domingo, 25 de abril de 2010

ENGENHARIA E HISTÓRIA V

Tradicionalmente, tem sido comum no sertão o consumo de mandacaru, uma cactácea nativa que chega até as dunas litorâneas. Agradável ao paladar do gado bovino, desde que colhida e cortada à máquina para destruição dos seus espinhos, a planta é suculenta e rica em água e vive durante muito anos, possuindo mais nutrientes que a palma forrageira. Aos dez anos, uma planta produz em média cinqüenta quilos de alimento.
Dentre as culturas preferenciais da região semi-árida, está também a mandioca, que garante alimento ao homem e ao gado.
Uma outra planta que se adapta bastante à zona do sertão do Estado de Sergipe é o milho, que tanto serve à alimentação humana como para o gado bovino. Em ambos os casos seu poder nutritivo é maior quando colhido verde, com os grãos da espiga ainda leitosos. A sua principal vantagem é o ciclo de vida curto, em torno de três a quatro meses, porém a planta é suscetível ao ataque de lagartas que podem prejudicar o milharal.
Dentre as árvores frutíferas existentes no sertão, sem nenhuma dúvida o umbuzeiro é a mais importante delas, pelos frutos ácidos que produz, adequados à fabricação de sucos e doces. Do mesmo modo, a quixabeira também oferece bons frutos.
Na zona do semi-árido sergipano, a partir da década de 80 do século XX, foi iniciada a implantação de uma rede de adutoras que captam água nos rios Piauí e São Francisco, associada a construção de cacimbas, tanques e barragens.
Emmanuel Franco afirma que a cultura da laranja foi introduzida em Sergipe, na região de Boquim, nas primeiras décadas do século XX, por Edgard Chastinet. A partir da metade do século os citricultores começaram a se organizar e surgiram duas cooperativas: uma em Lagarto e outra em Estância. Além disso, surgiram também indústrias de beneficiamentos dos frutos e extração do suco de laranja.
O Imperial Instituto de Agricultura Sergipano foi criado em 1860, durante a visita do Imperador Pedro II . O decreto de criação do Instituto foi assinado na cidade de Estância, no dia 20 de janeiro:


Desejando assinalar a época de minha visita a esta Província de Sergipe, e manifestar a atenção que presto à agricultura, principal fonte de riqueza do Estado, hei por bem criar o Imperial Instituto de Agricultura Sergipano sob as mesmas bases do Imperial Instituto Baiano de Agricultura, criado por meu Decreto do 1º de novembro de 1859. João de Almeida Pereira Filho, do meu Conselho, Ministro e Secretário dos Negócios do Império, assim o tenha entendido, e faça executar. Palácio da Estância aos 20 de janeiro de 1860. Com a rubrica de S. M. o Imperador. João de Almeida Pereira Filho. Conforme. O Oficial de Gabinete de S. Ex. o Sr. Ministro do Império em viagem, Manuel Diniz Villas-Boas .


Além do Instituto sergipano foram criados no mesmo ano os do Rio de Janeiro, Bahia e Pernambuco. Era pretensão do governo criar idênticas instituições em todas as províncias. Os estatutos do Instituto de Sergipe eram iguais aos do Instituto Bahiano, com pequenas adaptações.
O êxito do Instituto Baiano lhe permitiu criar, em 1875, a Imperial Escola Agrícola da Bahia, única escola superior de agronomia do país até 1890. Inaugurada, em 1877, “a Escola iniciaria seu curso em dois graus, o elementar e o superior, sendo o primeiro destinado a habilitar trabalhadores agrícola e o segundo a formar agrônomos, engenheiros agrícolas e veterinários” . A primeira turma foi diplomada em 1880, com dez agrônomos.


O Imperial Instituto Fluminense (...) Apesar de sua curta existência, conta já 100 sócios efetivos (...) contando com o auxílio do governo imperial deliberou tomar a si a administração do jardim botânico da Lagoa Rodrigo de Freitas para nele fundar um estabelecimento rural, que possa servir de modelo, e de escola prática de agricultura .


O Imperial Instituto Sergipano de Agricultura representou uma tentativa de modernização das práticas agrícolas na Província de Sergipe. A entidade nunca chegou a funcionar efetivamente, tendo os responsáveis pela instituição se envolvido em uma mal explicada história de prestação de contas dos recursos que o Imperador Pedro II destinou à sua implantação e funcionamento . Essas mazelas não permitiram que o Instituto cumprisse um dos mais importantes dentre os seus objetivos: o estabelecimento do ensino agrícola em Sergipe.
Todavia, alguns intelectuais do período defenderam outras possibilidades de ensino agrícola e industrial Um deles foi o já citado João José Bittencourt Calasans, que foi dirigente do Imperial Instituto Sergipano de Agricultura e no livro O agricultor sergipano da cana de açúcar, que publicou em 1869, defendeu a criação de um engenho modelo como fonte de instrução agrícola. Esse tipo de organização seria criado


por meio de associações, quando não fosse instituída, com preferência, pela bolsa abastada de um ou de outro, que podendo dispor de uma quarentena de contos de réis se acharia mui bem habilitado de assim concorrer, para animar, proteger e fazer desenvolver essa parte da principal fonte de riqueza – a agricultura açucareira (CALASANS, 1869: 47).


Uma grande contribuição aos projetos de modernização da agricultura em Sergipe foi oferecida em 17 de janeiro do ano de 1882, quando o presidente Inglês de Souza convidou o engenheiro José de Siqueira Menezes para elaborar a planta e o orçamento de um conjunto de edifícios, a serem construídos em local apropriado, objetivando a criação de uma escola agrícola modelo. A sua proposta teve como justificativa a necessidade de “melhorar as práticas agrícolas, para maior produtividade das culturas básicas da economia sergipana” . Para cumprir o seu objetivo, Inglês de Souza pretendia contar com a cooperação do Imperial Instituto Sergipano de Agricultura. A pretensão do presidente da Província era formar “uma classe de trabalhadores agrícolas, familiarizados com os princípios das ciências práticas que concorrem para o melhoramento da cultura do solo e com o manejo dos instrumentos aperfeiçoados para os trabalhos dos campos, adquirindo também a experiência e conhecimento prático das artes acessórias” . Este tipo de afirmação demonstra com clareza o quanto o governo de Herculano Marcos Inglês de Souza estava preocupado com a ampliação do mercado de trabalho para os homens livres em Sergipe.
Na segunda metade do século XIX, com o fim do tráfico de escravos, as preocupações com a ampliação do mercado de trabalho livre se intensificaram e passaram a ser alvo de políticas mais objetivas. A lei precisava regular o conflito que se intensificaria no mercado, com uma massa mais numerosa de trabalhadores. Com o seu poder regulador estava sendo ampliada a massa de homens livres pobres. Dentre as argumentações expostas, fica explícita, principalmente, a preocupação com a substituição do trabalhador escravo pelo trabalhador livre. A crença era a de que a mecanização substituiria o trabalho braçal.


Estanque a fonte que alimentava a escravatura, hão de necessariamente escassear e afinal extinguir-se os braços que ainda hoje se empregam nos trabalhos difíceis de grandes propriedades. Ora em todos os países adiantados são as máquinas aperfeiçoadas pela industria moderna que substituem e suprem naqueles trabalhos o braço do homem .

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