quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

AGRÔNOMOS X DOCENTES: MEMÓRIAS DAS DISPUTAS PELO PODER NA ESCOLA AGROTÉCNICA FEDERAL DE SÃO CRISTÓVÃO II

OS PROCESSOS SUCESSÓRIOS


Desde que a instituição foi criada, em 1924, os processos sucessórios na sua direção foram freqüentemente traumáticos. Aquele que se afastava da direção não poupava críticas a quem lhe sucedia. Da mesma maneira, nos momentos em que um diretor assumia o cargo era comum dirigir acusações ao seu antecessor. Domingos Rodrigues, que assumiu a direção do Patronato de Menores Francisco de Sá, em 13 de dezembro de 1927, carregou nas tintas do seu Relatório: “Achando-se na época em que recebi do meu antecessor, o patronato em completa desorganização, era impossível dentro de tão pequeno lapso de tempo, já ter conseguido obra perfeita, com resultados surpreendentes e maravilhosos” .
Invariavelmente, a mudança do diretor ocorria quando o grupo que exercia o poder era substituído por um novo bloco partidário. “Em 1954 o diretor era João Fernandes de Sousa. Entrou Dr. Leandro [Maciel] para o governo e tirou João Fernandes. Ele era ligado ao pessoal do PSD. O grupo de Dr. Leandro não se afinava com João Fernandes” . Os dois diretores que sucederam a João Fernandes de Sousa eram intimamente ligados à UDN: Wanderley do Prado Barreto e Tennyson Araújo Aragão. A UDN somente perdeu o controle da indicação dos diretores da instituição depois que João Seixas Dória venceu as eleições, em 07 de outubro de 1962.
Nos últimos anos da ditadura militar as relações de poder faziam com que se explicitassem cada vez mais as divergências no interior da Escola. O ponto máximo de tensão ocorreu quando da substituição do diretor Laonte Gama da Silva, depois de haver este exercido a função durante 16 anos . Após a sua saída, a instituição passaria por mudanças administrativas radicais, posto que pela primeira vez seria gerenciada por um técnico sem formação superior. Os engenheiros agrônomos estariam, a partir de então, alijados do exercício do poder na Escola. Não mais tiveram condições de indicar o diretor. Além do mais, incomodava a alguns deles o fato de o novo diretor ser um técnico com formação em nível médio: Francisco Gonçalves . Laonte Gama da Silva revela o grau de tensão produzido por tais conflitos, ao acusar o seu sucessor de haver desmontado a indústria de laticínios que ele deixou funcionando na Escola e formando técnicos:


Deixei a escola com tudo isso pronto, com técnicos em laticínios e formando técnicos em laticínios. Sergipe já transformava-se em uma bacia leiteira. Francisco Teco desmanchou a industria de laticínios, trocou todo o equipamento por dois cavalos, dois garanhões e mandou [o equipamento] para Bananeiras na Paraíba .


Ele atribui a um ex-governador sergipano a responsabilidade pelas alterações na administração da Escola:


nós saímos da Escola por uma exigência do governador Augusto Franco . O Senhor de Engenho e o processo de puxa-saquismo. O secretário geral do MEC foi ao Ministro Jarbas Passarinho e pediu para que não me demitisse, o diretor geral do Ensino Agrícola foi a ele e pediu para que não me demitisse. A resposta do ministro: é para atender o governador. Dos três senadores de Sergipe, dois queriam a substituição: Passos Porto e Lourival Baptista. [Um] era contra: Gilvan [Rocha] .


Vários professores da Escola confirmam a interpretação feita por Laonte Gama . Da mesma maneira, ele também fez um julgamento do processo de escolha do seu substituto:


Francisco levava toda semana para a casa de Dr. Augusto um fardo de tomate, de quiabo . Para a casa de seu Arnaldo [Garcez, ex-governador de Sergipe]. Para a casa de Manoel [Conde Sobral, importante liderança política do período da ditadura militar em Sergipe]. E eles puseram Francisco, sem preparo nenhum .


