quinta-feira, 16 de setembro de 2010

OS PROCESSOS SUCESSÓRIOS DA ESCOLA AGROTÉCNICA FEDERAL DE SÃO CRISTÓVÃO - II

A exoneração de Laonte Gama da Silva do cargo de diretor da Escola Agrotécnica Federal de São Cristóvão era esperada desde muitos anos . Ao longo dos dezesseis anos nos quais exerceu a função, vários grupos e líderes da política de Sergipe fizeram pressão para substituí-lo. Dentre outros problemas de natureza política apontados no comportamento do diretor, estava o fato de ser este notoriamente ligado ao Movimento Democrático Brasileiro – MDB , partido que fazia oposição ao governo ditatorial. Em várias ocasiões, além da acusação de oposicionista Laonte Gama recebeu a pecha de simpatizante da causa comunista, como nas eleições de 1974, quando o provecto senador Leandro Maciel perdeu a sua cadeira para o médico João Gilvan Rocha e “aproveitou a oportunidade para informar que eram comunistas o bispo de Propriá, o chefe do distrito da Superintendência do Vale do São Francisco e o diretor de uma escola agrícola federal” .
Quanto ao processo de escolha do diretor da Escola através de eleições diretas envolvendo docentes, discentes e os servidores técnico-administrativos, Laonte assevera ser este um processo visto por ele com restrições. Na sua opinião, somente os engenheiros agrônomos possuem os requisitos técnicos necessários à gestão da Escola Agrotécnica Federal de São Cristóvão.
Essa questão, porém, é polêmica no interior do corpo docente da Escola, mesmo entre pessoas que estão muito próximas. A professora Gilda Vasconcelos Gama da Silva considera a experiência da eleição direta para diretor muito ruim, entendendo que se estabelece uma relação de troca de favores que prejudica o funcionamento da atividade fim. Depois que se inaugurou este processo eleitoral, “o próprio Ministério da Educação criou mais de quarenta funções gratificadas” .
O ex-diretor Tennyson Aragão considera que o atual processo de escolha dos gestores da Escola Agrotécnica Federal de São Cristóvão “é uma palhaçada. O diretor tem que ser escolhido pela autoridade do Ministério a quem ele vai ficar subordinado. Isso está superado” .
No início do século XXI, o discurso sobre as relações de poder no interior da Escola buscou valorizar padrões de gerenciamento tidos como democráticos e definir os elementos necessários à sua implementação. “A consolidação de uma gestão escolar de cunho democrático-participativo requer competências cognitivas e afetivas, respaldadas na internalização de valores, hábitos, atitudes e conhecimentos” .
Mesmo não concordando com o novo método de escolha dos dirigentes da instituição, Laonte Gama da Silva tende a discordar de um entendimento muito difundo dentre os profissionais da área segundo o qual o atual processo de eleições diretas para diretor seria o grande responsável pelo que boa parte dos entrevistados para este estudo foi unânime em apontar: aquilo que consideram a decadência da Escola Agrotécnica Federal de São Cristóvão. Afirmando estar a Escola decadente, ele atribui o fato não apenas ao processo eleitoral interno, mas diz que na verdade o atual modelo brasileiro de formação de técnicos agrícolas está esgotado. “Esse modelo já faliu” . Crê que a decadência da Escola tanto pode ser resultante do modelo brasileiro de ensino médio, do modelo de ensino agrícola, quanto a fatores internos da própria administração e do pessoal da instituição. Sustenta sua crítica aos fatores internos da Escola, exemplificando:


Foi imperdoável a ausência da Escola quando o governador João Alves lançou o projeto Platô de Neópolis. Ela tinha que gritar, estar junto da Secretaria da Agricultura. A Escola tem que participar do projeto. Um agricultor para irrigação é um agricultor especializado .


Aliás, o tema da decadência se repetiu várias vezes ao longo da história da instituição escolar:


Esta Escola é um estabelecimento de tradição pelos bons e relevantes serviços que vem prestando a toda coletividade e não pode nem deve parar. Sua curva deve ser sempre ascendente e nunca como agora, estacionária ou mesmo descendente. Mas, é isto mesmo; as instituições assim como as pessoas estão sujeitas aos altos e baixos da sorte, mas, aquelas que conseguem sobreviver às intempéries do destino voltam à plenitude do seu antigo progresso. Não somos derrotistas nem desfalecemos diante da rudeza das lides diárias. Prevemos para este Educandário um futuro promissor devido às suas grandes possibilidades que um dia serão despertadas pelo toque mágico dos idealistas que dirigem os destinos da nossa Pátria. E, quer estejamos nós ou outros na direção dos seus trabalhos, esta Escola emergirá vitoriosa desta tremenda crise que ora lhe vem assolando .


Outro ex-diretor da escola que a considera decadente é o professor Tennyson Aragão: “As poucas vezes que eu vou lá eu fico triste de ver a escola, como ela está. O auditório não existe mais. E, para fazer aquele auditório não foi fácil. Foi um trabalho meu e do João Fernandes” . Para ele a decadência se deve ao despreparo administrativo de alguns dos diretores que passaram pela escola.
Com a idéia da decadência concordam também alguns dos seus ex-alunos. José Ireno da Silva que freqüentou a instituição durante a década de 80 atribui o processo de decadência ao que considera o afrouxamento das normas disciplinares . Além disso, ele considera também a mudança do perfil do mercado de trabalho, entendendo que a profissão de técnico agrícola perdeu importância .

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