quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

HISTÓRIA DA CIÊNCIA, FILOSOFIA E HITORIOGRAFIA VIII

Um dos problemas que requer muita atenção diz respeito ao conjunto de representações sobre a História do Brasil, disseminado a partir do movimento republicano. Dentre as idéias difundidas está presente uma quase consensual certeza de que a política cultural e científica brasileira é obra exclusiva do republicanismo, desfocando assim as discussões a respeito do problema. É evidente que o Estado republicano efetuou transformações no discurso a respeito do ensino e da pesquisa científica, porém não se pode afirmar que tais preocupações e concepções eram novas na sociedade brasileira.
A opção que se fez neste trabalho foi a de estudar a constituição do campo da ciência e da tecnologia em Sergipe a partir do século XIX, considerando-se que o território sergipano foi desmembrado da Capitania da Bahia, em 1820, quando então foi criada a Capitania de Sergipe D’El Rey.
Conhecer os problemas referentes à história da pesquisa e do ensino da ciência e da tecnologia em Sergipe requer o reconhecimento de um universo ainda fechado, escondido. Porém, são abundantes as fontes para o estudo a respeito do assunto. Os indícios constituem um conjunto informativo seguro o suficiente para a produção de análises historiográficas.
Não obstante os esforços que têm sido feitos para desenvolver os campos de estudo acerca da história da ciência e da tecnologia em Sergipe, ainda é necessário reunir e organizar muitas fontes necessárias ao desenvolvimento da pesquisa histórica e o estabelecimento de linhas de pesquisa, principalmente no Departamento de História e no curso de Mestrado em Educação da UFS que se debrucem sobre as temáticas próprias a este campo.
A tendência modernizadora no trato com a informação, apesar de permitir a dinamização do acesso aos dados, tem imposto uma rotina de descarte documental descontrolado que leva, na maioria dos casos, ao apagamento irreversível da memória de grupos e instituições.
É necessário cobrar procedimentos metodológicos adequados. A pesquisa deve fugir da visão salvífica presente no discurso dos memorialistas. O material existente nos arquivos das instituições dedicadas à pesquisa científica e nos acervos dos arquivos históricos é múltiplo, originado de distintas fontes e inclui utensílios e equipamentos utilizados nos laboratórios científicos e tecnológicos de Sergipe e também documentação impressa, áudio-visual e imagética com significativo valor para a memória e a história da ciência e da tecnologia no Estado. É necessário explorar essa massa documental com pesquisas que tenham como fulcro de análise os processos de produção e transmissão do conhecimento científico e tecnológico.
Este trabalho opera com a hipótese segundo a qual durante o século XIX foi constituído um campo intelectual em Sergipe, do qual participou um número significativo de cientistas, não obstante boa parte dos estudos sobre esse tema atribuir a formação de tal campo ao período republicano. Estudar a intelectualidade dos anos oitocentos permite entender a falácia de alguns estudos para os quais a elite daquele período seria iletrada e detentora apenas do “poder econômico e político, sem nenhuma vinculação com o campo intelectual, o que de imediato parece algo paradoxal, pois, a suposição é a de que ninguém chega a ocupar posição de mando na sociedade sem que se utilize da capacidade mental” (SILVA, 2004: 5).
O pressuposto é o de que esta elite intelectual do século XIX, pelas suas características se sobrepunha a outros grupos, uma vez que o conceito de elite “designa um pequeno grupo que, num conjunto mais vasto – religioso, cultural, político, militar, econômico, social ou outro – é tido como superior pelas suas funções de mando, de direção, de orientação ou de simples representação” (BARATA e BUENO, 1999). A elite intelectual sergipana é, assim, concebida “como sendo composta por vários grupos constituidores, oriunds de diferentes elites profissionais, que contribuíram para a formação de uma totalidade” (SILVA, 2004: 6).

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