terça-feira, 29 de setembro de 2009

A ALA JOVEM DO MDB

O Partido Comunista influenciou muito o Movimento Democrático Brasileiro, principalmente quando o MDB decidiu fundar a sua Ala Jovem. Em Sergipe, a Ala Jovem foi reconhecida pela direção emedebista, que não apenas aceitou a veiculação das teses dos militantes do PCB, mas também criou os meios para que estas fossem publicadas e entrassem em circulação. Criada institucionalmente em agosto de 1974, a Ala Jovem marcou a sua estréia com um comício na praça Camerino. Todavia, um grupo que se denominava Ala Jovem já atuava no MDB desde 1970. O grupo foi visto como importante para a renovação dos quadros partidários, não obstante alguns intelectuais, como o jornalista Ariosvaldo Figueiredo, insistirem em publicar artigos na imprensa ridicularizando a juventude emedebista. Institucionalizada, a Ala Jovem encontrou o seu núcleo central na turma que ingressou na Faculdade de Direito em 1973: Carlos Alberto Menezes, Luciano Oliveira, Francisco de Assis Dantas, Nilton Vieira Lima, Elias Pinho de Oliveira e Walter Dias Calixto. Carlos Alberto Menezes foi eleito presidente e Elias Pinho vice-presidente da Ala Jovem.
À época havia crescido no MDB um debate acerca da militância jovem, estimulado principalmente a partir do Rio Grande do Sul, do Paraná e do Rio de Janeiro. Tal debate ganharia cada vez maior importância nos anos seguintes. Muitos líderes da oposição estavam preocupados com o que identificavam como um crescente desinteresse da juventude universitária pela participação na vida dos partidos políticos após a reforma partidária de 1966. Em Aracaju, o noticiário do Jornal da Cidade à época afirmava:


A questão – para muitos dos mais experimentados políticos brasileiros – se reflete na seleção de candidatos novos a postos eletivos, como correu em 1970 nas eleições para o Legislativo carioca, quando 80% dos candidatos de ambos os partidos eram nomes da velha tradição política. As direções regionais dos partidos enfrentam grande dificuldade em adotar medidas eficazes e práticas que viriam facilitar a atração da juventude universitária em torno das agremiações partidárias. (...) Para o vice-presidente do MDB carioca e procurador do Partido junto ao Tribunal Regional Eleitoral, Sr. Flávio Preto, a agremiação está procurando desenvolver planos e programas para atrair ao seu seio a classe estudantil[i].


No exercício do seu primeiro mandato como deputado estadual, em 1975, Jackson Barreto foi um grande entusiasta e responsável pela articulação de algumas atividades da Ala Jovem do MDB, a exemplo do Ciclo de Debates sobre Política Brasileira, aberto na noite do sábado, 14 de junho de 1975, no plenário da Assembléia Legislativa. A conferência de abertura foi proferida pelo deputado federal Laerte Vieira, líder do partido na Câmara e representante do Estado de Santa Catarina. O mesmo ciclo promoveu uma conferência do ex-senador do MDB baiano Josaphat Marinho, no dia 25 de agosto, com o tema “Problemas institucionais”. Em setembro foi a vez do senador Alencar Furtado falar sobre “Empresas multinacionais”. Na mesma direção, em 1977 o deputado Jackson Barreto ajudou a Ala Jovem a organizar um seminário na Assembléia Legislativa com a participação do líder do MDB em Pernambuco, deputado Roberto Freire. A palestra teve como tema “A Constituição como solução para o atual impasse”
Mas, além de promover palestras e seminários, a Ala Jovem também mantinha uma ação política efetiva e se manifestou em diversas ocasiões, como no episódio da expulsão dos estudantes da Universidade de Brasília, em 1977:


