quarta-feira, 30 de setembro de 2009

GRUPO ESCOLAR E ESCOLA SERIADA

O Grupo Escolar Modelo, criado em 1910 e inaugurado em 1911 na cidade de Aracaju, foi a primeira instituição dessa natureza a funcionar em Sergipe. Anexo à Escola Normal, foi pensado como campo de aplicação para as normalistas e deveria regular o funcionamento dos demais grupos escolares. O Grupo Escolar Central foi inaugurado no mesmo ano e três anos depois ganharia nova denominação: Grupo Escolar “General Siqueira”. Em 1925, o grupo mudou de endereço e o seu edifício passou a abrigar o Quartel da Polícia Militar do Estado de Sergipe.
Em 1917 foi a vez da inauguração do Grupo Escolar Barão de Maroim, edificado sobre os alicerces do antigo “Asylo Nossa Senhora da Pureza”, localizado na Avenida Barão do Rio Branco, no bairro Presidente Inácio Barbosa (atual São José). O asilo fora criado por um grupo de homens, liderados por João Gomes de Mello, o Barão de Maroim. Este doou o terreno para que fosse construído o edifício, em 1874.
O Grupo Escolar General Valadão foi inaugurado em 1918. O seu primeiro edifício estava situado à praça Pinheiro Machado[i], à época importante zona de expansão residencial da cidade.


A sua construção deveu-se à iniciativa particular. Os sócios do extinto Comício Agrícola, uma associação de proprietários de terra existente desde o Império, destinaram à construção de uma escola os recursos da Associação. O jornal Correio de Aracaju ampliou a idéia, numa campanha de donativos para um Grupo que deveria denominar-se “Gal. Valladão” homenageando o chefe político e presidente do Estado. Porém, quando já tinha sido iniciada a construção do prédio, para que esta fosse terminada dentro de um menor espaço de tempo e também pela grande exigência de recursos financeiros para atender às proporções da obra, os promotores do projeto resolveram doá-lo ao Governo, que se responsabilizou pela conclusão do empreendimento[ii].


As inaugurações de grupos escolares seriam retomadas seis anos depois. Em 1924 foi a vez do Grupo Escolar Manoel Luiz; em 1925, o Grupo Escolar José Augusto Ferraz.
Como nos demais Estados, em Sergipe, o projeto de implantação dos grupos escolares foi articulado ao discurso da modernização pedagógica. O interesse que as reformas educacionais despertaram deixou muitos vestígios na educação do Estado de Sergipe. Foram construídos vários grupos escolares em Sergipe, quase todos em Aracaju: o Modelo, anexo à Escola Normal; o Central; o Barão de Maroim; o General Valadão; Aracaju: o Modelo, anexo à Escola Normal; o Central; o Barão de Maroim; o General Valadão; o Coelho e Campos[iii]. Até o final da década de 20 dos anos 900 estavam funcionando no Estado quatorze grupos escolares: cinco na capital e nove nas principais cidades do interior. Em 1912, foi reorganizada a direção da instrução pública estadual, com a divisão do Estado em cinco distritos, para fins de inspeção do ensino primário.
O projeto de implantação dos grupos escolares entusiasmou lideranças políticas e intelectuais sergipanas e, como em São Paulo e nos demais Estados a proposta era tida como a solução para o problema das escolas isoladas:


São justamente os grupos escolares que podem fomentar com segurança os progressos da instrucção popular. O ensino isolado é trabalhoso, requer duplicado esforço do professor e não poucas vezes deixa as coisas em meio caminho. Não quero dizer que se pense em acabar de vez com o ensino isolado, pois este se impõe, por enquanto, na maioria das casas, mas que a creação de grupos é uma necessidade, onde quer que se possam reunir pelo menos seis escolas[iv].


Esse relatório demonstra a preocupação com a criação de grupos, sem negar a permanência das escolas isoladas. Isso pode ser compreendido, uma vez que a construção de grupos exigia muitos gastos. O alto custo das obras dos grupos era devido a sua monumentalidade. Os prédios eram grandiosos e ficavam nas proximidades do centro das cidades.


Os relatórios dos presidentes do Estado como fonte para o estudo da escola seriada


A política de implantação dos grupos escolares em Sergipe ganharia mais clareza a partir do mês de setembro de 1911. Naquela data, uma Mensagem encaminhada à Assembléia Legislativa pelo presidente do Estado, José Rodrigues da Costa Dória, fazia uma análise do quadro educacional sergipano e apontava o modelo dos grupos escolares como o ideal para a reforma da instrução pública que se propunha a empreender[v].


