sexta-feira, 15 de abril de 2011

A CIDADE NO ARQUIVO: O ACERVO DO PODER JUDICIÁRIO COMO FONTE PARA OS ESTUDOS DA HISTÓRIA DE ARACAJU - IV

É fundamental compreender os processos vividos pelo presidente Inácio Barbosa, por aqueles que dividiam com ele a responsabilidade de governar a Província, por aqueles que sofreram no seu cotidiano as ações do governo, pelos que gravitavam em torno dos múltiplos interesses próprios da produção açucareira da metade do século XIX. A instalação da nova capital de Sergipe foi um empreendimento arrojado, um investimento vultoso para as condições da época e pensado em seus múltiplos detalhes, a ponto de até um rebocador ser providenciado pelo governo provincial para facilitar o acesso dos navios à Barra da Cotinguiba. O processo de refinamento das relações entre as pessoas, das condições de vida e dos ritos do poder impostos ao espaço da nova capital, como a passagem por aqui do Imperador Pedro II, em 1860, têm muito a nos dizer. As dificuldades ambientais encontradas no processo de urbanização e que repercutem até os dias atuais no cotidiano dos aracajuanos, como os pântanos, riachos e canais; os alagamentos freqüentes nos períodos de inverno; a necessidade de canalização de vários cursos d’água; os grandes investimentos realizados na cidade em diferentes períodos dos séculos XIX e XX; os processos de expansão da cidade em direção à zona norte, a exemplo da construção da estrada do Santo Antônio; o projeto do engenheiro Pirro que regulamentava as posturas urbanas e proibia, no âmbito da cidade que traçou, as construções de casas de palha, afastando os pobres do centro de Aracaju; o estímulo a fixação dos funcionários públicos na capital, durante a segunda metade do século XIX, com o adiantamento de um ano de salários; a decadência econômica de Laranjeiras, Maruim e São Cristóvão, que se segue à mudança da capital da Província para cá; as epidemias do cólera e as “febres do Aracaju”, que constituíram o grande problema sanitário do século XIX; a construção e o desaparecimento de grandes monumentos arquitetônicos da cidade; o “boom” econômico, social e cultural de Aracaju, na segunda metade do século XIX e ao longo de todo o século XX; a destruição dos manguezais e áreas de preservação permanente que acompanhou o processo de desenvolvimento urbano.
Desvendar a vida urbana é descobrir saberes, revelar olhares, conceitos, invenções, cenas do cotidiano, práticas sociais e políticas. A Resolução Provincial nº 458, da Câmara Municipal, datada de três de setembro de 1856, além de proibir as palhoças no quadrilátero do engenheiro Basílio Pirro também regulava outros costumes: obrigava a construção de passeios lajeados; proibia o barulho e a queima de fogos de artifício; regulava os modos de vestir nas ruas e nas praias. E assim a trama urbana continuou se complexificando com bondes de burro, casas de beirais, dunas de areia, tipos populares, a Colina do Santo Antônio, os autos populares com Caboclinhos e Lambe-Sujos, as feiras, as viagens em barcos a vela e a vapor, a cadeia pública, as redes de arrasto no rio, as festas natalinas, as regatas, o futebol jogado com bolas de pano, a feirinha em Chica Chaves, o Recreio Clube, as retretas, os médicos, os cemitérios, a antiga Escola Normal, o Cine Teatro Rio Branco, os balões, os busca-pés, o coco, as novenas, vultos que passaram e vultos que ficaram. Tudo é a cidade. Um mundo a descobrir.
As lutas pelo domínio do uso do solo da cidade são parte desses conflitos, importantes no processo de formação da estrutura urbana e na visão incorporada pelos indivíduos que assumem o poder, criando e recriando o espaço urbano. No Arquivo Judiciário existem registros que dão conta dos conflitos e da luta pela terra que se estabeleceu em Aracaju após a fundação da nova capital pelo presidente Inácio Barbosa, no início do ano de 1855.

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