sábado, 19 de março de 2011

INSTRUÇÃO E CULTURA ESCOLAR NO IMPÉRIO DO BRASIL: REFLEXÕES ACERCA DO DEBATE EDUCACIONAL SOBRE O SÉCULO XIX - III

A recuperação de embates produzidos no Brasil ao longo do século XIX pode ajudar na busca de evidências quanto a formulação de políticas públicas coerentes e avançadas naquele período e dar conta de como era buscada a identidade do Estado Nacional Brasileiro. Pode servir ao esclarecimento de um quadro que torna transparentes algumas conquistas e avanços econômicos, sociais e democráticos. Também cria a possibilidade de examinar outros contrapontos quanto a discussão que analisa o que foram no caso brasileiro, efetivamente, as políticas de Educação e cultura dos governos imperiais. Precisamos estudar as memórias apresentadas aos congressos e concursos realizados no século XIX, a fim de que entendamos melhor a mentalidade brasileira daquele momento.
Uma leitura do debate que se travou no século XIX em textos apanhados no momento mesmo em que a discussão se realizava é fonte para a compreensão dos posicionamentos intelectuais e políticos do período, dos pontos de vista assumidos, das concepções de Educação adotadas e das críticas formuladas.
Uma releitura do período monárquico, principalmente dos embates travados durante o Segundo Império, pode contribuir para a compreensão das representações dos seus antecedentes feitas pelos intelectuais que pensaram o Estado Republicano Brasileiro e que trabalharam firmemente para a construção de uma imagem segundo a qual durante o século XIX o Brasil estava, digamos, desprovido de qualquer projeto de Estado Nacional. Não podemos esquecer que o Estado Republicano Brasileiro produziu em seu benefício a imagem de ser uma utopia francesa nos trópicos, que se propunha a oferecer toda a sorte de políticas públicas que faziam falta ao ordenamento institucional anterior.
Admitir a existência de bons projetos de Educação durante o Império não significa necessariamente avalizar todas as propostas da Monarquia, como poder-se-ia pensar ao fazer o raciocínio inverso. Não significa apontar a suficiência do que existia. Mas, não há como escamotear muitas evidências históricas que apontam a existência de tais projetos. As observações que este trabalho faz acerca dos projetos educacionais do século XIX não têm o objetivo de tomar posição na polêmica Império X República. Não há a pretensão de fazer o julgamento ético comparativo dos governos monarquistas e republicanos, mas apenas trazer à superfície elementos empíricos que devemos considerar na análise de vários estudos sobre o século XIX produzidos a partir da segunda década do século XX.

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