domingo, 27 de junho de 2010

ENGENHARIA E HISTÓRIA EM SERGIPE - VII

O pavimento térreo das casas grandes funcionava como depósito e era revestido por lajotas de barro.Já o pavimento superior servia de residência dos proprietários e seus familiares, recebendo um acabamento mais refinado e piso em assoalho de madeira. As paredes eram erguidas normalmente com a utilização de três tipos de material: sopapo, alvenaria de pedras e alvenaria de tijolos. As pedras e os tijolos apresentavam normalmente três dimensões: circulares, utilizadas em colunas, com diâmetro que variava entre 32 e 80 centímetros; retangulares, com dimensões que variavam de 17X8X3,5 a 41X20X7 centímetros. A partir do século XIX, as construções das casas grandes ganharam um maior refinamento. As janelas foram rasgadas por inteiro, até o nível do piso, ganhando sacadas de ferro. Apareceram portas e janelas ogivais, caxilharia envidraçada, além de bandeiras e janelas tipo guilhotina (LOUREIRO, 1999: 15).
Os galpões de fabricar açúcar tinham telhados com grandes águas e alguns deles terminavam quase no chão, com cumieiras muito altas, para facilitar a dispersão do calor. As senzalas nem sempre eram apenas um único e grande cômodo. Era comum a construção de moradias geminadas a meia parede. Eram casas com uma pequena varanda à frente. Alguns estudiosos acreditam que esse tipo de construção serviu de modelo para as vilas operárias que apareceram no início do século XX em cidades como Aracaju, após a construção das indústrias têxteis do bairro industrial.
A engenharia religiosa chegou a Sergipe através dos padres jesuítas, no século XVII, espalhando capelas em toda a zona rural. Tais construções eram erguidas sobre um arcabouço de madeira, com esteios, baldrames e frechais enquadrando as paredes de trama barreada conhecidas como taipa de pau a pique ou taipa de sebe e taipa de sopapo. As paredes eram revestidas com duas camadas: emboço, para o nivelamento; reboco, de areia e cal, para o acabamento. A cobertura era de telhas de barro, moldadas nas pernas dos escravos. A primeira construção dos padres jesuítas em Sergipe foi a casa grande da Fazenda Colégio.
A engenharia religiosa ganhou uma maior sofisticação no século XVIII. Em 1743 foi inaugurada a Igreja Nossa Senhora da Conceição da Comandaroba, na zona rural de Laranjeiras. As paredes de sopapo foram substituídas por novos materiais: pedra calcária ligada por argamassa de barro em calda, cal e tijolos grossos (LOUREIRO, 1999: 15).
Certamente, em seu conjunto, a mais importante obra de Engenharia que Sergipe conheceu em toda a sua história foi a construção da cidade de Aracaju, a nova capital da Província, a partir de 1855. Bem antes disto, outras cidades foram erguidas, demandando a incorporação de tecnologias da Engenharia Civil nas busca de solução para problemas complexos presentes em todas as cidades, como a implantação de calçadas, grades, telhados, esquinas e praças.
O governo da Província tomou a decisão de construir a nova capital num período em que o Império estava reorganizando o espaço urbano de algumas cidades brasileiras, “fugindo das cidades de padrão português, como até então era São Cristóvão, que cumpriu sua missão histórica, trepada em morros, fugindo do mar. Por medo dos aventureiros invasores franceses e holandeses” (CHAVES, 2004: 73). A cidade, traçada pelo engenheiro Sebastião Basílio Pirro, em um quadrilátero imaginário, foi concebida sob forte influência européia. Tal quadrilátero foi dividido em 32 quadras de 110m X 110m, formando uma espécie de tabuleiro de xadrez, considerado à época um traçado muito moderno. Tomando como ponto de partida a atual praça Fausto Cardoso, o plano previa uma malha urbana que se estendia por mil metros em direção ao norte, mil metros para o oeste e mil metros em direção ao sul, formando quadras simétricas, de aproximadamente cem metros, além do leito das ruas (BARRETO, 2005).

Nenhum comentário:

Postar um comentário