Este mesmo processo é relatado por outros professores que atuavam na Escola naquela oportunidade. “Chiquinho [Francisco Gonçalves] com amizade com a família de Augusto Franco ficou cavando para ser diretor da Escola. Ninguém nunca acreditou. Ele conseguiu. Chegou a nomeação” . Contudo, mesmo concordando com as avaliações feitas por Laonte Gama a respeito do processo da sua demissão e substituição por Francisco Gonçalves, muitas pessoas consideram que ela carrega nas tintas ao afirmar que saiu em face de problemas políticos, por entenderam que nunca, na história da instituição fora distinto esse tipo de processo, inclusive quando da nomeação do próprio Laonte Gama:


Laonte passou o seu período como se fosse um período de ditadura. Ele não passou quatro anos nem foi eleito. Politicamente Dr. Leandro [Maciel, líder político da UDN] caiu. Tiraram Wanderley [do Prado Barreto]. Foi politicamente que ele entrou ali. Laonte foi morar na casa grande, que era uma casa muito boa, muito equipada e aí ele se fez dono da escola. (...) Embora ele tenha criado o Conselho de Professores, a palavra final era dele .


Entretanto, há professores que avaliam com muito entusiasmo os dezesseis anos durante os quais Laonte Gama dirigiu a instituição. Para Emanoel Franco, ele qualificou o quadro de professores e “foi um grande diretor” .
Já Francisco Gonçalves era tido pelos alunos como um dirigente que não sabia exercer adequadamente a autoridade que lhe era conferida pelo cargo. “Ele não era um diretor que sabia se impor. Ele era influenciado pelo professor Mário, um advogado que manipulava muito as coisas na direção da escola” . Ademais, as suas iniciativas gerencias eram tidas como atabalhoadas:


Francisco fazia as coisas muito doidas. O trator estava no campo, a gente tinha acertado com o tratorista para arar essa área para plantar milho. Quando chegava na área não encontrava o trator e perguntava pelo homem. [Alguém] dizia que o diretor tirou para ir para o campo .


Laonte Gama da Silva revelou toda a sua mágoa para com o processo, principalmente considerando o fato de que pela primeira vez a Escola passava a ser administrada por um técnico agrícola com formação em nível médio e não por um engenheiro agrônomo, como vinha ocorrendo desde 1924:


Eu pedi para sair da AEASE . Existe uma tradição dessa Escola. Desde que essa Escola passou a ser ensino. [O cargo de diretor] só foi ocupado por engenheiro agrônomo, nunca por um técnico agrícola. Põe um engenheiro agrônomo. A AEASE não tomou conhecimento .


