quarta-feira, 3 de março de 2010

AGRONOMIA E HISTÓRIA V

Entre os anos de 1857 e 1859 Sergipe viveu uma grande crise de abastecimento que resultou em muitas mortes e no registro de saques a armazéns e outras casas comerciais. Nesse mesmo período a seca que atingia o sertão dizimou parte do rebanho sergipano, seja pelo mau aproveitamento dos terrenos que não recebiam o tratamento devido e possível em face do conhecimento agronômico então existente, seja pela ausência de práticas de melhoramento das raças dos animais de criação. Do ponto de vista das plantações, à exceção da lavoura canavieira, eram raros hábitos como os de adubação, aragem, armazenamento de água e irrigação. A adubação conhecida era apenas aquela que utiliza esterco de gado, técnica introduzida no agreste do Estado de Sergipe por agricultores da região do Minho, em Portugal, que aqui se estabeleceram (FRANCO, 2005: 11). Na produção agrícola sergipana, os instrumentos mais utilizados eram pá, enxada, machado e fogo (ALMEIDA, Maria da Glória Santana de. “Estrutura de produção: a crise de alimentos na província de Sergipe (1855-1860)”. Revista do Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe. Aracaju, nº 27, 1965-1978. p. 37).
As interpretações da pesquisadora Maria da Glória Santana de Almeida sobre a crise dos alimentos dão conta do quadro existente na agricultura sergipana durante o século XIX. Contudo, é possível afirmar que a partir da metade dos anos 800 o conhecimento agronômico científico em Sergipe foi incorporado de maneira mais acelerada, alterando de modo substancial o panorama de então. Os estudos realizados por João José Bitencourt de Calasans e já aqui analisados são fortes indicadores de tais modificações. Memorialistas como Emmanuel Franco indicam a presença de um agrônomo francês, o Dr. Guiot, trabalhando na produção canavieira em Sergipe durante a segunda metade do século XIX. Apesar de não oferecer maiores indicações sobre esse profissional, afirma que ele esteve envolvido com os estudos que identificaram a Gomose da cana de açucar, nas décadas de 60 e 70 daquela centúria, no mesmo período em que Pasteur estava divulgando as suas descobertas no mundo microbiano (FRANCO, Emmanuel. Viagens. Uma semente plantada. Aracaju, Gráfica Editora J. Andrade, 2005. p. 18).
A segunda metade do século XIX foi um período de amplas discussões, por parte dos políticos, intelectuais e líderes do setor agrícola a respeito da necessidade de criar instituições que fomentassem o conhecimento de técnicas agrícolas; fundação de casas de crédito rural; diversificação das culturas (estímulo ao plantio de chá e café); e, introdução de colonos europeus.
No ano de 1869, o mais importante descaroçador de algodão em funcionamento na Província de Sergipe, era movido a vapor, com capacidade diária de processamento de 600 arrobas e estava instalado em Maruim, como um dos negócios da empresa Schramm.
O uso das terras agricultáveis para a produção de alimentos implicava também em alimentar o gado bovino, responsável pela produção de leite e carne. Esse problema sempre foi sentido, principalmente no sertão, nos períodos de estiagem, quando faltava alimento para as pessoas e para os animais. A alimentação do gado bovino em áreas do sertão sujeitas a períodos de estiagem prolongada começou a melhorar a partir da década de 60 do século XX, com a introdução intensiva da palma forrageira. A partir de 1964 a Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste – Sudene estimulou a introdução da palma fornecendo mudas e um auxílio em dinheiro para os proprietários rurais que quisessem plantar cinco hectares do vegetal. Não obstante ela ser reconhecidamente pobre em nutrientes, é vista como um importante alimento para o gado à época da seca. Quando cortada a cada dois anos e servida na cocheira, a planta pode durar até dez anos, ajudando o gado a resistir à seca (FRANCO, Emmanuel. Viagens. Uma semente plantada. Aracaju, Gráfica Editora J. Andrade, 2005. p. 150).
A palma forrageira tem facilidade em se adaptar aos solos que possuem potássio e sódio em abundância, como os solos da caatinga. Os melhores meses para o plantio são janeiro, fevereiro, abril e dezembro, podendo ser consorciada com milho, feijão e mandioca. Além disso, a palma é uma planta que cobra poucos tratos, exigindo apenas uma roçagem anual. Porém, a planta necessita de terrenos sombreados pelo mato.
Tradicionalmente, tem sido comum no sertão o consumo de mandacaru, uma cactácea nativa que chega até as dunas litorâneas. Agradável ao paladar do gado bovino, desde que colhida e cortada à máquina para destruição dos seus espinhos, a planta é suculenta e rica em água e vive durante muito anos, possuindo mais nutrientes que a palma forrageira. Aos dez anos, uma planta produz em média cinqüenta quilos de alimento.
Dentre as culturas preferenciais da região semi-árida, está também a mandioca, que garante alimento ao homem e ao gado.
Uma outra planta que se adapta bastante à zona do sertão do Estado de Sergipe é o milho, que tanto serve à alimentação humana como para o gado bovino. Em ambos os casos seu poder nutritivo é maior quando colhido verde, com os grãos da espiga ainda leitosos. A sua principal vantagem é o ciclo de vida curto, em torno de três a quatro meses, porém a planta é suscetível ao ataque de lagartas que podem prejudicar o milharal.
Dentre as árvores frutíferas existentes no sertão, sem nenhuma dúvida o umbuzeiro é a mais importante delas, pelos frutos ácidos que produz, adequados à fabricação de sucos e doces. Do mesmo modo, a quixabeira também oferece bons frutos.
Na zona do semi-árido sergipano, a partir da década de 80 do século XX, foi iniciada a implantação de uma rede de adutoras que captam água nos rios Piauí e São Francisco, associada a construção de cacimbas, tanques e barragens.
Emmanuel Franco afirma que a cultura da laranja foi introduzida em Sergipe, na região de Boquim, nas primeiras décadas do século XX, por Edgard Chastinet. A partir da metade do século os citricultores começaram a se organizar e surgiram duas cooperativas: uma em Lagarto e outra em Estância. Além disso, surgiram também indústrias de beneficiamentos dos frutos e extração do suco de laranja.
O Imperial Instituto de Agricultura Sergipano foi criado em 1860, durante a visita do Imperador Pedro II . O decreto de criação do Instituto foi assinado na cidade de Estância, no dia 20 de janeiro:


Desejando assinalar a época de minha visita a esta Província de Sergipe, e manifestar a atenção que presto à agricultura, principal fonte de riqueza do Estado, hei por bem criar o Imperial Instituto de Agricultura Sergipano sob as mesmas bases do Imperial Instituto Baiano de Agricultura, criado por meu Decreto do 1º de novembro de 1859. João de Almeida Pereira Filho, do meu Conselho, Ministro e Secretário dos Negócios do Império, assim o tenha entendido, e faça executar. Palácio da Estância aos 20 de janeiro de 1860. Com a rubrica de S. M. o Imperador. João de Almeida Pereira Filho. Conforme. O Oficial de Gabinete de S. Ex. o Sr. Ministro do Império em viagem, Manuel Diniz Villas-Boas .

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