sexta-feira, 4 de junho de 2010

BOTÂNICA E HISTÓRIA II

Observar a vida de Antônio Moniz de Souza e a sua trajetória como cientista é conhecer um homem curioso, obstinado e versátil. O botânico sergipano era filho de Domingos de Souza e Oliveira e Victorina Francisca Abreu Leite. Ainda jovem foi trabalhar na fazenda de gado do seu pai, da qual se retirou, já com dezoito anos de idade, para atuar como comerciante durante cinco anos. Nomeado para o cargo de capitão de forasteiros, entrou em conflito com salteadores ligados ao sargento-mor Bento José de Oliveira, resolvendo logo depois partir para Portugal, “disposto a oferecer seus serviços militares em defesa da metrópole, então invadida em 1807 pelas tropas de Napoleão sob o comando de Junot, não conseguindo realizar o seu patriótico intento, por ter naufragado na ilha de Itamaracá, em Pernambuco” (GUARANÁ, 1925, 29). O naufrágio fez com que Antonio Moniz de Souza perdesse os recursos destinados à viagem, forçando-o a partir para o Rio de Janeiro, onde morou, como leigo, no convento de Santo Antônio.
A partir do final do ano de 1824, o botânico de Sergipe empreendeu uma nova viagem, saindo de Salvador, a pé, em direção ao Rio de Janeiro, costeando o mar. Nesse período fez novas explorações e estudos da flora. Em seguida, já estabelecido na capital do Império fez viagens exploratórias no Rio de Janeiro e em Minas Gerais. A mulher com a qual casou era natural de Macacú, no Rio de Janeiro. Viveu, sem filhos, na sua chácara em Santa Rosa, município de Niterói, até morrer, no dia 17 de setembro de 1857.


Verdadeiro apóstolo da civilização e da ciência, Moniz de Souza impôs-se a missão de derramar o bem em torno de si e de ser útil à sua pátria, servindo de catequista dos índios e das raças mestiças semi-selvagens do país, ao mesmo tempo que, percorrendo os nossos sertões durante 28 anos de viagens contínuas, obedecia ao seu gênio indagador e analista, estudando muitos vegetais cujas virtudes até então desconhecidas vieram enriquecer a Medicina brasileira (GUARANÁ, 1925, 29).


A sua contribuição ganha relevo quando se considera que somente em meados do século XVIII fora efetivamente estabelecido um sistema de classificação das espécies vegetais . Além da sua atividade como botânico, Antonio Moniz de Souza fez experimentos e descobertas nos campos da Mineralogia e da Zoologia. Os exemplares que coletou durante três décadas de trabalho foram oferecidos ao Museu Nacional e os resultados dos estudos que realizou em Sergipe e em outras regiões do Brasil estão publicados no livro Viagem e observações de um brasileiro, que, desejando ser útil à sua pátria, se dedicou a estudar os usos e costumes de seus patrícios e os três reinos da natureza em vários lugares e sertões do Brasil: oferecidas à nação brasileira. Planejado para ser publicado em dois tomos, somente o primeiro entrou em circulação, no ano de 1834, com 218 páginas. A Tipografia Americana, de I. P. Costa, sediada no Rio de Janeiro, não conseguiu publicar o segundo tomo. No primeiro, além das observações sobre as ciências naturais que preocupavam o autor, há também um relato sobre a revolução da Independência nas Províncias da Bahia, Sergipe e Alagoas. O tomo primeiro ganhou uma nova edição no ano 2000. O Instituto Geográfico e Histórico da Bahia reeditou o livro, que já fora republicado pela revista do mesmo IGHB, em 1945.
O segundo tomo nunca chegou a circular em forma de livro. Foi publicado pelo mesmo periódico, duas vezes (1924 e 1946), sob o título “Descobertas curiosas que nos reinos vegetal, animal e mineral, por sítios e sertões vários das brasílicas Províncias Bahia, Sergipe e Alagoas, fez o capitão Antonio Moniz de Souza e Oliveira, natural da primeira, com uma breve descrição primordial do lugar de nascimento e princípios de sua educação. Oferecidas ao Augusto Chefe da Nação Brasileira o Senhor D. Pedro Primeiro, Imperador e Defensor Perpétuo do Brasil”. Na Revista do IGHB, o texto contém uma apresentação de Frederico Edelweiss. Os originais foram oferecidos, em 1846, ao Instituto Histórico, Geográfico e Etnográfico do Brasil pelo coronel Ignácio Acioli de Cerqueira e Silva. O tomo contém um catálogo de ervas, plantas, raízes, resinas e drogas.
Na apresentação que faz desse texto, Frederico Edelweiss afirma que o trabalho representa uma importante contribuição para o conhecimento da medicina (EDELWEISS, 1946). Foram 193 espécies catalogadas por Antônio Moniz de Souza em suas viagens na Bahia, em Sergipe e em Alagoas. Mais da metade delas era desconhecida pelos pesquisadores em 1854, quando foi publicado o “Sistema da Matéria Médica Vegetal”, traduzido por Henrique Veloso de Oliveira, trinta anos depois do levantamento feito pelo botânico aqui estudado. “Mesmo na terceira edição do ‘Dicionário Brasileiro de Plantas Medicinais’, de Meira Pena, ainda faltam umas quarenta dentre as citadas pelo nosso ‘Homem da Natureza’” (EDELWEISS, 1946).

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