domingo, 30 de janeiro de 2011

O PROFESSOR CALASANS E A POLÍTICA EDUCACIONAL - II

Inspecionar as escolas foi importante para o Estado Novo, porque a inspeção se colocou para a administração pública como uma tecnologia que possibilitava o controle, a regulamentação, o reconhecimento e a cassação das atividades das escolas e dos professores. A presença de Calazans no Departamento de Educação se colocava sob o contexto das necessidades dessa política que impôs ao Estado de Sergipe o remanejamento e a reorganização da sua rede de escolas, o aparelhamento dos seus órgãos centrais, a admissão e remoção de professores, coisas que ocorreram na segunda metade da década de 1930 e durante a primeira metade do decênio seguinte.
Apesar de mais conhecido que o técnico em política educacional, o historiador da educação sergipana José Calazans ainda não teve a sua obra devidamente analisada, não obstante ter sido pioneiro nesse campo. Os seus dois principais estudos da área (O Ensino Público em Aracaju.1830-1871 e Aracaju e Outros Temas) são textos fundadores. Ali, ele periodiza a história da educação em Aracaju. O primeiro período corresponde aos anos de 1830 a 1855, dando ênfase à mudança da capital e suas implicações na educação. O segundo período, de 1855 a 1871, faz referência ao ensino masculino, às dificuldades de implantação das cadeiras de Latim, Filosofia, Francês e ao sucesso do ensino feminino. Além de dar importância à figura de Brício Cardoso como diretor da Escola Normal, revelando a utilização do método Lancaster ou monitorial na instituição.
Até agora, cinco trabalhos historiográficos voltaram o seu olhar para os estudos de História da Educação em Sergipe realizados por Calazans: a análise de Maria Thétis Nunes, um estudo de Anamaria Gonçalves Bueno de Freitas, um de Cristina Almeida Valença, um outro da autoria de Jorge Carvalho do Nascimento e mais um deste mesmo autor em parceria com Itamar Freitas. Este último texto, intitulado “A temática da educação na Revista do IHGS”, é revelador da importância de José Calazans como estudioso da História da Educação em Sergipe: “O trabalho de José Calasans é, todavia, o mais importante dentre os que se especializaram na área, durante a primeira metade do século XX. Disciplina acadêmica que constitui o seu campo a partir do final do século XIX, a História da Educação não se desenvolveu como um gênero da História e o seu objeto não era considerado dos mais nobres. Apropriada por filósofos e pedagogos nos cursos de formação de professores no Brasil, o campo só começou a merecer o olhar dos historiadores de ofício a partir da metade dos anos 1980. Não obstante, nos anos 1940, José Calasans já incorporara o discurso que os historiadores do nosso tempo legaram ao campo da História da Educação. O professor Calasans propõe que a história da educação da cidade de Aracaju seja estudada, levando-se em consideração instituições e práticas escolares. No seu tempo, a maior parte dos textos da área privilegiava as idéias pedagógicas e a organização legislativa dos sistemas de ensino. Inversamente, Calasans analisa e dá sentido ao trabalho de professoras e professores primários e secundários; as práticas do ensino público e do ensino privado; a ação estudantil; as experiências pedagógicas; os edifícios e os equipamentos escolares”.
O fato de o primeiro estudo de História da Educação em Sergipe do qual efetivamente se pode afirmar que tinha um compromisso com os métodos da história e que buscou entender o processo efetivamente vivido, ter sido o inaugural artigo do professor José Calazans, “Ensino público em Aracaju (1830-1871)”, publicado em 1951, é por si mais do que suficiente para revelar a importância deste profissional da educação. A sua crença nas potencialidades civilizatórias educacionais, própria da geração dos brasileiros que foram influenciados pelo movimento da educação nova, ao lado do seu rigor historiográfico, são mais do que suficientes, quando acrescidos dos argumentos até agora esboçados, para a demonstração de que é urgente aos pesquisadores sergipanos de História da Educação a tarefa de estudar com seriedade e profundidade a contribuição de José Calazans, seja como professor, como definidor de políticas educacionais ou como pesquisador. Afinal de contas, pelo pioneirismo dos seus estudos e pelo esmero com o rigor metodológico das perspectivas teóricas que assumiu, José Calazans forma, ao lado de Nunes Mendonça e Thétis Nunes, uma espécie de “santíssima trindade” dos estudos sobre educação sergipana, inspirando teórica e metodologicamente as gerações de pesquisadores que têm trabalhado nas últimas três décadas.

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