quarta-feira, 9 de setembro de 2009

ATO FINAL: A DITADURA VENCIDA VI

A idéia da candidatura de Tancredo Neves no Colégio Eleitoral encontrou importantes resistências na opção. O Partido dos Trabalhadores decidiu que não apoiaria a ida de Tancredo Neves ao Colégio eleitoral, por discordar da eleição indireta. Esta decisão provocou uma dissidência no PT de Sergipe, liderada por Marcélio Bonfim, ex-presidente do Diretório Regional do partido. Em Manifesto que publicou no dia 17 de agosto, o grupo dissidente esclareceu sua posição:


Os membros do Partido dos Trabalhadores em Sergipe abaixo assinados, resolveram em comum acordo e de forma democrática não acatarem a posição atual do partido na questão da sucessão presidencial. Pelas razões que abaixo enumeramos passamos a partir desse momento a dar o nosso apoio à Aliança Democrática:
1 – Impossibilidade política de continuação da luta pelas Diretas Já sem a colaboração de outros partidos. No último comício organizado pelo PT em São Paulo com tal finalidade compareceram cerca de 200 pessoas.
2 – Falta de alternativa política clara e viável de parte do PT, no que se refere à sucessão presidencial, a não ser o argumento ético de abstenção no Colégio Eleitoral pela sua ilegitimidade, como se ilegítimo não fosse todo o sistema imposto a partir de 1964.
3 – Pelo aumento das possibilidades de que, com a nossa participação, os pontos programáticos da Aliança Democrática de grande interesse para a classe trabalhadora, como a convocação de uma Assembléia Nacional Constituinte, eleições livres e diretas, livre organização partidária, liberdade e autonomia sindical, volta do crescimento econômico, renegociação da dívida externa, reforma do BNH e da Previdência Social, programa de emergência contra a miséria, a fome e o desemprego, etc. venham a ser cumpridos em toda a sua extensão.
4 – Por ser a Aliança Democrática, no momento, a única forma viável de se combater a ascensão do fascismo no país, representado na grotesca figura do Senhor Paulo Salim Maluf.
5 – Por ser a Aliança Democrática a única forma de estabelecermos um governo de transição que, de um lado diminuiria os riscos de retrocesso, do outro possibilitaria um aprofundamento da organização das classes populares na busca de uma sociedade democrática, justa e igualitária.
Por entendermos que os homens fazem sua própria história, mas não a fazem como querem, não a fazem sob circunstâncias de sua escolha e sim sob aquelas com as quais se defrontam diretamente e que política só se faz transformando as idéias em forças sociais e não preservando-as na sua pureza inconseqüente é que passamos a assinar esse documento de apoio ativo à Aliança Democrática na sucessão presidencial[1].

A candidatura de Tancredo Neves se tornou mais forte e viável com a Nota Oficial publicada por um grupo de governadores, em junho de 1984, durante reunião realizada em São Paulo, defendendo eleições diretas e poderes constituintes ao Congresso a ser eleito em 1986. O documento tinha as assinaturas de Gilberto Mestrinho (Amazonas), Jáder Barbalho (Pará), Wilson Martins (Mato Grosso do Sul), Tancredo de Almeida Neves (Minas Gerais), Gerson Camata (Espírito Santo), Leonel Brizola (Rio de Janeiro), Franco Montoro (São Paulo), Nabor Junior (Acre), Iris Resende (Goiás) e José Richa (Paraná). Tancredo Neves foi governador do Estado de Minas Gerais e era um político de larga tradição na vida brasileira, desde que ocupou o cargo de ministro do Presidente Getúlio Vargas, na década de 50. Nos anos 60, durante a malograda experiência parlamentarista brasileira, Tancredo exerceu o cargo de primeiro ministro. “Para o tipo de jogo político que se colocava na época, Tancredo era o mais bem equipado”[2].

[1] Cf. “Grupo do PT apóia a candidatura Tancredo”. In: Jornal de Sergipe, Ano VII, nº 1.809, 18 de agosto de 1984. p. 3.
[2] Cf. YUDENITSCH, Natália. “Diretas Já Já: maior mobilização política do país se esvai no Congresso”. In: Aventuras na História: Ditadura no Brasil – Tudo sobre o regime militar de 1964 a 1985. São Paulo: Editora Abril, 1984. p. 75.

Nenhum comentário:

Postar um comentário