quarta-feira, 7 de outubro de 2009

AGRICULTURA OU PEDAGOGIA? AGRÔNOMOS E PEDAGOGOS NO COLÉGIO AGRÍCOLA BENJAMIN CONSTANT (1967-1979) III

CONSIDERAÇÕES FINAIS


A memória sobre os embates entre agrônomos e profissionais da área educacional é tão forte que a comunidade escolar continua a se debater entre a imagem de um passado glorioso, que remete ao período em que a Escola esteve sob o controle do Ministério da Agricultura, ao qual todos se referem de modo reverencial, e no qual o poder dos diretores era temido e inquestionável, e um presente freqüentemente questionado e visto pela maioria como um momento de dificuldades e decadência. Todavia, algumas pessoas afirmam que esta imagem foi construída como resultado do embate entre os dois grupos.
Embora a idéia de que o ex-diretor Francisco Gonçalves tenha sido um homem com pouca aptidão para o exercício do cargo[i] seja majoritária na memória das pessoas que passaram pela Escola naquele período, não é possível deixar de levar em consideração o fato de que a oposição ao seu nome também está ligada ao preconceito para com a sua formação de técnico agrícola. Um preconceito revelador da consciência que tinham os engenheiros agrônomos e outros profissionais da chamada área técnica[ii] que atuavam na instituição para com a aptidão dos técnicos que a própria Escola formava. É necessário, entretanto, observar que os insucessos administrativos de Francisco Gonçalves não foram apenas seus, mas também dos assessores com formação técnica em nível superior, inclusive engenheiros agrônomos.

[i] Francisco Gonçalves contesta essa idéia relatando iniciativas importantes que foram tomadas no seu período administrativo como a implantação do sistema de tratamento de água através da companhia de saneamento do Estado de Sergipe, a DESO, com recursos do Banco Mundial. “Quando eu saí da Escola deixei o almoxarifado completamente abastecido e todos os setores produzindo”. Cf. SANTOS, Francisco Gonçalves dos. 2004.
[ii] “Se a gente for analisar a administração do professor Laonte, que é agrônomo tem formação pedagógica, do professor Alfredo Cabral, que é veterinário e tem formação pedagógica, do professor Alberto, que é biólogo, da professora Cláudia, que é pedagoga, do professor Francisco, que é técnico agrícola, a gente chega à conclusão de que quando o diretor foi da área técnica a Escola funcionou melhor. Agora, eu não vou afirmar que só o pessoal da área técnica seria capaz de administrar bem a Escola. Todo mundo tem capacidade, até porque você não administra sozinho. O diretor administra junto com os assessores”. Cf. OLIVEIRA, Tânia Maria Brito Ferreira de. 2004.


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS


BOMFIM, Alberto Aciole. Entrevista concedida ao autor no dia 07 de dezembro de 2003.

CHARTIER, Roger. A História Cultural: entre práticas e representações. Lisboa: Difel, 1990.

CONCEIÇÃO, Joaquim Tavares da. Entrevista concedida ao autor no dia 02 de agosto de 2004.

DANTAS, Cláudia Maria Lima. Entrevista concedida a autor no dia 06 de agosto de 2004.

MENDONÇA, Sônia Regina de. A balança, a régua e o arado: sistemas de ensino e ‘habitus’ de classe na Primeira República. Cadernos do ICHF. Nº 48, novembro. Niterói, Instituto de Ciências Humanas e Filosofia da Universidade Federal Fluminense, 1992.

OLIVEIRA, Tânia Maria Brito Ferreira de. Entrevista concedida ao autor no dia 14 de agosto de 2004.
PEREIRA, Cândido Augusto Sampaio. Entrevista concedida a Marco Arlindo Amorim Melo Nery, no dia 22 de fevereiro de 2004.

ROSA, Maria da Glória de. História do ensino agrícola no Brasil República. Marília, Unesp, 1980.

SANTOS, Francisco Gonçalves dos. Entrevista concedida ao autor no dia 09 de agosto de 2004.

SILVA, Laonte Gama da. Entrevista concedida no dia 24 de setembro de 2003.

SILVA, Matias Paulino da. Entrevista concedida ao autor no dia 09 de dezembro de 2003.

SOUZA, Maria Cecília Cortez Christiano de. Escola e memória. Bragança Paulista, EDUSF, 2000.

THOMPSON, E. P. Senhores e caçadores: a origem da lei negra. Tradução Denise Bottmann. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1987.

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