O Setor Jovem Estadual do Movimento Democrático Brasileiro de Sergipe, face aos últimos acontecimentos que culminaram com a expulsão e suspensão de 64 estudantes da Universidade de Brasília, por ato do capitão de fragata atual reitor daquela instituição de ensino, vem a público manifestar o seu total repúdio às práticas reiteradas de arbitrariedades contra a liberdade de manifestação da juventude estudantil, ao tempo em que se solidariza com os colegas vítimas dos instrumentos de exceção em vigor, reafirma a sua crença nos ideais e princípios sagrados que norteiam e iluminam os caminhos da democracia.
Em particular registramos o nosso apoio e solidariedade ao nosso companheiro Agamenon Araujo Souza, membro do Diretório Estadual do MDB/SE e estudante daquela universidade, unido como tantos colegas arbitrariamente pelos repressores da livre manifestação de pensamento, direito inalienável à pessoa humana.
Somos da opinião de que a aplicação de tal ato repressivo, ao invés de aproximar os diversos segmentos da sociedade brasileira, tende tão somente a acobertar os extremistas que procuram obstruir o processo de redemocratização do país, coisa que tanto anseiam todos os democratas e estudantes brasileiros.
Aracaju, em 21 de julho de 1977
Antonio Fernando T. Santana
Presidente[ii]


A Ala Jovem emedebista se constituiu num grupo tão importante, que, depois de Aracaju, vários diretórios municipais do partido organizaram seções da Ala Jovem nos respectivos municípios. A primeira iniciativa dessa natureza foi tomada em Itaporanga d’Ajuda, em janeiro de 1976, sob a liderança de Mário Jorge Oliveira. Logo depois, em fevereiro, foi a vez do município de São Cristóvão.
De acordo com Jackson Barreto de Lima, muitas filiações de jovens foram movidas pela indignação cívica, pelo sentimento de revolta contra a ditadura, muito forte dentre os jovens que votaram em Seixas Dórea para governador, em 1962:


Tínhamos aquela mágoa, aquele ressentimento de ter visto o nosso governador deposto, o governador que foi eleito com tanta esperança na mudança política para o nosso Estado. Nós ainda não tínhamos formação ideológica, a gente era contra aquele regime militar, o golpe que tirou Jango, o presidente da República, o vice-presidente eleito democraticamente[iii].


Muitas vezes, a estratégia de atrair a juventude foi utilizada também para possibilitar a organização do partido em importantes concentrações do interior do Estado, uma vez que as lideranças mais consolidadas, em face dos interesses que defendiam, terminavam optando pela filiação à Arena. Há exemplos que ajudam na compreensão desse tipo de dilema, como a reorganização do diretório do MDB em Itabaiana, no ano de 1975. Com dificuldade para identificar nomes de líderes locais dispostos a empalmar a responsabilidade, José Carlos Teixeira encontrou no jovem bancário Abrahão Crispim de Souza o nome adequado para a tarefa, conforme ele mesmo relata:


Fui convidado por José Carlos Teixeira a fundar o diretório do partido na cidade de Itabaiana. Eu era um rapazinho. Como candidato a prefeito, obtive apenas 105 votos. O eleito foi Antônio Telles, filho de Chico de Miguel, ficando Fernando Mendonça, ARENA 2, em segundo lugar[iv].


