quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

OS ESTUDOS SOBRE INTELECTUAIS NA HISTORIOGRAFIA DE MARIA THETIS NUNES - IV

CONSIDERAÇÕES FINAIS


Os estudos sobre intelectuais realizados por Maria Thetis Nunes remetem a dois grandes pólos das suas preocupações: a historiografia e a história da educação. Nada menos de quinze trabalhos podem ser enquadrados fundamentalmente no campo da História educacional, enquanto a Historiografia é contemplada com doze textos. Outra preocupação muito constante nos estudos sobre intelectuais realizados pela autora diz respeito ao campo da arte (cinco trabalhos) e a atividades como a literatura, medicina, engenharia e agitação cultural. Mas também há estudos que contemplam a Filosofia, a Política, a Sociologia, o Jornalismo, os militares, a Arquitetura e a formação territorial e étnica de Sergipe.
A maior parte desses estudos traz a marca forte de uma vigorosa memorialista que se motivou explicitamente em efemérides, como o falecimento de alguns dos intelectuais que analisou ou celebrações das datas de nascimento ou de morte dessas personalidades, para analisa-los. Ela celebra, principalmente, a memória de intelectuais sergipanos, em alguns casos buscando legitimá-los post mortem e em outros reificando a legitimação que eles obtiveram ainda vivos. Porém, outras motivações não estão afastadas, como a necessidade de produzir textos para participar de eventos científicos ou concorrer a premiações oferecidas a pesquisadores por instituições governamentais.
De uma maneira geral, os textos produzidos por Maria Thetis Nunes sobre intelectuais são pródigos em elogios à ação destes, à exceção dos trabalhos historiográficos a respeito do professor Acrísio Torres Araújo, que trazem consigo o tom da polêmica por divergir do entendimento daquele autor. Todavia, o fato de constarem da lista de autores que ela analisou é, sem dúvida, mais uma chancela legitimadora do trabalho de todos. Os seus intelectuais atuaram invariavelmente como instrumentos fundamentais para a modernização da vida de Sergipe e do Brasil, viabilizando o progresso. Essa idéia de que a sociedade estava sempre orientada na direção do progresso foi comum entre os intelectuais apresentados por Maria Thetis Nunes e também assumida por ela como ferramenta de análise. Pela leitura dos intelectuais da autora, é visível a sua crença no progresso, da mesma maneira que a tradição intelectual na qual a mesma se inclui. Afinal, não é possível esquecer que Comte, Marx e Engels acreditavam na condição humana, mesmo que suas concepções de progresso muitas vezes divergissem.
Os modos de interpretar os seus intelectuais assumidos por Maria Thetis Nunes, leva a uma homogeneização dos padrões de comportamento destes, mesmo quando eles têm posições teóricas e políticas distanciadas. A autora busca sempre a regularidade de fatos que ocorrem continuadamente. Por isto, encontra evidências que justificam diferentes perspectivas. A “razão de Estado”, de Nicolau Maquiavel, tanto pode ser um instrumento conceitual para explicar a formação política dos Estados nacionais quanto a atuação de grupos privados em uma dada sociedade. Os direitos e garantias individuais do homem tanto podem ser lidos como valor democrático universal quanto na condição de exercício da ideologia burguesa para submeter os seus oponentes de classe. Daí a explicação histórica, necessariamente, buscada por Maria Thetis em regularidades humanas que ultrapassam os limites de explicações como o antagonismo católicos X protestantes, burguesia X proletariado ou qualquer outro que se pretenda estabelecer, falando em nome da dialética com a qual opera.
Um leitor eventualmente menos atento ou alguém que se relacione com o marxismo a partir da posição de um “beato” tem dificuldade em compreender como Maria Thetis opera com os seus intelectuais. Mesmo sendo entusiasta de uma certa vertente do marxismo, a autora toma as posições dos intelectuais buscando entender os autores com os quais se relaciona maduramente, a partir dos seus propósitos. Por isto, na maior parte das vezes a sua crítica ao trabalho intelectual é bastante parcimoniosa e quase imperceptível.
Certamente, abordagens sobre intelectuais como as produzidas por Maria Thetis Nunes são importantes contribuições que servem para reafirmar a condição do indivíduo como sujeito da história, colocando em destaque as personalidades, no processo da vida social. As análises memorialísticas da autora estão para além das simples biografias, dando voz aos intelectuais estudados.

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