A exoneração de Laonte Gama da Silva do cargo de diretor da Escola Agrotécnica Federal de São Cristóvão era esperada desde muitos anos . Ao longo dos dezesseis anos nos quais exerceu a função, vários grupos e líderes da política de Sergipe fizeram pressão para substituí-lo. Dentre outros problemas de natureza política apontados no comportamento do diretor, estava o fato de ser este notoriamente ligado ao Movimento Democrático Brasileiro – MDB , partido que fazia oposição ao governo ditatorial. Em várias ocasiões, além da acusação de oposicionista Laonte Gama recebeu a pecha de simpatizante da causa comunista, como nas eleições de 1974, quando o provecto senador Leandro Maciel perdeu a sua cadeira para o médico João Gilvan Rocha e “aproveitou a oportunidade para informar que eram comunistas o bispo de Propriá, o chefe do distrito da Superintendência do Vale do São Francisco e o diretor de uma escola agrícola federal” .
Quanto ao processo de escolha do diretor da Escola através de eleições diretas envolvendo docentes, discentes e os servidores técnico-administrativos, Laonte assevera ser este um processo visto por ele com restrições: “culmina com essa menina diretora, que não sabe o que é ensino agrícola” . Na sua opinião somente os engenheiros agrônomos possuem os requisitos técnicos necessários à gestão da Escola Agrotécnica Federal de São Cristóvão.
Essa questão, porém, é polêmica no interior do corpo docente da Escola, mesmo entre pessoas que estão muito próximas. A professora Gilda Vasconcelos Gama da Silva considera a experiência da eleição direta para diretor muito ruim, entendendo que se estabelece uma relação de troca de favores que prejudica o funcionamento da atividade fim. Depois que se inaugurou este processo eleitoral, “o próprio Ministério da Educação criou mais de quarenta funções gratificadas” .
O ex-diretor Tennyson Aragão considera que o atual processo de escolha dos gestores da Escola Agrotécnica Federal de São Cristóvão “é uma palhaçada. O diretor tem que ser escolhido pela autoridade do Ministério a quem ele vai ficar subordinado. Isso está superado” .
No início do século XXI, o discurso sobre as relações de poder no interior da Escola buscou valorizar padrões de gerenciamento tidos como democráticos e definir os elementos necessários à sua implementação. “A consolidação de uma gestão escolar de cunho democrático-participativo requer competências cognitivas e afetivas, respaldadas na internalização de valores, hábitos, atitudes e conhecimentos” .
Mesmo não concordando com o novo método de escolha dos dirigentes da instituição, Laonte Gama da Silva tende a discordar de um entendimento muito difundo dentre os profissionais da área segundo o qual o atual processo de eleições diretas para diretor seria o grande responsável pelo que boa parte dos entrevistados para este estudo foi unânime em apontar: aquilo que consideram a decadência da Escola Agrotécnica Federal de São Cristóvão. Considerando a Escola decadente, ele atribui o fato não apenas ao processo eleitoral interno, mas diz que na verdade o atual modelo brasileiro de formação de técnicos agrícolas está esgotado. “Esse modelo já faliu” . Crê que a decadência da Escola tanto pode ser resultante do modelo brasileiro de ensino médio, do modelo de ensino agrícola, quanto a fatores internos da própria administração e do pessoal da instituição. Sustenta sua crítica aos fatores internos da Escola, exemplificando:


Foi imperdoável a ausência da Escola quando o governador João Alves lançou o projeto Platô de Neópolis. Ela tinha que gritar, estar junto da Secretaria da Agricultura. A Escola tem que participar do projeto. Um agricultor para irrigação é um agricultor especializado .


Aliás, o tema da decadência se repetiu várias vezes ao longo da história da instituição escolar:


Esta Escola é um estabelecimento de tradição pelos bons e relevantes serviços que vem prestando a toda coletividade e não pode nem deve parar. Sua curva deve ser sempre ascendente e nunca como agora, estacionária ou mesmo descendente. Mas, é isto mesmo; as instituições assim como as pessoas estão sujeitas aos altos e baixos da sorte, mas, aquelas que conseguem sobreviver às intempéries do destino voltam à plenitude do seu antigo progresso. Não somos derrotistas nem desfalecemos diante da rudeza das lides diárias. Prevemos para este Educandário um futuro promissor devido às suas grandes possibilidades que um dia serão despertadas pelo toque mágico dos idealistas que dirigem os destinos da nossa Pátria. E, quer estejamos nós ou outros na direção dos seus trabalhos, esta Escola emergirá vitoriosa desta tremenda crise que ora lhe vem assolando .


Outro ex-diretor da escola que a considera decadente é o professor Tennyson Aragão: “As poucas vezes que eu vou lá eu fico triste de ver a escola, como ela está. O auditório não existe mais. E, para fazer aquele auditório não foi fácil. Foi um trabalho meu e do João Fernandes” . Para ele a decadência se deve ao despreparo administrativo de alguns dos diretores que passaram pela escola.
Com a idéia da decadência concordam também alguns dos seus ex-alunos. José Ireno da Silva que freqüentou a instituição durante a década de 1980 atribui o processo de decadência ao que considera o afrouxamento das normas disciplinares . Além disso, ele considera também a mudança do perfil do mercado de trabalho, entendendo que a profissão de técnico agrícola perdeu importância .
Para Alfredo Cabral, a decadência existe e é de natureza técnico-pedagógica:


