domingo, 6 de dezembro de 2009

DA HISTÓRIA DE ILUSTRAÇÃO À HISTÓRIA CULTURAL: OS ESTUDOS SOBRE HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO EM SERGIPE II

Até a metade da década de 90, a maioria dos estudos de História da Educação realizados em Sergipe tinham preferência “pelo corte temporal macropolítico, com foco maior no século XX, o que denuncia o caráter ‘presentista’ dessas produções” . Como observou Bruno Bontempi Junior , ao analisar a educação brasileira, também em Sergipe há “uma recorrência a 1930 como explicação para períodos posteriores” . A maior quantidade de estudos lança o olhar sobre o período que se inicia com a última ditadura militar brasileira. O único elemento de diferenciação da periodização existente nos estudos da História da Educação em Sergipe quanto à periodização constatada nas pesquisas realizadas por Bontempi Junior é que os estudos sergipanos se reportam predominantemente ao período da ditadura militar que se iniciou em 1964. A recorrência a marcos cronológicos consagrados contribui para a perpetuação de interpretações em sucessivos trabalhos.
Segundo a interpretação feita por Fábio Alves dos Santos a ausência de estudos sobre o período que vai do século XVI ao século XIX denota que para os autores e seus orientadores, “esses são períodos já esclarecidos. Daí o desinteresse por análises sobre a educação na fase colonial ou imperial, ou mesmo o baixo índice sobre os inícios da República” . Nem sempre esses trabalhos conseguiram produzir um conhecimento histórico. Algumas vezes devido ao desconhecimento metodológico, em outras a preconceitos teórico-metodológicos, essa produção foi menos História da Educação e mais Sociologia, Filosofia, Pedagogia, ou outras áreas das ciências humanas. A maior parte desses estudos recebeu a marca do determinismo econômico e subordinou o movimento da história exclusivamente às estruturas e à dinâmica da economia.
Na maior parte dos textos, “o estudo do objeto apenas ganha sentido pelo contexto geral em que é inserido. Ou seja, o objeto é secundarizado em relação ao período” . É possível que não pareça importante, mas chama a atenção que na maioria dos trabalhos analisados o número de páginas dedicadas a análise do objeto gire em torno de dez a vinte por cento do total de páginas do estudo. Cerca de oitenta a noventa por cento das páginas escritas se dedicam a discutir o contexto e a fundamentação teórica. A maior preocupação desses autores consiste em reconstruir o cenário local, nacional, ou o percurso histórico do objeto estudado desde as suas origens. Nesse tipo de estudo, a história é um processo contínuo que objetiva um fim previamente definido. Os estudos sobre o livro didático serviriam, assim, para a denúncia dos usos ideológicos; as bibliotecas, como fonte de aculturação exigida pelo domínio burguês; as disciplinas escolares para produzir alienação; a ação do Estado para demonstrar a manipulação feita pelas elites dirigentes; o movimento estudantil para revelar a consciência transformadora dos oprimidos.
A produção da segunda metade da década de 90 elegeu uma variedade temática muito ampla. Os trabalhos trataram de historiar programas de política educacional como salas de leitura, alfabetização, organização de redes municipais, ocupação de espaços políticos no aparelho de Estado, além da retomada do tema do Movimento de Educação de Base. Começaram a ser produzidos estudos sobre o campo de constituição das disciplinas Educação Ambiental, Educação Musical e Educação Física, além de haver sido outra vez retomada a discussão do movimento sindical docente. Também estudos que privilegiaram o movimento estudantil universitário e a política do ensino médio. O estudo das disciplinas acadêmicas voltou à discussão, com trabalhos sobre Educação Matemática.
Mas, foi na segunda metade da década de 90 que apareceu na historiografia da educação sergipana o primeiro trabalho sobre o cotidiano escolar. Todavia, ainda persistia a história engajada e utilizada como guia para a ação política do presente em alguns trabalhos. Contudo, já eram fortes os estudos acerca da cultura, a respeito do cotidiano escolar e da história das disciplinas. Outros trabalhos trilharam caminhos inovadores, mesmo estudando temas que poderiam sugerir um uso politicamente engajado da história.
A partir do ano de 2001 foi visível a transformação das temáticas e a diversificação dos objetos de estudo da História da Educação em Sergipe. Os trabalhos se voltaram para a história das instituições educacionais, do livro didático, do financiamento do ensino, do ensino de disciplinas específicas (Música, História, Educação Cívica, Estudos Sociais, Língua Inglesa e Ecologia), do movimento sindical, do movimento estudantil, dos impressos e das edições, dos periódicos educacionais, além das biografias de professores e das memórias de jovens.

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