sexta-feira, 17 de setembro de 2010

OS PROCESSOS SUCESSÓRIOS DA ESCOLA AGROTÉCNICA FEDERAL DE SÃO CRISTÓVÃO - III

Para Alfredo Cabral, a decadência existe e é de natureza técnico-pedagógica:


A Escola piorou. A Escola hoje compra farinha. A Escola tem uma área de 2.500 tarefas a quinze quilômetros de Aracaju, tem rio, tem mão-de-obra, tem tratorista, tem trator, tem o próprio aluno também. A Escola hoje não planta mandioca. Começaram a plantar esse ano. Tem muito tempo que não planta, desde a época de Alberto, na primeira gestão. Alberto não chegou a plantar arroz. Acho que o último arroz que foi plantado foi quando eu fui diretor, em 89. O arroz não planta. Horta, produz um pouquinho. Aviário é como eu falei para você, ficou dois anos parado. O aperto na Educação pública é geral, mas nunca faltou dinheiro. Qual foi o órgão [público] que você viu fechar por falta de dinheiro nesse país? Nunca, tem dinheiro. Tem pouco, mal aplicado. Alberto mesmo, na primeira gestão, pintou o prédio da administração, se não me engano, quatro vezes. Aquilo ali ficava um brinco. Mas, se você fosse lá pra trás, para o aviário, não estava bom. Então é uma questão administrativa. Se você entra lá e é professor de Educação Física e quer investir em esporte, você vai investir em esporte. Quadra, isso, aquilo, tudo vai ficar bonitinho. Mas, vá olhar o campo. Eu acho que aquela Escola é uma Escola agrícola. (...) É [necessário] mudar o currículo. A gente se preocupa. O aluno basta aprender Matemática que já vai para o campo. Não. É regra de três, é? Saber quantos quilos de adubo vai dar em cada tarefa? Não. O que eu acho que está decadente é isso. A Escola já foi ponto de referência. Nós já produzimos pinto de um dia. Tinha suíno lá que era ponto de referencia, que era como se fosse um fomento. O cara ia comprar para criar, porque o porco era bom. Hoje é o contrário. O porco faz vergonha. Tem vaca lá que produz um litro, dois litros de leite. Isso é uma cabra. Mas é o que nós temos. Que caiu, caiu e muito, não caiu pouco não .


Com a tese da decadência também concorda a professora Umbelina Aciole de Bonfim , atribuindo a responsabilidade aos gestores que passaram pela instituição: “A Escola está decadente porque ela passou por mãos não habilitadas para [gerenciar] o ensino de nível médio” . Nessa pluralidade de diagnósticos, a opinião do professor Emanoel Franco é a de que a decadência da Escola se deve ao fato de a instituição não haver optado pelo ensino superior . O atual diretor da Escola, Alberto Aciole Bonfim, diverge completamente da idéia de que a instituição estaria decadente.


A escola de São Cristóvão é uma escola que sempre proporcionou aos jovens do hinterland sergipano oportunidade de crescimento. Se você diz que ela está em decadência, eu pergunto: por que? Ela está fechando ou vai fechar algum curso? A Escola está oferecendo três cursos, (...) aceita alunos internos, aceita alunos semi-internos e aceita alunos externos. [Aceita] alunos que já terminaram [o ensino médio], não conseguiram [aprovação] no [concurso] vestibular [para o ensino superior] e têm oportunidade de fazer um curso de agroindústria, de agricultura ou de zootecnia. Por que eu vou dizer que a Escola regrediu? Em hipótese alguma. A Escola está a cada dia crescendo e precisa de pessoas que apóiem esse desenvolvimento .


O processo de escolha do diretor da Escola Agrotécnica Federal de São Cristóvão pela comunidade escolar começou na década de 80, de modo tumultuado e sob muita polêmica. O governo federal definira que as escolas agrotécnicas poderiam fazer um processo de eleição paritária entre os três segmentos da comunidade escolar para a composição de uma lista sêxtupla de nomes . A lista seria encaminhada ao Ministério da Educação que escolheria um dos seis. Ao final da gestão do professor Francisco Gonçalves, em 1988, foi feita a primeira eleição na escola . O processo foi bastante tumultuado, desde o início. Seis candidatos disputaram o pleito. Dentre estes, os nomes mais fortes eram os de Alberto Aciole Bonfim, Manoel Luiz e Alfredo Cabral. O debate eleitoral ficou polarizado entre os professores da chamada área técnica e os professores licenciados. O grupo da chamada área técnica recolocou o velho debate segundo o qual somente os agrônomos e veterinários teriam condições de dirigir a instituição. O professor Alfredo Cabral, veterinário por formação, encarnou a liderança que representava este pensamento. Manoel Luiz, professor de Educação Física, era a expressão dos professores licenciados, enquanto Alberto Aciole Bonfim, professor licenciado de Biologia e vice-diretor durante a gestão de Francisco Gonçalves, era visto como o candidato que possuía experiência nos setores técnico-administrativos.
Alfredo Cabral, apesar de haver representado no processo eleitoral o grupo da área técnica, entende que esta condição não é requisito indispensável para dirigir a Escola:


Não é que a escola tenha obrigação [de ser dirigida por alguém] da área técnica. Pode ser de qualquer área, porque na realidade ali o que o [diretor] assume é uma administração. Ele tem que se cercar de pessoas boas de cada setor. Eu senti que fui bem aceito pelos estudantes que tinham direito a voto, uma boa parte dos funcionários e professores. Como eu sou da parte técnica passava mais tempo no setor do que na sala dos professores. A grande maioria dos professores era do ensino médio, não era da área técnica .


Muitas pessoas, à época estranharam o fato de Alfredo Cabral haver registrado a sua candidatura e pregar, no interior da Escola, durante a campanha que era contra a realização do pleito.


Eu fui contra a eleição, porque a eleição era para colocar seis nomes [em uma lista a ser enviada ao MEC]. Na época só tinham seis nomes [registrados como candidatos]. Então não precisava fazer eleição. Só era botar os nomes [na lista] e mandar. Agora, se tivesse sete, aí sim, porque um tinha que ser descartado. Eu fui contra [a realização da eleição]. Teve um debate, Alberto propôs que quem saísse em primeiro lugar era o diretor. Eu fui contra perante todo mundo. Eu disse que era contra porque ele não havia se afastado, continuou no cargo. Ele era vice-diretor. Quando entra numa eleição, queira ou não queira, começa aquela ajuda de voto. O funcionário precisa se ausentar por três dias, aí se libera; o aluno, não suspende, vai ajeitando... E eu não. Eu só fazia a parte pior, que era pegar aluno, botar aluno para trabalhar e cobrar dele, o trabalho e o ensino, o estudo. Eu fui contra perante todo mundo .

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