quinta-feira, 24 de junho de 2010

ENGENHARIA E HISTÓRIA EM SERGIPE - V

As obras de drenagem e aterramento do centro da cidade de Aracaju ganharam novo impulso a partir de 1915, quando o presidente Oliveira Valadão decidiu aterrar todo o trecho da praça Camerino até a área onde está o atual edifício do Atheneu; a região dos fundos do atual quartel da Polícia Militar; e a baixada das ruas Pacatuba, Maruim, Estância e avenida Rio Branco. Essas obras extinguiram lagoas, pântanos e mangues, aperfeiçoando as condições de salubridade da capital.
Foram, portanto, significativas as contribuições que a engenheira ambiental recebeu dos médicos, principalmente no que concerne a discussões acerca dos problemas do saneamento. Ainda no início do século XX, profissionais da saúde como Jessé Fontes, Delegado de Higiene de Estância, publicava no jornal “O Estado de Sergipe” o artigo “Saneamento do Brasil” , colocando a questão sob a ótica da ciência médica.
No combate à febre amarela, os médicos trouxeram a Sergipe, em maio de 1924, a Fundação Rockfeller. A instituição funcionou durante três anos no Estado, até 1927, combatendo a moléstia. Para atingir os seus objetivos, a Fundação Rockfeller realizou várias obras de saneamento na capital, drenando valas, aterrando pântanos e quintais alagados, tratando das fontes, poços e cisternas.
A preocupação que tinham os médicos com o campo da Engenharia é posta com muita clareza pelo Código Sanitário do Estado de Sergipe aprovado em 1926, ao atribuir à Diretoria Geral do Serviço Sanitário a competência de fiscalizar as obras de saneamento e estudar as condições higiênicas de todos os edifícios a serem construídos (SANTANA, 1997: 172).
Em dezembro de 1858 o vice-cônsul de Portugal, Horácio Urpia, ganhou a concorrência para, no prazo de três anos, canalizar as águas do rio Pitanga, com um aqueduto em tubos de ferro ou de louça, implantando chafarizes em Aracaju. O contrato não foi cumprido e, em junho de 1864, o mesmo Horácio Urpia firmou novo contrato com a Província, a fim de cumprir o mesmo objetivo. Cinco anos depois, sem executar a obra, a empresa de Horácio Urpia contratou os engenheiros Carlos Mornay e Frederico Mornay, que produziram avaliação técnica e sugeriram a canalização das águas do rio Poxim, e não do Pitanga como se previra inicialmente. Em 1870, a Província assinou novo contrato, desta feita com as empresas Manoel de Vasconcelos e F. F. Borges. Novamente a obra não foi executada. Mais um contrato foi firmado. Agora, no ano de 1890, quando os comerciantes João Victor de Matos e José Alves Costa criaram a Companhia de Abastecimento de Água para canalizar as águas do rio Pitanga (SANTANA, 1997: 45-46).
A Engenharia hidráulica conheceu um importante avanço, em novembro de 1909, com a implantação do serviço de distribuição de água encanada em Aracaju, captada no rio Pitanga e fornecida in natura. A Companhia Melhoramentos de Sergipe, empresa que realizou os serviços, era uma sociedade anônima controlada pelos irmãos Francisco e Francino de Andrade Mello, que detinham 95 por cento das ações. O contrato assinado em 1908 pelo presidente Rodrigues Dória garantia à Companhia o direito de explorar o abastecimento da capital por 50 anos. Contudo, antes mesmo que o serviço completasse três anos de funcionamento, o presidente do Estado, Siqueira de Menezes, estatizou a Companhia, em setembro de 1912 (SANTANA, 1997: 138).
A necessidade de prestação de um bom serviço fez com que já em 1915 o governo Oliveira Valadão realizasse reformas no reservatório de água da Cabrita, aumentando a sua capacidade para 1.800.000 litros por dia.
Apenas quatorze anos depois de iniciadas as atividades do serviço de abastecimento de água de Aracaju, os problemas que o sistema enfrentava eram da maior gravidade. A falta de manutenção, a expansão da malha urbana, a falta de tratamento da água, os problemas de filtragem e as tubulações desniveladas e estreitas (com apenas oito polegadas de diâmetro) faziam com que a água chegasse às torneiras em quantidade insuficiente e fossem freqüentes as suspensões no fornecimento. Graccho Cardoso contratou, em fevereiro de 1923, o escritório do engenheiro Francisco Saturnino de Brito para a realização de um diagnóstico da situação do abastecimento de água da capital. Em dezembro do mesmo ano a empresa que fez o diagnóstico iniciou as obras de reconstrução da rede de abastecimento de água de Aracaju, sob a direção do engenheiro Povoa de Brito. A rede de tubos foi reconstruída, o reservatório foi duplicado e foi instalado um sistema de pré-filtragem no rio Pitanga, no qual era feita a captação.
