sábado, 12 de junho de 2010

ENGENHARIA E HISTÓRIA EM SERGIPE - II

O segundo capítulo do seu livro é dedicado a discutir os motores animados e inanimados aplicados ao fabrico do açúcar e à plantação da cana. Como motores animados usados nessa área, relaciona o homem, o boi, o cavalo e a besta muar. Como motores inanimados cita o vento, a água corrente e o vapor. Comenta o trabalho humano apenas para tomar posição contrária a escravidão. Analisa, contudo os outros motores animados, a partir do boi. Entende ser este animal dotado de uma força lenta e mais permanente que a do cavalo. Trabalha, portanto, de um modo igual e contínuo, podendo prolongar os seus esforços musculares. A lentidão do boi combinada à sua força o torna apropriado para trabalhos penosos que exigem resistência constante, como rotear terrenos duros, realizar lavras profundas, transportar peso em ladeiras escarpadas.
O cavalo próprio para os trabalhos agrícolas deve ser reforçado, curto, de peitos e ancas largas, redondo e musculoso. Já a besta muar é capaz de dispender grande energia e superior ao cavalo no transporte de cargas. É menos sujeita a moléstias e de vida mais longa que o cavalo.
Bois, cavalos e bestas foram empregados como força motriz nos primeiros engenhos brasileiros, que possuíam moendas construídas em madeira. Depois elas foram cobertas com argolas de ferro. No século XIX as moendas argoladas já estavam substituídas por cilindros ou tambores de ferro fabricados na Inglaterra, com rodas dentadas igualmente de ferro. A melhor tecnologia em uso nos anos oitocentos, também inglesa, era a das moendas de ferro movidas a vapor, que espremiam melhor as canas que as moendas de tambor. Este era um detalhe importante, principalmente quando se considera que a cana contém 90 por cento do seu peso em caldo. As moendas movidas a vapor conseguiam retirar apenas cerca de 75 por cento desse caldo. E a situação das moendas tipo tambor movidas a cavalo era ainda de maior desperdício, pois retiravam apenas cerca de 45 por cento do caldo.
Ao discutir os motores inanimados, Bittencourt Calasans revela que o vento era de difícil utilização na indústria açucareira pela sua irregularidade em tempo, em força e em direção, uma vez que ele sopra algumas ocasiões durante muito tempo e outras ocasiões para de soprar. Algumas vezes sua força é excessiva e em outras oportunidades demasiadamente branda. Do mesmo modo, a sua direção, também variável. Ou seja, o autor revela a inexistência de tecnologia capaz de utilizar racionalmente a força do vento.
Uma força inanimada de bom uso como motor mecânico era a da água. A exceção era apenas para as situações nas quais esse uso poderia exigir investimentos elevados em equipamentos para fazer a elevação dos córregos e rios a fim de que houvesse aproveitamento dessa força. Por isto, o grande motor inanimado do século XIX era a força do vapor, com numerosas aplicações industriais. Era possível utilizá-lo em trabalhos de irrigação, navegação, transportes terrestres, para mover serrarias, para mover arados. Bittencourt Calasans sugeria que os engenhos utilizassem máquinas a vapor de grande porte para a moagem das canas, uma vez que assim seria possível extrair uma maior quantidade de suco. E apontava como mais recomendado


o uso da máquina de vapor dos Srs. Woods & C. de Inglaterra, com o seu jogo sobressalente de tambores, ou cilindros de pressão, trabalhando o primeiro e o segundo jogos, por meio de uma cadeia sem fim , sendo o bagaço menos espremido pelo primeiro jogo de três cilindros, saturado d’água quente ao entrar na mais forte pressão do segundo jogo de dois cilindros, a fim de despregar melhormente as matérias concretas, ou cristais que se acham formados nas células das canas; nas maiores e mais maduras sobretudo (CALASANS, 1869: 47).


Durante a segunda metade do século XIX, portanto, o uso de máquinas a vapor foi implantado nos engenhos de açúcar da Província de Sergipe. Cada vez mais, os produtores de açúcar adquiriram caldeiras destinadas a retirar da garapa da cana, por meio do calor, a água nela contida, reduzindo-a ao estado de açúcar cristalizado. As caldeiras mais comuns eram as chamadas caldeiras fixas a fogo nu, também conhecidas como tachas. Redondas, de fundo chato, grandes, pequenas, de ferro fundido, de ferro batido, quadrangulares e de cobre.
Eram variados os tipos de caldeiras a fogo nu existentes. Inicialmente muitas delas eram fabricadas em cobre. Porém, a elevação dos preços desse metal no século XIX fez com que o ferro predominasse. O cobre era considerado um metal mais adequado a este fim, porque as caldeiras de ferro, expostas diretamente a ação do fogo, apresentavam, com o tempo, alguns problemas. O primeiro era a caramelização ou queima do caldo exposto intensamente ao calor do fogo. Este fenômeno fazia com que o açúcar queimado se misturasse com o novo caldo, resultando na perda de açúcar e no aumento da quantidade de melaço produzido. Pelo fato de que a limpeza desse tipo de caldeira demandava muito tempo. E tudo isso significava o retardo de duas operações que necessitavam de rapidez para se obter um bom açúcar: a evaporação e a concentração do xarope.
As caldeiras a báscula começaram a aparecer na busca pela superação dos problemas existentes nas caldeiras a fogo nu. Eram caldeiras que podiam ser retiradas do fogo e conseguiam transferir o seu conteúdo de uma para outra através de um bico superior, suspensas por meio de uma roldana. Algumas eram redondas, outras quadradas, mas as básculas quadrangulares de Wetzall eram consideradas as mais simples e mais eficazes no processo de concentração do xarope. As caldeiras Blyth também eram elogiadas pela sua eficiência.
As caldeiras a vapor e ao ar livre funcionavam com vapor de alta pressão, o que as fazia mais aquecidas e evitava o processo de caramelização comum em diferentes tipos de caldeira. Todo o processo de fabricação do açúcar era realizado com muita rapidez e economia, permitindo que se produzisse açúcar em maior quantidade e com melhor qualidade.Além destas eram também adotadas as caldeiras a vácuo. Caldeiras esféricas, hermeticamente fechadas, destinadas a cozinhar o xarope evaporado na primeira caldeira. A vantagem do sistema é que não se perdia um cristal de açúcar sequer, em face da ausência do contato com o ambiente externo e da rapidez do processo.

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