quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

PRAGMATISMO E EDUCAÇÃO NO BRASIL - VI

EM BUSCA DO PRAGMATISMO


É comum nos textos sobre educação brasileira nos quais aparece a figura de Anísio Teixeira, ou em qualquer debate a respeito do problema da Escola Nova, referência a John Dewey. Ocorre que são raros, neste país estudos que cuidem de analisar o pensamento de um dos filósofos da educação que mais influenciou toda uma geração de intelectuais da educação no Brasil. O trabalho que Anísio Teixeira fez no sentido de divulga-lo desapareceu ao longo da década de 1970, após a morte do intelectual brasileiro. O conjunto de críticas produzido nos programas de pós-graduação em educação ao longo das décadas de 1970 e 1980 acerca do pensamento escolanovista brasileiro levou Anísio Teixeira, John Dewey e as idéias do pragmatismo norte-americano a caírem no esquecimento no que diz respeito ao debate acadêmico sobre este problema. Criticou-se a ideologia liberal, o capitalismo, a tecnocracia, através de vozes autorizadas como as de Dermeval Saviani , Luiz Antônio Rodrigues da Cunha e Rachel Gandini .

Dentre os críticos brasileiros do pragmatismo e do pensamento de Dewey e Anísio Teixeira, Saviani foi, certamente, um dos mais cáusticos, principalmente ao analisar a Escola Nova e afirmar que esta afrouxou a disciplina e rebaixou o nível de ensino destinado às camadas populares, considerando tal movimento como mecanismo de recomposição da hegemonia burguesa, ameaçada pela participação política das massas:


“a ‘escola nova’ desloca o eixo de preocupações do âmbito da política (relativo à sociedade em seu conjunto) para o âmbito técnico pedagógico (relativo ao interior da escola), cumprindo, ao mesmo tempo, uma dupla função: manter a expansão da escola nos limites suportáveis pelos interesses dominantes e desenvolver um tipo de ensino adequado a esses interesses. Com isto, a ‘escola nova’, ao mesmo tempo que aprimorou a qualidade do ensino destinada às elites, forçou a baixa da qualidade do ensino destinado às camadas populares já que sua influência provocou o afrouxamento da disciplina e das exigências de qualificação nas escolas convencionais.”


Certamente idiossincrasias como esta são devidas a ausência de estudos no campo educacional brasileiro a respeito do pragmatismo norte-americano, o que embaça a visão dos críticos quanto ao pensamento de autores como John Dewey e Anísio Teixeira. Críticas como as produzidas por Dermeval Saviani contribuíram para que os autores aqui analisados deixassem de freqüentar a bibliografia dos estudos educacionais no Brasil, a partir da década de 1970 e passassem a ser objeto da rejeição de outros estudos que sequer analisaram os trabalho de Dewey e Teixeira para rejeita-los com segurança.

Somente a partir da década de 1990 começaram a aparecer no cenário da pesquisa educacional entre nós estudos que se detiveram de modo mais consistente sobre as idéias e as práticas da Escola Nova no Brasil, apontando os equívocos historiográficos de algumas análises precedentes. São bons exemplos, os textos produzidos por autores como Hugo Lovisolo, Mirian Warde, Clarice Nunes, Zaia Brandão, Marcus Vinicius Cunha, Ana Waleska Mendonça, Marta Maria Chagas de Carvalho, Bruno Bontempi Junior, Maria Rita de Almeida Toledo e Carlos Otávio Fiúza Moreira. Pouco ainda conhecemos do trabalho de John Dewey. Ainda precisamos amadurecer a compreensão que existe no Brasil a respeito do trabalho de Anísio Teixeira.

Anísio Teixeira usou o pensamento de Dewey para discursar a respeito da necessidade de estabelecer no Brasil uma democracia que até então era inexistente. Para tanto, Anísio investiu na importância de se explicitar o papel do educador. Papel que ele próprio assumia. Como Dewey, Anísio produziu um conjunto de críticas não apenas aos problemas e fragilidades da chamada Escola Tradicional, mas também às inconsistências da Escola Nova. Na primeira criticou a impossibilidade desta relacionar os conteúdos objeto do seu ensino à experiência vivencial dos alunos. Na segunda, chamou a atenção para os riscos de conceber o ensino apenas como ciência aplicada; e as possibilidades de exaltação de um empirismo medíocre; ou, ainda, a possibilidade de levar a improvisação às últimas conseqüências, em nome do respeito à liberdade da criança. Anísio valorizou menos que Dewey a Psicologia Experimental e buscou uma maior aproximação entre a prática educativa, a Filosofia e a Arte. Questionou as análises quatitativas, muito valorizadas naquele momento, por considera-las empobrecedoras da compreensão da Filosofia e do julgamento dos valores na escola.


“Dentro dessa perspectiva, Anísio chega a estabelecer diferenças entre Thorndike e Dewey. Uma delas, por exemplo, é o fato de que, para o primeiro, aprender seria casar estímulos determinados com determinadas respostas ou reações. Para o segundo, aprender, não seria reagir conformadoramente sobre tais estímulos, mas reconstrutivamente.”

Nenhum comentário:

Postar um comentário