terça-feira, 22 de setembro de 2009

O PRETÉRITO DO FUTURO: A ESCOLA E O RETROVISOR DAS NOVAS TECNOLOGIAS EDUCACIONAIS II

As tecnologias educacionais

Em língua portuguesa, o substantivo feminino TECNOLOGIA significa o conjunto de termos próprios a uma arte ou a uma ciência. O dicionário Michaelis o conceitua como conjunto de processos especiais relativos a uma determinada arte ou indústria; linguagem peculiar a um determinado ramo do conhecimento, teórico ou prático; aplicação dos conhecimentos científicos à produção em geral.
O debate sobre tecnologia não deve ter como ponto de partida, portanto, a idéia de novidade, mas sim a idéia de método, modo de fazer. Evidentemente, as novidades, aquilo que se poderia chamar inovação tecnológica, não se afasta da discussão. Chamo a atenção para o fato de que o moto central das discussões sobre tecnologia educacional deve ser não o das novidades, mas sim o do conhecimento técnico e científico, das ferramentas, processos e materiais uteis ao trabalho de transmitir conhecimento.
Quando a História da Educação se debruça sobre a História dos Métodos de Ensinar está rigorosamente tratando de tecnologia educacional. Trabalhos como os de Johann Comenius, realizados no século XVII, são excelentes manifestações de tecnologia educacional. Quando Lancaster apresentou a proposta do ensino mútuo, no século XIX, estava inaugurando uma tecnologia educacional revolucionária. Na verdade, o seu método, dentre outras coisas, estava substituindo as práticas de ensinar estudando em voz alta, decorando os textos, tecnologias até então consideradas válidas. Estava incorporando tecnologias que naquele momento eram amplamente utilizadas pelas escolas norte-americanas, inclusive as do ensino pelo método indutivo e do estudo silencioso, da leitura em voz baixa.
Quando, em 1890, o governador de São Paulo, Prudente de Moraes, solicitou a Horace Lane, diretor do Mackenzie College, que recrutasse um pequeno grupo de professoras norte-americanas para modificar o sistema educacional do Estado de São Paulo, estava promovendo uma radical alteração na tecnologia educacional brasileira que iria repercutir em todo o país. Tecnologia que se explicitou quando a professora Márcia Browne, de Boston, estabeleceu em São Paulo uma escola primária modelo que se tornou o núcleo de um sistema de âmbito estadual, baseado nas idéias e técnicas norte-americanas, conhecido no Brasil como grupo escolar. A tecnologia do grupo escolar dominou o cenário da política educacional brasileira durante toda a primeira metade do século XX e até o ano de 1971, quando a lei federal 5.692 sepultou o modelo da escola primaria brasileira e estabeleceu como base nacional o ensino fundamental de primeiro grau, em oito séries anuais.
A sociedade brasileira já havia adotado outros importantes avanços no uso das tecnologias educacionais no século XIX, quando, a partir do Rio de Janeiro, começou a incorporar os projetos de Jardim da Infância baseados na proposta formulada por Fröebel. Proposta animada a partir dos métodos intuitivos e naturais, atraindo a criança ao conhecimento e desenvolvimento das faculdades observadoras, sem fadigas, sem desgostos, sem estudos forçados, incorporando a autodisciplina a partir dos brinquedos.
Outro excelente exemplo é a incorporação pelos intelectuais brasileiros da área, na passagem do século XIX para o século XX, das propostas metodológicas das Lições de Coisas formuladas por Nicolas Calkins. Todas essas tecnologias educacionais são expressões de práticas educacionais que impressionaram e que foram vistas, em algumas situações, como a fórmula mágica e futurosa capaz de resolver todos os problemas sociais atinentes ao âmbito da política educacional.

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