sexta-feira, 29 de outubro de 2010

ANOTAÇÕES A RESPEITO DA ESCOLARIZAÇÃO DA MULHER

Data de 1848 a implantação, em Laranjeiras, da primeira instituição do gênero na Província de Sergipe, o Colégio Nossa Senhora Santana, fundado e dirigido por Possidônia de Santa Cruz de Bragança. A escola ofereceu ensino para moças, em regime de internato e externato, atendendo meninas e jovens do sexo feminino. Em 1889 seu controle foi adquirido pela professora Quintina Diniz, ex-aluna da mesma instituição e responsável pela sua transferência para Aracaju, em 1906. No final do século XIX e na primeira década do século XX, uma epidemia de varíola que grassou em Sergipe fez com que muitas famílias e instituições escolares se transferissem de Laranjeiras para Aracaju, temendo os efeitos da moléstia. O Colégio Nossa Senhora Santana funcionou durante 93 anos, até encerrar suas atividades, em 1941.
Uma importante característica das instituições de ensino privado em Aracaju, como de resto no Brasil, diz respeito ao fato de serem escolas dirigidas e mantidas predominantemente por organizações religiosas católicas ou protestantes ou empresas familiares, nas quais diferentes membros da família, como mãe, irmãs, tias e, muitas vezes, o pai, assumiam funções docentes, administrativas e de direção. Em Aracaju, como em todo o Brasil, os colégios secundários de orientação leiga ou religiosa, fundados e mantidos por particulares, tiveram um papel relevante desde o século XIX, até a metade do século XX. Esses estabelecimentos, estimulados pela concorrência, formavam a vanguarda do pensamento educacional pela adoção de modernas técnicas de ensino, pelo impulso dado ao estudo da ciência e pela ênfase emprestada às línguas modernas.
A pesquisadora Anamaria Gonçalves Bueno de Freitas informa que a instrução primária feminina era oferecida predominantemente em escolas particulares . Estas geralmente mantinham internatos e começaram a crescer e se multiplicar a partir das últimas décadas do século XIX e se expandiram muito nas primeiras décadas do século XX. É o caso do Instituto América, dirigido por Norma Reis, professora de Francês da Escola Normal, que funcionou de 1920 a 1935, e possuía um corpo docente renomado. Era comum o fato de algumas professoras da Escola Normal serem proprietárias e dirigirem colégios particulares com internatos para moças, como o anteriormente citado Instituto América e o também referido Colégio Nossa Senhora Sant’Ana, de Quintina Diniz, professora de Psicologia e Pedagogia.
A partir de 1899, funcionou em Aracaju o Internato feminino da Escola Americana, mantida inicialmente pelos protestantes presbiterianos em Laranjeiras e transferida no ano anterior para a capital do Estado. Em Aracaju, sob a direção do reverendo Finley, a Escola Americana ofereceu à população um externato para ambos os sexos, com o curso primário e o intermediário; e um internato para o sexo feminino . No ano de 1900, a Escola Americana já contava com 50 alunos matriculados e dois professores, oferecendo internato e externato para meninos e meninas, funcionando na Rua Aurora, nº 7. As salas de aula possuíam carteiras de madeira e ferro vindas dos Estados Unidos. Um ano depois, o seu quadro docente era formado por seis professores, incluindo uma professora de Prendas e um professor de Música. A instituição anunciava estar “pronta a dar uma educação segundo os últimos métodos pedagógicos a todos os alunos que forem confiados a seu cuidado” . Foi considerada pelo Diretor da Instrução Pública, juntamente com o Colégio Brasil, o melhor estabelecimento particular de ensino em Sergipe.
Segundo Anamaria Gonçalves Bueno de Freitas, no jornal


Correio de Aracaju, no período de 1906-1908, no tocante à escolarização feminina, os anúncios dividiam espaço com registros minuciosos das festas realizadas nos estabelecimentos. Foram citadas, de forma recorrente, oito instituições. A maioria oferecia ensino primário e secundário: “Collegio Bôa Esperança” (dirigido por Mariana Braga); o “Collegio Nossa Senhora de Lourdes” (internato e externato, dirigido pela Irmã Thèophanes, da Congregação das Irmãs Sacramentinas); a “Escola Americana” (ensino primário misto, dirigida por Jovina Moreira); o “Collegio Santa Cruz – internato e externato” (ensino primário misto, dirigido por Maria Madalena de Santa Cruz e Santos); “Escola Primária de Sergipe” (ensino primário misto – dirigido por Alexandre José Teixeira e sua esposa); “Collegio Nossa Senhora Sant’Anna” (dirigido por Quintina Diniz), “Externato Zizi Góes” (ensino primário e secundário feminino - dirigido por Balthazarina Góes, com o auxílio de seu pai o Prof. Catedrático Balthazar Góes ), todos estes localizados em Aracaju .


Era comum que muitas alunas do ensino privado, depois da conclusão do ensino secundário (mesmo que não fosse um curso específico de formação de professoras), passassem a atuar como professoras nos mesmos estabelecimentos de ensino nos quais estudaram.
Chama também a atenção o fato de existir um número significativo de diretoras de escolas femininas em Aracaju, durante um período no qual a mulher, “submetida ao pátrio poder, quando solteira, ou ao poder legal do marido como chefe da sociedade conjugal, necessitava de autorização para assinar contratos de trabalho, sendo considerada incapaz no tocante ao exercício dos direitos civis e políticos” .

Nenhum comentário:

Postar um comentário