quarta-feira, 14 de outubro de 2009

A CANA DE AÇÚCAR

Após concluir o curso de Direito na Universidade de Bruxelas, na Bélgica, em 1835, João José de Bittencourt Calasans retornou a Sergipe, assumiu o comando do engenho Castelo, propriedade da sua família. Ali começou a estudar agronomia por conta própria, lendo os principais autores então existentes, com o objetivo de introduzir na sua propriedade arados, implementos agrícolas e algumas máquinas movidas a vapor. O seu interesse o levou a uma viagem de a Cuba e aos Estados Unidos da América em 1857, durante a qual buscou aperfeiçoamento em estudos a respeito dos melhores sistemas de cultura da cana e do fabrico do açúcar. Nesta viagem, demorou-se por mais tempo na Louisiana, no sul dos Estados Unidos, onde se considerava que a agricultura era mais avançada, com um maior grau de incorporação de tecnologia, tanto no plantio da cana quanto na produção de açúcar. Talvez por esta razão e pelo livro que publicou (O agricultor sergipano da cana de açúcar, primeiro livro sobre Agronomia produzido em Sergipe, que começou a circular em 1869) apareça como engenheiro agrônomo na “Relação dos cidadãos que têm governado a Província de Sergipe, desmembrada da Baía por Decreto de 8 de Julho de 1820, desde a instalação até 1889”. Bittencourt governou a Província de Sergipe durante dois dias, em 1845. Além disso, recebeu o título de Comendador da Ordem de Cristo, por haver hospedado o Imperador Pedro II em sua residência, na cidade de Estância, no ano de 1860. Membro de algumas sociedades científicas do século XIX, ele também foi dirigente do Imperial Instituto Sergipano de Agricultura.
O livro que publicou está organizado em quatro capítulos, uma introdução e um resumo final à guisa de conclusão. Impresso na Bahia pela tipografia de Camillo de Lellis Masson & Companhia, o livro continha 98 páginas no formato 11 X 21,5 cm. Ainda no prólogo, o autor esclarece que ao assumir a direção do engenho Castelo estava despreparado para a missão e corria o risco de levar o empreendimento à bancarrota. Esta teria sido a razão determinante para que houvesse se lançado ao estudo dos clássicos da Agronomia e buscasse viajar ao exterior, a fim de estudar e conhecer as técnicas de plantio da cana e de fabricação do açúcar, além de adquirir a bibliografia mais atualizada. Revela também que a partir dos estudos realizados estabeleceu um método que consistia em testar as informações que as suas fontes lhe apresentavam. O passo seguinte foi o de organizar a exposição presente no texto: “Procurei ajustar as frases e as palavras do Agricultor Sergipano às inteligências de grande parte dos plantadores da cana de açúcar, e julgo ter feito alguma coisa no estado em que nos achamos, baldos até hoje de um livro prático, neste gênero, que seja mais aplicado aos nossos usos e costumes, e ao nosso clima, como este, escrito em linguagem corrente, abrangendo todas as operações e trabalhos do plantio da cana e do fabrico do seu açúcar, aí descritos minuciosamente” (p. VI).
O livro de Bittencourt Calasans se inicia com o que o autor denominou de “Parte Histórica”. Ali aparecem as origens das práticas agrícolas, numa discussão que remete aos egípicios, aos gregos, aos romanos, aos chineses e aos persas, antes de chegar ao Brasil. Também faz uma exposição sobre a cana de açúcar, suas origens e suas espécies, revelando que a primeira espécie de cana aqui introduzida foi a Caiana, no Rio de Janeiro, em 1570, por Mem de Sá. Posteriormente, o marquês de Barbacena mandou buscar na Jamaica as espécies Malabar e Batávia. Diz que desde o século XIII a planta é conhecida na Arábia, tendo daí se expandido para a Síria, Chipre, Turquia e Sicília. Depois, foi levada pelos portugueses desde a Sicília até as ilhas da Madeira, de Porto Santo e São Tomé. Os espanhóis a trouxeram para a América, plantando-a em São Domingos, a partir de 1506.
O autor produz um diagnóstico do plantio da cana e do fabrico do açúcar no país, identificando um completo atraso nas suas técnicas, defendendo a necessidade da difusão dos saberes da ciência agronômica no Brasil. Para ele, uma das primeiras necessidades era a da substituição da cana Caiana pelas espécies Salangor e Transparente. A espécie Salangor, entendia Calasans, produzia um caldo abundante, doce e fácil de clarificar, resultando num açúcar alvo e de boa granulação. Do mesmo modo, a cana Transparente que, ademais, tinha a facilidade de crescer também em terrenos arenosos e fracos. Sugere também o plantio da cana China, por ser dura e resistente à seca, induzindo que ela deveria ser plantada ao redor dos canaviais.

2 comentários:

  1. Como trooouxeram a cana-de-açúcar paara oo Braasil ??

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  2. Gloria: A cana chegou com os portugueses nos primeiros anos da colonização. Foram eles também que começaram a fabricar açúcar no Brasil e que difundiram entre nós o hábito de consumir doces como sobremesa.

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