A Escola piorou. A Escola hoje compra farinha. A Escola tem uma área de 2.500 tarefas a quinze quilômetros de Aracaju, tem rio, tem mão-de-obra, tem tratorista, tem trator, tem o próprio aluno também. A Escola hoje não planta mandioca. Começaram a plantar esse ano. Tem muito tempo que não planta, desde a época de Alberto, na primeira gestão. Alberto não chegou a plantar arroz. Acho que o último arroz que foi plantado foi quando eu fui diretor, em 89. O arroz não planta. Horta, produz um pouquinho. Aviário é como eu falei para você, ficou dois anos parado. O aperto na educação pública é geral, mas nunca faltou dinheiro. Qual foi o órgão [público] que você viu fechar por falta de dinheiro nesse país? Nunca, tem dinheiro. Tem pouco, mal aplicado. Alberto mesmo, na primeira gestão, pintou o prédio da administração, se não me engano, quatro vezes. Aquilo ali ficava um brinco. Mas, se você fosse lá pra trás, para o aviário, não estava bom. Então é uma questão administrativa. Se você entra lá e é professor de Educação Física e quer investir em esporte, você vai investir em esporte. Quadra, isso, aquilo, tudo vai ficar bonitinho. Mas, vá olhar o campo. Eu acho que aquela Escola é uma Escola agrícola. (...) É [necessário] mudar o currículo. A gente se preocupa. O aluno basta aprender matemática que já vai para o campo. Não. É regra de três, é? Saber quantos quilos de adubo vai dar em cada tarefa? Não. O que eu acho que está decadente é isso. A Escola já foi ponto de referência. Nós já produzimos pinto de um dia. Tinha suíno lá que era ponto de referencia, que era como se fosse um fomento. O cara ia comprar para criar, porque o porco era bom. Hoje é o contrário. O porco faz vergonha. Tem vaca lá que produz um litro, dois litros de leite. Isso é uma cabra. Mas é o que nós temos. Que caiu, caiu e muito, não caiu pouco não.


Com a tese da decadência também concorda a professora Umbelina Aciole de Bonfim , atribuindo a responsabilidade aos gestores que passaram pela instituição: “A Escola está decadente porque ela passou por mãos não habilitadas para [gerenciar] o ensino de nível médio” . Nessa pluralidade de diagnósticos, a opinião do professor Emanoel Franco é a de que a decadência da Escola se deve ao fato de a instituição não haver optado pelo ensino superior . O atual diretor da Escola, Alberto Aciole Bonfim diverge completamente da idéia de que a instituição estaria decadente.


A escola de São Cristóvão é uma escola que sempre proporcionou aos jovens do hinterland sergipano oportunidade de crescimento. Se você diz que ela está em decadência, eu pergunto: por que? Ela está fechando ou vai fechar algum curso? A Escola está oferecendo três cursos, (...) aceita alunos internos, aceita alunos semi-internos e aceita alunos externos. [Aceita] alunos que já terminaram [o ensino médio], não conseguiram [aprovação] no [concurso] vestibular [para o ensino superior] e têm oportunidade de fazer um curso de agroindústria, de agricultura ou de zootecnia. Por que eu vou dizer que a Escola regrediu? Em hipótese alguma. A Escola está a cada dia crescendo e precisa de pessoas que apóiem esse desenvolvimento .


