quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

EDUCAÇÃO E TRABALHO: O PROCESSO DE FORMAÇÃO NA ESCOLA AGROTÉCNICA FEDERAL DE SÃO CRISTÓVÃO VII

Para suprir as necessidades de recursos hídricos do Colégio Benjamin Constant, foi também implantado um conjunto de espelhos d’água na área da fazenda da escola. O Colégio conseguiu ainda adquirir os equipamentos necessários à instalação de uma padaria, a fim de produzir os pães necessários ao seu consumo diário . Havia ainda funcionando nas dependências da escola um sistema de rádio que servia para transmitir mensagens, músicas e localizar pessoas em qualquer ponto do campo da fazenda.
O trabalho pedagógico que a Escola desenvolveu nas décadas de 1960 e 1970, além do financiamento e da assistência técnica do Banco Mundial recebeu o acompanhamento pedagógico da equipe técnica da Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste – a Sudene. Por iniciativa dos técnicos da autarquia de desenvolvimento regional, o Colégio implantou o currículo integrado, buscando articular o ensino dos conteúdos das diferentes disciplinas oferecidas no currículo dos cursos da instituição. Mensalmente, os técnicos da Sudene se reuniam com o corpo docente do Colégio para planejar as ações do currículo integrado e avaliar o trabalho realizado no mês anterior.
O Colégio Agrícola Benjamin Constant manteve uma política de aproximação com instituições escolares estaduais, estabelecendo convênios para a oferta de formação em regime de intercomplementaridade. O Colégio Estadual Presidente Costa e Silva, localizado na cidade de Aracaju, no bairro Siqueira Campos, participou diretamente de tal experiência, oferecendo um curso de Técnico em Química no qual os estudantes recebiam aulas referentes à parte de educação geral nas suas instalações, enquanto para a formação especial, as aulas práticas, utilizava os laboratórios do Colégio Agrícola Benjamin Constant.
Quando o Colégio Agrícola decidiu abrir o curso de Técnico em Laticínios, garantiu os recursos junto ao Ministério da Educação e foi buscar um técnico em laticínios na cidade de Juiz de Fora, Estado de Minas Gerais. Com os recursos fornecidos pelo MEC, foi possível instalar uma indústria-escola de laticínios e iniciar a formação dos novos técnicos. A indústria produzia iogurte, queijo coalho, queijo mussarela e doce de leite. Alguns anos depois, o curso foi desativado e o equipamento enviado para o Colégio Agrícola de Bananeiras, no Estado da Paraíba. Eram, portanto, três os cursos oferecidos pelo Colégio, no período: Técnico em Agropecuária, Técnico em Economia Doméstica e Técnico em Laticínios.
Na década de 1980 a Escola alterou o quadro de cursos oferecidos. Desapareceu o ensino Técnico em Laticínios. Os dois outros cursos continuaram em oferta e foi implantado o ensino Supletivo de Agricultura e Agente de Defesa Sanitária. Na modalidade supletiva, o aluno estudava em casa e mensalmente ia à Escola prestar exame de aproveitamento.
Na Escola, o trabalho dos docentes na oferta dessa formação era resultado de uma discussão permanente que se realizava de modo coletivo. Os planos de curso eram elaborados no início de cada ano pelos professores e discutidos durante a Semana Pedagógica e depois arquivados no Departamento de Pedagogia e Apoio Didático - DPAD. Ao longo do ano, o serviço de supervisão da escola acompanhava a execução do planejamento. Além destes dois organismos existiam também uma Secretaria Escolar e uma Coordenadoria de Relações Empresariais, tudo com o objetivo de controlar a formação oferecida pela Escola.
Contudo, muitas práticas de formação continuaram improvisadas no Colégio Agrícola Benjamin Constant, a exemplo das aulas de Educação Física que, até o início da década de 1970, tinham todas as suas turmas assumidas por um único professor e não dispunha do equipamento necessário ao seu funcionamento. “A gente fazia aula no campo de futebol, que (...) talvez por ignorância tenha sido implantado na orientação leste-oeste. Então você (...) não podia jogar de goleiro na frente do nascente; de tarde você não podia jogar de goleiro quando o sol estava poente” .
Em 1991 o Ministério da Educação resolveu propor um novo projeto organizacional e administrativo para as escolas agrotécnicas federais. Para tanto, foi criada uma comissão encarregada de elaborar a proposta. Nesse mesmo ano, a Escola Agrotécnica Federal de São Cristóvão constituiu uma comissão encarregada de elaborar a reforma do seu Regimento . Este processo estava articulado com a definição do novo projeto pedagógico da Escola, que sofreu uma alteração em 1992. Naquele ano, uma reunião realizada no município cearense de Iguatu concebeu o Projeto Organizacional e Administrativo e sub-projeto Reformulação Curricular das Escolas Agrotécnicas Federais da Região Nordeste . A reformulação estava baseada num pressuposto filosófico que atentava “para a vinculação do ensino e trabalho, entendida não como justaposição de atividades produtivas com atividades escolares, mas concebida como educação produtiva com atividades escolares e, ainda, como processo educacional que harmonize transmissão/assimilação de conteúdos, de maneira sistemática” .
As escolas que participaram da reunião de Iguatu reivindicavam assegurar um novo papel político, com o objetivo de fazer com que “o conhecimento seja acessível a todos os segmentos sociais, buscando a indissociabilidade entre educação-trabalho-produção, promovendo e impulsionando o progresso das sociedades na construção da cidadania” . A reforma pedagógica do início dos anos 1990, na verdade, representava o “desembarque” nas Escolas Agrotécnicas Federais da Região Nordeste do discurso marcado pela chamada Pedagogia Histórico-Crítica, que marcou o debate educacional brasileiro a partir das Conferências Brasileiras de Educação realizadas na década de 1980. Aquelas Conferências receberam uma forte influência que se irradiava a partir da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo e da Associação Nacional de Educação – ANDE.
Em 1992, a Escola Agrotécnica Federal de São Cristóvão decidiu reformular os currículos dos seus cursos . A instituição entendia então que a formação tecnológica deveria preparar os indivíduos para o reconhecimento e domínio de técnicas, processos e produtos de trabalho, ultrapassando a mera aplicabilidade e investindo nas pesquisas e na criatividade para procurar, “mediante fundamentos científicos atualizados, a transformação das diversas realidades” . O interesse dos planejadores do ensino se ancorava à idéia de que o domínio dos conteúdos científicos objetiva “a formação da consciência crítica capaz de corrigir desvios e transformar a realidade da sociedade capitalista” .

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