segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

DA HISTÓRIA DE ILUSTRAÇÃO À HISTÓRIA CULTURAL: OS ESTUDOS SOBRE HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO EM SERGIPE III

CONSIDERAÇÕES FINAIS


Até a metade da década de 90, de um modo geral, os estudos sobre História da Educação em Sergipe não revelavam muito compromisso com o uso das fontes. Assim, nem sempre os autores informavam os acervos a partir dos quais as pesquisas foram realizadas.

Mesmo os trabalhos que fornecem essa informação carecem de maior clareza. Isto no sentido de que não é divulgado o que necessariamente foi consultado naqueles locais. Para um pesquisador de certa prática é relativamente fácil estabelecer relação entre as fontes citadas e as instituições que as encerram. Todavia, [...] um principiante que for buscar nesses trabalhos alguma orientação quanto a um mapa de pesquisa em história da educação não decifrará facilmente tal enigma” .


Quanto ao conjunto de fontes utilizadas, somente os vestígios mais importantes têm seu uso identificado. Em muitos trabalhos, fontes relacionadas ao final do texto não aparecem uma única vez na sua construção, enquanto outras não listadas são referenciadas algumas vezes.
Dentre as fontes mais recorrentes, os jornais aparecem como o documento de maior utilização por esse tipo de trabalho. A estes, os autores conferem um caráter de imparcialidade e apresentam o seu testemunho como a legítima e exclusiva opinião da sociedade, uma espécie de voz inquestionável da opinião pública. Não acentuam a intencionalidade, interesses e compromissos dos editores e demais produtores dos textos jornalísticos. Não costumam revelar as instituições e os homens que dirigem os jornais. Além dos jornais, uma fonte muito utilizada para a produção de trabalhos de História da Educação nessa linha é o testemunho oral. “Da mesma forma que o texto jornalístico, as entrevistas concedidas aos autores também são consideradas sem se levar em conta sua subjetividade. A fala dos entrevistados é dada como transcrição do real, como instrumento de conhecimento do passado tal e qual” . A fala dos entrevistados é tomada, invariavelmente, como relato daquilo que realmente houve e quase nunca como visões, memórias do período estudado. Assim, os depoimentos não são submetidos à crítica histórica. O processo de seleção das fontes toma como verdadeiras as falas dos agentes “excluídos” do poder ou “submissos”. Somente o discurso do poder constituído é apresentado como falseador da realidade e carente de credibilidade. Essa historiografia é marcada exclusivamente pela luta dos representantes de grupos excluídos contra as autoridades. Os estudos ressaltam sempre a “corrupção sofrida pela educação nas mãos das forças estatais ou privadas. Esses estudiosos construíram seus trabalhos a fim de ressaltar a luta de alguns indivíduos ou instituições na busca da constituição de um campo educacional dentro daquilo que consideravam o melhor para a sociedade” e acabaram incorporando o discurso dos agentes investigados.
Outras fontes utilizadas nesses trabalhos parecem mudas. Os autores anexam aos trabalhos fotografias e gravuras, mas não as exploram como testemunho histórico.
Cabe ainda considerar a relação dos autores desses trabalhos e dos seus orientadores, no caso das monografias e dissertações, com a História da Educação. Majoritariamente são pedagogos, sociólogos e historiadores. São raros os que têm alguma intimidade com a disciplina História da Educação. Isso pode ser observado nos procedimentos metodológicos, mesmo dentre os profissionais de História. Os pesquisadores nem sempre atentam para a produção existente nos estudos de História da Educação e normalmente se dedicam a analisar trabalhos de outras áreas como História Política, Didática, Metodologia, Sociologia, Filosofia e Prática de Ensino. Isso faz com que muitos estudos estejam mais preocupados em apontar as falhas existentes nos modelos pedagógicos e justificar a utilidade social dos mesmos. A História assume um caráter de tribunal preocupado em legitimar discursos político-partidários, sem priorizar a produção de conhecimento científico. Produz-se uma visão salvífica presente no discurso de algumas teorias pedagógicas e de certas interpretações historiográficas.
A partir da segunda metade da década de 90, alguns estudos dedicados a História da Educação em Sergipe começaram a assumir a perspectiva de pesquisas inspiradas teoricamente pela história cultural francesa. A partir do Mestrado em Educação da Universidade Federal de Sergipe, os pesquisadores que começaram a trabalhar sob tal perspectiva contribuíram para modificar o panorama dos estudos sobre História da Educação em Sergipe.
Os estudos sobre História da Educação produzidos em diferentes períodos e sob distintas perspectivas teóricas contribuíram, seja como estudos historiográficos de valor seja como elementos de construção de uma memória. Mas, é importante abrir perspectivas para um exame mais aprofundado da natureza, qualidade e tendências dos trabalhos publicados, bem como da contribuição dos diversos autores e instituições, analisando-os de per si.

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