O processo de escolha do diretor da Escola Agrotécnica Federal de São Cristóvão pela comunidade escolar começou na década de 1980, de modo tumultuado e sob muita polêmica. O governo federal definira que as escolas agrotécnicas poderiam fazer um processo de eleição paritária entre os três segmentos da comunidade escolar para a composição de uma lista sêxtupla de nomes . A lista seria encaminhada ao Ministério da Educação que escolheria um dos seis. Ao final da gestão do professor Francisco Gonçalves, em 1988, foi feita a primeira eleição na escola . O processo foi bastante tumultuado, desde o início. Seis candidatos disputaram o pleito. Dentre estes, os nomes mais fortes eram os de Alberto Aciole Bonfim, Manoel Luiz e Alfredo Cabral. O debate eleitoral ficou polarizado entre os professores da chamada área técnica e os professores licenciados. O grupo da chamada área técnica recolocou o velho debate segundo o qual somente os agrônomos e veterinários teriam condições de dirigir a instituição. O professor Alfredo Cabral, veterinário por formação, encarnou a liderança que representava este pensamento. Manoel Luiz, professor de Educação Física, era a expressão dos professores licenciados, enquanto Alberto Aciole Bonfim, professor licenciado de Biologia e vice-diretor durante a gestão de Francisco Gonçalves, era visto como o candidato que possuía experiência nos setores técnico-administrativos.
Alfredo Cabral, apesar de haver representado no processo eleitoral o grupo da área técnica, entende que esta condição não é requisito indispensável para dirigir a Escola:


Não é que a escola tenha obrigação [de ser dirigida por alguém] da área técnica. Pode ser de qualquer área, porque na realidade ali o que o [diretor] assume é uma administração. Ele tem que se cercar de pessoas boas de cada setor. Eu senti que fui bem aceito pelos estudantes que tinham direito a voto, uma boa parte dos funcionários e professores. Como eu sou da parte técnica passava mais tempo no setor do que na sala dos professores. A grande maioria dos professores era do ensino médio, não era da área técnica .


Muitas pessoas, à época estranharam o fato de Alfredo Cabral haver registrado a sua candidatura e pregar, no interior da Escola, durante a campanha que era contra a realização do pleito.


Eu fui contra a eleição, porque a eleição era para colocar seis nomes [em uma lista a ser enviada ao MEC]. Na época só tinham seis nomes [registrados como candidatos]. Então não precisava fazer eleição. Só era botar os nomes [na lista] e mandar. Agora, se tivesse sete, aí sim, porque um tinha que ser descartado. Eu fui contra [a realização da eleição]. Teve um debate, Alberto propôs que quem saísse em primeiro lugar era o diretor. Eu fui contra perante todo mundo. Eu disse que era contra porque ele não havia se afastado, continuou no cargo. Ele era vice-diretor. Quando entra numa eleição, queira ou não queira, começa aquela ajuda de voto. O funcionário precisa se ausentar por três dias, aí se libera; o aluno, não suspende, vai ajeitando... E eu não. Eu só fazia a parte pior, que era pegar aluno, botar aluno para trabalhar e cobrar dele, o trabalho e o ensino, o estudo. Eu fui contra perante todo mundo .


O nome mais votado da lista foi o do professor Alberto Aciole Bonfim. Alfredo Franco Cabral saiu da eleição em segundo lugar. O terceiro foi Manoel Luiz. O primeiro foi nomeado para dirigir a escola . Porém, três dias após a sua nomeação, a portaria de designação foi tornada sem efeito, em face de gestões realizadas junto ao ministro da educação pelo senador Lourival Baptista e pelo governador Antônio Carlos Valadares . Com isto, foi publicada uma nova portaria designando para o exercício da função o professor Alfredo Franco Cabral . Alberto Aciole Bonfim recorreu à Justiça Federal contra o ato do ministro e um ano depois foi reintegrado no cargo .
Sgundo o professor Alberto Aciole Bonfim, o episódio não deixou seqüelas na vida da Escola:


Eu consegui, junto com o professor Alfredo, um relacionamento tal que servisse de exemplo aos demais que fazem a instituição. Não poderia continuar sendo uma instituição polarizada - metade briga por Alberto e metade briga por Alfredo ou outra pessoa. Nós achamos por bem que tínhamos de servir de exemplo eu e ele. Tanto é que, oito anos depois, quando eu coloquei meu nome novamente para ser candidato a diretor da Escola, eu tive a satisfação de receber o voto dele como membro do Conselho me apoiando para a direção da Escola .


