quinta-feira, 25 de março de 2010

BOTÂNICA E HISTÓRIA II

Antonio Moniz de Souza optara por realizar estudos a partir da região onde nascera em 1782, nas margens do Rio Real de Nossa Senhora dos Campos (atualmente município de Tobias Barreto), termo da vila do Lagarto. Iniciada a sua expedição em 1817, o pesquisador dedicou o primeiro ano do seu trabalho a investigar o sertão baiano, na região de Cachoeira de Santo Estevão de Jacuípe, Camisão, Orobó e Jacobina. No ano seguinte, a partir do mês de maio, Moniz de Souza embrenhou-se pelas matas de Sergipe, nas quais permaneceu durante um ano, recolhendo as espécies que encontrou na região de Lagarto, nas margens do rio São Francisco, em Própria, em Itabaiana, em Brejo Grande, em Xingo e em Canindé. A partir de 1820, partiu de Salvador pelo sertão, atravessando Sergipe, outra vez, em direção ao Pará. Suspendeu sua viagem no interior de Pernambuco, em julho de 1822, regressando para Sergipe, onde se incorporou ao Batalhão do Imperador com o objetivo de lutar na guerra pela Independência do Brasil, marchando para a Bahia a fim de reunir-se ao exército pacificador, com o qual chegou a Salvador em dois de julho de 1823 (EDELWEIS, Frederico. . “Prefácio”. In: “Descobertas curiosas que nos reinos vegetal, animal e mineral, por sítios e sertões vários das brasílicas Províncias Bahia, Sergipe e Alagoas, fez o capitão Antonio Moniz de Souza e Oliveira, natural da primeira, com uma breve descrição primordial do lugar de nascimento e princípios de sua educação. Oferecidas ao Augusto Chefe da Nação Brasileira o Senhor D. Pedro Primeiro, Imperador e Defensor Perpétuo do Brasil”. Revista do Instituto Geográfico e Histórico da Bahia. Salvador, nº. 73, 1946. p. 28). Para que se compreenda a importância da iniciativa de Antônio Moniz de Souza, até então o único registro sistematizado conhecido sobre a flora sergipana eram algumas referências existentes na Historia naturalis Brasiliae, “escrita por Marcgrave e publicada por João de Laet em 1648” (FERRI, Mário Guimarães. “A Botânica no Brasil”. In: AZEVEDO, Fernando de (Org.). As ciências no Brasil. 2 v. 2ª. ed. Rio de Janeiro, Editora UFRJ, 1994. v. 2. p. 180). Os trabalhos do estudioso holandês


constituem a primeira contribuição importante para os estudos florísticos do Nordeste. Muitos dos nomes vulgares de plantas que figuram na Flora Brasiliensis [de Martius] são os que foram coligidos por Marcgrave. Este autor herborizou no Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Sergipe, Bahia, Ceará e Maranhão (FERRI, Mário Guimarães. “A Botânica no Brasil”. In: AZEVEDO, Fernando de (Org.). As ciências no Brasil. 2 v. 2ª. ed. Rio de Janeiro, Editora UFRJ, 1994. v. 2. p. 180).


Até o final do século XIX, a vida dos cientistas era repleta de aventuras. Seus trabalhos de observação e representação ajudavam a incorporar uma visão de mundo. Foram importantes e exerceram grande influência na formação da consciência sobre o Brasil no século XIX os relatos feitos por pesquisadores que integraram as muitas expedições científicas daquele período. Bons exemplos são as viagens empreendidas pelo Barão Heinrich von Langsdorf e por Herman von Jhering.
Observar a vida de Antônio Moniz de Souza e a sua trajetória como cientista é conhecer um homem curioso, obstinado e versátil. O botânico sergipano era filho de Domingos de Souza e Oliveira e Victorina Francisca Abreu Leite. Ainda jovem foi trabalhar na fazenda de gado do seu pai, da qual se retirou, já com dezoito anos de idade, para atuar como comerciante durante cinco anos. Nomeado para o cargo de capitão de forasteiros, entrou em conflito com salteadores ligados ao sargento-mor Bento José de Oliveira, resolvendo logo depois partir para Portugal, “disposto a oferecer seus serviços militares em defesa da metrópole, então invadida em 1807 pelas tropas de Napoleão sob o comando de Junot, não conseguindo realizar o seu patriótico intento, por ter naufragado na ilha de Itamaracá, em Pernambuco” (GUARANÁ, Manoel Armindo Cordeiro. Dicionário bio-bibliográfico sergipano. Aracaju, Estado de Sergipe, 1925. p. 29). O naufrágio fez com que Antonio Moniz de Souza perdesse os recursos destinados à viagem, forçando-o a partir para o Rio de Janeiro, onde morou, como leigo, no convento de Santo Antônio.
A partir do final do ano de 1824, o botânico de Sergipe empreendeu uma nova viagem, saindo de Salvador, a pé, em direção ao Rio de Janeiro, costeando o mar. Nesse período fez novas explorações e estudos da flora. Em seguida, já estabelecido na capital do Império fez viagens exploratórias no Rio de Janeiro e em Minas Gerais. A mulher com a qual casou era natural de Macacú, no Rio de Janeiro. Viveu, sem filhos, na sua chácara em Santa Rosa, município de Niterói, até morrer, no dia 17 de setembro de 1857.


