sábado, 19 de setembro de 2009

O ENSINO SUPERIOR DE QUÍMICA EM SERGIPE

Maurício Graccho Cardoso governou Sergipe no período de 1923 a 1926. Poucos sergipanos sabem que o Instituto de Química Industrial de Sergipe, atualmente Instituto de Tecnologia e Pesquisas, foi fundado por ele em julho de 1923, logo após a criação do Instituto de Pesquisas Tecnológicas, em São Paulo, e do Instituto Nacional de Tecnologia – INT, no Rio de Janeiro. Em certa medida, fora surpreendente o anúncio da criação do Instituto de Química Industrial de Sergipe, uma vez que naquele momento o Governo Federal havia acabado de anunciar que suprimiria a subvenção concedida às nove escolas de Química que foram criadas por lei em 1919.
O Instituto de Química industrial de Sergipe buscava contribuir para com o aperfeiçoamento da indústria do açúcar – principal fonte da riqueza no Estado nas primeiras décadas do século XX. A crença era de que o aumento da produção estava diretamente relacionado ao conhecimento da composição do solo, à melhoria do cultivo da planta e ao controle químico da produção em laboratório. No ano de 1923, eram muitas as evidências reveladoras de que a indústria açucareira do Brasil vinha perdendo espaço para os produtores de Cuba e do Havaí. A maior parte dos engenhos em funcionamento necessitava de modernização. Em Sergipe tal necessidade era vista como grave problema econômico.
O Instituto de Química Industrial oferecia um curso de três anos de nível superior destinado a preparação de técnicos para a indústria açucareira, a exploração do sal, a preparação do couro e o aproveitamento das plantas oleaginosas.
Quando o presidente do Estado de Sergipe, Maurício Graccho Cardoso, criou o Instituto de Química Industrial já estava consolidada a consciência de que a Química, ao lado da Biologia, da Física e da Matemática, constituía o campo disciplinar legitimador dos paradigmas e dos conceitos de outros campos da ciência, como a Medicina. Esta função, a Química adquirira ao mesmo tempo em que se legitimara, durante a segunda metade do século XIX, como ferramenta fundamental ao desenvolvimento da indústria. Por isto, se considerava importante formar “químicos analistas capazes de orientar (...) os laboratórios e as indústrias” (Cf. GUIMARÃES, Archimedes Pereira. Exposição de motivos apresentada ao presidente do Estado, Maurício Graccho Cardoso, em 27 de junho de 1923, pelo diretor do Instituto de Química Industrial de Sergipe, Archimedes Pereira Guimarães. Aracaju, 1923). Assim é que o Instituto, ao ser implantado tinha dois grandes objetivos definidos: a manutenção de laboratórios para análises dos problemas químicos ligados aos produtos agrícolas e industriais; e, a formação de químicos analistas. O decreto do presidente do Estado, Maurício Graccho Cardoso, que criou a nova instituição afirmava que “a química é uma ciência que se prende a todos os ramos do saber universal, e como tal, dela dependem as indústrias de maior relevância para o homem”.
Quando da instalação do Instituto, o presidente Graccho Cardoso convidou o professor Archimedes Pereira Guimarães para implantá-lo, na condição de primeiro diretor. Ele era, então, Professor de Química Orgânica e Instrumental do Curso de Química Industrial da Escola Politécnica da Bahia. Archimedes Guimarães chegou apresentando, como seu auxiliar, Antônio Tavares de Bragança, sergipano, farmacêutico químico formado no mesmo ano de 1923 na Faculdade de Medicina e Farmácia baiana. Depois que Archimedes regressou para a Bahia, em 1926, foi Antônio Tavares de Bragança que o substituiu e deu continuidade ao seu trabalho.
Em Sergipe, Archimedes defendeu que o novo Instituto de Química Industrial deveria “exercer a missão superior e delicada que lhe seria destinada, e não deveria preocupar-se com todos os problemas agrícolas e industriais que poderiam vir a ser uma fonte de riqueza para o Estado, mas tão somente em incentivar a produção daquelas matérias primas já em exploração e comércio, melhorando-as quer no estado bruto, quer como produtos acabados, de acordo com os modernos ensinamentos científicos” (Cf. GUIMARÃES, Archimedes Pereira. Exposição de motivos apresentada ao presidente do Estado, Maurício Graccho Cardoso, em 27 de junho de 1923, pelo diretor do Instituto de Química Industrial de Sergipe, Archimedes Pereira Guimarães. Aracaju, 1923).
De acordo com o seu entendimento, o Instituto deveria priorizar a análise de produtos agrícolas e industriais que fossem já objeto de comércio, além da formação de novos profissionais dedicados à análise de produtos químicos. No que dizia respeito a indústria açucareira, Archimedes Guimarães defendia a necessidade de selecionar sementes para o plantio da cana.
A instituição foi instalada inicialmente em um edifício situado à rua Duque de Caxias, na cidade de Aracaju. O equipamento, o mobiliário e os insumos foram adquiridos em São Paulo, no Rio de Janeiro e importados da Europa e dos Estados Unidos da América.
O projeto implementado pelo professor Archimedes no Instituto de Química Industrial levou a instituição a desenvolver dois tipos de atividades laboratoriais: o primeiro manteve um laboratório completo para análises da cana-de-açúcar e do açúcar manufaturado em todas as suas fases de fabricação: um outro laboratório tinha em vista as “análises dos óleos vegetais e pesquisas sobre sua extração e exploração mais vantajosas, especialmente sobre o aproveitamento industrial dos cocos nuciferas, para análise de terras, adubos, inseticidas etc” (Cf. GUIMARÃES, Archimedes Pereira. Exposição de motivos apresentada ao presidente do Estado, Maurício Graccho Cardoso, em 27 de junho de 1923, pelo diretor do Instituto de Química Industrial de Sergipe, Archimedes Pereira Guimarães. Aracaju, 1923). O laboratório para o açúcar foi concebido para manter relações estreitas com uma estação experimental de cana, nos mesmos moldes da existente em Campos, no Rio de Janeiro. Dentre os sonhos do professor Archimedes estava o propósito de conseguir, através da melhoria do cultivo da cana, a obtenção do álcool industrial como substituto da gasolina.
O professor Archimedes levou o Instituto a estudar também o tanino do mangue, abundante em toda a orla marítima e fluvial de Sergipe, de modo a aplicá-lo nos curtumes e tinturarias, sobre as féculas e a panificação, de modo a obter um tipo de pão misto de trigo e mandioca. Em torno da pesquisa do tanino havia também a expectativa da sua aplicação em materiais cerâmicos, bebidas e uma grande variedade de gêneros alimentícios. “O sal, os couros, as fibras, os laticínios, as águas, o álcool, os oleaginosos, preocuparão por sua vez, paulatinamente, a nossa atenção e, fontes que o são ou que o serão da riqueza do Estado, hão de constituir objeto de estudos particulares do nosso Instituto, que tendam a melhorar-lhes as condições de extração e refino, para mais pronta aceitação nos mercados consumidores. A fiscalização dos produtos comestíveis e bebidas, moldada pela que ora se executa no Rio de Janeiro e em São Paulo, é uma das flagrantes necessidades de uma capital que se preza, e, por isso, dessa providência cogitamos, antevendo para Aracaju senão para todo Sergipe, uma diminuição sensível nas moléstias do aparelho digestivo” (Cf. GUIMARÃES, Archimedes Pereira. Introdução a um curso de Química Industrial e aula inaugural do Instituto de Química de Aracaju. Bahia, 1929. p. 48).

Nenhum comentário:

Postar um comentário