O professor Alfredo Cabral concorda apenas em parte com a interpretação de Alberto Aciole Bonfim:


Toda eleição sempre fica [ressentimento]. Na hora que vai para a lista e qualquer um pode ser nomeado começa a ter briga., começa a criar aquele ambiente ruim. A Escola ficou dividida em dois grupos: o grupo de Alberto e o grupo de Alfredo. Sempre me dei com ele. Agora, tanto eu como ele, gato e cachorro, era um olhando para a cara do outro meio desconfiado. Quando eu perdi entreguei. Eu olho a escola com uma visão e ele olha de outra. Ele passou esses quatro anos, não teve problemas. Não tenho ressentimento contra ninguém, nem contra ele .


O açodamento da relação entre ambos teria se acentuado em função de uma decisão do diretor Alberto Aciole Bonfim que pareceu injusta à ótica de Alfredo Cabral:


Alberto me deixou chocado. Ele me tirou de aviário e me colocou em bovino. Tudo bem, eu sou veterinário e não posso reclamar. Mas, eu acho que o aluno de aviário perdeu e o aluno de bovino perdeu. Eu já estava com uns dez a doze anos em avicultura e o professor de bovino também já estava com seus dez a doze anos. O de lá tinha que ficar perguntando e eu tinha que ficar perguntando a ele. Eu, em sala de aula, disse isso e ele disse isso. Que íamos nos esforçar ao máximo para não prejudicar eles [os alunos]. Fiz apostilas. Fiz veterinária, não sou burro. Estudei e busquei relembrar. Mas eu também tenho meus pés no chão. Não vou dizer que sou o melhor veterinário de avicultura do país, porque se eu fosse não estaria aqui, eu estaria dando palestras, estaria nos Estados Unidos. A gente tem que sentir até onde pode ir. Foi o meu caso de bovino. Eu disse que ia dar aula, fiz apostila, fiz tudo. Agora, na hora que chegou detalhe técnico, inseminação artificial... Isso tinha quinze a dezoito anos que eu tinha visto na universidade. Aí eu pedia para meu colega me dar um curso. Mas foi dito ao aluno. Não estou dizendo que Alberto está me botando de castigo não, mas eu achei que foi. Um ano depois ele me mudou. Ele achou que especialista em avicultura tem que ficar em avicultura. Isso aí foi uma coisa que não precisava .


Problemas sucessórios idênticos voltariam a ocorrer quatro anos depois, no final da gestão de Alberto Aciole Bonfim. No processo eleitoral que se instalou Alfredo Cabral concorreu novamente. Foi o primeiro da lista, mas não conseguiu a nomeação. “A professora Cláudia teve dez por cento dos votos e acabou ganhando porque é indicação do ministro. Não interessa voto mesmo” . A gestão da professora Cláudia foi bastante tumultuada do ponto de vista administrativo, levando a Escola a mergulhar numa grave crise.


Ela fazia coisas absurdas. Era questão de administração mesmo. Ela não tinha condição de administrar uma casa Começou a faltar ração. Para você ter uma idéia, eu passei dois anos lá dando aula teórica porque não tinha um pinto. E isso é ruim para mim porque o aluno depois sai falando não só da escola. De mim também e eu não posso fazer outra coisa. Era só reclamar a eles, era só aula teórica. Você imagine: um ano dando aula teórica. Agora, falar de vacinação, que é no olho, uma gotinha. Não tinha verba não tinha nada. Se reclamava dizia que não tinha dinheiro. Então era uma questão administrativa. Dizia que ela resolvesse .


No final da década de 1990, as disputas haviam se acirrado a tal ponto que a Escola estava mergulhada em uma situação muito difícil. Em alguns anos, foi oferecida uma quantidade de vagas maior que o número de candidatos à matrícula nos seus cursos.

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