiloscopista, e joguei fora, porque eu não queria ser identificado como funcionário público. Em tal condição eu seria considerado muito perigoso[ii].


Mais de mil estudantes foram presos, inclusive as principais lideranças estudantis brasileiras: José Dirceu, presidente da UEE de São Paulo; Luís Travassos, da UNE; Vladimir Palmeira, da União Metropolitana dos Estudantes do Rio de Janeiro; Antonio Guilherme Ribeiro Ribas, da União Paulista dos Estudantes Secundaristas. Estes foram levados diretamente para o DOPS
Presos, os estudantes fizeram greve de fome, como forma de pressionar o governo a libertar o grupo o quanto antes. Muitas mães dos cerca de mil estudantes de diferentes Estados brasileiros se concentravam diariamente às portas do Presídio Tiradentes, ao lado de jornalistas da imprensa nacional e estrangeira, denunciado a arbitrariedade das prisões e exigindo a libertação dos filhos. Sergipe foi um dos poucos Estados no qual o governador não articulou a sua Polícia Militar para recolher os estudantes presos e transportá-los de volta. Em função do Congresso de Ibiúna, os estudantes sergipanos responderam a processo na Auditoria Militar do Estado da Bahia, assistidos pela advogada Ronilda Noblat. O processo dos estudantes sergipanos foi julgado alguns anos depois pela Auditoria Militar do Estado da Bahia. Nesse período, José Carlos Teixeira, acompanhado de Alvarim Mangueira e Laura Ribeiro Marques buscou o comandante do 28 BC em sua residência, para solicitar informações sobre a situação processual dos estudantes sergipanos e informá-lo de que faria o acompanhamento dos fatos, comunicando tudo ao Congresso Nacional.
Na prática, as prisões de Ibiúna encerraram o período mais forte das manifestações estudantis no Brasil, mas contribuíram para fortalecer as organizações clandestinas que atuavam na luta armada: estima-se que mais de 30% das pessoas que foram processadas por ligação com as esquerdas armadas eram estudantes.
Em 1979, o tema da reorganização da UNE foi levantado na Assembléia Legislativa do Estado de Sergipe por Jonas Amaral, ao sugerir que o parlamento estadual enviasse dois observadores ao Congresso que aconteceu em Salvador, a partir do dia 29 de maio, com o objetivo de reorganizar a instituição. A Assembléia rejeitou a proposta do deputado emedebista que, todavia, leu em plenário uma “Carta Aberta” dos estudantes de Sergipe. Além do debate levantado no parlamento estadual, também na Câmara Municipal de Aracaju o vereador Genelício Barreto hipotecou solidariedade aos estudantes. De todo modo, causou estranheza à bancada do MDB e repercutiu muito mal na Câmara de Aracaju e na Assembléia Legislativa o fato de, no mesmo dia da abertura do Congresso, as polícias Militar do Estado de Sergipe e Rodoviária Federal fazerem blitz na saída da cidade de Aracaju. Os policiais pararam todas as kombis que passavam transportando estudantes, pedindo a identificação de cada um deles. A delegação sergipana tinha 66 estudantes que viveram as tensões do encontro desde a saída da capital sergipana e durante todo o evento. “Segundo um dos participantes, apagaram a luz, jogaram pó de vidro no ambiente dos debates, entre outras hostilidades”[iii].


[i] Cf. Gazeta de Sergipe, Ano XIII, nº. 3.868, 6 e 7 de outubro de 1968. p. 2.
[ii] Cf. FIGUEIREDO, Benedito de. Entrevista concedida a Jorge Carvalho do Nascimento no dia 13 de agosto de 2008.
[iii] Cf. DANTAS, Ibarê. A tutela militar em Sergipe, 1964/1984: partidos e eleições num Estado autoritário. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1997. p. 264.

sábado, 26 de setembro de 2009

O PRETÉRITO DO FUTURO: A ESCOLA E O RETROVISOR DAS NOVAS TECNOLOGIAS EDUCACIONAIS V

Utilizada desde o século XVIII como meio adequado à superação das desigualdades e deficiências educacionais, a Educação à Distância cada vez mais conquista o status de alternativa ao ensino presencial regular, seja na Educação Básica ou no ensino superior de graduação e pós-graduação.
Os especialistas em História da Educação à Distância afirmam que é possível periodizar a sua trajetória em três períodos: o do ensino por correspondência, o da teleducação e o dos ambientes interativos. Mas, em qualquer um deles estamos diante da velha e boa tecnologia da Educação à Distância, não obstante o deslumbramento e a desinformação crer que acabamos de descobrir a roda.
O primeiro período diz respeito ao uso intensivo dos serviços postais para a oferta do ensino à distância, a partir da primeira experiência ocorrida no século XVIII.
O segundo período começa no início do século XX com o emprego dos programas radiofônicos e os recursos que se seguiram na mesma direção: TV e fitas de vídeo.
O terceiro período carrega a marca de haver dispensado a necessidade de fixar um horário determinado para as atividades escolares remotas. A comunicação dos alunos acontece em tempos distintos, posto que as informações estão armazenadas e a interatividade pode acontecer no momento que for mais adequado ao usuário. Tudo é comandado a partir da rede WEB: teleconferências, chats, fóruns de discussão, correio eletrônico, weblogs, diversos ambientes virtuais orientando a interação entre alunos e docentes, agora tutores.
O tom de novidade que a Educação à Distância possui no Brasil não indica que a modalidade demorou a chegar por aqui, mas na verdade revela um forte preconceito de determinados setores da elite brasileira para com a EAD. Preconceito e deslumbramento são faces opostas de uma mesma moeda que pouco contribui para qualificar o ensino à distância. Certamente como tecnologia educacional, ainda vamos aprender muito com a EAD, desde que sejamos capazes de nos relacionar com ela sempre como uma prática educacional e nunca atribuindo-lhe o miraculoso tom da última descoberta capaz de resolver todos os problemas.

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

O PRETÉRITO DO FUTURO: A ESCOLA E O RETROVISOR DAS NOVAS TECNOLOGIAS EDUCACIONAIS IV

A Educação à Distância no Brasil


É possível afirmar que neste ano, embora sem perceber, estamos celebrando os 75 anos de funcionamento da Educação à Distância no Brasil. Em 1934, Edgard Roquete Pinto instalou a Rádio Escola Municipal do Rio de Janeiro. Cinco anos depois, em 1939, foi criado o Instituto Rádio Técnico Monitor, a primeira instituição brasileira dedicada ao ensino remoto por correspondência. Dois anos depois, em 1941, foi criado o Instituto Universal Brasileiro, no mesmo ano em que começou a funcionar em São Paulo a chamada Universidade do Ar, um programa radiofônico que se manteve durante três anos, até 1944. O projeto ressurgiu em 1947, sob o patrocínio do SESC e do SENAC, na rede de emissoras associadas dirigida pelo jornalista Assis Chateubriand. Em 1974 foi a vez do Instituto Padre Reus, uma escola remota por correspondência, entrar em funcionamento.
Nos anos 60, o Movimento de Educação de Base – MEB foi, certamente, o projeto de ensino remoto de maior importância conhecido pela sociedade brasileira à época. Iniciativa da Igreja Católica estimulada pelo arcebispo de Aracaju, Dom José Vicente Távora, o MEB utilizava um sistema de rádio-educativo gerenciado a partir da Rádio Cultura de Sergipe.
Na década de 70 o Brasil ofereceu ensino à distância a uma parcela significativa da população por intermédio de programas como o Projeto Minerva, que utilizaram tanto o rádio como a televisão. A proposta brasileira tinha como inspiração a Telescola criada em Portugal. O Projeto Minerva tinha como suporte um convênio celebrado entre a Fundação Padre Landell de Moura e a Fundação Padre Anchieta, responsáveis pela criação dos textos e dos programas.
Nesse mesmo período a Fundação Roberto Marinho começou a oferecer o telecurso, um programa de Educação supletiva à distância para os ensinos de primeiro e segundo graus.
Todavia, é muito recente a incorporação pelo Estado brasileiro de programas educacionais de ensino à distância nas instituições universitárias. Em 1972, uma comissão de técnicos em Educação ligados ao governo brasileiro foi à Inglaterra conhecer a experiência da Universidade Aberta. Sob a coordenação do professor Newton Sucupira, membro do Conselho Federal de Educação, o grupo produziu um relatório contrário à implantação da prática no Brasil, colocando obstáculos ao ensino superior remoto. O assunto ficou esquecido no âmbito das políticas de governo até 1992, quando foi criada a Universidade Aberta de Brasília, englobando pela primeira vez no país a oferta de ensino remoto de graduação e pós-graduação. Em 1996, o governo do presidente Fernando Henrique Cardoso aprovou a primeira legislação brasileira dedicada exclusivamente a regulamentar a Educação à Distância no ensino superior. As bases estavam postas pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDB e foram regulamentadas pelos decretos 2.494, de 10 de fevereiro de 1998 e 2.561, de 27 de abril do mesmo ano. Mas, esse tipo de prática somente foi admitido e intensivamente assumido após a posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Em 2005, o Decreto 5.622 desenhou o atual modelo de ensino superior à distância vigorante no Brasil, oferecendo à modalidade praticamente o mesmo status que possuem os cursos de graduação presenciais.

