quarta-feira, 5 de maio de 2010

ENGENHARIA E HISTÓRIA IX

Há uma outra explicação para o insucesso desse tipo de experiência. Autores como Josué Modesto dos Passos Subrinho afirmam que desde o século XIX,


os senhores de terras e de escravos nordestinos não acreditavam na imigração massiva como solução para a superação do trabalho escravo. No final da década de 1870, a imigração era encarada majoritariamente pela elite nordestina como um desperdício de recursos públicos, recursos que, no entender da mesma, deveriam ser direcionados preferencialmente ao crédito agrícola, à construção de ferrovias e portos, subsídios às linhas de navegação a vapor ou genericamente nos auxílios à lavoura (PASSOS Subrinho, 2000: 278).


Para muitos engenheiros agrônomos, o que interessava era a modernização das instituições de política agrícola do Estado brasileiro, a fim de que o setor fosse dirigido com eficácia. Este era também um elemento de estímulo à política nacional de implantação de instituições agrícolas de ensino superior, a exemplo da Escola Nacional de Agricultura, criada em 1927, atualmente Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro.
O debate sobre a modernização das instituições agrícolas ganhou corpo no momento em que o próprio Ministério da Agricultura estava sofrendo algumas alterações:


Segundo o Decreto 22.338, de 11/1/1933, o Ministério da Agricultura foi constituído por três Diretorias-Gerais: de Agricultura, de Pesquisas Científicas e de Indústria Animal. Subordinados à primeira estavam os Patronatos Agrícolas, o Serviço de Inspeção e Fomento Agrícolas, os Aprendizados Agrícolas, os Serviços Experimentais de Agricultura, o Serviço de Algodão e o Serviço Florestal .


Um ato do governo federal subordinou a pesquisa agronômica à repartição responsável pela administração do ensino agrícola:


À Diretoria-Geral de Agricultura do Ministério foram subordinadas as seguintes diretorias técnicas, conforme texto do Decreto nº 22.380, de 20/1/1933: Ensino Agronômico, Fomento e Defesa Agrícola, Sindicalismo-Cooperativista, Fruticultura e Plantas Têxteis. Subordinados à Diretoria do Ensino Agronômico estavam: a Escola Superior de Agricultura e Medicina Veterinária, localizada no Estado do Rio de Janeiro; os Aprendizados e os Patronatos Agrícolas, situados em várias unidades da federação, e o Ensino Agrícola Subvencionado .


Esta nova política estava articulada ao processo de regulamentação da profissão de Agrônomo . Era este o profissional que iria disputar o mercado de trabalho “e o campo intelectual/político com os demais profissionais até então autorizados a falar e intervir, dentre outras coisas sobre a agricultura” . Era a lei mediando e legitimando as relações entre os grupos sociais. Ao promover a afirmação de novas categorias profissionais como a do agrônomo, tal processo enfatizou a necessidade de preparação técnica e prática. Assim, a nova estrutura criada atribuiu ao Ministério da Agricultura toda a responsabilidade pela manutenção de estabelecimentos federais de ensino agrícola, em todos os graus, bem como a de fiscalização dos estaduais e também daqueles mantidos por particulares. Em atendimento ao que prescrevia a regulamentação das atividades profissionais agronômicas, a Escola Nacional de Agronomia e Veterinária foi transformada em duas instituições: a Escola Nacional de Agronomia e a Escola Nacional de Veterinária. A Escola Nacional de Agronomia foi definida como padrão do ensino superior de agricultura, enquanto a Escola Agrícola de Barbacena recebeu o status de estabelecimento modelo para o ensino médio. E os aprendizados agrícolas foram transformados em padrões escolares para o ensino agrícola elementar, para que formassem homens letrados, portadores de aptidões e informações que os habilitassem ao preenchimento de determinados papéis necessários para que se legitimasse a produção agrária científica.

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