domingo, 12 de setembro de 2010

OS PROCESSOS SUCESSÓRIOS DA ESCOLA AGROTÉCNICA FEDERAL DE SÃO CRISTÓVÃO

Desde que a instituição foi criada, em 1924, os processos sucessórios na sua direção foram freqüentemente traumáticos. Aquele que se afastava da direção não poupava críticas a quem lhe sucedia. Da mesma maneira, nos momentos em que um diretor assumia o cargo era comum dirigir acusações ao seu antecessor. Domingos Rodrigues, que assumiu a direção do Patronato de Menores Francisco de Sá, em 13 de dezembro de 1927, carregou nas tintas do seu Relatório: “Achando-se na época em que recebi do meu antecessor, o patronato em completa desorganização, era impossível dentro de tão pequeno lapso de tempo, já ter conseguido obra perfeita, com resultados surpreendentes e maravilhosos” .
Invariavelmente, a mudança do diretor ocorria quando o grupo que exercia o poder era substituído por um novo bloco partidário. “Em 1954 o diretor era João Fernandes de Sousa. Entrou Dr. Leandro [Maciel] para o governo e tirou João Fernandes. Ele era ligado ao pessoal do PSD. O grupo de Dr. Leandro não se afinava com João Fernandes” . Os dois diretores que sucederam a João Fernandes de Sousa eram intimamente ligados à UDN: Wanderley do Prado Barreto e Tennyson Araújo Aragão. A UDN somente perdeu o controle da indicação dos diretores da instituição depois que João de Seixas Dória venceu as eleições, em 07 de outubro de 1962.
Nos últimos anos da ditadura militar as relações de poder faziam com que se explicitassem cada vez mais as divergências no interior da Escola. O ponto máximo de tensão ocorreu quando da substituição do diretor Laonte Gama da Silva, depois de haver este exercido a função durante 16 anos . Após a sua saída, a instituição passaria por mudanças administrativas radicais, posto que pela primeira vez seria gerenciada por um técnico sem formação superior. Os engenheiros agrônomos estariam, a partir de então, alijados do exercício do poder na Escola. Não mais tiveram condições de indicar o diretor. Além do mais, incomodava a alguns deles o fato de o novo diretor ser um técnico com formação em nível médio: Francisco Gonçalves. Laonte Gama da Silva revela o grau de tensão produzido por tais conflitos, ao acusar o seu sucessor de haver desmontado a indústria de laticínios que ele deixou funcionando na Escola.
Ele atribui a um ex-governador sergipano a responsabilidade pelas alterações na administração da Escola:


nós saímos da Escola por uma exigência do governador Augusto Franco . O Senhor de Engenho e o processo de puxa-saquismo. O secretário geral do MEC foi ao Ministro Jarbas Passarinho e pediu para que não me demitisse, o diretor geral do Ensino Agrícola foi a ele e pediu para que não me demitisse. A resposta do ministro: é para atender o governador. Dos três senadores de Sergipe, dois queriam a substituição: Passos Porto e Lourival Baptista. [Um] era contra: Gilvan [Rocha] .


Vários professores da Escola confirmam a interpretação feita por Laonte Gama . Contudo, mesmo concordando com as avaliações feitas por Laonte Gama a respeito do processo da sua demissão e substituição por Francisco Gonçalves, muitas pessoas consideram que ela carrega nas tintas ao afirmar que saiu em face de problemas políticos, por entenderam que nunca, na história da instituição fora distinto esse tipo de processo, inclusive quando da nomeação do próprio Laonte Gama:


Laonte passou o seu período como se fosse um período de ditadura. Ele não passou quatro anos nem foi eleito. Politicamente Dr. Leandro [Maciel, líder político da UDN] caiu. Tiraram Wanderley [do Prado Barreto]. Foi politicamente que ele entrou ali. Laonte foi morar na casa grande, que era uma casa muito boa, muito equipada e aí ele se fez dono da escola. (...) Embora ele tenha criado o Conselho de Professores, a palavra final era dele .


Entretanto, há professores que avaliam com muito entusiasmo os dezesseis anos durante os quais Laonte Gama dirigiu a instituição. Para Emanoel Franco, ele qualificou o quadro de professores e “foi um grande diretor” . Laonte Gama da Silva revelou toda a sua mágoa para com o processo de substituição do diretor, principalmente considerando o fato de que pela primeira vez a Escola foi administrada por um técnico agrícola com formação em nível médio e não por um engenheiro agrônomo, como vinha ocorrendo desde 1924:


Eu pedi para sair da AEASE . Existe uma tradição dessa Escola. Desde que essa Escola passou a ser ensino. [O cargo de diretor] só foi ocupado por engenheiro agrônomo, nunca por um técnico agrícola. Põe um engenheiro agrônomo. A AEASE não tomou conhecimento .

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