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

O PRETÉRITO DO FUTURO: A ESCOLA E O RETROVISOR DAS NOVAS TECNOLOGIAS EDUCACIONAIS III

A Educação à distância


Tecnologia Educacional relevante, a Educação à Distância é uma ferramenta utilizada amplamente desde o século XVIII, em face da regularização dos serviços postais. Faltam 19 anos para a Educação à Distância completar 300 anos de funcionamento. O seu primeiro marco foi um anúncio publicado pelo jornal Gazeta de Boston, no dia 20 de março de 1728 pelo professor de taquigrafia Cauleb Phillips:


Toda pessoa da região, desejosa de aprender esta arte, pode receber em sua casa várias lições semanalmente e ser perfeitamente instruída, como as pessoas que vivem em Boston.


No início do século XIX, em 1833, um anúncio na imprensa sueca oferecia os serviços educativos por via postal para um curso de contabilidade. Na Inglaterra, os registros remetem para o ano de 1840, quando o taquígrafo Isaac Pitman organizou um curso que era ministrado por intermédio de cartões postais enviados pelo correio e criou a Phonografic Corresponding Society.
A primeira instituição escolar que se estabeleceu especificamente para oferecer Educação à Distância foi dedicada ao ensino de línguas e começou a funcionar no ano de 1856, em Berlim. A segunda escola do gênero, a Society to Encourage Study at Home foi criada em Boston, no ano de 1873, por Anna Eliot Ticknor. O International Correspondence Institute, fundado por Thomas Foster, começou a funcionar na Pensilvânia em 1891, oferecendo dois cursos: Segurança do Trabalho e Mineração.
As instituições universitárias oferecem Educação à Distância a, pelo menos, 208 anos. Em 1891, a Universidade de Wisconsin ofereceu pela primeira vez alguns cursos por correspondência. Em 1892 foi a vez do reitor da Universidade de Chicago, William Harper criar institucionalmente a Divisão de Ensino por Correspondência do Departamento de Extensão. Evangélico, Harper conhecia o bem sucedido uso do ensino por correspondência feito pela Escola Dominical da sua Igreja. De fato, Harper era entusiasta da modalidade desde o ano de 1886, quando fez uma afirmação que ganhou fama e que parece recém saída dos discursos das autoridades educacionais brasileiras do início do século XXI:


Chegará o dia em que o volume da instrução recebida por correspondência será maior do que o transmitido nas aulas de nossas academias e escolas; em que o número dos estudantes por correspondência ultrapassará o dos presenciais.


Na Universidade de Oxford, em 1895, começaram a funcionar duas turmas de estudantes à distância para o Certificated Teacher’s Examination. O Instituto Hermond, da Suécia, começou a funcionar em 1908.
Após o final da I Guerra Mundial o debate sobre as políticas sociais, principalmente as demandas educacionais, foi importante ponto de pauta. Cada vez mais o ensino à distância foi apresentado como alternativa capaz de solucionar esse tipo de necessidade social. Era um período de grande desenvolvimento no campo da comunicação, em face das aplicações que foram possibilitadas pelo conflito bélico. O entusiasmo era, principalmente, com o rádio. A nova ferramenta fez sucesso em todo o planeta como tecnologia educacional, principalmente na América Latina, onde o recurso foi amplamente utilizado em programas de Educação à distância no Brasil, na Colômbia, no México e na Venezuela.
Em 1922, a União Soviética animada pelas transformações que se seguiram à revolução socialista de 1917, sob a liderança de Lenin e de Nadedja Krupskaya, organizou um sistema de ensino por correspondência que dois anos depois, em 1924, já atendia 350 mil estudantes. A modalidade ganhou tanta força na União Soviética que o ex-primeiro ministro soviético, Mikhail Gorbachev concluiu o seu curso de graduação em Economia Agrícola à distância pelo Instituto Agrícola de Stavropol, no ano de 1967.
Um ano após o início da II Guerra Mundial, em 1939, a França criou um serviço de ensino postal para atender os estudantes obrigados pelo conflito a abandonar a escola regular.
A importância que a modalidade ganhou no século XX foi tamanha que, em 1962, os ingleses criaram a Universidade Aberta, atendendo as suas necessidades nacionais e auxiliando outros países com a prestação de serviços de consultoria na área, colaborando com as nações que necessitavam incorporar tecnologia para uma Educação à Distância de boa qualidade. A partir de tal projeto, o modelo da Universidade Aberta foi incorporado por muitos outros Estados nacionais: em 1974 o Paquistão colocou em funcionamento a Universidade Aberta Allma Iqbal, destinada à formação de professores; em 1980 o Sri Lanka começou a formar docentes e tecnólogos com a sua Universidade Aberta; no mesmo ano, a Universidade Aberta Sukhothiai Thommathirat, da Tailândia, tinha 400 mil estudantes matriculados; a Universidade de Terbuka, na Indonésia estabeleceu como meta, em 1984, o atendimento de cinco milhões de alunos até o final do século XX; a Índia criou a Universidade Nacional Aberta Indira Gandhi, em 1985; a Austrália, apesar de não haver criado formalmente uma Universidade Aberta, mantém cinco instituições universitárias nas quais a matrícula remota é superior à presencial.
Dos países latino-americanos, o Brasil foi um dos que mais resistiu a admitir o ensino superior à distância. No México, a Universidade Autônoma oferece EAD desde 1972; a Costa Rica inaugurou a Universidade Estatal à Distância em 1977; no mesmo ano entrou em funcionamento a Universidade Nacional Aberta da Venezuela; a Universidade Estatal Aberta da Colômbia é de 1983. A partir da década de 70 do século XX a EAD incorporou intensivamente o uso do videocassete como instrumento essencial ao ensino. A ele se seguiram as aulas transmitidas pela televisão, o videotexto e, finalmente, o computador. Por último chegou a tecnologia dos multimeios, combinando texto, som e imagem.

