domingo, 13 de setembro de 2009

ATO FINAL: A DITADURA VENCIDA X

Mais de três mil pessoas participaram da festa de instalação do Comitê, à rua Pacatuba. O ato foi um importante comício de campanha aberto com um discurso de José Carlos Teixeira e encerrado com um pronunciamento do deputado estadual Leopoldo Souza. Dentre outros oradores falaram o deputado estadual Laonte Gama, o presidente do Sindicato dos Bancários, Abraão Crispim, o vereador Bosco Mendonça e o vereador Rosalvo Alexandre[1].
Ainda no mês de julho, José Carlos Teixeira organizou uma caravana de políticos sergipanos que foi recebido em Belo Horizonte pelo próprio Tancredo Neves, declarando apoio à sua candidatura. As razões do seu entusiasmo com a possibilidade da eleição de Tancredo Neves para a Presidência da República estavam justificadas por José Carlos Teixeira num pronunciamento que fizera ainda no dia 13 de outubro de 1983 no plenário da Câmara dos Deputados:


Vivi as angústias de 1964, que seria o preço a pagar para eliminar da nossa vida política e administrativa a subversão e a corrupção só que a corrupção e a subversão não foram eliminadas. Elas estão aí latentes, reprimidas quando não se permite a livre organização da sociedade, não surgiram lideranças, não se vitalizou a Universidade, não se politizaram os jovens. A fome, a marginalidade social, o empobrecimento dos trabalhadores são componentes cujas resultantes serão novas subversões que cabe antever e evitar, para consolidar a abertura política e construir nossa democracia. A corrupção cresceu e ocupa hoje imensos espaços na vida brasileira de que falam os jornais, os rádios e a televisão, a sociedade enfim. A evidência é forte para que se conclua da necessidade do Congresso com poderes, imprensa livre e Judiciário forte e autônomo, pilares da construção democrática para a qual se convocam num verdadeiro mutirão todos os componentes da nossa sociedade civil de modo a que, sonhamos talvez, ela seja, em breve, a própria sociedade política[2].

As atividades de campanhas foram intensas e tumultuadas, em face da reação dos grupos que apoiavam a candidatura de Paulo Maluf, como o presidente da Assembléia Legislativa do Estado de Sergipe, Manoel Conde Sobral, que proibiu o uso das instalações do Poder Legislativo, no início de outubro, para o lançamento das atividades do Comitê Estadual de Apoio a Tancredo Neves. O embate era duro e mesmo com todas as mudanças no cenário político e com o fim da ditadura se aproximando, eventualmente os militantes políticos ainda eram presos por manifestações de protesto contra o candidato do regime. No dia 28 de janeiro de 1984, Frederico Romão, presidente do diretório acadêmico do Centro de Ciências Exatas e Tecnológicas da Universidade Federal de Sergipe; Luciene Cruz, secretária geral do Diretório Central dos Estudantes; e Tânia Soares, presidente da Ala Jovem do PMDB, e, ligados ao PC do B, foram presos enquanto pichavam frases de protesto contra Paulo Maluf. As prisões foram determinadas pelo governador do Estado, João Alves Filho, e pelo presidente da Assembléia Legislativa, Manoel Conde Sobral. Eles tentavam evitar atos de hostilidade contra a visita do candidato do PDS, Paulo Maluf, a Aracaju, programada para o dia 26 de fevereiro. Os estudantes denunciaram que a polícia tentou amedrontá-los. Os plantonistas da Segunda Delegacia Metropolitana não permitiram que eles telefonassem para nenhum advogado. O vereador Rosalvo Alexandre ficou sabendo da prisão, por intermédio de pessoas que testemunharam o fato, e comunicou ao advogado Antonio Jacintho Filho, presidente do Diretório Municipal do PMDB de Aracaju que providenciou a libertação dos estudantes.

[1] O deputado federal Jackson Barreto deixou de comparecer por se encontrar em São Paulo acompanhando a sua irmã, Eliene Barreto, submetida a uma cirurgia em face de um aneurisma cerebral. Cf. Gazeta de Sergipe, Ano XXIX, nº 7.798, 28 e 29 de outubro de 1984. p. 5.
[2] Cf. Jornal de Sergipe, Ano VI, nº 1570, 16 e 17 de outubro de 1983. p. 3.

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