sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

A TRISTEZA ALEMÃ NOS TRÓPICOS

Quando da sua chegada a Maruim, o casal Ernest e Adolphine Schramm foi objeto de todas as atenções por parte da comunidade alemã e alvo do estranhamento dos maruinenses e dos negros escravos que queriam ver “a senhora inglesa” – já que assim consideravam todas as mulheres de pele clara.
Até o final da década de 50 do século XIX Otto Schramm, o irmão e sócio de Ernest, já havia instalado um consulado alemão na cidade e exercia a função de Cônsul. Quando o Imperador Pedro II visitou Maruim, em 1860, achavam-se hasteadas no local de desembarque algumas bandeiras dos países estrangeiros representados na cidade: Alemanha, Inglaterra, Suécia, Noruega, Nápoles e Áustria. Em 1878, quando da visita de Francisco Idelfonso Ribeiro de Menezes, presidente da Província, a Maruim, em nome do consulado alemão compareceram à solenidade Herman Kotsch, Johan Heinrich Winter e o próprio Otto Schramm. No local onde funcionou o consulado, instalou-se, no século XX, o Parque Otto Schramm.
Adolphine Schramm, alemã de finos hábitos, rica e bem educada, sentia falta de flores, árvores e considerava as estradas e caminhos muito ruins, ao tempo em que registrava como era desagradável e salobra a água maruinense. Do mesmo modo, detestava as cobras, os lagartos, os escorpiões, o zumbido dos mosquitos, o calor tropical e as formigas. Na culinária, criticava a feijoada, a dificuldade para encontrar leite, a escassez de ovos de galinha e os preços dos gêneros alimentícios, que considerava muito caros. Nas cartas que enviava aos seus parentes e amigos alemães, Adolphine revelava que não havia nada comparável aos bichos de porco “que se encravam sob as unhas dos dedos dos pés e ali põem seus ovos e logo depois de uma hora, através de uma terrível coceira, anunciam sua presença”. A terapia era aplicada através de uma cuidadosa assepsia dos pés realizada por um dos escravos. “A operação quase não dói e é sempre executada por negros que têm habilidade especial para tirar essas pústulas sem infeccionar”.
É importante anotar que nem todos os alemães que viviam em Maruim podiam dispor do fausto proporcionado pela riqueza que os Schramm tinham à sua disposição. Em uma carta que enviou à sua mãe no dia cinco de fevereiro de 1859, Adolphine é mordaz a esse respeito: “Vejo ao meu redor homens que dedicaram quase toda a juventude aos negócios no Brasil, sem que até agora tenham conseguido o necessário para retornar à sonhada terra natal. Se, de certa forma, conseguiram amealhar considerável patrimônio, investiram em terrenos impossíveis de vender, nas mãos dos fazendeiros, em prédios etc, que demandam anos para serem transformados em dinheiro”.
Para dar força à sua tese, buscou exemplos nos alemães que gravitavam em torno do seu círculo familiar. Citou nominalmente Busch, contador, com 38 anos de idade, cinco de trabalho no Brasil e dispondo apenas do seu salário para sobreviver. Wiedemann, com idade de 40 anos, exercia a função de caixa, trabalhando no Brasil durante 20 anos, dos quais 15 em Maruim. Entretanto, afirmava considerar boa a vida das mulheres no país: “Nós, mulheres, (...) temos vida boa aqui, pois nossos maridos gostariam de conservar-nos numa moldura”.
A família Shcramm sofreu um duro golpe em Maruim, no ano de 1863, com a morte de Adolphine, falecida em onze de abril daquele ano, por haver contraído cólera. Luterana, Adolphine não teve direito a ser sepultada na Igreja Matriz nem no cemitério, como era o hábito de enterramento em relação às pessoas da elite, no período. O espaço destinado a sua sepultura foi uma área de terra na propriedade da família Schramm.
Na década de 70 do século XIX uma outra importante família alemã se instalou em Sergipe: os Löeser. O comerciante Karl Löeser fixou-se em Maruim como gerente da Casa A. Schramm & Co. Casado com uma alemã, Alma, deixou uma prole de três filhos: Walter, Emy e Alice. No início do século XX, Karl transferiu-se para Aracaju e já era à época, ele mesmo comerciante autonomamente estabelecido com negócios de importação e exportação de açúcar, bacalhau, louça e ferragens. No período da I Guerra Mundial enfrentou dificuldades, em função das quais a sua mulher retornou à Europa. Sem que ela regressasse, Karl casou novamente no Brasil, formando uma nova família, com três filhas e um filho.

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