terça-feira, 22 de setembro de 2009

O PRETÉRITO DO FUTURO: A ESCOLA E O RETROVISOR DAS NOVAS TECNOLOGIAS EDUCACIONAIS II

As tecnologias educacionais

Em língua portuguesa, o substantivo feminino TECNOLOGIA significa o conjunto de termos próprios a uma arte ou a uma ciência. O dicionário Michaelis o conceitua como conjunto de processos especiais relativos a uma determinada arte ou indústria; linguagem peculiar a um determinado ramo do conhecimento, teórico ou prático; aplicação dos conhecimentos científicos à produção em geral.
O debate sobre tecnologia não deve ter como ponto de partida, portanto, a idéia de novidade, mas sim a idéia de método, modo de fazer. Evidentemente, as novidades, aquilo que se poderia chamar inovação tecnológica, não se afasta da discussão. Chamo a atenção para o fato de que o moto central das discussões sobre tecnologia educacional deve ser não o das novidades, mas sim o do conhecimento técnico e científico, das ferramentas, processos e materiais uteis ao trabalho de transmitir conhecimento.
Quando a História da Educação se debruça sobre a História dos Métodos de Ensinar está rigorosamente tratando de tecnologia educacional. Trabalhos como os de Johann Comenius, realizados no século XVII, são excelentes manifestações de tecnologia educacional. Quando Lancaster apresentou a proposta do ensino mútuo, no século XIX, estava inaugurando uma tecnologia educacional revolucionária. Na verdade, o seu método, dentre outras coisas, estava substituindo as práticas de ensinar estudando em voz alta, decorando os textos, tecnologias até então consideradas válidas. Estava incorporando tecnologias que naquele momento eram amplamente utilizadas pelas escolas norte-americanas, inclusive as do ensino pelo método indutivo e do estudo silencioso, da leitura em voz baixa.
Quando, em 1890, o governador de São Paulo, Prudente de Moraes, solicitou a Horace Lane, diretor do Mackenzie College, que recrutasse um pequeno grupo de professoras norte-americanas para modificar o sistema educacional do Estado de São Paulo, estava promovendo uma radical alteração na tecnologia educacional brasileira que iria repercutir em todo o país. Tecnologia que se explicitou quando a professora Márcia Browne, de Boston, estabeleceu em São Paulo uma escola primária modelo que se tornou o núcleo de um sistema de âmbito estadual, baseado nas idéias e técnicas norte-americanas, conhecido no Brasil como grupo escolar. A tecnologia do grupo escolar dominou o cenário da política educacional brasileira durante toda a primeira metade do século XX e até o ano de 1971, quando a lei federal 5.692 sepultou o modelo da escola primaria brasileira e estabeleceu como base nacional o ensino fundamental de primeiro grau, em oito séries anuais.
A sociedade brasileira já havia adotado outros importantes avanços no uso das tecnologias educacionais no século XIX, quando, a partir do Rio de Janeiro, começou a incorporar os projetos de Jardim da Infância baseados na proposta formulada por Fröebel. Proposta animada a partir dos métodos intuitivos e naturais, atraindo a criança ao conhecimento e desenvolvimento das faculdades observadoras, sem fadigas, sem desgostos, sem estudos forçados, incorporando a autodisciplina a partir dos brinquedos.
Outro excelente exemplo é a incorporação pelos intelectuais brasileiros da área, na passagem do século XIX para o século XX, das propostas metodológicas das Lições de Coisas formuladas por Nicolas Calkins. Todas essas tecnologias educacionais são expressões de práticas educacionais que impressionaram e que foram vistas, em algumas situações, como a fórmula mágica e futurosa capaz de resolver todos os problemas sociais atinentes ao âmbito da política educacional.

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

O PRETÉRITO DO FUTURO: A ESCOLA E O RETROVISOR DAS NOVAS TECNOLOGIAS EDUCACIONAIS

A discussão que atualmente ocupa boa parte da pauta dos debates educacionais em torno das tecnologias educacionais e da Educação à distância é muito difícil àqueles que não estão dispostos a assumir diante dela uma postura de deslumbramento que é cobrada pelos mais entusiasmados animadores desse tipo de discussão. Tudo é colocado como se fora um eterno déjà vu no qual se crê estar diante da invenção da roda, sem buscar os antecedentes desse fenômeno. Tudo se coloca afirmando haver finalmente chegado o futuro das práticas educacionais. Todavia, uma verificação no retrovisor das práticas escolares demonstra facilmente que, de fato, este é uma espécie de futuro do pretérito já vivido, já conhecido, sob outras condições, com outras ferramentas. O que em nada reduz a importância do fenômeno que vivemos agora, mas apenas o recoloca e o revaloriza.
Evidente que fenômenos como tecnologias educacionais e Educação à distância são inexoráveis, inerentes às mudanças da vida social. Refletir criticamente sobre eles não significa recusá-los, rejeitá-los. Mas, apenas lembrar que a reflexão crítica é própria do fazer acadêmico e responsabilidade de todos que têm compromisso com a produção do conhecimento. O deslumbramento diante de determinados fenômenos é uma postura absolutamente imprópria, que em nada contribui para aprimorar os saberes sobre o tema.

domingo, 20 de setembro de 2009

O ENSINO SUPERIOR DE QUÍMICA EM SERGIPE II

É necessário observar este período de modo mais amplo e verificar que a década de 20 dos anos novecentos, em Sergipe, representou um momento importante para a difusão dos conhecimentos da Química, principalmente quando se considera que sucessivos governos investiram na criação de laboratórios destinados ao ensino dessa ciência, como o presidente Manoel Dantas, que exerceu a chefia do Poder Executivo sergipano entre os anos de 1927 e 1930. O ensino das Noções Gerais de Química estava presente no currículo das escolas secundárias de Sergipe desde o século XIX. No Liceu Sergipense, instalado em outubro de 1862, essa disciplina científica ocupava posição curricular destacada.
O processo de difusão das ciências que ocorreu no Brasil a partir das últimas décadas do século XIX e das primeiras décadas do século XX fez com que se expandisse não apenas a quantidade de escolas superiores, mas também redes de instituições científicas. A rede de escolas e de instituições de pesquisa aprofundou o conhecimento científico a respeito dos saberes com os quais operavam à medida que os químicos se empenhavam para constituir um discurso que, exacerbando o caráter científico e autônomo de sua atividade, lhes garantisse reconhecimento social e legitimidade intelectual. Na condição de escolas e institutos de tecnologia e de pesquisa científica essas instituições terminaram por oferecer aos próprios químicos as condições que o projeto de cientifização da sua atividade requeria. O estudo da História da pesquisa e do ensino de Química possibilita perceber um dos modos usado pelos profissionais com formação superior para a gestão científica do seu campo.
A partir de 1924 a equipe do professor Arquimedes Guimarães começou a formar profissionais em análises químicas. O curso tinha a duração de três anos.
Para admissão ao curso eram realizados exames preparatórios de Português, Francês, Geografia, Aritmética e Álgebra, Noções de Geometria e Desenho Geométrico Elementar, História do Brasil e Noções de História Universal. As aulas eram iniciadas no dia 15 de fevereiro e encerradas no dia 30 de outubro. O curso mantinha dois períodos de férias: o primeiro de quinze dias, no mês de junho, e um outro de noventa dias, que se iniciava no dia 15 de novembro, posto que a primeira quinzena deste mês, após o encerramento das aulas em outubro, era destinada a realização dos exames finais. As aulas teóricas do primeiro ano eram ministradas pelo próprio Arquimedes Guimarães.
A idéia exposta por Arquimedes era a de que ao final do curso o aluno estivesse dotado de uma formação geral que possibilitasse a sua escolha por uma das especialidades do campo da Química. Segundo ele, o currículo implantado em Sergipe procurava corrigir o que chamou de “erro dos atuais cursos federais”[1]. Por isto, propôs que, além das quatro disciplinas que então eram oferecidas em todos os cursos existentes (Química Inorgânica, Química Analítica, Química Orgânica e Química Industrial), fossem incluídas na programação de estudos a Física Experimental, as Noções de Geologia, a Mineralogia, a Biologia, a Químico-Física, a Eletroquímica, a Química Coloidal, a Bioquímica e a Química Fisiológica.
Em Sergipe, depois de funcionar durante dois anos, o curso começou a apresentar problemas e em 1926 foi fechado por falta de alunos. Todavia a estrutura montada naquele momento foi fundamental para a instalação da Escola de Química de Sergipe, no ano de 1948. Arquimedes indicava algumas dificuldades para a manutenção do curso de Química:


Já por precisão de uma base de humanidades suficiente, para a compreensão desses estudos, já por falta de boas disposições vocacionais em alguns matriculados, tornou-se possível até agora, apenas, a promoção de uma aluna para o segundo ano da Escola. (...) não tendo, por conseguinte, funcionado a Escola de Química no corrente ano, mesmo porque não houve concorrente algum às aulas da primeira série, apesar da propaganda feita nesse sentido e da extrema simplicidade dos programas de admissão[2].


