domingo, 27 de dezembro de 2009

A PRODUÇÃO AÇUCAREIRA E A INCORPORAÇÃO DE TECNOLOGIA INDUSTRIAL

A tecnologia industrial aportou em Sergipe trilhando os caminhos da produção açucareira. Data de 1602 o primeiro engenho, trazido pelas mãos do desembargador Baltazar Ferraz (SEBRÃO SOBRINHO, 1955, 25). Quando o primeiro presidente da Província, Manuel Fernandes da Silveira, tomou posse no dia cinco de março de 1824, o número de engenhos sergipanos de açúcar era de 226. Em 1860, cinco anos depois da mudança da capital para Aracaju, eram já 769 engenhos, fazendo com que a produção açucareira de Sergipe superasse a da Província da Bahia e a do Rio de Janeiro. Mas apesar da quantidade de açúcar que a Província produzia, existem observações dando conta da má qualidade e da baixa produtividade na produção açucareira.


Em média, os engenhos sergipanos produziam de 55 a 88 caixas de açúcar. Além da péssima qualidade, essa produção era considerada por todos como extremamente baixa para as qualidades da terra. (...) Era um volume muito baixo de produção, atentarmos para os custos do empreendimento (ALMEIDA, 1978, 19).


Essa pequena produtividade redundava em sérias conseqüências, principalmente nos períodos em que os preços caíam no mercado externo. Os engenhos enfrentavam dificuldades para saldar os seus débitos e alguns proprietários perdiam seu negócio para os comerciantes credores.
Requerendo os conhecimentos da Química, da Agronomia e da Engenharia Mecânica, a produção açucareira induziu também a incorporação tecnológica aplicada à engenharia de construção de canais, uma vez que em 1825, o deputado Eusébio Vanério, representante de Sergipe, solicitou ao Imperador Pedro I a autorização para que se construísse um canal que ligasse os rios Pomonga e Japaratuba, beneficiando o comércio do açúcar. A canalização dos rios e a interligação de todas as bacias foram ideais cultivados em Sergipe durante todo o século XIX. Uma lei provincial de 12 de março de 1835 autorizou a construção do canal ligando o rio Japaratuba ao rio Pomonga e uma outra, de 16 de março do mesmo ano, autorizou a abertura de uma canal que ligasse o rio Santa Maria ao rio Poxim. Contudo, em 14 de maio de 1849 a lei provincial 258 autorizou a abertura de um canal que ligasse todas as bacias da Província de Sergipe, do rio São Francisco ao rio Real. Do rio São Francisco passar-se-ia ao Japaratuba; deste ao Pomonga; do Pomonga à bacia Poxim Santa Maria; desta ao rio Vasa Barris; e, deste último ao rio Real.
Este tipo de preocupação era muito importante para a economia da Província, uma vez que, em 1850, Sergipe exportava açúcar para Copenhague, Hamburgo, Trieste, Gibraltar, Londres, Gothemburgo, Antuérpia, Rio de Janeiro, Bahia, Santos, Paranaguá, Belmonte, Valença, Cachoeira, Penedo, Torre de Tatuapara, Espírito Santo, Maceió e Pernambuco (SEBRÃO SOBRINHO, 1955, 81).
Todo esta pretensão, porém se apequenava, diante da proposta formulada por Raimundo de Araújo Jorge: um canal de 130 léguas (cerca de 780 quilômetros) que ligasse a Bahia a Alagoas, passando por Sergipe. A justificava para tão grande canal era a necessidade de evitar a navegação costeira em Sergipe, posto que os canais de acesso aos rios da província eram móveis e os naufrágios freqüentes (SEBRÃO SOBRINHO, 1955, 40).
Não obstante o entusiasmo econômico existente na Província nos primeiros anos da década de 50 do século XIX com o bom andamento dos negócios, pesquisadores como a professora Maria da Glória Santana de Almeida indicam que do ponto de vista da tecnologia agrícola, Sergipe se ressentia da “falta de técnicas no tratamento do terreno e na semeadura e o esperdício espacial da propriedade”, reduzindo sensivelmente os terrenos dedicados propriamente ao plantio da cana (ALMEIDA, 1978, 19).
Do ponto de vista da tecnologia utilizada para a produção açucareira é importante assinalar que em Sergipe somente se fabricava o produto bruto, não se refinava o açúcar na Província. O açúcar não era, entretanto, o único produto importante que se extraía da cana. O processo de produção possibilitava também a fabricação de aguardente, o segundo produto de exportação mais rentável da Província de Sergipe. Normalmente, nas regiões em que havia engenhos, existiam também alambiques.
O engenheiro mecânico Karl Albert Gustav Munck chegou a Laranjeiras em 1907, aos 26 anos de idade, com o objetivo de trabalhar na montagem de máquinas dos engenhos de cana de açúcar. Voltou à Alemanha quatro anos depois, por poucos dias, para casar com Ana Hodewig Julia Roessung. Fixado definitivamente em Sergipe, com sua esposa, em 1918 criou uma companhia elétrica e firmou um contrato para instalar e manter a iluminação elétrica pública das casas e das ruas laranjeirenses, movida por motor Deutz a gasogênio que importara da Alemanha. Conhecia bem o município e a sua sede, tendo àquela altura já montado as máquinas de mais de 40 usinas açucareiras. Na sua oficina mecânica trabalhavam mais de 150 operários, e dentre as inovações da modernidade que introduzira em Sergipe, se incluía a fabricação de gelo. Representante da empresa alemã Maschinenfabrik Sangar Hausen, especializada na fabricação de equipamentos para engenhos e usinas de açúcar, trouxe do seu país dois outros mecânicos: Adolph Bergeher e Hans Schudler, que o auxiliavam no trabalho de montagem dos equipamentos.

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