Verdadeiro apóstolo da civilização e da ciência, Moniz de Souza impôs-se a missão de derramar o bem em torno de si e de ser útil à sua pátria, servindo de catequista dos índios e das raças mestiças semi-selvagens do país, ao mesmo tempo que, percorrendo os nossos sertões durante 28 anos de viagens contínuas, obedecia ao seu gênio indagador e analista, estudando muitos vegetais cujas virtudes até então desconhecidas vieram enriquecer a Medicina brasileira (GUARANÁ, Manoel Armindo Cordeiro. Dicionário bio-bibliográfico sergipano. Aracaju, Estado de Sergipe, 1925. p. 29).


A sua contribuição ganha relevo quando se considera que somente em meados do século XVIII fora efetivamente estabelecido um sistema de classificação das espécies vegetais . Além da sua atividade como botânico, Antonio Moniz de Souza fez experimentos e descobertas nos campos da Mineralogia e da Zoologia. Os exemplares que coletou durante três décadas de trabalho foram oferecidos ao Museu Nacional e os resultados dos estudos que realizou em Sergipe e em outras regiões do Brasil estão publicados no livro Viagem e observações de um brasileiro, que, desejando ser útil à sua pátria, se dedicou a estudar os usos e costumes de seus patrícios e os três reinos da natureza em vários lugares e sertões do Brasil: oferecidas à nação brasileira. Planejado para ser publicado em dois tomos, somente o primeiro entrou em circulação, no ano de 1834, com 218 páginas. A Tipografia Americana, de I. P. Costa, sediada no Rio de Janeiro, não conseguiu publicar o segundo tomo. No primeiro, além das observações sobre as ciências naturais que preocupavam o autor, há também um relato sobre a revolução da Independência nas Províncias da Bahia, Sergipe e Alagoas. O tomo primeiro ganhou uma nova edição no ano 2000. O Instituto Geográfico e Histórico da Bahia reeditou o livro, que já fora republicado pela revista do mesmo IGHB, em 1945.
O segundo tomo nunca chegou a circular em forma de livro. Foi publicado pelo mesmo periódico, duas vezes (1924 e 1946), sob o título “Descobertas curiosas que nos reinos vegetal, animal e mineral, por sítios e sertões vários das brasílicas Províncias Bahia, Sergipe e Alagoas, fez o capitão Antonio Moniz de Souza e Oliveira, natural da primeira, com uma breve descrição primordial do lugar de nascimento e princípios de sua educação. Oferecidas ao Augusto Chefe da Nação Brasileira o Senhor D. Pedro Primeiro, Imperador e Defensor Perpétuo do Brasil”. Na Revista do IGHB, o texto contém uma apresentação de Frederico Edelweiss. Os originais foram oferecidos, em 1846, ao Instituto Histórico, Geográfico e Etnográfico do Brasil pelo coronel Ignácio Acioli de Cerqueira e Silva. O tomo contém um catálogo de ervas, plantas, raízes, resinas e drogas.
Na apresentação que faz desse texto, Frederico Edelweiss afirma que o trabalho representa uma importante contribuição para o conhecimento da medicina (EDELWEIS, Frederico. . “Prefácio”. In: “Descobertas curiosas que nos reinos vegetal, animal e mineral, por sítios e sertões vários das brasílicas Províncias Bahia, Sergipe e Alagoas, fez o capitão Antonio Moniz de Souza e Oliveira, natural da primeira, com uma breve descrição primordial do lugar de nascimento e princípios de sua educação. Oferecidas ao Augusto Chefe da Nação Brasileira o Senhor D. Pedro Primeiro, Imperador e Defensor Perpétuo do Brasil”. Revista do Instituto Geográfico e Histórico da Bahia. Salvador, nº. 73, 1946). Foram 193 espécies catalogadas por Antônio Moniz de Souza em suas viagens na Bahia, em Sergipe e em Alagoas. Mais da metade delas era desconhecida pelos pesquisadores em 1854, quando foi publicado o “Sistema da Matéria Médica Vegetal”, traduzido por Henrique Veloso de Oliveira, trinta anos depois do levantamento feito pelo botânico aqui estudado. “Mesmo na terceira edição do ‘Dicionário Brasileiro de Plantas Medicinais’, de Meira Pena, ainda faltam umas quarenta dentre as citadas pelo nosso ‘Homem da Natureza’” (EDELWEIS, Frederico. . “Prefácio”. In: “Descobertas curiosas que nos reinos vegetal, animal e mineral, por sítios e sertões vários das brasílicas Províncias Bahia, Sergipe e Alagoas, fez o capitão Antonio Moniz de Souza e Oliveira, natural da primeira, com uma breve descrição primordial do lugar de nascimento e princípios de sua educação. Oferecidas ao Augusto Chefe da Nação Brasileira o Senhor D. Pedro Primeiro, Imperador e Defensor Perpétuo do Brasil”. Revista do Instituto Geográfico e Histórico da Bahia. Salvador, nº. 73, 1946).

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