Quando Arquimedes afastou-se do Instituto, em 1926, era significativo o acervo de contribuições deixadas por ele para o desenvolvimento do Estado de Sergipe. Nos três anos durante os quais atuou, ele coordenou pessoalmente os processos de análise da água das cidades de Laranjeiras, Rosário do Catete, Aracaju, Pedrinhas, Japaratuba, Maroim, Salgado, todas em Sergipe, e da água da cidade de Salvador, no Estado da Bahia, esta por solicitação do engenheiro Saturnino de Brito. Em Sergipe, a análise buscou, principalmente, identificar as principais fontes de água mineral existentes no Estado, por solicitação do médico Paulo Figueiredo Parreiras Horta. Arquimedes também esteve debruçado sobre a análise de amostras de sal, vinagre, talco, cal, minério de ferro, cloreto de potássio e taninos da banana e do genipapo.
Durante os seus três primeiros anos de funcionamento, o Instituto forneceu 180 litros de oxigênio para os serviços médicos do Estado; realizou análises toxicológicas para a polícia; fez ensaios sobre o alvejamento do algodão; analisou as possibilidades de fabricação de espelhos em Sergipe; e, revelou centenas de fotografias.
Além de dirigir o Instituto de Química Industrial, Arquimedes Guimarães foi professor da Faculdade de Odontologia e Farmácia de Sergipe Aníbal Freire, criada em dezembro de 1925 pelo presidente Maurício Graccho Cardoso. O regulamento da instituição foi aprovado em fevereiro de 1926 e no mês de abril foram iniciadas as aulas. A matrícula inicial nos dois cursos era de 22 alunos. Segundo o presidente de Sergipe, no discurso que proferiu durante a aula inaugural, era necessário livrar o Estado dos práticos de Farmácia e Odontologia existentes, fazendo com que todos os que exerciam essas atividades tivessem oportunidade de incorporar os saberes da Química, da Fisiologia, da Patologia Geral e da Higiene. Dirigida por Augusto Leite, a Faculdade tinha no seu corpo docente, além de Arquimedes Guimarães, os seguintes profissionais: Josaphat Brandão, Oscar Nascimento, Antônio Tavares de Bragança, Ranulfo Prata, Lauro Hora, Américo de Miranda Ludolf e João Firpo Filho. A Faculdade deveria utilizar para o seu funcionamento a estrutura já existente no Instituto Parreiras Horta, no Instituto de Química Arthur Bernardes e no Hospital de Cirurgia. Porém, a instituição funcionou apenas durante o ano de 1926, encerrando suas atividades em novembro daquele mesmo ano. Igual destino teve a Faculdade de Direito que, inaugurada em 1925, também funcionou apenas durante um ano.
As aulas de Química Geral e Mineral do curso de Farmácia e de Metalurgia e Química do curso de Odontologia eram ministradas por Arquimedes Pereira Guimarães no próprio Instituto de Química Industrial de Sergipe. O professor tinha como seu assistente também nessa atividade o farmacêutico Antônio Tavares de Bragança[3].


[1] Cf. GUIMARÃES, Arquimedes Pereira. Introdução a um curso de Química Industrial e aula inaugural do Instituto de Química de Aracaju. Bahia, 1929. p. 49.
[2] Cf. GUIMARÃES, Arquimedes Pereira. Introdução a um curso de Química Industrial e aula inaugural do Instituto de Química de Aracaju. Bahia, 1929. p. 57.
[3] Cf. Diário Oficial do Estado de Sergipe. Ano VII, n. 1808, Aracaju, domingo, 28 de fevereiro de 1926. p. 1.

sábado, 19 de setembro de 2009

O ENSINO SUPERIOR DE QUÍMICA EM SERGIPE

Maurício Graccho Cardoso governou Sergipe no período de 1923 a 1926. Poucos sergipanos sabem que o Instituto de Química Industrial de Sergipe, atualmente Instituto de Tecnologia e Pesquisas, foi fundado por ele em julho de 1923, logo após a criação do Instituto de Pesquisas Tecnológicas, em São Paulo, e do Instituto Nacional de Tecnologia – INT, no Rio de Janeiro. Em certa medida, fora surpreendente o anúncio da criação do Instituto de Química Industrial de Sergipe, uma vez que naquele momento o Governo Federal havia acabado de anunciar que suprimiria a subvenção concedida às nove escolas de Química que foram criadas por lei em 1919.
O Instituto de Química industrial de Sergipe buscava contribuir para com o aperfeiçoamento da indústria do açúcar – principal fonte da riqueza no Estado nas primeiras décadas do século XX. A crença era de que o aumento da produção estava diretamente relacionado ao conhecimento da composição do solo, à melhoria do cultivo da planta e ao controle químico da produção em laboratório. No ano de 1923, eram muitas as evidências reveladoras de que a indústria açucareira do Brasil vinha perdendo espaço para os produtores de Cuba e do Havaí. A maior parte dos engenhos em funcionamento necessitava de modernização. Em Sergipe tal necessidade era vista como grave problema econômico.
O Instituto de Química Industrial oferecia um curso de três anos de nível superior destinado a preparação de técnicos para a indústria açucareira, a exploração do sal, a preparação do couro e o aproveitamento das plantas oleaginosas.
Quando o presidente do Estado de Sergipe, Maurício Graccho Cardoso, criou o Instituto de Química Industrial já estava consolidada a consciência de que a Química, ao lado da Biologia, da Física e da Matemática, constituía o campo disciplinar legitimador dos paradigmas e dos conceitos de outros campos da ciência, como a Medicina. Esta função, a Química adquirira ao mesmo tempo em que se legitimara, durante a segunda metade do século XIX, como ferramenta fundamental ao desenvolvimento da indústria. Por isto, se considerava importante formar “químicos analistas capazes de orientar (...) os laboratórios e as indústrias” (Cf. GUIMARÃES, Archimedes Pereira. Exposição de motivos apresentada ao presidente do Estado, Maurício Graccho Cardoso, em 27 de junho de 1923, pelo diretor do Instituto de Química Industrial de Sergipe, Archimedes Pereira Guimarães. Aracaju, 1923). Assim é que o Instituto, ao ser implantado tinha dois grandes objetivos definidos: a manutenção de laboratórios para análises dos problemas químicos ligados aos produtos agrícolas e industriais; e, a formação de químicos analistas. O decreto do presidente do Estado, Maurício Graccho Cardoso, que criou a nova instituição afirmava que “a química é uma ciência que se prende a todos os ramos do saber universal, e como tal, dela dependem as indústrias de maior relevância para o homem”.
Quando da instalação do Instituto, o presidente Graccho Cardoso convidou o professor Archimedes Pereira Guimarães para implantá-lo, na condição de primeiro diretor. Ele era, então, Professor de Química Orgânica e Instrumental do Curso de Química Industrial da Escola Politécnica da Bahia. Archimedes Guimarães chegou apresentando, como seu auxiliar, Antônio Tavares de Bragança, sergipano, farmacêutico químico formado no mesmo ano de 1923 na Faculdade de Medicina e Farmácia baiana. Depois que Archimedes regressou para a Bahia, em 1926, foi Antônio Tavares de Bragança que o substituiu e deu continuidade ao seu trabalho.
Em Sergipe, Archimedes defendeu que o novo Instituto de Química Industrial deveria “exercer a missão superior e delicada que lhe seria destinada, e não deveria preocupar-se com todos os problemas agrícolas e industriais que poderiam vir a ser uma fonte de riqueza para o Estado, mas tão somente em incentivar a produção daquelas matérias primas já em exploração e comércio, melhorando-as quer no estado bruto, quer como produtos acabados, de acordo com os modernos ensinamentos científicos” (Cf. GUIMARÃES, Archimedes Pereira. Exposição de motivos apresentada ao presidente do Estado, Maurício Graccho Cardoso, em 27 de junho de 1923, pelo diretor do Instituto de Química Industrial de Sergipe, Archimedes Pereira Guimarães. Aracaju, 1923).
De acordo com o seu entendimento, o Instituto deveria priorizar a análise de produtos agrícolas e industriais que fossem já objeto de comércio, além da formação de novos profissionais dedicados à análise de produtos químicos. No que dizia respeito a indústria açucareira, Archimedes Guimarães defendia a necessidade de selecionar sementes para o plantio da cana.
A instituição foi instalada inicialmente em um edifício situado à rua Duque de Caxias, na cidade de Aracaju. O equipamento, o mobiliário e os insumos foram adquiridos em São Paulo, no Rio de Janeiro e importados da Europa e dos Estados Unidos da América.
O projeto implementado pelo professor Archimedes no Instituto de Química Industrial levou a instituição a desenvolver dois tipos de atividades laboratoriais: o primeiro manteve um laboratório completo para análises da cana-de-açúcar e do açúcar manufaturado em todas as suas fases de fabricação: um outro laboratório tinha em vista as “análises dos óleos vegetais e pesquisas sobre sua extração e exploração mais vantajosas, especialmente sobre o aproveitamento industrial dos cocos nuciferas, para análise de terras, adubos, inseticidas etc” (Cf. GUIMARÃES, Archimedes Pereira. Exposição de motivos apresentada ao presidente do Estado, Maurício Graccho Cardoso, em 27 de junho de 1923, pelo diretor do Instituto de Química Industrial de Sergipe, Archimedes Pereira Guimarães. Aracaju, 1923). O laboratório para o açúcar foi concebido para manter relações estreitas com uma estação experimental de cana, nos mesmos moldes da existente em Campos, no Rio de Janeiro. Dentre os sonhos do professor Archimedes estava o propósito de conseguir, através da melhoria do cultivo da cana, a obtenção do álcool industrial como substituto da gasolina.
O professor Archimedes levou o Instituto a estudar também o tanino do mangue, abundante em toda a orla marítima e fluvial de Sergipe, de modo a aplicá-lo nos curtumes e tinturarias, sobre as féculas e a panificação, de modo a obter um tipo de pão misto de trigo e mandioca. Em torno da pesquisa do tanino havia também a expectativa da sua aplicação em materiais cerâmicos, bebidas e uma grande variedade de gêneros alimentícios. “O sal, os couros, as fibras, os laticínios, as águas, o álcool, os oleaginosos, preocuparão por sua vez, paulatinamente, a nossa atenção e, fontes que o são ou que o serão da riqueza do Estado, hão de constituir objeto de estudos particulares do nosso Instituto, que tendam a melhorar-lhes as condições de extração e refino, para mais pronta aceitação nos mercados consumidores. A fiscalização dos produtos comestíveis e bebidas, moldada pela que ora se executa no Rio de Janeiro e em São Paulo, é uma das flagrantes necessidades de uma capital que se preza, e, por isso, dessa providência cogitamos, antevendo para Aracaju senão para todo Sergipe, uma diminuição sensível nas moléstias do aparelho digestivo” (Cf. GUIMARÃES, Archimedes Pereira. Introdução a um curso de Química Industrial e aula inaugural do Instituto de Química de Aracaju. Bahia, 1929. p. 48).