Á água distribuída em Aracaju passou então a receber pré-tratamento no ponto de captação. Além disso, a água passava por um tratamento químico à base de sulfato de alumínio e cal virgem, sendo em seguida decantada e filtrada pelo sistema Reisert. Além disso, o presidente Graccho Cardoso privatizou a rede de abastecimento de água da capital, através de concorrência pública na qual saiu vencedora a Empresa de Melhoramentos de Aracaju, controlada pelos empresários Francino de Andrade Melo e Júlio Leite. A empresa contratou a exploração dos serviços pelo prazo de 50 anos.
O abastecimento de água em Aracaju iria apresentar sintomas de graves dificuldades nas décadas de 60 e 70, em face do crescimento populacional e da demanda industrial. No início da década de 80, contudo, a inauguração da Adutora do São Francisco resolveu tal problema, captando água no rio São Francisco, e transportando-a por mais de 100 quilômetros para a capital do Estado de Sergipe.
Ainda do ponto de vista das ações de saneamento, o governo Siqueira de Menezes decidiu implantar, em 1913, o sistema de esgotamento sanitário e drenagem da capital . O projeto foi elaborado pelo engenheiro Paulo Alfredo Poltro e a obra, executada pela Companhia Melhoramentos de Sergipe, estava concluída em novembro de 1914, já durante o governo de Oliveira Valadão. O tratamento biológico dos efluentes era constituído por um tanque com capacidade para 1.500.000 litros, previsto para atender a 15.000 habitantes, com oito leitos percoladores e superfície de 1.500 metros quadrados, correspondendo a um metro cúbico diário por metro quadrado (SANTANA, 1997: 139).
Não obstante estar funcionando há apenas dez anos, a rede de esgoto de Aracaju já exigia reformas no ano de 1923. Do mesmo modo que o escritório do engenheiro Saturnino de Brito foi contratado pelo presidente Graccho Cardoso para estudar o problema do abastecimento de água, recebeu também a incumbência de diagnosticar a questão do esgotamento sanitário e sugerir medidas capazes de resolver a situação. Assim, a partir de dezembro de 1923, foram iniciadas não apenas as obras de reforma da rede de água, mas também de drenagem e de esgotamento sanitário. A mesma Empresa de Melhoramentos de Aracaju que ganhou a concorrência para administrar o serviço de abastecimento de água, a partir de 1926, contratou também o gerenciamento do sistema de esgoto.
O escritório Saturnino de Brito voltou a ser contratado pelo governo do Estado de Sergipe em 1956, para estudar a melhoria no serviço de abastecimento de água e de coleta e tratamento de esgotos de Aracaju. A expansão desses serviços e a política de saneamento adotada pelos governos da ditadura militar iniciada em 1964 fizeram com que, em agosto de 1969, fosse criada a Deso, a Companhia de Saneamento do Estado.
O serviço de esgoto da cidade de Aracaju ganharia um novo impulso durante a primeira metade da década de 80, quando o governador João Alves Filho reorganizou e modernizou a rede existente. À época o serviço chegou a cobrir cerca de 80 por cento da cidade de Aracaju.
Ainda do ponto de vista do saneamento ambiental, a cidade de Aracaju passou a contar com um importante serviço no início da década de 30 do século XX: o recolhimento do lixo orgânico domiciliar. A iniciativa pioneira do intendente Camilo Calazans foi executada por uma empresa, organizada por José Freire Barreto e contratada pelo município com este objetivo específico. Em 1935, o prefeito Godofredo Diniz estruturou definitivamente o serviço, contratando varredores de ruas, carroças e caminhões de limpeza pública da mesma empresa de José Freire Barreto. O lixo coletado na cidade era levado para aterrar áreas pantanosas da Luzia, atualmente um importante bairro de Aracaju.

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