quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

O FANTASMA DOS PIONEIROS: OS ESTUDOS DE HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO E O DEBATE SOBRE A POLÍTICA EDUCACIONAL REPUBLICANA NO FINAL DO SÉCULO XX - III

CONSIDERAÇÕES FINAIS


Para este estudo, não obstante a fertilíssima contribuição oferecida pelos pesquisadores citados, sob determinadas circunstâncias eles não priorizaram os problemas de interpretação historiográfica situados na transição do século XIX para o século XX. De um modo geral, os estudos de História do Brasil (e não somente os de História da Educação) tomam essa transição levando em conta apenas as representações que fizeram dela, a posteriori, os republicanos positivistas.
Alguns pesquisadores de História da Educação brasileira vêm fazendo, desde meados dos anos 80 do século XX, uma releitura dos marcos teóricos estabelecidos pelos escolanovistas brasileiros. O aprofundamento dessa releitura remete aquele que se lança a fazê-lo a problemas de interpretação historiográfica que estão situados na transição do século XIX para o século XX e deixa bem claro que é possível uma releitura diferenciada das idéias em circulação naquele período. É possível entender o século XIX estudando as representações feitas naquele mesmo momento, e não apenas as representações que posteriormente foram feitas dele pelos republicanos, e atentar para outras possibilidades.
Apesar da importância do seu trabalho, Zaia Brandão não considerou que a idéia segundo a qual “a ciência e o progresso eram valores que viabilizariam a construção de uma república moderna que colocaria o Brasil pari passu com as nações civilizadas” foi apropriada com muita competência pela geração dos anos 20 e 30 do século passado, mas tem suas matrizes teóricas formuladas efetivamente pela geração dos intelectuais da segunda metade do século XIX, preocupada com a construção do “Brasil brasileiro”. Portanto, do mesmo modo que as preocupações com Educação e cultura da geração dos anos 20/30 do século XX merecem ser levadas em consideração e examinadas atentamente, também são igualmente credoras as idéias a esse respeito presentes no discurso da intelectualidade oitocentista.
A tradição marxista brasileira em História da Educação teria feito um trabalho que não foi além da inversão do sinal utilizado por Fernando de Azevedo, posto que em A Cultura Brasileira, a narrativa produzida construiu o lugar do movimento educacional ratificando, concomitantemente, a memória, então oficial, sobre a história recente do país. Essa história continua operando com o mesmo conceito de tempo histórico, sem modificá-lo. Há, naturalmente, algumas exceções. Porém, predominantemente, quase todos os textos continuam a operar com os mesmos marcos estabelecidos por Fernando de Azevedo.
Ruptura com a política oligárquica, a Revolução de 30 é proposta como o desfecho necessário da insatisfação política dos anos 20, insatisfação que tinha no movimento educacional – ao lado das revoltas tenentistas e da Semana de Arte Moderna – uma das suas manifestações; insatisfação, por sua vez, capturada como demanda de modernização do país . E é exatamente no palco erigido por Fernando de Azevedo que a crítica marxista exerce o seu mister. Zaia Brandão coloca que para esse tipo de historiografia, o povo teria ficado impotente diante dos desígnios burgueses.
Não há da parte deste trabalho a intenção de insinuar estarem pesquisadores como Carlos Monarcha, Clarice Nunes e Zaia Brandão presos ao viés interpretativo fixado por Fernando de Azevedo. Todavia, não há como negar que eles continuam discutindo os marcos fixados por aquele autor sem enfatizar a importância e a possibilidade de buscar a explicação dos problemas trazidos à tona pelos escolanovistas em outras circunstâncias históricas. O que se presume é que a compreensão dos problemas em torno dos quais os escolanovistas discursavam há que ser buscada no século XIX, no qual aquelas questão efetivamente foram gestadas.
A preocupação que tem sido freqüente entre os estudiosos aqui citados no sentido de dar conteúdo histórico efetivo às suas pesquisas é justamente o que leva ao século XIX.

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