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

A FRANÇA NO BRASIL: O PROJETO FRANCÊS E O ESTABELECIMENTO DE UMA CULTURA NACIONAL BRASILEIRA

Muitos estudiosos já deram conta de analisar as relações do Brasil com a França. Assim, optei por produzir algumas reflexões acerca da presença cultural francesa entre nós, tentando faze-lo a partir de uma análise a respeito da cultura brasileira, em face do processo de colonização européia em nosso território. Intelectuais como o sociólogo alemão Norbert Elias e o também sociólogo norte-americano Richard Morse defenderam que no momento inicial do processo de colonização portuguesa, tanto Portugal quanto a Espanha viviam já sob forte sintomatologia do seu declínio, enquanto a Inglaterra e a França estavam experimentando os primeiros passos na busca de uma hegemonia mundial. Richard Morse informou que a expressão América Latina provém da França de Napoleão III, quase quatro séculos após a descoberta das Índias Ocidentais, como parte de um discurso geoideológico para a suposta unidade lingüística, cultural e racial dos povos, em contraposição aos germânicos, anglo-saxões e eslavos.
Morse propôs que o estudo da herança das idéias de todo o conjunto da cultura do mundo ocidental fosse realizado não apenas a partir de uma tradição ibero-americana da véspera da colonização, apresentada em contraposição a uma tradição anglo-americana, de resto posta como atitudes mentais e configurações institucionais em si antagônicas.
Esse tipo de proposta presente em Morse e em Elias foi também marcante entre os intelectuais adeptos da história francesa das mentalidades. Tal vertente empreendeu uma releitura sistemática de muitas interpretações da cultura que a mesma França irradiou desde a consolidação, durante a segunda metade do século XVIII, do conceito de civilização. Na França daquele momento, todas as questões humanas, da mesma maneira que os problemas sociais, econômicos, administrativos e políticos eram tratados na corte pela intelligentsia que buscava influenciar a nobreza, o rei ou mesmo suas amantes. Influência que em boa parte dos casos pretendia obter reformas sociais que ampliassem os espaços de participação da burguesia, conotando o conceito de civilização de uma natureza crítica social no momento em que este se disseminava. Civilização, portanto, é um conceito de origem francesa que não se dá por acabado, é um processo sem fim que busca o refinamento dos padrões sociais gerais, uma vez que nem mesmo a revolução burguesa na França se propôs a subverter a unidade de costumes e hábitos da corte, posto que a intelligentsia francesa buscava parecer-se com a nobreza, em seus costumes. Na sociedade cortesã francesa, tanto a burguesia quanto a aristocracia cultivaram os mesmos padrões gramaticais e falaram a mesma língua, leram os mesmos livros e observaram as mesmas maneiras. Nietzsche afirmou que a corte estabeleceu uma lei de fala certa e, por conseguinte, uma lei de estilo para todos os que escreviam.
Assim, o papel social da França foi representado pelo conceito de nação, formada como configuração civilizada, na condição de instrumento da intelligentsia de classe média. À medida que a burguesia ascendeu e se legitimou na França, adquiriu o status de auto-imagem nacional e o seu principal traço de diferenciação foi a condição de grupo social civilizado, que se expressava no livre pensamento, na belle epoque cosmopolita, na literatura de boulevard.
O mergulho nesse cenário francês é importante para compreender os padrões culturais do Estado nacional brasileiro que se estabeleceu no início do século XIX, mas deve ser feito com muito cuidado, pois há o risco de produzir-se uma fetichização que construa uma espécie de história/monumento. Quanto a essa questão devemos ter a clareza de que as forças sociais que emergiram no século XIX lançaram mão de distintas ferramentas para a execução dos seus projetos.
Desde os primeiros anos do século XVI, os franceses alimentavam um imaginário edênico em relação ao território brasileiro. Em 1555, ao fundar a França Antártica na Baía de Guanabara, o vice-almirante da Bretanha, Nicolas Durand de Villegagnon, abriu espaço à estratégia do almirante Coligny que pretendia estabelecer colônias protestantes no Brasil. Na primavera de 1557 ele recebeu um contingente de refugiados huguenotes que pedira em 1556 a Jean Calvin, já que necessitava de bons cristão para povoar a colônia.
Os franceses viam o Brasil como ilhas nas quais os canibais carregavam pérolas e lingotes de ouro, seda crua e pedras preciosas. Eram tantas as fantasias dos franceses em torno do Brasil que, em 1550, os burgueses armadores de Rouen organizaram uma festa em homenagem a Henrique II que tinha os indígenas brasileiros como principal motivo. Eles reuniram 300 homens completamente nus representando uma tribo para a qual montaram um cenário que reconstituía a floresta brasileira e sua fauna. A festa era em regozijo pelo triunfo dos franceses sobre a Inglaterra em Bolonha. Os burgueses armadores de Rouen pretendiam, e conseguiram, fazer com que Henrique II voltasse atrás na decisão que tomara em 20 de outubro de 1547, ao proibir os seus súditos de viajarem nas rotas do rei de Portugal e nas terras descobertas pelos portugueses. O espetáculo de Rouen foi tão bem sucedido que os franceses voltaram a repeti-lo nos anos de 1564 e 1565, quando Carlos IX entrou, respectivamente, em Troyes e Bordeaux.
Foram todas essas visões brasileiras, a partir do século XVI, alimentadas pelos relatos de viajantes franceses que estimularam as várias missões e o imaginário francês sobre o Brasil. Era o discurso de quem conhecera o paraíso. Em 1613, antes de morrer no Brasil, o padre Arsène de Paris escreveu uma carta na qual fez o seguinte relato: “Quanto ao país, é muito bom, muito fértil, não existe frio jamais, mas um contínuo verão, as árvores são sempre iguais, pois o sol se levanta todo o tempo às seis horas, estamos somente a dois graus e meio da linha equinocial. Dizem que há muitas riquezas neste país, como mina de ouro, âmbar cinzento, pérolas, depois existe muito algodão, muito tabaco e pretende-se fazer açúcar: em resumo, eu vos asseguro que quando estivermos um pouco estabelecidos aqui, nos encontraremos em um pequeno paraíso terrestre onde teremos todo tipo de contentamento”. Em documentos produzidos no século XVII pelos padres capuchinhos franceses Claude d’Abeville e Yves d’Évreux, há uma patente admiração diante das riquezas localizadas no território brasileiro, acentuando a produção de açúcar, as pedras preciosas e as minas de ouro.
À medida que se processaram no Brasil as alterações políticas e o que o país foi buscando a sua identidade, também se alterou a representação que faziam os franceses do território. O projeto de ocupação militar como mecanismo de apropriação das riquezas presente nas entrelinhas dos primeiros relatos, cedeu espaço ao projeto de ocupação cultural, através da análise do distanciamento entre os brasileiros e os franceses.
