sábado, 14 de agosto de 2010

SOBRE A HISTÓRIA DA QUÍMICA EM SERGIPE - V

Para admissão ao curso eram realizados exames preparatórios de Português, Francês, Geografia, Aritmética e Álgebra, Noções de Geometria e Desenho Geométrico Elementar, História do Brasil e Noções de História Universal. As aulas eram iniciadas no dia 15 de fevereiro e encerradas no dia 30 de outubro. O curso mantinha dois períodos de férias: o primeiro de quinze dias, no mês de junho e um outro de noventa dias, que se iniciava no dia 15 de novembro, posto que a primeira quinzena deste mês, após o encerramento das aulas em outubro era destinada a realização dos exames finais. As aulas teóricas do primeiro ano eram ministradas pelo próprio Archimedes Guimarães.
Observando os conceitos de representação e cultura usados por Roger Chartier é necessário identificar as transformações que as práticas da pesquisa e do ensino de Química ensejaram na formação dos profissionais sergipanos. Chartier está preocupado com a forma através da qual os indivíduos se apropriam de determinados conceitos. Assim, valoriza as mentalidades coletivas. O processo através do qual uma instituição constrói e dá sentido ao seu mundo se reflete nos métodos utilizados para alcançar seus objetivos. Conceitos como os de utensilagem mental, visão de mundo e configuração têm importância fundamental.
As representações acerca da atividade do Químico no início do século XX ainda não estavam de todo legitimadas socialmente. Apesar dos investimentos do poder público e da atividade dos profissionais que lutavam pela legitimação do campo, são muitos os registros encontrados em todo o Brasil que dão conta da dificuldade que tinham os Químicos de serem aceitos socialmente. Ainda no ano de 1847, no Rio de Janeiro, o pesquisador Custódio Alves Serrão exonerou-se do cargo de diretor geral e de diretor do Laboratório Químico do Museu Nacional, por considerar que a importância deste tipo de atividade ainda não fora compreendida no Brasil.
Em Sergipe, depois de funcionar durante dois anos, o curso começou a apresentar problemas e em 1926 foi fechado por falta de alunos. Todavia a estrutura montada naquele momento foi fundamental para a instalação do curso superior em Química implantado no ano de 1948.
No período em que o ensino superior esteve ausente das atividades do Instituto, muitos dos seus profissionais utilizaram as suas instalações para atividades docentes, como relata o memorialista Emmanoel Franco, ao falar do trabalho do professor Antônio Tavares de Bragança, que na década de 30 era o diretor do Instituto: “Terminado o curso complementar no Atheneu Pedro II, em Aracaju, em novembro de 1938, onde fui aluno de química com o Prof. Antônio Tavares de Bragança, (...) que dava aulas práticas todos os dias de domingo no Instituto de Química” (FRANCO, 2005: 21). Em sua atividade como diretor e pesquisador do Instituto de Química, Antônio Tavares de Bragança descobriu um método de conservação e envasamento da água de coco e realizou algumas investigações geológicas que contribuíram para com a pesquisa do petróleo em Sergipe.
A legitimação da idéia segundo a qual o ensino de Química em Sergipe somente teria sido iniciado em 1948 talvez se deva a interrupção do curso destinado a formar analistas, em 1926. Talvez este problema leve trabalhos memorialísticos como o do professor José Pedro de Andrade Castor, a afirmarem a identidade da geração de 1948.
É necessário verificar a contribuição que deram os médicos à consolidação do campo profissional da Química em Sergipe. A preocupação destes profissionais com o caráter científico da sua atividade e de campos que poderiam contribuir parta com ela como a Química, é posta com muita clareza pelo Código Sanitário do Estado de Sergipe aprovado em 1926, no mesmo momento em que estava se consolidando o novo Instituto, ao atribuir à Diretoria Geral do Serviço Sanitário a competência para fiscalizar a realização das análises química e bromatológica (SANTANA, 1997: 172). Foi criado, novamente, o Conselho Sanitário Central, tendo como integrantes o diretor geral do Serviço Sanitário, os delegados sanitários dos municípios, o Intendente Municipal de Aracaju, o professor de higiene da Escola de Farmácia e Odontologia Aníbal Freire, os diretores do Instituto Parreira Horta e Arthur Bernardes, do Hospital de Cirurgia e os médicos do Batalhão da Força Federal e da Polícia Militar do Estado (SANTANA, 1997: 173).
O Instituto Parreira Horta foi fundado em 1923, com o objetivo de pesquisar e produzir insumos básicos para a área de saúde. A pretensão era construir uma instituição voltada ao combate à raiva; um instituto vacinogênico capaz de produzir vacina anti-variólica; e, um laboratório de análises clínicas, bacteriológicas e químicas que também funcionasse como centro de pesquisa médica. O presidente Graccho Cardoso entregou a responsabilidade pela instituição ao médico Paulo de Figueiredo Parreira Horta.Ele cuidou pessoalmente do projeto, da construção e da organização administrativa e científica do Instituto. Cientista de prestígio internacional, ao transferir-se para Sergipe viveu como hóspede oficial do Palácio do Governo. O edifício do Instituto foi erguido em oito meses e inaugurado em maio de 1924 (SANTANA, 1997: 176-178).
Após a inauguração do Instituto Parreira Horta, em 1924, a instituição esclareceu a etiologia das febres que costumavam ocorrer na cidade de Aracaju, classificando-as como tifóides, isolou os germes e conseguiu fabricar uma vacina oral para evita-las. A vacina era fabricada através do cultivo de amostras de bacilos tíficos e paratíficos “A” e “B” em garrafas contendo agar inclinado. Após 24 horas,


as culturas eram retiradas da superfície do agar e emulsionadas em água fisiológica esterilizada. Fazia-se a contagem dos germes, previamente mortos com iodo, no hematimetro de Thomas-Zeiss. A solução era diluída a 2% numa solução decinormal de iodo. Após esse processo, a vacina resultante era distribuída em ampolas de 5, 10 e 20 Cm3 (SANTANA, 1997: 178). A vacina era aplicada por via oral, com 20 gotas diluídas em água, tomadas em jejum, durante três dias consecutivos (SANTANA, 1997: 178).


O Instituto identificou ainda a incidência de casos de difteria em Sergipe, isolando o bacilo de Löefler em culturas. Contudo, os estudiosos do tema consideram que a maior contribuição do Instituto Parreira Horta foi possibilitar o início do “uso terapêutico da insulina em Sergipe. Com o acesso aos laboratórios do IPH, dosagem correta da glicemia, os médicos tiveram condições de efetuar o tratamento, com segurança e êxito, de vários casos de Diabetes” (SANTANA, 1997: 179). O Regulamento do Instituto especificava como produzir, conservar e aplicar vacinas.

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