A inspeção escolar


Quando chegou a Sergipe, em 1909, a convite do presidente do Estado, Rodrigues Dória, para reorganizar a instrução pública sergipana, o professor Carlos da Silveira, que em São Paulo dirigia o Grupo Escolar da Avenida Paulista, propôs um plano que previa, além da construção de grupos escolares, a organização do serviço de inspeção escolar ao lado da adoção dos novos métodos de ensino e da remodelação dos ensinos normal e secundário. O projeto Carlos da Silveira sofreu alguns ajustes em 1912, quando foi reorganizada a direção da instrução pública estadual, com a divisão do Estado em cinco distritos, para fins de inspeção do ensino primário.
Em Sergipe, Carlos da Silveira conheceu o médico Helvécio de Andrade, entusiasta da estatística educacional eduas vezes diretor da instrução pública: a primeira, no período de 1913 a 1918 e, a segunda, de 1930 a 1935. Delegado fiscal do governo federal junto ao Atheneu Sergipense e professor e diretor da Escola Normal, onde trabalhou como lente das cadeiras de História Natural, Pedagogia, Pedologia, Higiene Escolar e Ciências Físicas e Naturais, Helvécio de Andrade dirigiu, em Sergipe, a Associação Brasileira de Educação. O seu entusiasmo com a inspeção escolar teve início quando ele trabalhou em Santos, no Estado de São Paulo, como Inspetor Geral da Educação, na última década do século XIX, antes de transferir-se para Sergipe.
Helvécio de Andrade assumiu a responsabilidade de implementar a reforma de 1912, mas sofreu muitas críticas em face do modelo que adotou. Um grave problema apontado era o fato de os inspetores do ensino responsáveis pelo acompanhamento do trabalho nos grupos escolares não estarem diretamente ligados ao gabinete do diretor da Instrução Pública, mas sim lotados em inspetorias regionais instaladas em diferentes municípios.


A inspeção do ensino perdeu, em grande parte, a influencia na organização técnica e administrativa da escola. Os inspetores são agentes que atuam na escola como orientadores do método e como fiscais de conduta legal dos professores. A sua eficiência na primeira fase da reforma foi notável. Depois, a frouxidão, a exceção, o desvirtuamento, o quase abandono, por culpa dos que desmandaram ou não sabem mandar. A distribuição de inspetores por sedes fixas, colocando-os fora do contato direto da direção geral, pondo-os, a vontade, livres de trabalhar como e quando quiserem, ou de nada fazerem, inutilizou tudo o que se conseguiu no começo (1911-1913). Escolas não visitadas e práticas não examinadas são coisas que não substituem a tendência para o descanso, a indisciplina e o abandono. Os inspetores deverão residir na capital e daí partirem para a inspeção com roteiros determinados, em tempo prefixado[vi].



A nova orientação da Diretoria da Instrução Pública fez com que, a partir da segunda metade dos anos 20 se intensificasse a atuação de inspetores de ensino como Antonio Xavier de Assis, José Augusto da Rocha Lima e José de Alencar Cardoso, orientando os professores através de reuniões que buscavam difundir os princípios e métodos do ensino ativo, as excursões pedagógicas, a Pedagogia de Decroly e os novos procedimentos de aprendizagem da leitura e da escrita.


A estatística educacional


A expansão da escola graduada no Estado de Sergipe fez com que o Estado buscasse qualificar as informações estatísticas que produzia e as transformasse em importante ferramenta de planejamento e controle das práticas escolares. Na década de 30, o interventor de Sergipe mandou buscar um técnico em São Paulo, com o objetivo de dirigir o serviço de Estatística do Estado: João Carlos de Almeida. A sua mulher, Amália Ricci de Almeida assumiu a responsabilidade pela execução dos serviços de estatística educacional[vii].



[i] Atualmente, praça Tobias Barreto.
[ii] Cf. AZEVEDO, Crislane Barbosa de. 2003. “General Valladão” : 85 anos de história em Aracaju. In: Jornal da Cidade. Aracaju, 11 de setembro. Caderno B – Cidades. B-6.
[iii] Instalado no município de Capela, foi o primeiro grupo escolar que funcionou no interior do Estado de Sergipe, em 1918.
[iv] Cf. ASSIS, Antônio Xavier de. 1919. Relatório apresentado a Diretoria de Instrução Pública de Sergipe pelo inspetor escolar Antônio Xavier de Assis. Estado de Sergipe, 18 de janeiro. p. 5.
[v] Cf. SERGIPE. Decreto 563, de 03 de agosto de 1911.
[vi] Cf. ANDRADE, Helvécio de. 1926. Instrução Pública: necessidade de uma regulamentação definitiva dos ensino primário e normal. Relatório apresentado ao exmo sr. dr. Cyro de Azevedo, D. Presidente do Estado. Em novembro de 1926. Aracaju, Typ. do Sergipe Jornal. p. 4.
[vii] Cf. BARRETO, Luiz Antônio. 2003. “Uma ponte chamada Eugenia”. In: Gazeta de Sergipe. Aracaju, 24 de junho. p. 3.

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