Foi em nome do estabelecimento de padrões culturais no Brasil que o país recebeu, em 1820, a missão de artistas franceses e fundou a Escola de Belas Artes. Também do início do século XIX foi o projeto de organização do ensino brasileiro apresentado por Garção Stockler, amplamente enciclopedista e inspirado na proposta francesa de reforma concebida por Condorcet. Posições como as de Garção Stockler sobre política educacional foram defendidas ao longo de todo o século XIX por intelectuais brasileiros para os quais o Brasil necessitava assumir os valores vigentes na Europa Ocidental, particularmente na França, como fazia o frei Francisco Monte Alverne, ao discutir as necessidades da instrução pública, apontando que o problema da modernização do Brasil remontava à luta para libertar a nação do colonialismo português. A Metrópole não queria homens sábios em suas colônias. Era à custa de esforços inauditos que os brasileiros podiam distinguir-se. Restava um meio fácil de promover o nosso adiantamento: o estudo da língua francesa. O jovem orador brasileiro era condenado a ficar na obscuridade, estudando os oradores portugueses, cujos seminários eram comuns entre nós, ou procurar na leitura dos pregadores franceses as inspirações de que carecia para ilustrar o seu espírito.
Observações sobre a necessidade de a França intensificar sua influência cultural sobre o Brasil foram feitas de modo muito claro entre os anos de 1876 e 1877 pelo diplomata francês Maurice Ternaux-Compans, através da correspondência que enviou do Rio de Janeiro ao Duque de Decazes, ministro dos negócios estrangeiros da França: “Pode-se dizer dos povos, como dos homens, que sua natureza individual se resume em um terço saliente de caráter cuja ação exerce-se sobre sua maneira de ser geral e imprime-lhe a fisionomia que lhe é própria. No Brasil, o observador atento reconhecerá facilmente que esse traço individual cujas conseqüências encontram-se tanto na vida pública como na vida privada, consiste em sua vaidade excessiva, que paralisa em seu germe o desenvolvimento material e intelectual que se estaria no direito de esperar de uma nação tão bem dotada sob outros aspectos, e à qual a providência dotou de uma das mais maravilhosas regiões que se possa ver. Sua inteligência natural permite ao brasileiro, é verdade, apreciar em uma certa medida o estado de inferioridade na qual enlanguesce, mas o amor próprio que o domina impede-lhe de chamar em seus socorro a ajuda do estrangeiro, do qual teme a crítica e a influência. Confiante na capacidade de assimilação que lhe é própria, fia-se em suas próprias forças e crê poder assegurar, por si mesmo, a seu país, o estado de prosperidade que entrevê nos povos da velha Europa. Não lhe diga que sua existência social mal remonta a meio século, que o estado atual de seu país não comporta as inovações da civilização européia: ele responderá que em um período de duração um pouco mais considerável os ianques souberam colocar os Estados Unidos no nível das grandes potências, sem se dar conta que as qualidades de energia e de perseverança inerentes aos homens da Nova Inglaterra estão ausentes dele. Para chegar ao fim de seus desejos, ele concebe mil projetos diversos, que só recebem, em geral, um começo de execução. Como todo indivíduo cujos conhecimentos não se assentam sobre uma base sólida, ele é versátil e inconseqüente, e desencoraja-se ao primeiro obstáculo que encontra, oferecendo constantemente o espetáculo de um homem cuja habitação teria sido algo um pouco deteriorada por uma onda, ao invés de repara-la iria construir uma outra habitação ao lado”.
Como essa, são muitas as outras observações feitas pelo diplomata francês no Rio de Janeiro durante a segunda metade do século XIX. Uma outra que vale a pena ser reproduzida aqui, diz respeito a mulher brasileira: “A brasileira é mais baixa que alta, e geralmente magra. Seu rosto não tem nenhum frescor, seus olhos não têm nenhuma douçura. Ela se aplica, aliás, a dar ao seu rosto uma expressão de desenho e de dureza, que acaba por retirar todo o charme de sua fisionomia geral. Seu gosto pelas cores fortes imprime à sua figura um selo de mau gosto. Ela busca aproximar-se dos modos parisienses, que são considerados em todo o país como critério de elegância, mas, desprovidas de medida, desnaturam-nos, exagerando-os. O retrato que se poderá achar um pouco sereno, só se aplica, em meu pensamento, às mulheres de classe média, pois entre as damas da alta sociedade, cuja maioria esteve na França, há muitas que rivalizam em elegância com nossas parisienses mais cuidadosas com suas roupas”.
Idêntica era a visão que tinham do Brasil, no mesmo período, intelectuais franceses que propuseram a vinda de trabalhadores do seu país para colônias que se formavam na Província de Santa Catarina. Um membro da Sociedade de Geografia da França escrevia em 1857 que “estudados no estado primitivo, os brasileiros são doces, sóbrios, hospitaleiros, afáveis; são igualmente aptos para as artes liberais e as artes mecânicas, apesar de que sua indolência de corpo e espírito possa ser atribuída à ação do clima, assim como aos preconceitos criados pela escravidão; tudo leva a crer que esta indolência é um defeito inerente à nossa raça latina”.
Buscar reler as relações culturais entre o Brasil e a França no século XIX é tentar compreender as contradições que gestaram o moderno no Brasil. A questão da estabilidade democrática e de dados como a liberdade de imprensa no Brasil do século XIX foram elementos freqüentes nas anotações de vários estrangeiros que viajaram pelo país ou que viveram em algumas cidades brasileiras. A correspondência do citado diplomata francês Maurice Ternaux-Compans é outra vez um bom exemplo pontilhado por observações dessa natureza. Ele afirmava que a imprensa brasileira da sua época desconhecia a censura, as advertências e a suspensão do direito de expressão.
Elevado pela intelectualidade brasileira a condição de modernizador do Brasil, o pensamento francês fez com que os brasileiros incorporassem as bases necessárias ao desenvolvimento, entre nós, do Romantismo. A estética e o conteúdo deste movimento literário contaminaram o Brasil desde as primeiras décadas do século XIX e, como moderno, apresentou-se com uma enorme capacidade de auto-renovação permanente. Foi sob a égide do Romantismo, é importante lembrar, que a intelectualidade brasileira desenvolveu as suas interpretações anti-clericais e viu consolidar-se o pensamento liberal. Entre nós o Romantismo foi efetivamente uma forma de combate assumida pelo liberalismo na sua luta contra as tendências conservadoras católicas. No Brasil foi a intelectualidade romântica que discutiu e defendeu a maturidade e o aprofundamento das tentações republicanas, democráticas, abolicionistas e nacionalistas. Foram tais tentações que levaram os românticos brasileiros a articularem uma crítica consistente da sociedade, das instituições e da política nacional brasileira. Essa crítica rejeitava os vínculos portugueses e abdicava de um passado no qual era dominante a presença da herança lusitana, tal como, segundo Francisco da Gama Caeiro, “do mesmo modo, antes, Verney, contrariando a vigência da mediação latina do pensar filosófico, propusera o idioma francês, como via de acesso aos autores que importava cultivar na filosofia”.
