quinta-feira, 12 de agosto de 2010

SOBRE A HISTÓRIA DA QUÍMICA EM SERGIPE - IV

O período de 1923 a 1926 marcou o momento no qual se registra o início do efetivo funcionamento da primeira instituição estatal dedicada ao ensino e a pesquisa da Química em Sergipe e a crise do primeiro curso superior de Química sergipano. O estudo da história do ensino e da pesquisa Química em Sergipe é parte do processo de organização do Centro de Memória da Ciência e da Tecnologia em Sergipe – CMCTS. Assim, busca entender os procedimentos próprios a organização da entidade de ensino e pesquisa que atualmente funciona sob a denominação de Instituto de Tecnologia e Pesquisa de Sergipe – ITPS. A investigação envolve o estabelecimento de categorias analíticas capazes de estabelecer distinções e menções a teorias. A modalidade de ensino aqui analisada diz respeito ao ensino técnico de nível superior oferecido pelo Instituto de Tecnologia e Pesquisa de Sergipe a partir do início do século XX.
A análise apresentada tomou como base quatro textos publicados em Sergipe que tratam da história da pesquisa e do ensino da ciência e da tecnologia em Sergipe. Dois deles discutem o problema da organização da Universidade Federal de Sergipe e dois outros se debruçam especificamente sobre a pesquisa e o ensino da Química . Os dois estudos específicos sobre a História do ensino da Química em Sergipe foram avaliados a partir da perspectiva historiográfica que expressam.
O decreto do presidente do Estado, Maurício Graccho Cardoso, que criou a nova instituição afirma que “a química é uma ciência que se prende a todos os ramos do saber universal, e como tal, dela dependem as indústrias de maior relevância para o homem”. Em 1926, o Instituto de Química Industrial passou a ter a denominação de Instituto Arthur Bernardes e em 1942 de Instituto de Química e Bromatologia do Departamento de Saúde Pública de Sergipe . No ano de 1942, o Instituto foi incumbido de preparar


analistas capazes de melhorar a técnica das indústrias existentes ou fomentar novas indústrias, bem como realizar análises de matérias primas, produtos e sub-produtos e fazer pesquisas de sua especialidade que interessem ao desenvolvimento dos processos agrícolas, industriais, a saúde pública e ao esclarecimento da polícia e da justiça .


Para cumprir tal objetivo o Instituto foi dividido em duas seções: Escola de Química e Seção de Análises e Pesquisas. Por fim, em outubro de 1948, o Instituto recebeu a sua atual denominação: Instituto de Tecnologia e Pesquisas de Sergipe.
O Conselho Nacional de Educação autorizou a instalação do curso de Química Industrial em julho de 1949 e o governo estadual regulamentou o funcionamento da Escola de Química de Sergipe em dezembro do mesmo ano . As atividades letivas foram iniciadas em 1950. A Escola, porém continuou integrada à estrutura do ITPS e o diretor do órgão estadual de pesquisa acumulava também a direção da Escola de Química que, de resto, continuava funcionando nas dependências do Instituto de Tecnologia e Pesquisas de Sergipe. O curso de Química oferecido obteve reconhecimento em 1953 , o que “permitiu a seus diplomados o exercício da profissão em todo o território nacional” .
A Escola de Química de Sergipe entrou em nova fase a partir de 1962, quando ganhou autonomia e separou-se do Instituto de Tecnologia e Pesquisa de Sergipe. Em 1968, com a criação da Universidade Federal de Sergipe, a Escola passou a integrar a sua estrutura como Instituto de Química. A formação oferecida foi ampliada dois anos depois, com a criação do curso de Licenciatura em Química . O curso de Engenharia Química foi criado no ano seguinte .
Quando o presidente do Estado de Sergipe, Maurício Graccho Cardoso, criou o Instituto de Química Industrial, em julho de 1923, já estava consolidada a consciência de que a Química, ao lado da Biologia, da Física e da Matemática, constituía o campo disciplinar legitimador dos paradigmas e dos conceitos da medicina. Esta função, a Química adquirira ao mesmo tempo em que se legitimara, na segunda metade do século XIX, como ferramenta fundamental ao desenvolvimento da indústria. Por isto, se considerava importante formar “químicos analistas capazes de orientar (...) os laboratórios e as indústrias” . Assim é que o Instituto, ao ser implantado tinha dois grandes objetivos definidos: a manutenção de laboratórios para análises dos problemas químicos ligados aos produtos agrícolas e industriais; e, a formação de químicos analistas. O decreto do presidente do Estado, Maurício Graccho Cardoso, que criou a nova instituição afirma que “a química é uma ciência que se prende a todos os ramos do saber universal, e como tal, dela dependem as indústrias de maior relevância para o homem”.
Quando da instalação do Instituto, o presidente Graccho Cardoso, convidou o professor Archimedes Pereira Guimarães para implanta-lo, na condição de primeiro diretor. Professor de Química Orgânica e Instrumental do Curso de Química Industrial da Escola Politécnica da Bahia, Archimedes Guimarães chegou a Sergipe defendendo que o Instituto deveria


exercer a missão superior e delicada que lhe seria destinada, e não deveria preocupar-se com todos os problemas agrícolas e industriais que poderiam vir a ser uma fonte de riqueza para o Estado, mas tão somente em incentivar a produção daquelas matérias primas já em exploração e comércio, melhorando-as quer no estado bruto, quer como produtos acabados, de acordo com os modernos ensinamentos científicos .


De acordo com o seu entendimento, o Instituto deveria priorizar a análise de produtos agrícolas e industriais que fossem já objeto de comércio, além da formação de novos profissionais dedicados à análise de produtos químicos. A instituição foi instalada inicialmente em um edifício situado à rua Duque de Caxias. O equipamento, o mobiliário e os insumos foram adquiridos em São Paulo, no Rio de Janeiro e importados da Europa e dos Estados Unidos da América.
O projeto implementado pelo professor Archimedes no Instituto de Química Industrial levou a instituição a desenvolver dois tipos de atividades laboratoriais: o primeiro manteve um laboratório completo para análises da cana-de-açúcar e do açúcar manufaturado em todas as suas fases de fabricação, “tendo sempre em vista o seu maior rendimento, para análises dos óleos vegetais e pesquisas sobre sua extração e exploração mais vantajosas, especialmente sobre o aproveitamento industrial dos cocos nuciferas, para análise de terras, adubos, inseticidas etc” . O laboratório para o açúcar foi concebido para manter relações estreitas com uma estação experimental de cana, nos mesmos moldes da existente em Campos, no Rio de Janeiro. Dentre os sonhos do professor Archimedes estava o propósito de conseguir, através da melhoria do cultivo da cana, a obtenção do álcool industrial como substituto da gasolina.
O professor Archimedes levou o Instituto a estudar também o tanino do mangue, abundante em toda a orla marítima e fluvial de Sergipe, de modo a aplicá-lo nos curtumes e tinturarias, sobre as féculas e a panificação, de modo a obter um tipo de pão misto de trigo e mandioca. Em torno da pesquisa do tanino havia também a expectativa de aplicação em materiais cerâmicos, bebidas e uma grande variedade de gêneros alimentícios.
A partir de 1924 a equipe do professor Archimedes Guimarães começou a formar profissionais em análises químicas.

Nenhum comentário:

Postar um comentário