segunda-feira, 2 de novembro de 2009

A HISTORIOGRAFIA E A POLÍTICA EDUCACIONAL DA DITADURA MILITAR II

Todavia, há indícios reveladores de que, cada vez mais os brasileiros sentem haver chegado a hora de ajustar o descompasso entre memória e história no que concerne ao período de 1964 a 1984. Em algumas situações, dentre os que estão se debruçando sobre este passado, há partícipes ativos dele. Depoentes e produtores de uma dada memória que busca persuadir a todos quanto a justeza da sua versão e desqualificar a visão do oponente.
Este trabalho coloca em discussão o fato de que as análises da política educacional implementada no Brasil durante vinte anos, a partir de 1964, necessitam renunciar a um certo maniqueísmo que prioriza apenas as denúncias das mazelas e produz o esquecimento de alterações fundamentais no sentido da expansão e qualificação dos serviços oferecidos no ensino de primeiro e segundo graus e no ensino superior, sob padrões que até então o país desconhecia, legitimando os governantes ditatoriais junto a amplos setores da população brasileira.
Reconhecer os eventuais avanços da política educacional implementada naquele período, não implica negar o caráter ditatorial do governo que conduzia tal política. Na verdade, significa exercer com honestidade o ofício de historiador, extraindo dos documentos escritos e orais, bem como dos múltiplos indícios iconográficos, a necessária reflexão, colocando ao alcance dos mais jovens os escaninhos que a memória insiste em esquecer, muitas vezes fugindo de polêmicas presentes nas contraditórias versões.
Esta é uma necessidade que se impõe principalmente em relação aos trabalhos acadêmicos. Lucilia de Almeida Neves Delgado revela que mesmo a bibliografia decorrente da pesquisa acadêmica tem sido razoavelmente maniqueísta (DELGADO, 2004, 17). Alguns autores como Argelina Figueiredo e Jorge Ferreira, contudo, se distanciam dos demais pelo fato deles adotarem a premissa segundo a qual tanto os segmentos de esquerda, quanto os grupos conservadores e de direita seriam absolutamente descomprometidos com a democracia, uma vez que esta “não era prioritária nem na agenda da direita, nem na da esquerda” (Idem, 25).
É evidente que o período iniciado em 1964 representa a inauguração de uma ditadura cruenta. Contudo, isto não autoriza qualquer intérprete a negar as mudanças que ocorreram, promovendo transformações que não podem ser ocultadas pelas artimanhas da memória, que é sempre seletiva.

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