É possível analisar manifestações como o Romantismo, na França e no Brasil, procurando situa-lo como a primeira crítica radical e consistente que a sociedade capitalista efetivamente sofreu. Para se compreender a dimensão de tal crítica é necessário que se opere uma diferenciação quanto às múltiplas dimensões do Romantismo. O Romantismo não foi um movimento de sentido único. No caso brasileiro, há indicadores factíveis de haver o Romantismo posto para as nossas elites o dilema da decisão entre Monarquia e República, posto que cria-se ser a República a única saída que viabilizava a entrada das ex-colônias americanas no modelo de modernidade que o liberalismo europeu gestara. No caso brasileiro o Romantismo veio a ser, assim, claramente, a racionalização das forças condenadas pela modernidade capitalista. Daí ser fundamental lançar-se sem posições prévias à leitura do Romantismo brasileiro e operar conscientemente com a idéia da existência, entre nós, de românticos regressivos e românticos não-regressivos para perceber a força de tal movimento.
O Romantismo em suas correntes hegemônicas européias foi antiliberal. Todavia, da mesma forma que o Positivismo no Brasil pregou o final da guerra e ganhou feição diversa da que possuía na Europa, também o Romantismo, entre nós, foi tendencialmente não-regressivo e combateu firmemente a influência de uma certa percepção do Romantismo fundado na Escolástica, principalmente quando esta buscava constituir o caráter nacional baseando-se na religiosidade.
Assim como não seria possível pensar em um Romantismo europeu na sociedade medieval, é necessário adquirir a clareza de que foram os dilemas da necessidade de busca de um modelo brasileiro de modernidade que liberaram as forças criadoras que o Romantismo anunciou no Brasil. O Romantismo francês que foi transposto para o Brasil teve um papel criador da maior importância. Se a marca que o Romantismo francês deixou na memória foi a de um movimento conservador, é fundamental observar que ele teve nas suas origens um conteúdo revolucionário.
O Romantismo influiu diretamente no comportamento e nos hábitos familiares, à medida que os projetos hegemônicos, que durante todo aquele século foram sustentados pela França, fizeram com que o intenso comércio entre o Brasil e aquela nação levasse ao estabelecimento de símbolos claros de status social do período. Era hábito das famílias mais ricas fazerem viagens de férias à França, viajando em navios a vapor de passageiros, e consultar-se com médicos parisienses.
No Brasil, o Romantismo se voltou ao trabalho de criar um conceito de nação no plano cultural. Gonçalves de Magalhães efetivamente introduziu a discussão do problema de uma cultura nacional. Dessa influência surgiram autores como Teixeira e Souza e Joaquim Manoel de Macedo – não apenas o de A Moreninha, mas principalmente o de Memórias da Rua do Ouvidor e também de Memórias do Sobrinho do Meu Tio, textos fundamentais para a compreensão da cultura brasileira. Assim, no Brasil, o Romantismo efetivamente consolidou um projeto de cultura nacional que não estava posto em sua plenitude. O Romantismo tem desta forma, entre nós um outro reflexo. Não é revolucionário, mas é basicamente nacionalista e proporcionou bases essenciais para a formação da nacionalidade.
A França foi, no Brasil do século XIX, o centro do saber moderno. Era nesse espelho que a modernidade brasileira buscava forjar a própria imagem. Era em universidades francesas que, cada vez mais, os brasileiros buscavam a formação, uma vez que demandavam cada vez menos as universidades portuguesas. Sob a influência dessa formação francesa, a intelectualidade brasileira, a partir do Romantismo, reclamava cada vez mais o direito de expressão em uma língua portuguesa que mais pudesse ser chamada de brasileira. Língua na qual estivessem incorporadas vozes indígenas e africanas, como já o fazia, desde o século XVII Gregório de Matos, “sob esse aspecto o primeiro escritor verdadeiramente nacional”, segundo João Ribeiro. Era uma modernidade que encontrava expressão nas apenas em trabalhos de Gonçalves de Magalhães, Teixeira e Souza e Joaquim Manoel de Macedo, mas também em Porto Alegre, Gonçalves Dias e José de Alencar que, com seu indianismo, assumiam uma espécie de Romantismo “sem Idade Média”, através do qual ficava bem clara a divergência entre a língua portuguesa dos portugueses e a dos brasileiros.
es como o Romantismo, na França e no Brasil, procurando situ no sestabeleceunte, uma lei de estilo para todos os que escreviam. Enxergando, no século XIX, a força do espelho francês é possível perceber como as regras de entrada do Brasil na modernidade efetivamente foram traçadas pelos brasileiros com base em padrões definidos a partir da França. Processo que ganhou transparência na titânica luta do Segundo Império para libertar-se das forças coloniais que comiam as suas próprias entranhas.
As representações que a historiografia republicana fez acerca do século XIX procuram demonstrar que a cultura brasileira naquele período conseguira, afinal, deslocar-se do campo de influência dos jesuítas para o da língua e literatura francesas.
Para a produção do seu modelo explicativo de Brasil, a geração de intelectuais que emergiu a partir do movimento republicano buscou o pensamento do francês Augusto Comte, a fim de consolidar a representação que fazia do Estado republicano o Estado Positivo comteano. O Estado Republicano foi uma utopia de inspiração francesa que se propunha a oferecer toda a sorte de políticas públicas que faziam falta ao status político anterior.
A idéia de que na Europa a França era um espelho civilizatório no qual o Brasil deveria mirar-se, que foi difundida pelos franceses que entre nós estiveram, foi marcante no projeto dos republicanos brasileiros. Sempre que a ocasião o pedia, tal mito era reavivado. Intelectuais republicanos brasileiros como Virgílio de Sá Pereira diziam ser natural que “onde estiver a França estejam os nossos votos. Nós estamos compreendidos na zona de civilização que o seu gênio senhoreou, ela é líder da latinidade no mundo, dessa latinidade em que se plasmou a nossa alma. É o próprio instinto de conservação que nos impele a defender a cultura latina, porque é sob essa fisionomia que somos alguém, que constituímos uma individualidade, e a psicologia não é aí nenhum guarda-roupa onde possamos trocar o nosso eu, como mudamos de camisa”.
Foi o fermento da modernidade francesa que se expandiu a partir da revolução de 1789 que possibilitou aos modernos brasileiros dos séculos XIX e XX a reivindicação de que a cosmovisão difundida a partir da França fosse considerada o único caminho possível ou desejável a todos os povos e culturas, expressão de progresso.
Foi sobre esse sedimento que se fez desaparecer os vestígios das origens coloniais da chamada cultura brasileira. Afinal, para o Brasil, a medida do moderno estava dada pelo espelho francês.

