domingo, 7 de março de 2010

AGRONOMIA E HISTÓRIA VI

Além do Instituto sergipano foram criados no mesmo ano os do Rio de Janeiro, Bahia e Pernambuco. Era pretensão do governo criar idênticas instituições em todas as províncias. Os estatutos do Instituto de Sergipe eram iguais aos do Instituto Bahiano, com pequenas adaptações.
O êxito do Instituto Baiano lhe permitiu criar, em 1875, a Imperial Escola Agrícola da Bahia, única escola superior de agronomia do país até 1890. Inaugurada, em 1877, “a Escola iniciaria seu curso em dois graus, o elementar e o superior, sendo o primeiro destinado a habilitar trabalhadores agrícola e o segundo a formar agrônomos, engenheiros agrícolas e veterinários” . A primeira turma foi diplomada em 1880, com dez agrônomos.


O Imperial Instituto Fluminense (...) Apesar de sua curta existência, conta já 100 sócios efetivos (...) contando com o auxílio do governo imperial deliberou tomar a si a administração do jardim botânico da Lagoa Rodrigo de Freitas para nele fundar um estabelecimento rural, que possa servir de modelo, e de escola prática de agricultura .


O Imperial Instituto Sergipano de Agricultura representou uma tentativa de modernização das práticas agrícolas na Província de Sergipe. A entidade nunca chegou a funcionar efetivamente, tendo os responsáveis pela instituição se envolvido em uma mal explicada história de prestação de contas dos recursos que o Imperador Pedro II destinou à sua implantação e funcionamento . Essas mazelas não permitiram que o Instituto cumprisse um dos mais importantes dentre os seus objetivos: o estabelecimento do ensino agrícola em Sergipe.
Todavia, alguns intelectuais do período defenderam outras possibilidades de ensino agrícola e industrial Um deles foi o já citado João José Bittencourt Calasans, que foi dirigente do Imperial Instituto Sergipano de Agricultura e no livro O agricultor sergipano da cana de açúcar, que publicou em 1869, defendeu a criação de um engenho modelo como fonte de instrução agrícola. Esse tipo de organização seria criado


por meio de associações, quando não fosse instituída, com preferência, pela bolsa abastada de um ou de outro, que podendo dispor de uma quarentena de contos de réis se acharia mui bem habilitado de assim concorrer, para animar, proteger e fazer desenvolver essa parte da principal fonte de riqueza – a agricultura açucareira (CALASANS, 1869: 47).


Uma grande contribuição aos projetos de modernização da agricultura em Sergipe foi oferecida em 17 de janeiro do ano de 1882, quando o presidente Inglês de Souza convidou o engenheiro José de Siqueira Menezes para elaborar a planta e o orçamento de um conjunto de edifícios, a serem construídos em local apropriado, objetivando a criação de uma escola agrícola modelo. A sua proposta teve como justificativa a necessidade de “melhorar as práticas agrícolas, para maior produtividade das culturas básicas da economia sergipana” . Para cumprir o seu objetivo, Inglês de Souza pretendia contar com a cooperação do Imperial Instituto Sergipano de Agricultura. A pretensão do presidente da Província era formar “uma classe de trabalhadores agrícolas, familiarizados com os princípios das ciências práticas que concorrem para o melhoramento da cultura do solo e com o manejo dos instrumentos aperfeiçoados para os trabalhos dos campos, adquirindo também a experiência e conhecimento prático das artes acessórias” . Este tipo de afirmação demonstra com clareza o quanto o governo de Herculano Marcos Inglês de Souza estava preocupado com a ampliação do mercado de trabalho para os homens livres em Sergipe.
Na segunda metade do século XIX, com o fim do tráfico de escravos, as preocupações com a ampliação do mercado de trabalho livre se intensificaram e passaram a ser alvo de políticas mais objetivas. A lei precisava regular o conflito que se intensificaria no mercado, com uma massa mais numerosa de trabalhadores. Com o seu poder regulador estava sendo ampliada a massa de homens livres pobres. Dentre as argumentações expostas, fica explícita, principalmente, a preocupação com a substituição do trabalhador escravo pelo trabalhador livre. A crença era a de que a mecanização substituiria o trabalho braçal.


Estanque a fonte que alimentava a escravatura, hão de necessariamente escassear e afinal extinguir-se os braços que ainda hoje se empregam nos trabalhos difíceis de grandes propriedades. Ora em todos os países adiantados são as máquinas aperfeiçoadas pela industria moderna que substituem e suprem naqueles trabalhos o braço do homem .


Apesar desse quadro, algumas importantes lideranças do setor agrícola da região Nordeste, como Henrique Augusto Millet, insistiam, em 1878, que a mão-de-obra não era problema para a economia agrária: “Sei que não temos agora falta de braços, pois milhares de retirantes entulham as povoações do litoral e não há trabalho para todos” .
As preocupações com a modernização da agricultura e as suas relações com a educação, no início do século XX, são reveladoras de uma coerência existente entre os discursos que faziam os empresários e autoridades do setor agrícola. Por ocasião do Congresso Nacional de Agricultura que aconteceu no Rio de Janeiro, em 1901, o documento produzido era eloqüente: “O Congresso Nacional de Agricultura, no intuito de organizar todos os elementos de instrução ou educação agrícola e de difundir a maior soma de meios para instituí-la e praticá-la, combinando e desenvolvendo igualmente todas as iniciativas, recursos, atividades e energias do trabalho e da produção, em uma orientação esclarecida, adiantada e segura, pede aos poderes públicos do país que seja criada a seção ou departamento de agricultura, a parte ou junto ao atual Ministério da Indústria e Viação”.
O projeto da Sociedade Nacional de Agricultura coincidia com aquilo que pensava o governo federal e os governantes dos Estados. A modernização agrícola poderia ser obtida através da difusão do ensino técnico agrícola e da mecanização. Assim, o Ministério da Agricultura, Indústria e Comércio era visto como uma ferramenta eficaz para introduzir princípios científicos nas atividades agrícolas brasileiras. A crença era de que o ensino geral de agricultura haveria de se organizar com as forças e elementos que lhe fornecessem o Departamento de Agricultura, os colégios ou escolas agrícolas e as estações agronômicas e campos de experiência e demonstração. A instrução elementar agrícola seria dada nos orfanatos, asilos, colônias especialmente consagrados a este fim, isto é, ao preparo do trabalhador agrícola. Em todas estas instituições o ensino deveria ser prático e útil, e o indivíduo, que se dedicava ao mister da lavoura, deveria adaptar o seu condicionamento físico, moral e intelectual às necessidades da vida, aparelhando-se devidamente para as lutas e rigores do trabalho.

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