quinta-feira, 17 de setembro de 2009

ATO FINAL: A DITADURA VENCIDA XIV

Superados os governos da ditadura, alguns fundadores do MDB de Sergipe afirmaram que esperavam um pouco mais daquilo que se convencionou chamar a Nova República:


eu, sinceramente, me decepcionei um pouco com a Nova República. Aquela luta toda de quase 20 anos, de 1966 a 1985, eu não gostei do que aconteceu logo depois. O MDB, que já era PMDB, foi invadido. Todo mundo que era da Arena aderiu, entrou pesado no PMDB. Eu não me agradei. Não foi o que eu sonhei[1].


Ao concordar com este tipo de avaliação, Benedito de Figueiredo afirma que toda a geração que se estabeleceu a partir do movimento estudantil na primeira metade da década de 60 do século XX terminou com um sentimento de vitória e também de frustração, porque a causa da vida de todos foi a luta contra a ditadura. E após derrotá-la, sonharam com outra realidade política, nem sempre igual àquele que aconteceu.


Eu cheguei a ser até infantil ao sonhar com Ulisses Guimarães na Presidência da República. Deu no que deu. Veio Tancredo, veio Sarney, vieram todas as decepções. E aí também nós passamos a integrar tudo isso e a fazer acordos e acertos em nome da política real. Acertos que antes nós condenamos, que não era a política com a qual nós sonhávamos[2].


Sob o entendimento de Benedito de Figueiredo faltou a Ulisses Guimarães, após a morte de Tancredo Neves, em abril de 1985, a coragem cívica, a determinação histórica que marcou toda a sua vida como líder político. “Como presidente do Congresso ele deveria ter assumido a Presidência da República para convocar novas eleições. Nas novas eleições ele deveria ser o candidato. Na verdade, Ulisses Guimarães aceitou uma grande e equivocada conciliação”[3].
A ditadura foi vencida pela sociedade brasileira, através do PMDB e das demais forças que se incorporaram a esse processo de luta em defesa da reorganização do Estado democrático. A ditadura se esvaiu em um processo lento e gradual, tal como previa o general Goulbery do Couto e Silva, sem que houvesse uma ruptura radical. Os que lutaram pela reorganização do Estado de Direito não tiveram forças para fazer tal ruptura. Quando se desmontou a ditadura, quase todos que estavam com os generais quiseram aderir ao PMDB.
Todavia, uma entrevista concedida em 1984 por José Carlos Teixeira, antes mesmo de tomar conhecimento de tudo que aconteceu, explica posições que foram posteriormente criticadas e é reveladora do estado de espírito que continuava a animar os líderes que em 1966 fundaram o MDB, ao afirmar que continuava mantendo o compromisso


com aquilo que abracei duas décadas atrás, o de liderar um processo de renovação das lideranças na vida pública sergipana. (...) Oposição nós continuamos. Somos uma oposição vigilante, mas uma oposição lúcida, não faremos nunca uma oposição fanática... (...) aos que farão a História de Sergipe, o meu verdadeiro pensamento, a minha posição é acima de tudo toda uma vida edificada e construída dentro de um processo de coerência e de afirmação, onde nunca tergiversei, onde nunca fiz concessões, onde nunca pude abraçar uma liderança orientada e administrada com vistas ao fanatismo. Eu entendo que oposição se faz, sim, em torno de idéias e em torno de programas, nunca contra homens, mas em favor da sociedade. As oposições sergipanas representam um retrato, um diagnóstico da vida nacional. Estas oposições em Sergipe terão, a partir de março do próximo ano, a responsabilidade de conduzir um programa que a nível federal o governador Tancredo Neves vai executar. É evidente que todo nosso trabalho tende a encontrarmos a via, o caminho, a luz que possa ser apresentada à sociedade sergipana com vistas às eleições de 1986. Até lá nós teremos que aparar as arestas e teremos que construir um pacto e este pacto terá que ser exercitado na base de concessões recíprocas, mas sem o desvirtuamento dos princípios fundamentais que norteiam nosso programa e os compromissos progressistas diante do povo sergipano. Mas acima de tudo fazendo questão de desaguarmos em 1986 assegurando, às correntes marxistas-leninistas a sua organização própria, o seu veículo de afirmação diante da sociedade, para que eles possam, difundindo as suas idéias, encontrar o respaldo ou a condenação da sociedade. Mas acima de tudo que eles sejam parte integrante do processo democrático que vai ser consolidado por Tancredo Neves e que permitirá que todas as correntes, sem nenhuma distinção, inclusive os fascistas e integralistas venham participar, sabendo que as suas opiniões serão respeitadas, que os seus direitos serão assegurados, que a liberdade de expressão e pensamento não serão jamais coibidos e que a censura desaparecerá de vez da terra brasileira[4].

[1] Cf. TEIXEIRA, Luiz Antonio Mesquita. Entrevista concedida a Jorge Carvalho do Nascimento no dia sete de junho de 2008.
[2] Cf. FIGUEIREDO, Benedito de. Entrevista concedida a Jorge Carvalho do Nascimento no dia 13 de agosto de 2008.
[3] Cf. FIGUEIREDO, Benedito de. Entrevista concedida a Jorge Carvalho do Nascimento no dia 13 de agosto de 2008.
[4] Cf. “Deputado José Carlos Teixeira – Tancredo está acima de Frente e do PMDB”. In: Jornal de Sergipe, Ano VII, nº 1.872, 3 de novembro de 1984. p. 6.

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