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

ATO FINAL: A DITADURA VENCIDA XIV

Superados os governos da ditadura, alguns fundadores do MDB de Sergipe afirmaram que esperavam um pouco mais daquilo que se convencionou chamar a Nova República:


eu, sinceramente, me decepcionei um pouco com a Nova República. Aquela luta toda de quase 20 anos, de 1966 a 1985, eu não gostei do que aconteceu logo depois. O MDB, que já era PMDB, foi invadido. Todo mundo que era da Arena aderiu, entrou pesado no PMDB. Eu não me agradei. Não foi o que eu sonhei[1].


Ao concordar com este tipo de avaliação, Benedito de Figueiredo afirma que toda a geração que se estabeleceu a partir do movimento estudantil na primeira metade da década de 60 do século XX terminou com um sentimento de vitória e também de frustração, porque a causa da vida de todos foi a luta contra a ditadura. E após derrotá-la, sonharam com outra realidade política, nem sempre igual àquele que aconteceu.


Eu cheguei a ser até infantil ao sonhar com Ulisses Guimarães na Presidência da República. Deu no que deu. Veio Tancredo, veio Sarney, vieram todas as decepções. E aí também nós passamos a integrar tudo isso e a fazer acordos e acertos em nome da política real. Acertos que antes nós condenamos, que não era a política com a qual nós sonhávamos[2].


Sob o entendimento de Benedito de Figueiredo faltou a Ulisses Guimarães, após a morte de Tancredo Neves, em abril de 1985, a coragem cívica, a determinação histórica que marcou toda a sua vida como líder político. “Como presidente do Congresso ele deveria ter assumido a Presidência da República para convocar novas eleições. Nas novas eleições ele deveria ser o candidato. Na verdade, Ulisses Guimarães aceitou uma grande e equivocada conciliação”[3].
A ditadura foi vencida pela sociedade brasileira, através do PMDB e das demais forças que se incorporaram a esse processo de luta em defesa da reorganização do Estado democrático. A ditadura se esvaiu em um processo lento e gradual, tal como previa o general Goulbery do Couto e Silva, sem que houvesse uma ruptura radical. Os que lutaram pela reorganização do Estado de Direito não tiveram forças para fazer tal ruptura. Quando se desmontou a ditadura, quase todos que estavam com os generais quiseram aderir ao PMDB.
Todavia, uma entrevista concedida em 1984 por José Carlos Teixeira, antes mesmo de tomar conhecimento de tudo que aconteceu, explica posições que foram posteriormente criticadas e é reveladora do estado de espírito que continuava a animar os líderes que em 1966 fundaram o MDB, ao afirmar que continuava mantendo o compromisso


com aquilo que abracei duas décadas atrás, o de liderar um processo de renovação das lideranças na vida pública sergipana. (...) Oposição nós continuamos. Somos uma oposição vigilante, mas uma oposição lúcida, não faremos nunca uma oposição fanática... (...) aos que farão a História de Sergipe, o meu verdadeiro pensamento, a minha posição é acima de tudo toda uma vida edificada e construída dentro de um processo de coerência e de afirmação, onde nunca tergiversei, onde nunca fiz concessões, onde nunca pude abraçar uma liderança orientada e administrada com vistas ao fanatismo. Eu entendo que oposição se faz, sim, em torno de idéias e em torno de programas, nunca contra homens, mas em favor da sociedade. As oposições sergipanas representam um retrato, um diagnóstico da vida nacional. Estas oposições em Sergipe terão, a partir de março do próximo ano, a responsabilidade de conduzir um programa que a nível federal o governador Tancredo Neves vai executar. É evidente que todo nosso trabalho tende a encontrarmos a via, o caminho, a luz que possa ser apresentada à sociedade sergipana com vistas às eleições de 1986. Até lá nós teremos que aparar as arestas e teremos que construir um pacto e este pacto terá que ser exercitado na base de concessões recíprocas, mas sem o desvirtuamento dos princípios fundamentais que norteiam nosso programa e os compromissos progressistas diante do povo sergipano. Mas acima de tudo fazendo questão de desaguarmos em 1986 assegurando, às correntes marxistas-leninistas a sua organização própria, o seu veículo de afirmação diante da sociedade, para que eles possam, difundindo as suas idéias, encontrar o respaldo ou a condenação da sociedade. Mas acima de tudo que eles sejam parte integrante do processo democrático que vai ser consolidado por Tancredo Neves e que permitirá que todas as correntes, sem nenhuma distinção, inclusive os fascistas e integralistas venham participar, sabendo que as suas opiniões serão respeitadas, que os seus direitos serão assegurados, que a liberdade de expressão e pensamento não serão jamais coibidos e que a censura desaparecerá de vez da terra brasileira[4].

[1] Cf. TEIXEIRA, Luiz Antonio Mesquita. Entrevista concedida a Jorge Carvalho do Nascimento no dia sete de junho de 2008.
[2] Cf. FIGUEIREDO, Benedito de. Entrevista concedida a Jorge Carvalho do Nascimento no dia 13 de agosto de 2008.
[3] Cf. FIGUEIREDO, Benedito de. Entrevista concedida a Jorge Carvalho do Nascimento no dia 13 de agosto de 2008.
[4] Cf. “Deputado José Carlos Teixeira – Tancredo está acima de Frente e do PMDB”. In: Jornal de Sergipe, Ano VII, nº 1.872, 3 de novembro de 1984. p. 6.

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

ATO FINAL: A DITADURA VENCIDA XIII

O grande ato em defesa da eleição de Tancredo Neves e das eleições diretas para Presidente da República em Sergipe foi o comício que aconteceu no dia 15 de dezembro de 1984, na praça Fausto Cardoso, a partir das 15 horas, em Aracaju, com a participação dos cantores Antonio Carlos Du Aracaju, Beto Guedes, Ednardo, Alcione e Fafá de Belém, dos conjuntos Bolo-de-Feira e Cataluzes e das principais lideranças do PMDB sergipano e de outros Estados à época: José Carlos Teixeira, Jackson Barreto de Lima, Seixas Dórea, Ulisses Guimarães, Hélio Garcia, Rosalvo Alexandre, Nathaniel Braia, Bosco Mendonça, Arnóbio Patrício de Melo, Leopoldo Souza, Nelson Araujo, Laonte Gama e Gilvan Rocha. Mas os antigos líderes governistas que assumiram a candidatura Tancredo Neves também discursaram: João Alves Filho, Albano Franco, Marco Maciel, Hugo Napoleão, Antonio Carlos Magalhães, Antonio Carlos Valadares, Lourival Baptista, José Tavares, José Moraes, Luis Cavalcante, Jorge Bornhausen, Djalma Lobo, Luciano Prado, José Valadares e José Sarney, este último candidato a vice-presidente na chapa de Tancredo Neves. Cerca de 50 mil pessoas estiveram presentes ao comício. Nada menos de 300 ônibus trouxeram pessoas de todos os municípios do interior do Estado para o comício de Aracaju.
Em todo esse processo, a estratégia do MDB era muito clara: conquistar a Presidência da República no Colégio Eleitoral e, uma vez no governo, regulamentar a escolha do Presidente da República através do voto direto.Foi muito grande a emoção dos brasileiros no dia 15 de janeiro de 1985, com a última eleição indireta realizada no Brasil. Por 480 votos contra 180, 17 abstenções e nove ausências, a chapa Tancredo Neves/José Sarney derrotou a chapa Paulo Maluf/Flávio Marcílio. Dos representantes de Sergipe no Colégio Eleitoral, votaram em Paulo Maluf os deputados federais Augusto Franco, Adroaldo Campos Filho, Celso de Carvalho e Francisco Rollemberg; os deputados estaduais Manoel Conde Sobral, Américo Alves e o senador José dos Passos Porto, todos do PDS. Tancredo Neves recebeu os votos dos senadores Albano Franco e Lourival Baptista (PDS); dos deputados federais Hélio Dantas (PDS), José Carlos Teixeira e Jackson Barreto de Lima (PMDB); e dos deputados estaduais Manoel Messias Góis, José Valadares, Francisco Vieira da Paixão e José Cleonâncio da Fonseca (PDS). O deputado federal Gilton Garcia (PDS) optou pela abstenção.
Porém, nem tudo aconteceu como planejado pelos peemedebistas. No dia 14 de Março, às vésperas da posse, Tancredo Neves foi internado apressadamente para tratar uma diverticulite, que mais tarde se descobriu era um tumor no intestino. A Presidência da República ficou com José Sarney, quadro que atravessou todo o período da ditadura exercendo o poder e até o momento no qual se transformou em aliado da oposição era presidente nacional do PDS. Tancredo Neves morreu no dia 21 de abril de 1985. O direito de escolher diretamente o presidente e o vice-presidente da República foi reconquistado pelos brasileiros a partir de 1989. Na primeira eleição direta para Presidente da República após o período da ditadura, Fernando Collor de Melo foi eleito, derrotando nomes como Luiz Inácio Lula da Silva, Ulisses Guimarães e Leonel Brizola.