quarta-feira, 2 de setembro de 2009

EM BUSCA DO ESTADO DEMOCRÁTICO V

O debate que se formou em torno da redemocratização do Brasil estimulou a bancada da oposição no parlamento estadual sergipano a colocar em pauta a discussão a respeito da reorganização da UNE, a União Nacional dos Estudantes, em 1979, quase 11 anos depois do malogrado Congresso de Ibiuna. O tema foi levantado por Jonas Amaral, ao sugerir que a Assembléia Legislativa do Estado de Sergipe enviasse dois observadores ao Congresso que aconteceu em Salvador, a partir do dia 29 de maio, com o objetivo de reorganizar a instituição. A Assembléia rejeitou a proposta do deputado emedebista que, todavia, leu em plenário uma “Carta Aberta” dos estudantes de Sergipe. Além do debate levantado no parlamento estadual, também na Câmara Municipal de Aracaju o vereador Genelício Barreto hipotecou solidariedade aos estudantes. De todo modo, causou estranheza à bancada do MDB e repercutiu muito mal na Câmara de Aracaju e na Assembléia Legislativa o fato de, no mesmo dia da abertura do Congresso, as polícias Militar do Estado de Sergipe e Rodoviária Federal fazerem blitz na saída da cidade de Aracaju. Os policiais pararam todas as kombis que passavam transportando estudantes, pedindo a identificação de cada um deles. A delegação sergipana tinha 66 estudantes que viveram as tensões do encontro desde a saída da capital sergipana e durante todo o evento. “Segundo um dos participantes, apagaram a luz, jogaram pó de vidro no ambiente dos debates, entre outras hostilidades”[1].
No início da década de 80, a numerosa bancada que o PMDB mantinha na Câmara Municipal de Aracaju permitia que os parlamentares do partido formulassem propostas que alguns anos antes eram impensáveis, como a homenagem ao líder comunista Robério Garcia, por ocasião da sua morte em 1983, que o vereador Rosalvo Alexandre propôs e o plenário daquele parlamento aprovou.
No exercício do mandato, em 1984, o deputado Jackson Barreto tomou a iniciativa de homenagear, na Câmara Federal, os 11 anos do assassinato do presidente do Chile, Salvador Allende. Ele destacou o ocaso do regime do general Augusto Pinochet como um sintoma de que a América Latina começava a se libertar definitivamente do jugo militarista, à época já banido da Argentina, do Peru e da Bolívia e em fase final no Uruguai. Numa posição articulada pela bancada do partido para colocar em evidência as lutas contra as ditaduras militares no continente, o vereador Bosco Mendonça também se manifestou sobre o mesmo tema, no plenário da Câmara Municipal de Aracaju. Mendonça pediu um minuto de silêncio em homenagem ao ex-presidente do Chile, lembrando duas de suas últimas frases: a primeira sobre a questão do voto preventivo, quando Allende enfatizou que jamais abandonaria a Constituição do seu país; e, a segunda a propósito do oferecimento de exílio político, quando o ex-presidente chileno afirmou ser detentor de um mandato popular e dever explicações ao povo do seu país. Bosco Mendonça lembrou ainda o grande sofrimento que os chilenos enfrentaram após a morte de Salvador Allende, com a ditadura que se instalou no país.
[1] Cf. DANTAS, Ibarê. A tutela militar em Sergipe, 1964/1984: partidos e eleições num Estado autoritário. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1997. p. 264.

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