De um modo geral, a mobilização da juventude foi um dos elementos agregadores da maior importância para as principais lideranças do MDB. Por isto, esse tipo de trabalho entusiasmou tanto a políticos experientes como José Carlos Teixeira, quanto a lideranças que emergiram do movimento de juventude do partido, a exemplo do próprio Jackson Barreto. “Particularmente, José Carlos Teixeira era muito carinhoso na relação que mantinha com os militantes do MDB. Ele era algo meio paternal. Tinha o vício de todo e qualquer conselheiro, que era de apontar os caminhos que serviam a ele particularmente”[v]. Para que se avalie, a prioridade dada aos jovens pelo MDB, no ano de 1975 o partido desenvolveu em Sergipe um trabalho, com base no seu programa de expansão, para criar departamentos jovens nos diretórios municipais do MDB. No caso aqui citado do município de Itabaiana, o diretório do partido foi reorganizado basicamente com militantes do movimento de juventude. No mesmo ano, o MDB de Sergipe mandou um grupo de jovens para Salvador a fim de participar de uma conferência proferida pelo senador emedebista pernambucano Marcos Freire sobre a participação da juventude no partido.
Em Aracaju, no primeiro quadrimestre do mesmo ano, o MDB filiou mais de 250 jovens estudantes secundaristas e universitários ao partido. No mês de abril, os jovens militantes Carlos Alberto Menezes, Agamenon de Araujo Souza e Francisco Augusto Ramos participaram do Primeiro Congresso Nacional da Juventude Emedebista Brasileira, acompanhados do deputado Jackson Barreto e do vereador Jonas Amaral, realizado em Porto Alegre[vi]. O primeiro movimento jovem do MDB a ser institucionalizado no país foi o do Rio Grande do Sul. O de Sergipe foi o segundo. Em junho de 1975, o deputado federal Laerte Vieira, do Rio Grande do Sul, líder do partido na Câmara, fez uma conferência organizada pela Ala Jovem, no plenário da Assembléia Legislativa do Estado de Sergipe. O fascínio era deste modo recíproco. A juventude encantava as lideranças do MDB, da mesma maneira que o partido atraía os jovens interessados na luta política:


O MDB era o único partido legal existente que resistia à ditadura. O país estava organizado partidariamente em dois blocos: de um lado, a Arena, e do outro o MDB. Os ícones que atraiam a juventude estavam no MDB: Nelson Jobim, Danton Jobim, Nelson Weneck Sodré, Ulisses Guimarães, Mário Covas, José Carlos Teixeira, Jackson Barreto, Franco Montoro, Gilvan Rocha. Eu comecei a participar ativamente da vida política, trabalhando para ajudar o MDB, mesmo sem ser filiado, nas eleições de 1974[vii].


A Ala Jovem continuou a ser um grupo dos mais ativos do partido e no início da década de 80 foi reorganizado. No início do mês de setembro de 1981 o deputado federal Jackson Barreto organizou um evento no auditório da Associação Sergipana de Imprensa para instalar a ala jovem do PMDB, após a reforma partidária que transformou o MDB em Partido do Movimento Democrático Brasileiro. A festa contou com a participação do presidente da Executiva Nacional do PMDB Jovem, David Lobão; do secretário geral da União Nacional dos Estudantes, Luiz Falcão; e do presidente do PMDB Jovem da Bahia, Luiz dos Santos. Durante a solenidade discursaram os principais dirigentes do PMDB em Sergipe, como Seixas Dórea e José Carlos Teixeira. A fim de mobilizar a juventude de Sergipe para a festa, o deputado Jackson Barreto e David Lobão passaram todo o dia cinco de setembro visitando as salas de aula da Universidade Federal de Sergipe. À época, o PMDB Jovem de Sergipe tinha Lealdo Feitosa como presidente.


[i] Cf. “Renovação Política”. In: Jornal da Cidade, Ano II, nº 313, 20 de março de 1973. p. 2.
[ii] Cf. “Jovem do MDB protesta”. In: Gazeta de Sergipe, Ano XXI, nº 5.780, 26 de julho de 1977. p. 3.
[iii] Cf. LIMA, Jackson Barreto de. Entrevista concedida a Jorge Carvalho do Nascimento no dia 17 de maio de 2008.
[iv] Cf. SANTOS, Osmário. Memória dos políticos de Sergipe do século XX. Aracaju: Gráfica e Editora J. Andrade, 2002. p. 35.
[v] Cf. MENEZES, Carlos Alberto. Entrevista concedida a Jorge Carvalho do Nascimento no dia 12 de setembro de 2008.
[vi] Cf. Jornal da Cidade, Ano IV, nº 929, 29 de abril de 1975. p. 2.
[vii] Cf. MENEZES, Carlos Alberto. Entrevista concedida a Jorge Carvalho do Nascimento no dia 12 de setembro de 2008.

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