quarta-feira, 10 de março de 2010

AGRONOMIA E HISTÓRIA VII

Durante a Primeira República as ciências agrárias, da mesma maneira que outros campos acadêmicos buscaram legitimar-se sob a condição de serem conhecimentos científicos suficientes para a solução dos problemas da atividade agropecuária brasileira. Este tipo de ação era orientado pelo discurso dos agrônomos, num comportamento próprio


a uma categoria em processo de legitimação profissional: a tentativa de construir a própria demanda por seus serviços. E isso, a meu ver, em muito interferiria em suas representações acerca da situação agrícola do país, posto que desta dependeriam a defesa de seu espaço e a definição de seu papel face aos demais atores sociais em disputa .


Acentuando de modo muito forte o discurso de crítica à agricultura brasileira sob o Império, os agrônomos se apresentavam como construtores da nacionalidade, através daquilo que era fundamental à nação: a agricultura. “Cabia-lhes resgatá-la de um suposto entorpecimento e atraso” .
As pressões pela afirmação do campo possibilitaram a criação, em 1899, da escola que deu origem a atual Faculdade de Agronomia da Universidade Federal do Rio Grande Sul e, em 1901, a instituição que posteriormente transformar-se-ia na Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” da Universidade de São Paulo.
Os debates sobre os problemas da agricultura em Sergipe se intensificaram no início do século XX. Tal como ocorrera no século XIX, muitas pessoas com formação superior em diversas áreas se aventuravam pelos estudos de Agronomia e publicavam trabalhos agronômicos na imprensa. Foi este o caso do engenheiro mecânico Adalardo Carvalho Lisboa Nogueira, criador de gado bovino no município de Laranjeiras, que publicou um conjunto de artigos sob o título “Interesses Agrícolas” . A publicação desse tipo de trabalho estava inserida no contexto de um amplo debate que levaria o governo estadual a buscar a tecnificação intensiva das atividades do setor agrícola e a criar, em 1915, a Diretoria de Obras, Agricultura, Indústria e Viação.
Esse tipo de propósito já era visível desde que as primeiras discussões a respeito da implantação de uma escola agrícola primária no Quissamã foram iniciadas, ainda em 1912. O governo da União decidira criar centros agrícolas em vários Estados. A fim de atender tal objetivo, o presidente José de Siqueira Menezes fez a desapropriação da fazenda Quissamã, área então situada no município de Nossa Senhora do Socorro. O início do governo Wenceslau Braz, em 1915, e a Reforma Carlos Maximiliano fizeram com que o governo federal abandonasse a idéia. Assim, a escola agrícola projetada por Siqueira Menezes não chegou a ser implantada. O projeto proposto durante o governo do presidente Wenceslau Braz materializar-se-ia em 1918, sob a forma dos patronatos agrícolas. Nesse contexto, uma outra importante tentativa de implantação de uma escola agrícola em Sergipe foi comandada pelo presidente Oliveira Valadão, em 1916. O objetivo era o de obter a melhoria da produtividade agrícola para atender à demanda dos mercados consumidores, incentivando o emprego de máquinas e implementos na agricultura. A Escola Prática de Agricultura a ser criada deveria funcionar em Aracaju e manter dois campos de demonstração em localidades do interior do Estado. Era pretensão do governo fazer com que a escola funcionasse de modo exclusivamente prático. Os alunos do último ano do curso primário deveriam receber ensinamentos da agricultura e aprender a servir-se, a utilizar-se racionalmente de aparelhos aperfeiçoados, a fazer seleção de sementes, a conhecer a natureza dos terrenos e certificar-se das vantagens de tais processos. Além dessa tentativa, o governo do general Valadão estimulou o ensino da agricultura no ensino primário, ao introduzir no currículo a disciplina “Ciências Naturais (lições de cousas) e aplicações à zootécnica e agricultura”.
As leituras das propostas formuladas para o ensino agrícola a partir do século XIX são indicadores que se somam ao entendimento, já esboçado por alguns pesquisadores, segundo o qual as alterações que se operaram na vida brasileira ao longo da passagem do século XIX para o século XX, e também no processo de substituição da Monarquia pela República, não são tão rápidas e tão radicais como muitas vezes se crê. As mudanças registradas nas últimas décadas do século XIX e nas primeiras do século XX são, assim, parte de um processo que se produziu no Brasil ao longo dos anos oitocentos e que obedece a uma dinâmica própria que não se subordina diretamente à substituição do regime monárquico pelo republicano.
O período que vai de 1918 a 1934 foi a época durante a qual o governo brasileiro enfatizou a sua política de difusão dos patronatos agrícolas. Esse tipo de instituição era voltado à formação técnica de trabalhadores e levava em consideração os fundamentos científicos necessários à racionalização da atividade agrícola. O ruralismo pedagógico, que foi muito forte no cenário educacional brasileiro da década de 1920, teve como arautos alguns “pensadores sociais do começo do século, como Sílvio Romero e Alberto Torres” . Estes intelectuais pretendiam transformar o ensino primário em instrumento de fixação do homem ao campo, amortizando os impactos causados pelo movimento migratório, numa cruzada de “valorização do país agrícola, através da regionalização da escola e do ideário ruralista nas instituições escolares” .
Assim, o governo demonstrava sua preocupação não apenas com a vida na cidade, mas, também, afirmava a necessidade de cuidar do produtor de alimentos, concorrendo “para minorar os problemas decorrentes da falta de preparação daqueles que trabalhavam e diretamente lidavam com a agropecuária” . Isto representava um esforço governamental no sentido de fazer, outra vez, crescer a população rural e reduzir a migração em busca do espaço urbano – discussão fundamental à época.


A migração era tomada como um dos problemas que perspassava as áreas rurais: a busca de oportunidades educacionais e de preparação profissional, entre outras, estimulava o deslocamento de populações em direção aos centros urbanos. O ensino profissional agrícola era pensado enquanto meio possível de estimular o aumento da população rural ao fixá-la .


A partir de 1922, o governo do presidente Maurício Graccho Cardoso assumiu uma preocupação muito acentuada com os problemas agrícolas de Sergipe e os impactos da atividade agrícola na economia local.

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